sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Retrato

RETRATO




Seu caminhar, se quisermos ser honestos, amigos e formos determinados em não tergiversar, nada deve à elegância: desconcertado, corcovado, pernas arqueadas, pés a apontarem descaradamente para fora… uma figura triste!
Se quisermos ser amigos… bem, se quisermos ser amigos devemos acordá-lo do torpor, da modorra que, ao invés do que lhe parece, o vem inexoravelmente consumindo há anos. Certo é que tratamos de vetusto futuro pó, futuro inerte… futuro inerte?!... não, nisso não se inscreverá o seu futuro!,digamos que futuro gás, isso também sim, futuro componente de uma imensidão de futuros vetustos pós!
O seu rosto é um amontoado de rugas, profundos sulcos, afluentes e subafluentes de um rio maior, o qual, como todos os rios, nasce, a toda a hora, em milhentos sítios, nos braços, no peito, na barriga, nas mãos, nas pernas… o que, considerando como considero localizado na face a sua cabeceira mais a montante, constitui um tristíssimo paradoxo. Pois, correndo aquele rio, como correm todos os outros, para os pés, seria aqui que os sulcos teriam que ser tão sulcos que sulcos não parecessem ser. Um espraiamento, uma desfiguração total, digo total, do que na pujança do seu ser a coisa fora. Mas não! É aqui, precisamente aqui, que melhor preservado se encontra o todo que de há muito é… Devo referir, imperioso!, que não raro sofre de espécies várias de achaques; ataques mesmo, por vezes. Mas, como desde a sua meninice tal acontece…
Bem, é assim que o vejo. Provavelmente uma qualquer objectiva o objectaria de uma outra forma… quiçá absolutamente oposta. É assim que o vejo… Importo-me com ele só porque sei que se lhe toldaram os miolos… nem o espelho tem a faculdade de o despertar. Sei que todos vós se importam, como eu, na mesma intensidade, com o estado do vetusto ser. Sei, tenho a certeza. Só por isso pintei este retrato que lhe vou oferecer…logo eu que parco sou de recursos do género, que se os tenho à fartazana, por eles não dou, quão esconsos hão-de estar!... Fi-lo porque tenho na minha que lhe têm mostrado fotos, só fotos, muitas fotos de todos os ângulos, fazendo-lhe crer que está para longe, ainda muito longe a necessidade de cuidadas intervenções cosméticas. Um engano, uma mentira, mas uma mentira que poderá converter-se em verdade se o dito tiver acesso a retratos de qualidade… talvez se alguém de Vós, daqueles com jeito para o lápis, lhe dedicar um tempinho… É que, tenho para mim, só a verdade que comporta um retrato o poderá despertar da letargia e, uma vez tal, o senhor, o senhor de que vos falo, e que a todos importa…mas tanto!… poderá refigurar-se, retomar a pujança, cumprir conscientemente o seu Desígnio. A Vigília confere-lhe esse Poder!


Carlos Jesus Gil

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Já tirei os elásticos

Pois, já tirei os elásticos... e vocês?



Carlos Jesus Gil