sábado, 14 de novembro de 2009

E do outro lado?

E DO OUTRO LADO?




E para lá da cortina de chuva eu não via nada, eu não ouvia nada. Sabia, contudo, que para lá da cortina de chuva existia matéria calada e matéria falante.
Esta coisa da incerteza, do saber que mas não mais que, causa apreensão… Oh oh, se causa! Apreensão e da pura, não há lugar a hibridismos neste tipo de apreensão. Não, é aquilo e aquilo mesmo, nada de ambiguidades!; não é uma qualquer misturazinha de um medozito qualquer contraposto aqui e acolá com umas boas doses de adrenalina. Não, quando assim é até que as cenas assumem o estatuto de dignidades eventuais, de contingências desejadas… E a chuva que não passa!
Mas passou. Tão repentina quanto chegou, assim se foi. O intenso tempão psicológico a não mais que uns curtos minutitos absolutos correspondeu… Ainda existia água liquida no ar mas o Sol já brilhava… e acontecia o arco-íris.
Do lado de lá, o mesmo que do de cá! Me espanto.




Carlos Jesus Gil

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

A brecha desejada

A BRECHA DESEJADA


Ouço martelos, picaretas, maquinaria pesada. Adivinho poeira no ar, no ar de todo o mundo.
Ouço algazarra intensa, e projecto o frenesim adequado.
É barulho d’obra, mas o Obra é outra. Noto-o, porque se nota. Não sei bem o quê, mas há qualquer coisa de diferente naquele som a picareta no betão. O que será?... Se é betão!; se é picareta!... De onde surge a diferença?... E depois o eco que não pára! Já lá vão vinte… anos, e ainda os ouço. Nem as obras aqui ao lado – com picaretas, iguais; com betão, igual – abafam ou confundem aquele barulho anarquicamente ritmado de picareta no betão.




Carlos Jesus Gil