sábado, 5 de dezembro de 2009

A minha ida à casa branca

A MINHA IDA À CASA BRANCA




Um dia, já lá vão uns tempos, pois era ainda uma criancinha, fui com a minha família à casa branca.
A minha casa era, na altura, assim de um azul escuro - talvez mais escurecido que escuro mas fiquemo-nos com o escuro -, bem característico lá da área onde morava… o azul, esclareço, não o escuro, que isso de ter casas escurecidas era só para alguns. Eu gostava muito da minha casa, por dentro e por fora. Gostava dela toda. Pela cor também tinha grande apreço, porém não era este o elemento que nela mais me empolgava. Sempre me senti mais atraído pela candura do branco, facto a que não é de todo alheia esta minha mania pelo asseio exacerbado.
Bem, os meus pais eram amigos de um casal que vivia numa casa - coisa mais deslumbrante! - daquelas com uma arquitectura à não-engenheiro civil, e era branca. Nunca lá tinha ido, mas pelas fotos dava para ver que quando fosse grande era uma daquelas que eu queria ter. Estava verdadeiramente fascinado com o raio da casa. Nem era coisa p’rá minha idade, mas enfim…! Então certo dia, merendando juntos em minha casa, como não raro acontecia, o casal amigo convida os meus pais para irmos todos passar um fim-de-semana à casa branca. Moços, até arregalei os olhos quando ouvi tal proposta. Sim, foi mais uma proposta, mesmo ultimato, que um convite, pois os senhores diziam que só voltariam a minha casa se desta vez os meus pais aceitassem a viagem e a estada. E eu a ver que o meu pai ia dizer que não! Mas não, o meu progenitor respondera, finalmente!, que sim, “vamos sim senhor!”. E eu senti que tinha um Natal antecipado, melhor, que naquele ano iria ter dois Natais.
De maneira que, chegado o dia, lá embarcamos nós – e depois ainda há quem afirme que não se pode nadar em seco. Então? Se foi em seco que embarcámos… num automóvel! -, os meus pais, os meus irmãos e eu, no velhinho Ford Escort, e aí vamos rumo à casa branca. Cerca de oitenta quilómetros nos separavam da dita, mas não fizemos a coisa por menos de uma hora e três quartos. Assim, partidos por volta das nove e quinze, davam onze na torre da igreja quando destoávamos o velho Escort junto dos portões da casa branca. Por momentos simplesmente me alieno… A realidade reduzia-lhe a dimensão, mas não a majestade. Era a casa das fotos! Um funcionário, de tesoura corta-relva cerradíssima na mão direita, pergunta a meu pai o que desejávamos; segundos depois, os suficientes para ouvir do meu velho a razão de, o senhor passa a tesoura para a mão esquerda e abre o portão. Encontrava-se, evidentemente, ao corrente.
Já no jardim, fomos recebidos pelo casal Garcia que nos conduz ao hall de entrada da esplendorosa mansão, onde se encontravam, à nossa espera, os simpáticos patrões, o casal Sarmento.
Foi um fim-de-semana do caraças, aquele passado numa aldeiazinha, cujo nome já nem lembro, ali bem perto de Tondela… Que saudades!




Carlos Jesus Gil

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Cuidado com os picos!

CUIDADO COM OS PICOS!




Ui, como o mar está bravo!... Carago, nem parece meu, este espanto. Eu, que nasci, cresci, brinquei e desbrinquei à beira-mar ainda me espanto com isto?! Genuinamente espantado me encontro com o meu espanto!! Então pois!... O mar tanto está bravo agora, como vai estar manso logo mais. É!, sempre assim foi; sempre assim será! E nada há de profético nesta palavras. Trata-se de pura lógica, facultada por uma revisita ao histórico, revisita esta muito bem acompanhada por um bom cozinhado de ingredientes diversos até mais não, mas que, cuidando o necessário das mexidelas e da intensidade do lume, redunda sempre em algo não só apetitosamente tragável, como nutritivamente imprescindível.
Caraças, mas o mar hoje está mesmo bravo!... Olha-me só prá quela onda!... Arre! Daqui a nada chega-me à varanda. Há muito que não via coisa assim. É, exasperação de mar não me rala… já de alguns dos seus picos de nervosismo não posso dizer o mesmo. É por isso que ás vezes há coisas. Devemos preparar-nos para os picos! Não, não é questão despicienda. Preparemo-nos!
…Mas… o mar fica lá para os lados da minha casa, e eu estou fora há tanto tempo! Mas c’a raio!


Carlos Jesus Gil