quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Canção prosada

CANÇÃO PROSADA



Vou contar-vos uma história. Há muito que ando para o fazer, e se não for já, passa-se-me da memória, podem crer.
Então, em prosada canção, aí vai: era uma vez um homem forte, tão forte tão, que, todo só, aguentou o Norte… Não?... Sim sim, sem mais ninguém, segurou-o bem! Ficou no seu altar, aquele que teimava em mudar de lugar… Irrequieto e vaidoso, senhor do seu valor, tudo fazia o Norte para seu afectado querer, impor. Não importava a função… nobre, devo dizer, só seu belo prazer. Os outros que se orientassem… com outro referencial, pois com ele não mais contassem!... Ou então que esperassem, que ele voltaria, um dia… Já estivera em outros locais, como os demais elementos deste controverso universo!... Qual era o problema?... Povo, acalma, serena!, dizia naquele dia… o dia em que a coragem do herói cantado lhe fez cair a mania…… Eram muitos a ouvir; outros tantos a discutir. Apenas o dito, armado de medo, coragem e tento, resolve enfrentar o Vento: fica-te no lugar teu!, assim o quis quem te concebeu. Não queiras cavar, ó Norte, as sepulturas do forte, do fraco, do azar e da sorte, do vermelho e do azul. Nunca serás nobre cardeal, enquanto, por mal, cobiçares o lugar do Sul… Ou o do Poente; ou o do Nascente!... Quero-te crente, brioso ó Norte, da missão que te calhou por sorte. É a minha lotaria, seja noite ou seja dia…… Ouviu, assombrado… meditou, encalhado, prometeu e cumpriu…… Não julguem ser a narrada, tarefa de vintém; dengoso catar. Não tratemos com desdém o que bravura tem e que é falto de vagar… Daqueles há já poucos, nenhuns talvez. Ocupam os seus lugares, tristes loucos eivados de altivez… Que estará a passar-se com a genética social? Trálálálálá; trálálálálá; que estará a passar-se com a genética social? Trálálálálá; trálálálálá… Que se passaqui, se passaqui, se passaqui?... Que se passaqui, se passaqui, se passaqui… se passaqui, se passaqui, se passaqui?




Carlos Jesus Gil

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Que falta de consideração!

QUE FALTA DE CONSIDERAÇÃO!
Metades são iguais, bolas!




No bar que habitualmente frequento, uma hoegaarden de pressão custa cinco euros. É política do estabelecimento servir shots da deliciosa cerveja belga. Um shot custa três euros, e leva exactamente metade da dose normal.
Ora, em momento de cuidada reflexão existencialista eu, que nunca me dei bem com este tipo de injustiças… nem com este nem com qualquer outro, que fique em acta!, resolvo – ou terá sido compulsivo?… - entrar em perfeito parafuso. Por pouco não armo valente estrilho comigo próprio. Então uma metade custa mais do que a outra?!... Porquê?! Ele há lá razão para isso?!
Daí que um dia destes tenha pedido a uma das bar-girls lá do sítio um shot de hoegaarden mas com a metade mais barata.
O pessoal riu, riu desbragadamente… pronto, e eu também, mas reiterei o pedido… E fui servido!




Carlos Jesus Gil

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

O cau boio

Um Natal muito feliz e cheio de saúde para todos os "mundanos", é o meu desejo.




Podia ser um conto de Natal:




CAU BOIO




Tózito Lingueirão, dos, oficiosamente, Lingueirões, assim alcunhados por tão aficionados serem pela pesca daquele outrora tão abundante espécie, tão abundante tão, que oferecida era, pois ninguém dava um chavo por semelhante criatura… Eu provei, é bom!... Querem provar? Hoje é mais difícil. Se pescado, caro achado!
Ora, tózito, figura querida na terra, não apenas por madrugar no deixamento da Escola para a pesca artesanal se dedicar, como forma de ajudar os esforçados pais no governo da numerosa família - e do mais novo se tratava! -, mas também porque de petiz pitoresco traquina se tratava, tózito, dizia, tinha uma valente predilecção por comboios eléctricos de brincadeira, brinquedos estes que apenas vislumbrara, a duas cores, na velha Philips lá do café da terra. Até costumava contar aquela velha charada que diz mais ou menos assim: “ Um comboio eléctrico vai de Lisboa ao Porto. Para que lá é que vai o fumo?”… Contava, diz-se, imensas vezes a dita, mas sempre como da primeira se tratasse…. Era sempre quem mais ria, uma vez dada, quase sempre por ele, a resposta.
Por seu lado, o ti Augusto, seu carinhoso pai, que aprendera a ler e escrever só, lá teve uma dica ou outra, mas só, pode dizer-se, apesar de muito acompanhado, em beliches de navios do bacalhau… pois!, naqueles dias, por vezes longos dias e longas noites, de valentes temporais, o ti Augusto que sempre fora contra a saída precoce do seu pimpolho da Escola, só o que não podia não fazia para lhe tornar a vida mais vida. Do “cada macaco no seu galho”, extrapolava o velho senhor do mar, que à Filosofia pouco devia, que vida só é vida se cada fase for cumprida. O seu mais novo tinha saltado uma!... Ora, encontrando-se certo dia em terra, rigorosamente em St. John’s,Canadá, cidade portuária onde já não eram novidade os centros comerciais e as escadas rolantes – passavam tardadas inteiras para baixo e para cima… -, lembra-se o desvelado pai de ir a um dos ditos fóruns do consumismo em busca de algo que andasse sobre carris e fizesse “poucaterra, poucaterra, poucaterra…” – bem, isto sou eu a dizer -, lembra-se e vai. Corridas as lojas da especialidade, todas as casas de brinquedos, muitos foram os modelos encontrados, o problema era que nem para o mais modesto o dinheirito chegava. Ainda pensou em pedir emprestado a um colega, mas faltava muita massa. Não dava! Tinha que dar voltas à cabeça a ver o que podia encontrar, acessível, e que fizesse as delícias do seu pequeno. Zás, já sabia. Vira algo, ao seu alcance, que o filho iria de certeza adorar, pois brincava muitas vezes àquilo.
Já com a prenda no bolso, apressadamente o ti Augusto se dirige ao bacalhoeiro português, minúsculo ao pé dos dos russos, dos dos alemães…mas isso são outras histórias, pega numa folha de papel de carta, numa esferográfica e desata a escrever, em êxtase, genuíno, à mulher. Conta tudo; realça a prenda. Dentro de três meses estaria em Portugal, “ o pequeno vai ficar doido”. Dez linhas de carta que lhe levaram não menos que três quartos de hora a elaborar, e não fora por falta de ideias.
… “ Filho?”, “ Sim mãe!”, “ Recebi carta do teu pai. Daqui a pouco mais que dois meses tá cá.”, “ Maravilha, já não é sem tempo!”, “ A tua cunhada diz que ele na carta escreve que te comprou um comboio, pelo menos é o que ela diz que parece que lá está.”, “ Uma pista de comboio?!!!”, “ Parece que sim.”, “ Mas por que é que ele não chega já amanhã?!”, “ Tem calma tózito!”… E teve, que remédio!
O dia chegou. Já em casa, e depois dos demorados abraços e beijinhos da ordem, o vetusto pescador chama o jovem Tó para lhe dar o presente, a carga mais valiosa dos sacos que trouxera do navio. Entretanto, o ansioso delfim, ainda antes de o pai lhe poder mostrar a dita cuja, chama este à sala de jantar, se é que poderemos designar desta forma aquela desolada e exígua divisão!, para lhe mostrar o sítio onde iria meter a prenda, uma rectângulo correspondente a pouco menos que metade da mesma. “ Pai?”, “ Sim filho! ”, “ É aqui que vou meter a tua prenda. Dá, não dá pai? “, “ Filho?, mas isto é metade da sala! “…
Um esforço à pescador é o que o ti Augusto tem que fazer para não desfalecer. Depois de convocada toda a coragem, o ti Augusto desembrulha o presente: uma reprodução, em plástico, de um velho desbravador do outrora inóspito território americano do Norte: um cowboy!




Carlos Jesus Gil

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Conto que parece inacabado

CONTO QUE PARECE INACABADO




Podia rechaçá-los com a facilidade com que, antes do cavalo, troianos rechaçaram “gregos” naquela factual, ou não, batalha do simultaneamente belo e brutal, como todos os outros, mundo clássico… Qual quê?!! Comparação impossível! Nem sequer se trataria de facilidade; facilidade requer esforço… algum. Seria tal a ausência de dificuldade, que o vocábulo fácil, ou qualquer outro da sua família, não acolhe a tradução do não esforço total necessário ao arremesso de.
Podia, mas não o fez! Fez, sim… é que d’ele se trata, não de mim. A mim, todo o esforço do mundo de nada serviria. Eles avançariam, eles irromperiam muralhas adentro como espada amolada em guerreiro sem armadura.
Teria sido tão fácil metê-los a todos na linha!... Um estalar de dedos… nem tanto… só um toque… menos, só um processo mental. Entanto, preferiu tocar piano. Eles perturbavam, mas ele tocava piano!
E é o que tem feito desde então; é o que já fazia; é o que fará. Toca piano. Umas vezes piano, outras forte.




Carlos Jesus Gil

sábado, 19 de dezembro de 2009

Talvez em 2012...

Fracasso! Quioto não tem sucessor. Aponta-se 2010, na Cimeira do México... Ná, talvez em 2012!




Carlos Jesus Gil

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Até sexta, Copenhaga... E depois?

Boa tarde, caros companheiros!
Gostaria, para já, de desculpar-me por neste passado recente não vos ter visitado e por continuar assim por mais uns dias. O facto é que me encontro sem net, por diferendo com a poderosa operadora de quem tenho sido cliente... bom cliente, diga-se!
Aqui fica outro texto sobre a ordem destes dias:




ATÉ SEXTA, COPENHAGA… E DEPOIS?

São necessários, a curto/médio prazo, cerca de dez mil milhões de euros para ajudar os países pobres, aqueles que menos contribuíram para o efeito de estufa não-natural – o natural, esse é desejável que nunca sucumba, pois sem ele... ai de nós! -, a poderem adaptar-se aos efeitos directos e indirectos das alterações climáticas... Mas que adaptações?! Então?!... Entre um universo enorme de coisas, coisinhas e coisonas, refiramos a economia – uiii, tanta água que aqui desagua!: saúde, habitação, agricultura, silvicultura, pecuária, ecossistemas... Dinheiro, muito, que as mesmas inevitáveis adaptações, vão exigir. Ainda que em Copenhaga se consigam as ferramentas que permitam uma mitigação do problema, à necessidade das adaptações já ninguém se livra... Sim, sei, até porque a isso me liga a minha profissão, que ciclicamente o planeta assistiu a fenómenos semelhantes, só que agora a exasperação é maior, pois o homem meteu-se, eh pá e bem, desde que agora assuma!, ao barulho.

Em suma, Mitiguemos quanto possível, mas preparemo-nos para as impreteríveis adaptações... todos. Senhores governantes, que com o texto praticamente redigido chegam a Copenhaga para decidir, decidam o melhor possível, e abram as carteirinhas. Não há outra forma!

Carlos Jesus Gil


segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Copenhaga

Ora vivam, isto de corte de acesso à auto-estrada da informação, é o caraças!
Bem, aqui num intervalito, apenas deixar a preocupação pelo k se passa em Copenhaga. Os grandões facilmente compreendem a razão... que não raro não têm; dificilmente a dão. Os países de África bem k se esforçam. Vamos lá a ver, agora k estão a chegar os verdadeiros mandões... quer dizer, pelo menos é o k eles nos fazem crer... que mandam, vamos lá a ver!




Carlos Jesus Gil

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Vamos a isso!

Vá, senhores governantes e demais delegados em Copenhaga, não se esqueçam que o êxito da vasta Assembleia que constituem, passa, inevitavelmente, pela assumpção de facto de um Desenvolvimento Sustentável... Ah, e que este encerra um verdadeiro compromisso entre Economia, Ambiente e gerações vindouras. Vá lá, está na hora!




Carlos Jesus Gil

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Regresso à Casa Branca

RECRESSO À CASA BRANCA




Volvidas quase três décadas, eis que regresso à Casa Branca. Já não pelo assombro da arquitectura do edifício; não pela sumptuosidade dos seus interiores; tão pouco pela renovada candura do branco! Regressei a onde nunca fui, porque me era imposto fazê-lo. Sim, incumbências de um missionário generalista. Em toda esta abrangência de procurações, filhas da minha entrega, confesso que cuido com maior desvelo da minha do meio: A Limpeza da Casa. Ei!, falar-vos-ei mais tarde, quiçá, dos meus outros desígnios/filhos. Tereis oportunidade de atestar que não são p’ra mim meros enteados. Só que há sempre aquele desvelozinho mais direccionado… Não sei se será pecado, se o for, mil vezes perdão!
Bem, voltei a onde nunca fui com o objectivo de mostrar ao temporário dono da majestosa mansão os mais eficazes - assim o creio, estudei-os aturadamente - detergentes e quejandos ao dispor no mercado para limpeza de casas... Ele disse-me que já sabia da sua existência, e eu disse-lhe que sabia que ele sabia, mas que queria que ele soubesse que eu sabia.
Não posso dizer que o anfitrião não tenha sido tão simpático como o fora o senhor Sarmento, não senhor, foi um verdadeiro gentleman, porém invadira-me ali um feeling… Naa! Vou esperar pr’a ver… Copenhaga, estarei atento!




Carlos Jesus Gil

sábado, 5 de dezembro de 2009

A minha ida à casa branca

A MINHA IDA À CASA BRANCA




Um dia, já lá vão uns tempos, pois era ainda uma criancinha, fui com a minha família à casa branca.
A minha casa era, na altura, assim de um azul escuro - talvez mais escurecido que escuro mas fiquemo-nos com o escuro -, bem característico lá da área onde morava… o azul, esclareço, não o escuro, que isso de ter casas escurecidas era só para alguns. Eu gostava muito da minha casa, por dentro e por fora. Gostava dela toda. Pela cor também tinha grande apreço, porém não era este o elemento que nela mais me empolgava. Sempre me senti mais atraído pela candura do branco, facto a que não é de todo alheia esta minha mania pelo asseio exacerbado.
Bem, os meus pais eram amigos de um casal que vivia numa casa - coisa mais deslumbrante! - daquelas com uma arquitectura à não-engenheiro civil, e era branca. Nunca lá tinha ido, mas pelas fotos dava para ver que quando fosse grande era uma daquelas que eu queria ter. Estava verdadeiramente fascinado com o raio da casa. Nem era coisa p’rá minha idade, mas enfim…! Então certo dia, merendando juntos em minha casa, como não raro acontecia, o casal amigo convida os meus pais para irmos todos passar um fim-de-semana à casa branca. Moços, até arregalei os olhos quando ouvi tal proposta. Sim, foi mais uma proposta, mesmo ultimato, que um convite, pois os senhores diziam que só voltariam a minha casa se desta vez os meus pais aceitassem a viagem e a estada. E eu a ver que o meu pai ia dizer que não! Mas não, o meu progenitor respondera, finalmente!, que sim, “vamos sim senhor!”. E eu senti que tinha um Natal antecipado, melhor, que naquele ano iria ter dois Natais.
De maneira que, chegado o dia, lá embarcamos nós – e depois ainda há quem afirme que não se pode nadar em seco. Então? Se foi em seco que embarcámos… num automóvel! -, os meus pais, os meus irmãos e eu, no velhinho Ford Escort, e aí vamos rumo à casa branca. Cerca de oitenta quilómetros nos separavam da dita, mas não fizemos a coisa por menos de uma hora e três quartos. Assim, partidos por volta das nove e quinze, davam onze na torre da igreja quando destoávamos o velho Escort junto dos portões da casa branca. Por momentos simplesmente me alieno… A realidade reduzia-lhe a dimensão, mas não a majestade. Era a casa das fotos! Um funcionário, de tesoura corta-relva cerradíssima na mão direita, pergunta a meu pai o que desejávamos; segundos depois, os suficientes para ouvir do meu velho a razão de, o senhor passa a tesoura para a mão esquerda e abre o portão. Encontrava-se, evidentemente, ao corrente.
Já no jardim, fomos recebidos pelo casal Garcia que nos conduz ao hall de entrada da esplendorosa mansão, onde se encontravam, à nossa espera, os simpáticos patrões, o casal Sarmento.
Foi um fim-de-semana do caraças, aquele passado numa aldeiazinha, cujo nome já nem lembro, ali bem perto de Tondela… Que saudades!




Carlos Jesus Gil

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Cuidado com os picos!

CUIDADO COM OS PICOS!




Ui, como o mar está bravo!... Carago, nem parece meu, este espanto. Eu, que nasci, cresci, brinquei e desbrinquei à beira-mar ainda me espanto com isto?! Genuinamente espantado me encontro com o meu espanto!! Então pois!... O mar tanto está bravo agora, como vai estar manso logo mais. É!, sempre assim foi; sempre assim será! E nada há de profético nesta palavras. Trata-se de pura lógica, facultada por uma revisita ao histórico, revisita esta muito bem acompanhada por um bom cozinhado de ingredientes diversos até mais não, mas que, cuidando o necessário das mexidelas e da intensidade do lume, redunda sempre em algo não só apetitosamente tragável, como nutritivamente imprescindível.
Caraças, mas o mar hoje está mesmo bravo!... Olha-me só prá quela onda!... Arre! Daqui a nada chega-me à varanda. Há muito que não via coisa assim. É, exasperação de mar não me rala… já de alguns dos seus picos de nervosismo não posso dizer o mesmo. É por isso que ás vezes há coisas. Devemos preparar-nos para os picos! Não, não é questão despicienda. Preparemo-nos!
…Mas… o mar fica lá para os lados da minha casa, e eu estou fora há tanto tempo! Mas c’a raio!


Carlos Jesus Gil

sábado, 28 de novembro de 2009

Carta

CARTA

Terra
25/11/2009



Desejada Laura:
Aqui o rapaz, já cheio de saudades de te sentir por inteiro, resolveu hoje, assim dum momento p’ró outro e a horas bem tardias e já bem entradito nos copitos, fazer aquilo que nunca fez: escrever uma carta de amor… ok, tá bem!, uma carta de desejo. Nunca o fiz a ti nem a qualquer outra. Nunca fui dado a essas coisas das cartas, até porque os bilhetes postais, ilustrados ou não, cumprem o mesmo dever com muito menos trabalho, admitamos… E depois as coisas são como são, não é, linda?, temos os telemóveis… e se a saudade... ok, o desejo, aperta mesmo, temos o pópó e fazemo-nos à estrada. Se ainda fosse naquele tempo dos aerogramas… Sim, é que os aerogramas encerravam qualquer coisa de mágico… às vezes de trágico! Olha, lê aquele livro do Lobo Antunes, aquele com um título assim todo p’ró intelectualoide, de capa dura, que andei a ler há uns tempos. Lembras-te? Houve uma vez, quando fomos acampar, que é como quem diz, pois ficámos num bungalow, p’ró Minho, e tu querias música mas eu preferi leitura. Lembras-te que me deste na cabeça com o livro que estava a ler, e que eu caí logo cama abaixo? Tu até que nem bateste com força, mas o livro é que era assim a modos que pesadote. Já estás a ver qual era o livro? Estiveste um tempão com ele na mão a praguejar contra a editora e a esconjurar o autor. Já te lembras? Pois, é esse. Morzito, a esse tipo de cartas eu até acho piada. A começar pelo papel; e depois pela razão… verdadeiramente válida!
Bem, mas hoje, ainda que seja a teclar e não a esferografar, estou a escrever uma carta… a ti, bela digna de tela! E faço-o pelo que supra se pode depreender, mas também porque não quero que, se as coisas um dia mudarem, pois, se os sentires de ambos tiverem um dia por destinatárias outras anatomias, não quero, dizia, que fiques sem algo documental bem guardado no forro de uma das gavetas da atávica cómoda que teimas em manter, algo aonde poderás dirigir-te de quando em quando, pode ser todos os dias, vá!, contemplar os bons velhos tempos e retemperar o ânimo. Daí que, ao perguntar-te como estás, se tens saudades minhas, como tem corrido a quinzena - considera formuladas as questões! -, te peça que, também em papel, à máquina, a computador, a lápis ou a esferográfica me respondas, tá? Eu pago o envelope de correio azul… De correio azul não, isso é muito moderno. Vou expedir esta em correio normal, e tu faz o mesmo por favor. É menos banal. Pago-te o envelope e o selo, tá? E ainda te levo a um aconchegozinho no meu colo no vaivém do balancé do parque infantil aí da terra, como tu tanto gostas. Sim, à hora em que há mais pessoal, sei… dá-te mais gozo!
Morzito, por hoje é tudo. Dá cumprimentos aí à malta, e de mim aquela ementa à Tromba Rija.
Resposta rápida e sentida, aguardo.
Bj oceânico do teu mais-que-tudo




Carlos Jesus Gil

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Se calhar vou processá-los

SE CALHAR VOU PROCESSÁ-LOS

Vinha eu, há bocado, descansadinho no meu carro a ouvir rádio, sim, à espera do relato de Porto/Chelsea, quando, após um curtíssimo separador musical, irrompe carro dentro um marzão de publicidade. Num dos anúncios, a uma daquelas multinacionais que no que a electrodomésticos e material electrónico diz respeito vendem de tudo um pouco, o locutor/actor apregoava que durante uns dias – bem, não era exactamente por estas palavras mas a essência está cá – a empresa devolve aos clientes, no acto do pagamento, o valor do IVA. E depois acrescenta o alegado comprador habitué, assim à guisa de vaidosão, que na primeira oportunidade aí vai ele… à dita cuja, pois, que parvo é que ele não é!
Então, mês senhores?! Eu acredito na bondade dos vossos preços e das vossas promoções, palavra!... Possivelmente até passarei a ser vosso cliente, não aceito é que dêem roda de parvo se o não for.
Eh pá, pessoal, se calhar vou processá-los… Ou não!




Carlos Jesus Gil

domingo, 22 de novembro de 2009

Saramago e a Bíblia

SARAMAGO E A BÍBLIA


Agora, que a poeira tombou:




Sou um indefectível de Saramago, proclamo! Não sou, porém, um submisso seguidor, um prosélito militante. Aprendi que os gurus também desiludem. Não é de agora, este meu saber. Daí a crítica prévia a tudo, venha d’onde vier.
Caro pensador – a vós ora me dirijo, enorme mestre -, mesmo fazendo da leitura do Grande livro, da Grande Colectânea uma interpretação directa, literal, não vi ainda em que parte dos Génesis se pode ler ou depreender que Deus descansou a partir do sétimo dia… Posso, disso me dei conta, ler e deduzir que o Supremo Arquitecto do Universo – era por esta designação que meu avô paterno sempre O invocava – descansou ao sétimo dia. Bem diferente, não?
O que fez Ele desde aí? Com precisão, não sei. Acredito que se ocupe da incomensurável tarefa que é a gestão da Obra. Claro, trata-se apenas e tão só de um acreditar!
Continuando a estimá-lo como a poucos, mestre Saramago, imploro-lhe reflexão ainda mais cuidada acerca do Tema.




Carlos Jesus Gil

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

A cabra

A CABRA




Dois amigos, hoje no café:

- Ontem apanhei uma cabra com mais de cinco litros.
- Litros?!
- Sim, litros.
- Desculpa, quilos!
- Não, desculpa tu! Litros!
- Ahhhhh, dessas!




Carlos Jesus Gil

sábado, 14 de novembro de 2009

E do outro lado?

E DO OUTRO LADO?




E para lá da cortina de chuva eu não via nada, eu não ouvia nada. Sabia, contudo, que para lá da cortina de chuva existia matéria calada e matéria falante.
Esta coisa da incerteza, do saber que mas não mais que, causa apreensão… Oh oh, se causa! Apreensão e da pura, não há lugar a hibridismos neste tipo de apreensão. Não, é aquilo e aquilo mesmo, nada de ambiguidades!; não é uma qualquer misturazinha de um medozito qualquer contraposto aqui e acolá com umas boas doses de adrenalina. Não, quando assim é até que as cenas assumem o estatuto de dignidades eventuais, de contingências desejadas… E a chuva que não passa!
Mas passou. Tão repentina quanto chegou, assim se foi. O intenso tempão psicológico a não mais que uns curtos minutitos absolutos correspondeu… Ainda existia água liquida no ar mas o Sol já brilhava… e acontecia o arco-íris.
Do lado de lá, o mesmo que do de cá! Me espanto.




Carlos Jesus Gil

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

A brecha desejada

A BRECHA DESEJADA


Ouço martelos, picaretas, maquinaria pesada. Adivinho poeira no ar, no ar de todo o mundo.
Ouço algazarra intensa, e projecto o frenesim adequado.
É barulho d’obra, mas o Obra é outra. Noto-o, porque se nota. Não sei bem o quê, mas há qualquer coisa de diferente naquele som a picareta no betão. O que será?... Se é betão!; se é picareta!... De onde surge a diferença?... E depois o eco que não pára! Já lá vão vinte… anos, e ainda os ouço. Nem as obras aqui ao lado – com picaretas, iguais; com betão, igual – abafam ou confundem aquele barulho anarquicamente ritmado de picareta no betão.




Carlos Jesus Gil

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Mas porquê?!

Sei que tudo começou com a disciplina de Inglês. Tudo bem, ok. Uma vez por outra, sim, esporadicamente, claro que tudo bem... Agora tornar a comemoração do Halloween uma tradição na Escola portuguesa!... Não está com nada. Penso eu de que... e se calhar até pensam outros que de... facto até tenho razão... Vejam lá se os americanos comemoram o S. Martinho!
Fiquem bem, com ou sem pinturas... com ou sem máscaras!

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Solidariedade

SOLIDARIEDADE

Faz de conta que eu sou “ um “ Saramago ou “ um “ Philip Roth ou “ um “ Orhan Pamuk… ou “ dois “, vá lá, Paul Auster. Faz de conta, tá? Então, é nesse faz de, e vivendo-me em qualquer deles, que numa tarde qualquer, outonal de preferência, bebendo um café quentinho à mesa de um qualquer café, aquecido de muitos bafos, não das lareira e radiadores caloríficos ausentes, me exercito tentando meter-me na pele de mim próprio a esboçar um texto com cabeça, tronco e membros… ok: com um princípio, meio e fim que não sejam meramente contabilísticos. Vai daí, e como era o tal, optei mesmo por me dizer que rejeito a primeira designação da planificação e parto para a obra com a segunda no consciente. Menos prosaica…muito menos, embora o não possa parecer! Bem - no caso até mal e bem mal, ou melhor, mal e mal mal -, começo por me concentrar na escolha de um tema – pertinente, ousado, que acrescentasse… -, e eis que logo aí surge o primeiro empecilho, qual escolho impedindo o real barcão de continuar a navegação!: nada me merece a pena; tudo é vão, medonhamente vão! Depois, logo depois, dou conta de um segundo: mesmo que o mapa intelectual m’o tivesse revelado, revelei-me na condição de trolha, não de pedreiro. Frustradamente me defrontei com a demolidora realidade de não conseguir usar os tijolos… de - e voltando agora, porque passara a adequada, à primeira designação da planificação – não conseguir desenhar uma cabeça pegada a um tronco a membros pegado. Triste! Muito triste fiquei eu pelo outro… que sou eu! Triste, por notar que aquilo que a mim não exigiria esforço de monta, estava a exigir a mim uma força desusada… não contida. Triste porquanto o mais que eu poderia conseguir seria um tronco… e tosco, quando muito! O domínio da perfeita proporcionalidade que a mim me era tão natural, revelava-se a mim completamente impossível… só capaz de ser sonhado. As partículas do inefável, que por aí pululam à espera de quem as una, eu, por exemplo, teimam em não se me revelar. De modo que ficou, fiquei, ficámos…tristes!




Carlos Jesus Gil

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Os representantes

Admitindo a perenidade da dinâmica social, exorto a malta a acreditar que com aqueles que hoje tomaram posse a coisa muda... até porque os stocks não estão como estavam, longe disso! Até agora a realidade ajusta-se, perfeito, ao seguinte diálogo... ou vice-versa, tá.




OS REPRESENTANTES


… - E depois?
- E depois, o quê?
- Não vejo onde é que está o problema, é que não mesmo!
- Mas quem é que disse que havia um problema? Por acaso até nem há… não há um, são pelo menos quatro, os problemas.
- É pá, não te entendo… nem a ti, nem à puta da horda que representas!
- Puta?!, horda?!, olha o dicionário!... Deve haver aí, no teu raciocínio, uma inversão qualquer. Vai ver, consulta o dicionário!
Mas, continuando, não nos entendes?, ai não?!,ai não?!!! Então presta atenção! Os problemas residem – e olha que os vejo bem alojados, num conforto ímpar, inibidor de qualquer vontade de migrar – no modo de vida do teu patrão, no modo de vida dos filhos dele, no teu modo de vida e no mecanismo programado que vos abriga a todos no Inverno e vos areja no Verão…
Ainda não nos entendes, pá? Aprendemos nas mesmas escolas, estudámos pelos mesmos livros e até trocámos apontamentos… Teremos processado a informação, toda ela, de modo tão diverso?... Não me parece, até tínhamos notas similares!
São, agora, duas as doutrinas: a que segues, a que sigo; já não ouvimos as mesmas bandas. Apanhaste boleia, eu e a horda ainda andamos a pé.
Boa viagem!




Carlos Jesus Gil

domingo, 11 de outubro de 2009

Olá pessoal!

Muito me lisonjeiam ao exortarem-me a escrever. Eh pá, malta, é muito gratificante feedbackarem-me dessa forma. Pudera!... A conjuntura é k não é a mais favorável, de momento. Vou esforçar-me, contudo! E agora k, por uns tempos, me vejo livre do " bom povo, vocês bem sabem quem ... "- eheheheheh! -, agora que oficialmente encetamos um intervalo, até que se arranja um tempinho.

Hoje, uma Patetia:


DISTÂNCIA


Será que continuas linda?
Linda só?!, não,
um espanto;
o meu quebranto!,
que o foste em tempos
não passados
para mim.


Amados momentos que não esqueci
porque não pude!


As portas daquele edifício temporal
que coabitámos
ficaram escancaradas,
mas só enxergava num sentido.
Penso eu.




Carlos Jesus Gil

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Melhor o branco

MELHOR O BRANCO!

Ok., Saramago mestre, eu compreendo-o… huuuuu, como o compreendo! E depois é aquela, o senhor é um mestre para muitos muitos, e eu sou um dos… De modo que hodiernamente até que é mister seguir-lhe as reveladas conjecturas. Agora isto…! Carago, moços; qual é a vossa, bom Povo? Como é que é possível este porfiar atávico, esta reiterada displicência de deixar nas mãos de uns quantos “tolinhos” o que deveria ser tarefa do universo hospicial?!... Então?!




Carlos Jesus Gil

terça-feira, 8 de setembro de 2009

De volta

DE VOLTA


“ Há campanhas que podem ser em poesia, mas governar é em prosa. “




Olá pessoal! Um “ VIVA “ muito especial a todos! Esta é a minha rentrée bloguistica. Recomeço com uma citação… de citação… ou não.
Então: se, de facto, ouvi um inédito – se não o é, perdoem a ignorância… minha - da boca do nosso Primeiro, parabéns senhor engenheiro! Trata-se, tenho para mim, de um prodigioso axioma. No estádio em que em termos civilizacionais nos encontramos - todos nós, em todas as latitudes, longitudes e altitudes, em toda a ecúmena -, não existe género de governação senão em prosa. A hegemonia utilitarista do em vigor materialismo inelutável ( susceptível, porém, de a longo trecho perder o estatuto de tropa especial com colete à prova de obus), leva à inevitabilidade de um pragmatismo de processos em tudo impossível a uma aproximação empática à elevação usada por quem CANTA.
A Prosa, contudo, pode muito bem ser lavrada com alguma inefabilidade, ascender ao sublime. Não desesperemos, pois!


Bom, regressemos à regularidade da “síndrome do fim-de-semana”, pois a “síndrome do fim-de-férias”, essa por ora já era!
Bom trabalho!




Carlos Jesus Gil

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Tudo, ou quase, está escrito!

Viva pessoal!

Mais música, menos escrita.
Bem, só para dizer que os dois primeiros textos do post d’hoje constituíram comentários meus a posts de duas amigas leitoras. Daí o estilo.

TUDO, OU QUASE, ESTÁ ESCRITO!


Tenho para mim k tudo está escrito... verdade k assim penso! Logo, o Grande Livro tem de tudo. As páginas são viráveis!
Tá, inclui-se neste meu acreditar a possibilidade de podermos saltar algumas páginas... e até de acrescentarmos outras, porém a VONTADE terá k ser himalaiana!
Mas até essa possibilidade, k fica ao nosso arbítrio, está escrita. Penso!




Acabei de comentar, noutro blog, que acredito k td está escrito... Sim, vamos representando o Livro da nossa Vida. Existe uma nuance, porém, k joga a favor de nós neste meu acreditar: podemos saltar algumas páginas e até acrescentar outras, nada de gigantescas alterações, mas ainda assim boas possibilidades de mudança para melhor. Para tanto "basta-nos" possuir Enorme VONTADE!



Na sequência do supra plasmado, o seguinte:

Dizia Platão: “ Ninguém pratica a maldade voluntariamente!”. Pergunto eu: estaria também Platão a admitir a existência de uma prévia Escrita?... Sim, mesmo sabendo que o grande pensador se referia a outras composições!
Existem, penso, mecanismos de regulação/compensação supervisionados por “Comandante Supremo”, Deus, por que não designá-lo assim?! O aludido mecanismo poderá ter lugar cá, neste Sistema, ou num outro cuja natureza será em absoluto bem diversa da que vivemos, o Além, ou nos dois. Tenho para mim que somente quem reza devotamente, reitero, devotamente, poderá conhecer cá o Regime a que me refiro. Conforme as acções levadas a cabo, assim a substância dos resultados: “castigos”, "tudo na mesma", “recompensas”… Nova reiteração: só a quem reza com devoção! Creio também que o que acabo de defender não se aplica a todos, só a quem o Livro contemplar. Mas sempre, sempre, aqui ou Acolá, o Mecanismo actuará… com todos. Experimentem!
Claro que tal nos leva à noção de destino que, a existir assim no sentido literal do termo, lavaria todo e qualquer pecado à mais vil das almas. É uma possibilidade que o Modelo teoricamente admite mas que a prática rejeita, creio, pela faculdade que acima aduzo de podermos saltar Páginas… e até de acrescentar Outras.
Vale a pena pensar nisto, até porque a Eternidade existe, pois o Universo sê-lo-á sempre, por mais cataclismos que observe. Se a vida vai para sempre acompanhar a continuidade infindável do tempo; se a acompanhará com intermitências, não o sei… sei lá se somos já uma intermitência!

Carlos Jesus Gil

quinta-feira, 16 de julho de 2009

O mais do tempo... voo!

O mais do tempo... voo!


...


Com barbatanas nadei,
não muito, que não gostei.
Não é p,ra mim isso, eu sei.

Deram-me asas,
e voei, voei, voei…
Sem pausas sempre voei.

Porquê, Mãe Natureza?
(ocorre-me perguntar),
se nem o pássaro, que adeja,
vive constante no ar!




Carlos Jesus Gil

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Não basta ser...

NÃO BASTA SER…


Há rebuçados principescamente bem embrulhados, e outros que nem por isso. Os primeiros, esses, pelos menos num dos requisitos obedecem, sem mácula, às mais fundamentais regras sociais dos tempos que correm; os outros, nem por isso.
Até que nem me oponho ao adágio donde furtei o título, até que não!, todavia, devo aduzir que o ESTEIO reside, não somente mas hegemonicamente, na substância.




Carlos Jesus Gil

domingo, 5 de julho de 2009

Os ós pelos ás

OS ÓS PELOS ÁS


Isto deve ter acontecido por aí. Se os meus radares o captaram!... Mas isto o quê?, já perguntam, com razão mas também com elevada dose de tensão, os impacientitos leitores. Isto daquele rapaz de dezassete anos, aluno do 12º numa escola de referência na grande Lisboa, daquelas sempre cá em cima, rankinguescamente falando, neto de um guarda florestal que fez carreira ao balcão dos Serviços Administrativos da área à sua guarda, um perfeito amante da natureza, como sem esforço de monta se depreende destas inflacionadas palavras. É que há aqueles que têm a mania – será mania? – de falar pouco, e aqueles que falam pelos cotovelos, chegando mesmo a utilizar todo o antebraço. A verdadeira majestade da comunicação, o estádio em que aquela atingirá a perfeição, acontecerá, tenho para mim, a partir do momento em que o homem passar a casar todas as palavras, toda a fonética, em melodia. Claro, implica notas e figuras musicais! Eh pá, pessoal, aí será o Supremo. Nos casos de entendimento, tolerância, não há lugar a desafinanços, pois os acordes serão os adequados e a harmonia perfeita. Os outros…casos, esses tenderão à atomização, depressa cairão no esquecimento, tal não será a azucrinação que sofrerão ouvidos e cérebros!... Sim, depressa todos recorrerão à melodia inefável, à harmonia perfeita. Haverá problemas, claro!, de vez em quando uma palheta parte, um si desafina, mas… Que me lembre, os pássaros já fazem isso… e até outros animais, mas se vamos por aí nunca mais daqui saio. Bem, vocês entendem… um apelo em música; uma ordem em soprano… okey, em barítono… concordo! Bem, voltando à narrativa, dizia eu que o sr. guarda de balcão e secretária, com a natureza florestal só contactara mesmo durante o período do curso, e ainda assim… O homem não conhece o cheiro do mato, o cheiro à terra quando, depois de muito votada ao abandono da chuva esta volta a cair altruisticamente. Coisas que já experienciara, sim, mas das quais agora aos sessenta e três anos de idade já não fazia a mínima… Uma coisa é certa, aquele guarda florestal sempre se apresentara ao serviço conforme impõem as rígidas regras militares ou mesmo militarizadas. Farda devidamente engomada, gravata no sítio, sapatos engraxados, a velha pistola à cintura… Tudo no sítio, sempre! O senhor Vitorino Rosmaninho Palonço é de facto homem de respeito. Pode não distinguir um pinheiro duma acácia, mas é um respeitável guarda de florestas, com folha de serviço sem mácula. No bairro da capital de distrito onde morava, para todos era o sr. guarda. Até o edil lá do sítio o tratava com desusada deferência… Afinal autarca é autarca… por mais grande ou maior que seja um guarda florestal, a hierarquia beneficia o outro. Nunca compreendi todos aqueles paparicos, mas… Bem, acontece que os seus grandes feitos à secretária e ao balcão – não falámos deles aqui, nem acolá o faremos, descansem! - chegaram ao conhecimento das majestades do sector. Daí que o sr. director regional tenha convocado, sem carácter de urgência mas com interesse afirmado, o seu chefe de serviço com o fim de com ele travar conversa sobre uma possível transferência do guarda Vitorino para os Serviços Centrais, em Lisboa. Só uma demorada análise à figura do chefe, que nos faz chegar à conclusão que o dito é mesmo chefe… pois, se o é manda, não faz!..., nos permite compreender a paradoxal relação sentimental que demonstrou em relação ao subalterno. Pois se por um lado afirma ao director ser realmente aquele um guarda de competência pouco vista, o melhor dos elementos, que até merecia uma promoção, por outro roncava – como o canto seria tão melhor! -, denotando míngua de respeito pelo sr. director – cá para mim é daqueles que vê muito o “ Canal Parlamento”-, que não, que o homem sempre ali vivera; que ali se encontravam os filhos, os netos, quase toda a sua família e amigos… E depois quem é que meteria ele a picar os bois?!... A ausência de aspas na expressão obriga-me, a mim, que comparando os acervos de escrúpulos, meu e do chefe, fico a ganhar, a um clamado pedido de desculpas aos animais da repartição… que de homens se trata, não de bois!... Aqui ficam, pois, aquelas!... Pois, mas continuando: sim, mas o homem vai ganhar mais, returque o director, sabedor das invulgares capacidades do sr. Vitorino como guardador de florestas, embora em gabinete; conhecedor do zelo indizível, mesmo desvelo, que põe no seu serviço, ainda que da floresta só trabalhe mesmo com o subproduto papel. Roupa à civil, ausência de pistola, altos conhecimentos, continuava… Pereira, chame ao seu gabinete o guarda Vitorino e exponha-lhe o cenário! Certo?; pronto, senhor director, assim farei… E fez, e o aprumado Vitorino, depois de prestada toda a atenção à debitação do superior, responde que não, que não vai para Lisboa coisa nenhuma, isso seria ficar longe da família e dos amigos… e ainda por cima sem usar farda e pistola?! Não! Pode transmitir ao senhor director que aprecio muito a sua consideração por mim mas que não posso aceitar; eu bem que já adivinhava a tua resposta, Vitorino… e muito me alegra ela!... E vai daí, o neto dele, dele do guarda, espero que não se tenham esquecido do rapaz!, o filho do filho do meio, que apesar de ter um papá dono da maior e mais conceituada carpintaria da região não distingue uma serra dum serrote… bem, só cá pr’a mim, nem eu! Qual é a diferença?... Mas o que é que eu queria mesmo com isto?; do que falava eu?... Ah, do bem-vestido-à-marca, aluno do 12º ano de escolaridade, que resolvera cravar no placard de mensagens da sua nobilíssima escola o anúncio de que pr’a ele só uma rapariga muito bonita, muito inteligente e muito culta… E então?! E então que logo no intervalo a seguir dele se aproximou uma jovem moçoila, assim logo à partida com um dos requisitos muito bem preenchido, e lhe pergunta Zé-Zé, gostaria muito de ver um acaso contigo assim juntinhos à beira-mar!; um acaso?!; sim, um acaso… é tão romântico!...; deves querer dizer ocaso, não?... Ela, vermelha: sabes, troco muito os ós pelos ás, não faz mal pois não?; não! Se queres ir à praia comigo ver o pôr-do-sol, por que não? Essas trocas não têm importância nenhuma. Mas olha, se por acaso algo mais se pôr… em cima de… Depois não te queixes!... Com voz de soprano, em melodia que exige acordes maiores, ela pergunta?: queixar-me, eu… achas?!... aaaaachas?!







Carlos Jesus Gil

terça-feira, 30 de junho de 2009

Como pode ela marrar, se ele é que possui os instrumentos?!

COMO PODE ELA MARRAR, SE ELE É QUE POSSUI OS INSTRUMENTOS?!


Trrim, trrim, trrim… As possibilidades do digital têm a capacidade de nos confundir com a maior das levezas: como poderia ele, num bolso que de tão exíguo ser até se mostra, convenhamos, desusado, transportar um daqueles vetustos calhamaços pretos, por cordão umbilical espiralado ligado a auscultador, também ele em absoluto nada fora da esfera do calhamaçado?! Como pode?!... O aparvalhamento logo terminou, como já adivinha o leitor. Heitor sacara do minúsculo multifunções que também dá para telefonar, e atendeu: sim, diz Heitor, amigo do amigo do primo de um amigo de um amigo meu, que foi quem mo contou, doutro modo não saberia eu que as coisas assim se passaram… ou quase, que também não me passa ao lado o conhecimento de que se ao conto cada um acrescentar o seu ponto… de vista… Mas, continuando, ouvira Heitor, de imediato, o seguinte: não tens o meu número gravado?!; ah, és tu, Luísa?; sim, quem querias tu que fosse?; ninguém, querida, desculpa…peço que me desculpes, tá? É que deve haver aqui alguma confusão nas entranhas deste télélé. Imagina tu que ainda ontem me telefonou o Cavaco e eu disse sim Dr. Mário, como vai a Dra. Maria? Imagina tu!... Tenho que trocar isto. Deve ser resultado do impacto da semana passada, lembras-te?, quando o mandei, com quanta força tinha, à parede do quarto da tua residência académica, depois de te ter apanhado a brincar toda nua com um colega teu que, como tu, também tem gostos duvidosos… Também brinca todo nu e na cama! Quantas vezes falámos, sim, nas outras situações quejandas, que não fica nada bem brincar nu?... Quantas vezes me disseste sim tens razão, não volto a tirar a roupa pr,a brincar… Mas voltaste, e eu, pimba… telemóvel contra a parede. Se calhar é mesmo disso. Tenho que trocá-lo!... Mas espera lá!, está aí alguém contigo… e está a rir… a rir muito. Tens isso em alta-voz, é? Quem é que está aí a rir?... E tu também, por que ris tu?; não te preocupes, sou eu que estou aqui a brincar com um colega… mas não é o outro, é outro… não te chateies! Ah, e estamos vestidos. Estamos a brincar vestidos, tá?; assim está bem! Mas afinal o que é que querias?; era só pedir-te que não viesses cá esta noite, é que vou aproveitar e vou marrar toda a noite pr’ó exame de Sexta-Feira; assim é que é. Dá-lhe com força! Pronto, estuda muito e um beijo grande… E ela, já numa embrulhada de genuínos gemidos: beeeijo grandão.




Carlos Jesus Gil

domingo, 28 de junho de 2009

Remédio p'rás moscas

REMÉDIO P’RÁS MOSCAS

Certa vez fui a um supermercado e pedi remédio p’rás moscas. Vai daí, a senhora perguntou-me:
- O sr. tem moscas?; estão doentes?; o que é que têm?
- … Fiquei sem palavras! Encontrava-me, já, quase na rua quando a refinada senhora ainda me atira com esta:
- Nas farmácias, nas farmácias é que há remédios!
E pronto!




Carlos Jesus Gil

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Michael Jackson

Não foi criança... teve uma CARREIRA!
No meu entender, o maior cantor pop de sempre. Ritmicamente imbatível, ouvido harmónico do melhor!---------» A melodia surgia etérea!

Foi a minha homenagem




Carlos Jesus Gil

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Cientista "incendiário"

James Watson, cientista, co-autor da descoberta da estrutura da molécula de ADN e Nobel da medicina, declarou, há uns tempos, ao Sunday Times, que a genética dos negros faz com que sejam menos inteligentes do que os brancos.A indignação, por parte da comunidade científica e não só, fez-se sentir de imediato. Tal evidência levou a direcção do laboratório onde tem laborado a suspendê-lo definitivamente das suas funções de administrador, mantendo-o, provisoriamente -até que decisão definitiva fosse tomada-, como investigador.Watson acabou por dizer que as suas palavras não foram bem interpretadas, acabando por emitir um pedido de desculpas, acrescentando que não existe base científica que sustente a inferioridade dos negros.Então?... Um Nobel, reputado cientista, certamente senhor de todos os cuidados e ponderações, lança, assim - sem pilar científico que a aguente-, tão polémica afirmação!
Tá mal!




Carlos Jesus Gil

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Poema de amor (digo eu!)

Dêmos o que pudermos,
e que só bem faça
a quem o dermos!




Carlos Jesus Gil

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Gerações - vontades mudadas

GERAÇÕES – VONTADES MUDADAS


Na geração dos meus pais e na dos meus avós e na dos pais deles e… tinha-se como certo que a melhor forma de proteger a família era trabalhando, trabalhando, trabalhando, negligenciando - por amor, sim, por amor - coisas tão ou mais importantes.
Nas gerações da abnegação trabalhava-se para o futuro, o dos filhos e o dos filhos dos filhos. Trabalhava-se para o sangue, corresse ele no seu tempo ou circulasse quando os genes causais já mais não fossem do que partes de plantas…e oxigénio.
Na geração dos meus pais adiava-se a vida.

Noto diferenças, hoje.
Quem vive pelos meus avós?
Não viveram eles, não vivemos nós!
Noto diferenças, hoje.

Bem, ainda bem,
se não descambar para a incúria!
Bem, ainda bem.
Se todas as gerações adiassem a vida, quem a viveria?
Usar o Mundo não é o mesmo que viver o Mundo!




Carlos Jesus Gil

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Perfeição na diversidade... Mas primeiro comem os leões, ohhh!

PERFEIÇÃO NA DIVERSIDADE… MAS PRIMEIRO COMEM OS LEÕES, OHHH!


Vi desertos
Ermos
Amplos

Vi prados
E florestas onde o verde impera
Vi-os, vi-as a perder de vista

Conheço uma paleta indizível

Vi areias
- Filhas beneficamente arrancadas a penhascos –
E as mães

Sim
Experienciei o apelativo sinuoso
E a doce monotonia indolente

Ouvi gritos
Nem todos de dor
E os de dor convém distingui-los

Não desconheço as convenções…
algumas delas
Vi gente “boa”
Da outra também
Ah, e gente “linda”
Pois, e da outra também

Vi o Sol
Vi a chuva
A calmaria
A tempestade
A maldade
A bonomia
A fartança
A saudade

Vi animais
Vi plantas
De outros reinos também
Estudei tudo a preceito
… É tanto, tanto, tanto e não demais!



Há isto
Há aquilo
E tudo… que profusão!
Tanto, tanto que é!
Hodiernamente.
No passado não assim
No porvir, mais e mais e mais
Que o muito do pouco vem.
Porém, agora como dantes
Nada igual
Tudo diverso.
Eis a riqueza
Do universo!

E eu pensei
É bom
É bom assim
É muito bom
Óptimo
Perfeito!



Perfeito?!!
Mas, se os leões são os primeiros a comer!




Carlos Jesus Gil

terça-feira, 9 de junho de 2009

Livreiro, não alfarrabista!

LIVREIRO, NÃO ALFARRABISTA!


Um destes dias, por alturas do aniversário de uma boa amiga minha, fanática pela “Mafalda”, dirigi-me a uma livraria e disse, a quem de direito, que queria um livro da “Mafalda”… um ou até mais. E vai daí o senhor de direito disse que não vendiam livros em segunda mão, e eu retorqui, assim meio aparvalhado, que queria um ou mais livros da “Mafalda” mas novos… e, como começava a perceber o que se passava, até encetei uma curta explicação dizendo que era da “Mafalda”, aquela menina…, e ele, deferente mas obstinado, disse ah, aquela menina loirinha filha da dona Hermínia! Boa e linda menina, sim senhor! Pois, mas você não está a entender. É que nós não somos alfarrabistas… E mais me disse, agora nitidamente com uma cara assim pr’ó montes de admirado, que não compreendia como é que eu pedia com tão grande naturalidade, mesmo que de alfarrabista se tratasse, um livro ou livros de uma pessoa específica… Como é que ele iria saber que livro ou livros foram outrora pertença de Mafalda… Só se ela os tivesse assinado, que não iríamos com certeza recorrer às virtudes das impressões digitais, e, a tal ter acontecido, o esforço, do corpo e da mente, espiolhando aqui, vasculhando acolá – que ter a sorte de encontrar à primeira, ainda por cima mais do que um, não é coisa plausível -, seria imenso.
De maneira que acabei por me decidir pelo “ Guerra e Paz “, que se me insinuava desavergonhadamente, e não fugia muito ao género.
E de modos que foi assim!




Carlos Jesus Gil

quinta-feira, 4 de junho de 2009

O empréstimo

O EMPRÉSTIMO

A conversa já durava há bué. No seu moderno gabinete, daqueles à vista de todos mas sem quase nada dar a ver a todos, que o segredo ainda continua a ser a alma do negócio, eles é que arquitectonicamente nos querem fazer ver que não… que já era!, a gerente de agência, depois de esgotada a real complacência recorrera a uma não menos tangível, se ao esforço de aceitarmos o termo nos quisermos dar, displicência, logo seguida do uso e abuso, que o foi, convenhamos!, de eufemismos como forma de caracterizar as posses e a idoneidade, e aquelas têm muito a ver com esta, sim…têm!, do jovem senhor Manuel Arraia Mexilhão.
“ Quando for grande quero ser banqueiro”, dizia ele, visivelmente consternado. “ O senhor quer dizer bancário, não é?”, indagava, presunçosa, a bem- vestida-bancária. “Não, banqueiro! Banqueiro, porra!”, reiterou com acrescento, Arraia Mexilhão, ao mesmo tempo que desferia forte golpe de punho cerrado no tampo da pomposa secretária, donde, num simultâneo arrepiante - terá uma coisa tido a ver com outra?!... hummm! -, caía um elegante, esbeltíssimo monitor de computador. Ainda mais arrepiante foi notar, e notou-o quem lá não estava mas germinou o relatado, que também no mesmo segundo toda a clientela e concolaboradores da dita senhora, em todas as secções, se deitava instintivamente - de barriga pr’a baixo, está claro!, - no chão… Andaram na tropa, tenho a certeza!... Só depois de, a medo, dirigirem uma espreitadela ao local do “crime”, é que paulatinamente lá se vão levantando e continuando as suas diligências. A senhora do gabinete, essa continuava como se nada fosse com ela. Serenamente - pareceu-me -, lá esperançou o senhor Mexilhão da possibilidade de daí a uns tempitos até ser possível o pretendido… E ele lá seguiu o seu caminho sem dar estranheza às algibeiras nem gasto a tinta de esferográfica.
Afinal, agora que a frio penso nisso, tão somente quisera a figurísima senhora-bem- vestida firmar a justiça da decisão e afirmar o formal poder que lhe fora conferido! Não?... Sabe-o tão bem, Arraia Mexilhão!




Carlos Jesus Gil

terça-feira, 2 de junho de 2009

A entrevista

A ENTREVISTA



- Então eu vou cantar-lhe. Já apanhei este tempo em que a mobilidade no emprego substituiu o aconchego do emprego para toda a vida. Daí que já tenha sido…, durante uns duros seis meses o fui; fiz uma campanha de nove meses na…; trabalhei como vendedor numa empresa de… Aqui, digo-o, não me dei absolutamente nada bem. Muito pelo contrário!... Estive lá ano e meio. Fui ainda, durante um ano, funcionário numa empresa de… Ah!, já me esquecia, servi durante dezoito meses nas… E, modéstia à parte, era bom naquilo.
- Então, com excepção daqueles tempos nas vendas, pode dizer-se que se deu sempre muito bem nos empregos por onde passou… Não é verdade?
- Sim, dos outros gostei imenso!
- Mas… tão curta estada em cada um!!
- É que, sabe?, eu dei-me bem, os patrões é que nem por isso, muito embora todos me tenham dito, na hora do pontapé-no-rabo, que eu até era um bom rapaz. E eu sou de facto um bom rapaz, pr’ás calendas as falsas modéstias! Por isso desde já o informo que, em boa verdade, sou bom, muito bom mesmo… um verdadeiro especialista, mas só numa coisa – passe a redundância, que especialistas a sério só os vemos numa coisa
- Diga, diga!
- Refiro-me ao lançamento de redes. Aí é que eu sou mesmo bom, palavra!
- Oh homem, mas então por que veio até aqui?! Não seria melhor dedicar-se à pesca?!... O peixe está tão caro!
- Pois, o problema é que apesar de ser um ás a lançá-las, sempre fui uma nódoa a recolhe-las!
- Ah!!!... Oh raio!!!!!




Carlos Jesus Gil

sábado, 30 de maio de 2009

Sombra... na luz; no escuro

SOMBRA… NA LUZ; NO ESCURO


O que há mais é solidão!

Existem bué delas
De coisas
Mas o que há mais é solidão!
Atentem na peça x daquele motor!
… Junta com outras, não?
Pois é, não se livra ela da solidão.
Há diálogo
Tão só!

Arquitectura
Engenharia
De tudo
De todos
Eiva-as a solidão!

Vielas abundam:
negócio
Longas avenidas:
Amizade
Sim, e boulevards:
Amor

Mas o que há mais é solidão!

E também intermitência!

Em Tudo
Em Todos
solidão!




Carlos Jesus Gil

terça-feira, 26 de maio de 2009

Os Elementos

OS ELEMENTOS


Areia mais húmus ---------» solo

Junte-se lhe água
Receba-se o Sol


Ganhamos um colo
Ausência de mágoa

Mesmo com tormento

Temos alimento!




Carlos Jesus Gil

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Negócio/Ócio

NEGÓCIO/ÓCIO


O senhor das obras pr’a mim:

- Saiba!, nunca fiz negócio como forma de negação do ócio… sério, rapaz! Oh oh! Negar o ócio, eu?! Eu, que quando era “zé ninguém” tanto invejava quem o cultivava?! Eu, que lhe reconheço a virtude do impulso…sim, este ímpeto que me trouxe até aqui e que ainda hoje me invade!... Não, eu idolatro o ócio. Por ele formiguei e amigalhei… Tanto que já não dou conta de quantos migalheiros. Aliás, já não tenho migalheiros… Pois é, meu caro, foi para ser também digno dele, seu cultor, que fiz e faço freneticamente negócio… Não para o negar!
- Então, mas…?
- Pois, não diga mais nada meu rapaz. Nunca o vira eu mais magro; sei que não passei das intenções. Tenho plena consciência disso… Reconheço-me um miserável escravo do negócio… Alforria?... Hummmm!




Carlos Jesus Gil

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Livros

LIVROS


Gosto de os ter; todos os bons livros quero adquirir. Sou um comprador compulsivo de livros. Hei-de ter biblioteca ou bibliotecas pejadas de livros do chão ao tecto; só dispensarei espaço para a luz, muita luz – terei, forçosamente, que recorrer a um Siza – e, obviamente, para um centro amplo com mesas q. b. e cadeiras em proporção. Isto porque os não quero só para mim…
Livros…, dão-me remorsos os que ainda não li embora os possua já!... Gosto de os tocar, de os ler, de os cheirar, de os reler.
Aprende-se tudo na relação de complementaridade existente entre os livros e a experiência. Num bom romance, por exemplo, podemos: aprender História, absorver Filosofia, compreender políticas e politiquices, entender de um modo simples um complicado fenómeno natural – que o cientista, porque o experiencia e vive, percebe na plenitude mas não explica cristalinamente, por natural incapacidade -, entender o mundo económico e social, cheirar e ver em estranha realidade os cenários (ao ler um romance encontro-me num cinema…, sou director de fotografia, sou o homem do som, sou o realizador e, se for do meu agrado, até sou o protagonista…), enfim, um bom romance inocula doses cavalares de estoicismo, sopra auras antidesalento.
Livros, gosto dos velhos e dos novos, de todos os que entretêm ou acrescentam… Gosto de os ler, reler – a alguns de re-reler -, de os dar a ler, de os discutir; gosto de os usar, porém nunca mas nunca de os estragar (não é sujo o sujo do uso; é de exaltar a perda de elegância física de um livro quando a mesma se deve à sublime função para que foi concebido - que estar direitinho na estante é desdenhá-lo -, agora estropiá-los…, estropiar livros?! Fico furibundo quando me deparo com tal!).
Livros: unidades fabris onde operam palavras; cidades de palavras; espaços de lazer para palavras – que os compartilham simbioticamente com os humanos -; parques desportivos para palavras; por vezes, maternidades para palavras.
Livros: palavras, imagens – que todas as palavras projectam imagens -, emoções…Vida!




Carlos Jesus Gil

segunda-feira, 11 de maio de 2009

A ditadura do futuro

DITADURA DO FUTURO

Mesmo quando tudo está bem – connosco, com os nossos -; mesmo quando o Sol brilha e o vento assume o heterónimo de brisa; mesmo quando a melodia que escutamos é deveras inefável e a harmonia que a envolve empatiza com a nossa; mesmo quando as camisas que admiramos e defendemos são as mais transpiradas e as que mais vezes são levantadas, à guisa de brinde; mesmo quando a química inexplicavelmente inexplicável nos torna parte dum óptimo produto de reacção; mesmo quando tudo isto acontece em simultâneo e até o metal aparece, mesmo assim, nunca realizamos o pleno…Há sempre algo que obsta: a consciência do efémero, a incerteza do Futuro!


Carlos Jesus Gil

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Isso é lá com elas!

ISSO É LÁ COM ELAS!



- És zabaneira!
- Zabaneira, eu!?
- Sim, e mais!: és também zabumba, os olhos dos outros o podem provar, e és, não o negues!, zambaia… bem, zambaia não, que tens inteiros os dois olhos, mas és zambra, lá isso és… E como isso se nota!
- Eu!!!?
- Tu sim! E mais: és ainda assaz zamboa… Tanto que até zabumbas… Arre!
Fungando: - Mas o que é que eu te fiz?




Carlos Jesus Gil

terça-feira, 5 de maio de 2009

Tenho pena!

TENHO PENA!


Pessoal, o post que se segue foi descaradamente influenciado por aquela da vaca branca e da vaca preta. O quê!? Não conhecem esse mimo de anedota!?... Tenho pena, mas aqui só posto inéditos da minha lavra! Terão que pedir a um dos nossos digníssimos comentadores que a conheçam, o favor de a postar em jeito de coment. Vale a pena, vão ver!
A minha é assim:


- Eh Silva, pá, tenho uma pena do caraças, do Alberto Mateus!
- Então porquê, homem?
- Eh pá, o gajo nunca acertou no totobola. Nunca, nunca mesmo!
- Olha, eu também não. E tu, já acertaste alguma vez?
- Não, sabes muito bem. Eu também nunca.
- Então!!!?
- Silva, mas é que o Alberto também nunca acertou no totoloto!
- Durbalino Asdrúbal, ouve lá!, eu também não. Mas tu pelos vistos já!
- Não, pá! Eu também não.
- Ouve lá, meu, afinal qual é o teu problema!?
- Ó silva, pá, é que o amigo Mateus também nunca acertou no loto dois, nem no joker, nem no euromilhões.
- Eu também não, mas tu já, não é meu milionáriozito duma cana?
- Não, pá. Sabes bem como é que eu vivo.
- Escuta uma coisa, Durbalino!, de nós tu tens pena?
- Eh pá, não. De nós não. É que, sabes, há sempre aquela esperançazita…
- Durbalino Asdrúbal, Durbalino Asdrúbal… Se fosse a ti ia a um especialista… de nomes! Pode ser que a coisa venha daí.




Carlos Jesus Gil

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Feeria subsiste

FEERIA SUBSISTE


Avassalador! Arrebatador espectáculo, de uma feeria indizível… Que autor/prodígio fora capaz de tal? : um rol de mutações aleatórias?; a auto-organização?; os dois em parceria num caos harmónico?
Até quando o labor do Mestre?... ou dos Mestres?




Carlos Jesus Gil

segunda-feira, 27 de abril de 2009

A Ricardina e o Monstro

A RICARDINA E O MONSTRO


Embora de um modo bastante subliminar, suponho ser esta a segunda vez que neste blog à minha terra faço referência. É que, para além de generalista, pretendo-o um albergue do ecletismo que é o todo. Não tenho absolutamente nada contra bairrismos, localismos, regionalismos, chauvinismos… palavra!, só que aqui não. Aqui cabe a ecúmena e tudo o que a ela e aos que a tornam o que é diz respeito; aqui cabe o ecumenismo, entendendo o termo no parto mais directo de “ecúmena”; aqui cabe o mundo, como o entendo, o Cosmos… assim me venha à real gana!
Mas o que me fez, afinal, pegar hoje na esferográfica?... Não, não foi apenas o inegável facto de me encontrar a entediar, sabe-se lá porquê!, e de detestar “ Palavras Cruzadas ”. A verdade é que pretendo partilhar convosco uma lenda da minha terra. Ora vamos lá então, sem mais delongas: desde a idade em que jogava ao pião e trocava cromos, que ouço - esporadicamente, diga-se, que não fazem disso obsessão! - gentes da minha vizinhança aludirem à Carpa Ricardina. Segundo a oralidade documental, a esplêndida, embora esquecida, lagoa de água doce – doce, só porque vedado lhe está o sal que mora a escassos metros, do outro lado da duna primária; doce, mas sem açúcar, portanto! -, a Barrinha, onde tantas vezes nadei e pesquei, é, há décadas, largas, habitada por animal tão grande e arisco que, não fora esta confortável singularidade de simultaneidade de qualidades, e já alguém o teria fotografado… ou filmado. Sim, que de há muito que existem meios, e gente de máquinas em riste é o que não falta todo o ano por cima da dita a deslizar em rústicos – ok, senhores conhecedores, a maior parte já são daqueles foleirotes à brava. Eu sei que a Barrinha agora mais se parece com um parque Disney! – barquinhos. Refiro-me, pois à Carpa Ricardina… Que fulano a viu, beltrano e sicrano a avistaram, disso não existam dúvidas! O problema é que, como sabemos, a bicha é arisca… e depois parece que conhece de ginjeira quem fotografa ou filma e se apresenta munido dos respectivos apetrechos. Mais, acho que tem radar que avisa destas coisas!... De maneira que a, dizem, monstruosa mas bela carpa, só aparece de vez em quando e a quem ela bem entende e que ache sozinho, outra das condições pelo animal impostas.
Ora bem, tirando o facto de ainda ninguém do desenho, da pintura, das revistas, dos livros e do cinema se ter ocupado, por uma vez que fosse, da Ricardina; posto fora também, e aqui em jeito de especulação, a questão do tamanho, temos que a Ricardina se encontra para a Barrinha como o mítico monstro nórdico se encontra para o Loch Ness.
… Agora que terminei o texto, é que me dou conta de que há buéréré que ninguém fala nem dum nem doutro. Será que já ninguém alucina!?... Esta saiu-me assim a modos que furtivamente… ou não!




Carlos Jesus Gil

sábado, 25 de abril de 2009

Ui, tanta coisa!

UI, TANTA COISA!


Passou-se numa Segunda-feira. Não sei de que semana, qual o mês, nem tão-pouco do ano faço a mínima ideia. Porém, que Segunda-feira era, disso não tenho dúvida alguma!... Já agora, que se interrogam, por certo, “ Mas como é que o gajo sabe que foi numa Segunda-feira? “, eu digo-me, “ Pois é, pá eu, como é que eu tenho assim tanta certeza do dia da semana!? “… Só que esta tempestade cerebral comigo próprio cedo conhece o fim, visto eu logo me dizer, “ E eu tenho lá que saber como é que tenho assim tanta certeza!?... Lérias, xô, xô daqui… já! Boa, esta agora!, agora que repenso requestiono-me envergonhado, “ Então podia lá ser noutro dia!?... A uma Terça, Quarta, Quinta, Sexta, Sábado… ou mesmo Domingo!? Não! Claro, cristal, mais que óbvio que não!... Até me dá vontade de rir, carago, mas c’a raio de néscia hesitação!, vou-me repetir: até me dá vontade de rir. Todavia, como de assunto mui delicado se trata, já todos vimos, não?, não me vou dar esse prazer… Não vou! Até porque, cá só para nós, não sou assim tão hedonista! Aconteceu numa Segunda-feira, e pronto! “… E isto é que é o importante, heim?, é ou não?... Ah..., vocês consideram ainda mais importante a questão do que verdadeiramente se passou!... E eu sei lá!? Por que carga d’água é que eu haveria de saber o que realmente se passou? Eh pá, só naquela aldeiazitazinha muita bonitérrima, ali no Parque Nacional da Peneda-Gerês, naquela, estão a ver?, passou-se tão grande magote de coisas, que nem até ao fim do ano…!




Carlos Jesus Gil

quinta-feira, 23 de abril de 2009

O Cágado velho

O CÁGADO VELHO




Tão avisado, o Cágado Velho; tão enorme a sua sabedoria!... O Cágado Velho é simples, quer dizer, parece, que as perguntas que faz assim no-lo permitem pensar… Sim, é maiêutico, o Cágado velho. Como o outro, tão Velho quanto ele, procura conhecer-se a si próprio e chegar, assim como quem quer mesmo a coisa, a conhecimentos complexos, mesmo à Verdade; como o outro, não regista nada do que diz… sabe que outros o farão. Ao contrário do outro, não é ameaçado pela apologética apologia do sopro do que sabe mas, mais uma vez como o outro, defende a propagação da necessidade do exponencial aumento do saber, pois, como ele, sabe que nada sabe… Como me apraz o desejo que sinto em ser discípulo do Cágado Velho!




Carlos Jesus Gil

terça-feira, 21 de abril de 2009

A semente de mostarda é pequenina

A SEMENTE DE MOSTARDA É PEQUENINA


Não te incomodes, tijolo,
em ser tijolo!
Ai dos aclamados arquitectos,
sim, dos magazináveis,
ai deles
e das transgeracionáveis obras,
contempladas, ou não, agora;
certamente assombrosas amanhã.
Ai deles… e delas
sem ti!




Carlos Jesus Gil

sexta-feira, 17 de abril de 2009

TRABALHO É SEMPRE


Só existe trabalho. Ou melhor, o trabalho é omnipresente; sem trabalho seria o nada!
O Universo é trabalho incessante. Nas galáxias, nas estrelas, nos planetas… nada pára, tudo trabalha; andamentos e ritmos diferentes, admitamos, mas tudo toca.
Já pensaram na hipótese de, em qualquer que seja o ser vivo, um órgão resolver descansar um pouco, mandriar? O ente logo entraria em estado de maleita, não é? Então, e se o órgão resolvesse meter férias ou reformar-se?...
Não, não me venham com essas!... Os malandros, os desempregados, os reformados e outros parados também trabalham. Para além dos órgãos que neles laboram – e eles também são os órgãos – só trabalharem porque eles se alimentam, e isso é trabalho, eles exercem a função de dar trabalho a outros – aliás, função acumulável e comum a tudo e todos.
Também as rochas, pois claro; as casas, as casinhas pois!; tudo o que é imóvel e todas as coisas avariadas que, no mínimo, exercem a função de proporcionar trabalho a outros ou a outras…coisas.
Trabalho, eternamente. Daí a Orquestra não parar, nunca!
O Palco?, Esse vive constantemente e perenemente rearranjos.




Carlos Jesus Gil

quarta-feira, 15 de abril de 2009

As saudades são de quem?

AS SAUDADES SÃO DE QUEM?


Ao telefone, o namorado, ausente, para a namorada… e vice-versa:

- Olá morzinho!, tudo bem? Tenho muitas saudades tuas!
- Olá môr, também tenho! Mas, espera lá, tens muitas saudades minhas!?
- Sim, muitas mesmo.
- Não me parece.
- Desculpa, tenho montes de saudades tuas. Não duvides!
- Não, eu não duvido dos teus sentimentos. Duvido é da legalidade sintáctica da expressão. Quer dizer, não duvido nada, sintacticamente até nem vejo problema algum, o que eu noto é uma total desvalorização da lógica… pasmaste? Não dizes nada? Môr, há nessa frase uma absoluta desvalorização da lógica, e isso não é legal. Consideras despicienda a coerência?... Continuas pasmado, já vi. Olha lá, a gramática é importante, bué, não supera, contudo, em valor de mercado comunicacional, aquelas duas.
Môr, eu também tenho muitas saudades… de ti, não tuas. Entendes?
- Pronto, pasmei mas percebi. Morzinho, o essencial em comunicação é entendermo-nos, e tu entendeste-me. Quiseste escrever um pequeno ensaio sobre o assunto, né? Tá, só de ouvir a tua voz já se me alegra o coração! Podes avançar para o tratado.
- Desculpa, môr!
- Nada, nada, continua até findar o saldo.
- Olha, vê lá se te despachas, quero matar essas saudades o mais breve possível.
- Eh lá, eh lá, agora sou eu que ensaio: “matar essas saudades!?”.
- Sim, tu não queres!?
- As saudades não se matam, minha querida, quando muito adormecemo-las… ou elas não voltam quando nos separamos de novo? Se estivessem mortas…
- Tens razão, como tudo neste sistema, elas não ressuscitam. Beijinho!
- Beijo grande!




Carlos Jesus Gil

segunda-feira, 13 de abril de 2009

É o Tempo!

É O TEMPO


Este é o tempo do aviso…
Possuímos todos os dados
p’ra tomar siso!

O tempo
para dar a conhecer
que só temos a perder
em não abrandar:
no desperdício;
no vício
de só querermos o poleiro,
o muito dinheiro;
na irreflexão;
no querer já
- se for mais tarde não dá -;
na corrupção.

Este é o tempo cerebral…
O tempo das medições e das conclusões.

Foi escrito?... É bem provável!




Carlos Jesus Gil

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Absolutamente deslocado

ABSOLUTAMENTE DESLOCADO


Agarra coragem, agarra coragem, pá!
Fora necessário imenso tempo. Luas passaram. Apenas pausava o suficiente para se nutrir, lavrar necessidades e dormir. A grande, a enorme tranche fora dedicada ao treino… Lograra, enfim, alcançar. Não o abandonara a timidez, não!, que para além de inata, tivera aquela reforçado alimento décadas, três, a fio. Continuaria, sussurremos!, para que nos não ouça e, assim, nos não leve a mal, a ser timorato ad infinitum. Todavia, graças a trabalho árduo – já aqui levemente insinuado – de treinado e treinador, era agora um homem de coragem. Acanhado, mas corajoso! Pois, o que é que o cu tem a ver com as calças?!... Fica esta questão apenas para aqueles que virem na sociedade acanhado-corajoso paradoxo evidente.
Perneta ficaria a estória, com a qual se pretende relatar a História, se omitida fosse a informação de que o eterno-não-emancipado auto-submetido a ditadura patriarcal não cardinalícia, informação esta apenas para que se não cometa injustiça grossa contra a meritória e digníssima magistratura eclesiástica, era homem de enormes talentos literários e possuidor de cordilheiras de cultura. Não daquelas que albergam simples serranias, não! Daquelas outras do tipo alpino, que a himalaiano ainda não chegara, longe como está da sapiente velhice. Daí que, sabendo-se como era e consciente, que presunção não era, de que o que era e é, que para o Além ainda não viajara, constitui valia de monta grande a uma sociedade carente, não de “eras” e “ques”, que se o era, com o presente texto o deixou de ser, resolvera telefonar a pessoa gozante de grande prestígio no mundo da edição literária, com o fito de conseguir uns minutinhos de conversa – ele nem ousava designá-la, a reunião, de reunião!
Aquiescera, o senhor.

- Mande entrar, mande entrar!
- Com licença!
- Faça favor!... Então, o que pretende de facto, senhorrrr
- Abílio Pereira, Dr. Tomás.
- Sr. Abílio, ao certo o que deseja de mim?
- Gostaria, Dr. Tomás, de propor-lhe um ensaio, ou mesmo um tratado, sobre “ a idealização de Sócrates e o utopismo político de Platão”.
- Mas, caro Abílio, muita gente grande já escreveu sobre essa temática. Olhe, estou a lembrar-me, por exemplo, de uma excelente, mesmo exemplar, obra do Vasco de Magalhães Vilhena. Nem é da nossa editora, é da Gulbenkian, mas li e reconheço ali trabalho maior… Não vejo o que poderia vir a acrescentar ao tomo.
- Sabe, há sempre coisas…
- Não, meu caro, não vá por aí!
- Então e se me propusesse traduzir os inefáveis sonetos de Shakespeare?
- Meu amigo, isso é consigo. Aqui é que não. Não dá! Não sabe o douto senhor que um outro Vasco, o Graça Moura, já tal empresa criara?!... e com qualidade isenta, creia, de repreensão.
- …………… Podia ensaiar sobre a mente e o corpo, estou bem por dentro do assunto.
- Então já não o fez tão maravilhosamente bem António Damásio?... e Karl Popper?
Olhe, caro amigo, vejo que dotes e cultura pululam avonde por todo o seu universo atómico, palavra!, mas o que me propõe publicar, por maior qualidade que tenha ou viesse a ter, nada de substancial acrescentaria à firma proprietária destes cadeirões. E, como compreende, sou forçado a levar isso em conta. Gostaria, no entanto, de lhe oferecer uma oportunidade de trabalhar comigo. Se aceitar trabalhar sobre uma ideia que namoro há uns tempos, fazemos negócio.
- A necessidade é minha e o prazer será meu. Projecte a sua ideia, Dr.
- Ora então: trata-se de uma explorar literariamente a incontrolável contrafacção do loiro nos cabelos… de mulheres e homens.
- … Mas, se a genética nunca se queixou…!
Estas palavras já foram sussurradas no sentido da porta.




Carlos Jesus Gil

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Epopeia sibilina

EPOPEIA SIBILINA




Nascera numa manhã de nevoeiro, que bem cedo levantou, num nauseabundo bairro de uma grande metrópole europeia, daquelas do primeiríssimo mundo que, por isso mesmo, alberga mais que as outras, as de mundos de prata ou de bronze, maior quantidade de caracteres do quarto, não de repouso, daquele posicionamento mundano que o coloca fora de prazo, ai, desculpem!, fora do pódio, intentava eu… Interessa saber qual?, achamos que não, como tal não destoldamos a placa.
Bem, serve o presente microconto para vos dar conta de como a …… …… ….. - pois, se das coordenadas geográficas vos não damos nota, do nome tão-pouco! -, parido às mãos de parteira experiente, enquanto na cozinha ao ladinho aguardava um mar de gente, isto no ano da Graça de 1912, tão depressa desaparecera a impossibilidade de o comparar economicamente a um porco quanto rápido se levantara o nevoeiro que o sentira nascer… Digo-o hoje porque à distância é mais fácil a compreensão: o mesmo se foi por medo do próprio, daquele que ora evocamos. Nunca mais o astro-rei deixara de o servir, excluídas, claro, as horas de não expediente… que o Sol também dorme! Diz-me ainda a distância e palavras, muitas, em papéis, que o ainda vivente …… …… ….. é homem de dívidas tantas e tão imensas, que quem não ouviu da distância nem aprendeu das letras em papéis terá dificuldades acrescidas, mesmo impossibilidade, em compreender o legado legal de milhares de milhões … muitos, que deixa a filhos, netos, bisnetos… Pena é que parte do trecho dedicado às dívidas se encontre envolto, ironia!, em denso nevoeiro. Apenas é cristal a referência à avultada dívida à inteligência, o resto… nada… e tem que haver mais, muito mais! À guisa de adenda, ainda se pode ler no temático documento que nem banca nem consciência são credoras.
Ele ainda anda por aí…rijo que nem um pêro.




Carlos Jesus Gil

sábado, 4 de abril de 2009

O lugar d'alguns

O LUGAR D’ALGUNS


É fria a noite
lá fora.
Cá dentro, quentinho.
… Este é o meu lugar!


Carlos Jesus Gil

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Criançar/Adultar

CRIANÇAR/ADULTAR


Gosto tanto das pessoas que demoram em ser crianças...!; vejo nobreza ímpar naquelas que precocemente se tornam adultas. Gosto dessas ainda mais!




Carlos Jesus Gil

segunda-feira, 30 de março de 2009

O X, o Y, o Z e outra letra que se lê

O X, O Y, O Z E OUTRA LETRA QUE SE LÊ


Continuação do post anterior ( é conveniente – ou não – ler primeiro o post anterior )


Foi o Miguel, um amigo nosso de Santiago do Cacém, quem lhe dera a volta. Porém, de modo indeliberado. O Miguel, ainda que pareça inverosímil aquela jovem não atrair seja que homem for, só via nela uma amiga. Foi isto mesmo que lhe transmitiu na manhã desse revelador dia de Junho, numa conversa que, segundo Liliana, levara ano e meio para ter lugar.
Bem, o que é que eu podia fazer?... Apenas duas coisas: desejar que ela me desejasse - o que me parecia menos possível do que Pinochet, enquanto vivente presidencial, ter-se tornado um complacente democrata -; e filosofar-lhe um bocadito. Como a primeira já ocupava o meu íntimo, platonicamente, de há muito, resolvi então armar-me em filósofo barato:
- Liliana, para tristeza minha e de milhões de outros, as coisas são assim mesmo. O indivíduo X ama o Y, que por sua vez ama o Z, que não ama o Y, mas sim o X… Liliana, este é o circuito normalmente percorrido. Quando alguém, talvez por engano, sai do circuito, acontece o Supremo Bem-Estar da Felicidade… Só mais uma coisa, Liliana: nunca estudes o circuito!
A minha amiga secou as lágrimas, esboçou um sorriso e convidou-me para uns finitos entremeados com uns saborosos camarões eusébianos.



PS aos amigos não portugueses é curial esclarecer que marisco eusébiano é tremoço.



Carlos Jesus Gil