sábado, 27 de dezembro de 2008

E o Alberto e o Albino também...

E O ALBERTO E O ALBINO TAMBÉM…

XX


E, recorrendo mais uma vez à máquina do tempo:

II CIMEIRA U.E.-ÁFRICA


- … Então agora está tudo bem, não é?
- Está pá. Felizmente, tudo não passou de um grande mal entendido.
- Pronto, ainda bem. Alberto, aproveitem o fim-de-semana, tá? Vou dar aqui um trabalhito ao Albino, coisa que não lhe ocupará, por certo, muito tempo.
- Ok., pá. Fica bem e dá cumprimentos ao Albino.
- Serão entregues. Chau.
Ó Albino?... Albino?
- Chamas, narrador?
- Sim, podes dar aqui um salto?
- Se é para saltar posso fazê-lo aqui onde me encontro… Correndo, é óbvio, o risco de me chamarem tolinho.
- Vá, deixa-te de brincadeiras. Podes vir aqui ou não?
- … Homem que narra é melhor que homem que marra!
- Que disseste, Albino?
- Nada, nada. Estava aqui a palrar com os meus botões… Então não sabes que estou a acompanhar a Cimeira União Europeia- África?
- É mesmo sobre isso que gostaria de conversar contigo. Preciso que digas algo de tua justiça acerca de.
- E para quando?
- Para ontem!
- Ó pá, já tenho matéria para uma curta análise, se quiseres…
- Quero, claro que quero. Este nosso mundo carece de nutrientes.
- Então vamos lá: pois, como toda a gente sabe, começou hoje em Lisboa a II Cimeira U.E.-África. No discurso de abertura dos trabalhos, José Sócrates, presidente em exercício da U. E. (mas que sonho realizado!...), defendeu que Portugal é a “ ponte perfeita “ entre a Europa e o continente africano. Disse ainda, o senhor presidente, que “ nas relações entre a União Europeia e o Zimbabué, a grave situação neste país não permitiu a convocação de uma segunda Cimeira mais cedo “. Mais, disse Sócrates agora em jeito de solenes promessas: “ o diálogo entre os dois continentes será entre iguais “; “ os Direitos Humanos serão tema central da cimeira “; “ não temos mais tempo a perder. É o momento para construir novas soluções para os dois continentes “; … um desafio para escrever em conjunto uma página nova nas relações entre os dois continentes “; “ grave situação, a que se vive no Darfur “; “ os Direitos Humanos são património universal “; “ esta cimeira faz-se a pensar nas gerações futuras dos dois continentes “.
Lindo! Mesmo brilhante e politicamente exemplar… Vamos acreditar que as palavras ditas correspondem a desígnios sérios? É com cada um!... Se continuarmos a olhar para África como fonte de matérias-primas e mercado para os nossos produtos, por seriíssimas que sejam as intenções não será logrado qualquer dos desígnios explícita ou tacitamente apontados. Tenho para mim!
- Pronto. Ficamos assim, por hoje. Olha, cumprimentos do Alberto.
- É verdade, como é que ele está?
- Está bem. Parece que as coisas se recompuseram.
- Ainda bem. O que eles têm mais é que se entender.
- Pois. É isso. Vá, fica bem.
- Tu também.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

E o Alberto e o Albino também...

E O ALBERTO E O ALBINO TAMBÉM…

XIX


Microconto de Natal



- Então, posso ou não ler-te o contito?... É pá, chefe, não é por nada, mas era cá uma nutrição pr’ó meu ego! É que tenho uma enorme consideração por ti…, e depois ficar atrás do Alberto!... Não sei se estás a ver!
- Chefe mas pouco!... Afinal sempre é por alguma coisa! Aliás, tudo é sempre por alguma coisa. No caso… ó inveja!... Ia dizer maldita sejas, mas não. Por vezes até tu tens utilidade; os teus empurrões nem sempre são de lastimar.
- Estás a falar de quê? Não estás a criticar-me, pois não?
- Não, homem, não. Vá lá, vamos ao teu conto!
- Obrigado, grande amigo. Aí vai, ouve com atenção:






REGRESSO A VÉNUS




… Uma caixa de brocas perfurantes; radar/gps com funções de mapeamento; dez baterias de Z amperes; três caixas de pílulas XPT; três venuso-fatos; tenda venusiana ultra… Logística completa!
Vinte e dois de Dezembro de 2020, 14:30h TMG, algures numa base europeia de vocação espacial, e logo após uma contagem decrescente, um foguetão inicia a sua ascensão aos “céus”.
…Vinte e quatro de Dezembro de 2020, 22h TMG, três homens, depois de terem comunicado com as suas famílias, acabam de se “deleitar” com uma “faustosa” refeição sintética… Até que soubera bem; até que estavam bem-dispostos…fisicamente. A missão corria na perfeição!
Todavia sentiam-se tristes, tristes porque não haviam trazido consigo um pedaço de musgo, uma árvore de natal.
Erro de logística!




… e então?
- …………… Albino?
- Sim, narrador!
- … Sem palavras. Estou sem palavras!
- Queres dizer que valeu a pena ter dedicado um cargueiro d’horas a estas curtas linhas?
- Moço, já estou a ser incoerente com o que disse atrás. Não me ouviste a dizer que estou sem palavras?... Olha, vou roubar mais estas, que se justifica: Um bom Natal para ti e família!
- Para ti também, narrador!
- Ó Alberto!!!, ó Alberto!
- Sim, meu velho, o que queres?
- Que tu e a tua família tenham um feliz Natal!
- O mesmo para ti, amigo!
- Alberto?
-Sim, Albino!
- Tens uns minutitos?...




Carlos Jesus Gil

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

E o Alberto e o Albino também...

E O ALBERTO E O ALBINO TAMBÉM…

XVIII

De novo na máquina do tempo


COMO ELES NOS VÊEM

A série Alias é de excelência. Ficção de qualidade elevada, das poucas coisas boas que passam na televisão generalista em Portugal.
Criada por J. J. Abrams, a série retrata magistralmente o sofisticado e inteligente mundo da espionagem, um mundo de profusas ramificações onde todos desconfiam de todos. Sou fã!
O episódio desta noite deixou-me um tanto indignado. por isto: uma das missões “impossíveis” exige uma passagem por Portugal. Numa viagem de comboio, Sydney Bristow, a bela protagonista, conjuntamente com um colega agente tentam veementemente que o pica lhes permita o acesso a determinada área do comboio que, à partida, lhes está legalmente interdita. Em inglês, o portuga lá vai explicando que não, que o que pretendem não é possível. De tão instado ser, o nosso patrício – que afinal não o era. O actor, claro! – responde meio irritado, num português carregado de sotaque – não teriam dinheiro suficiente para contratar um verdadeiro actor português, ou os nossos não têm qualidade nem sequer para fazerem de revisores de comboio? -, que não dá.
É então que do bolso do expedito agente surge um apetecível punhado de euros… Aí já dá!
É assim que aquela rapaziada nos vê? Uns miseráveis profissionais do suborno?!
Bem, não vou generalizar. Pode muito bem ser que sejam só os E.U.A. a terem-nos nessa conta (hummmm!). Aquele país cujo presidente até considera um desperdício o dinheiro que despendem com o ensino do português.
Não fosse tão tarde (cinco da manhã) e convocaria o Alberto e o Albino.




Carlos Jesus Gil

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

E o Alberto e o Albino também...

E O ALBERTO E O ALBINO TAMBÉM…

XVII

AS DÚVIDAS DO ALBERTO


- De maneira que aqui estou na maior das aflições.
- É pá, ouve lá! Não achas que estás a exagerar?
- A exagerar, eu? Antes estivesse., aliás, rezo para que a visão que tenho disto transborde de exagero e de preocupações infundadas. Mas não, caro amigo.
- Então mas só pelo facto de ela fazer noites com grande frequência?
- Por esse, por um outro que passa por um cansaço permanente – quando a abordagem se dá -, por outro ainda que se manifesta no seu não enraizado mau humor. Albino, têm-se passado muitas coisas estranhas. Ela não era assim, de todo!
- Acho que deves ter uma conversa sincera e hipocritamente calma com ela.
- Pois, tenho andado a adiar mas vai ter que ser… É pá, e se ela me diz que sim, que é efectivamente verdade, que anda a ser objecto de picada de enfermeiro? É do caraças! Não sei qual irá ser a minha reacção, e esta tem sido a razão deste protelamento em pôr tudo a limpo.
- Olha, queres contratar um detective?
- Tás tolo?! Eu dou-lhe o detective…
- Já estou a começar a não gostar dos teus indícios de comportamento. Vê lá se és racional. Compreendes a sociedade como poucos, conheces o mecanismo dos fenómenos – sim, não me olhes assim…, que destes também estás por dentro -, conhece-la bem a ela… Só tens que adoptar a abordagem certa e avançar.
- Pois, é fácil quando se está na bancada, não é? Eventualmente até conheço bem estes meandros; serei, até, não tenho grandes dúvidas, um excelente analista de casos quejandos, mas isso é quando o papel principal é desempenhado por outro actor. Já agora, qual, no teu entendimento, é a abordagem certa?
- Ó pá, Alberto, já aqui te falei dela. É, forçosamente, uma abordagem eivada de calma - ou calma fingida, também pode ser -, que não descure a fria lógica das coisas. Não tens que anular o factor emocional, não! O que não podes é deixá-lo, qual ditador, dominar hegemonicamente o teu discurso e a tua performance de gestão das coisas internas. Olha, vamos é beber mais um copo. Ó garçon, por favor mais duas coisas destas… com muito gelo, que o ambiente aqui aqueceu muito.
- Olá!... Isso é que é dar-lhe, heim?
- Então, tudo bem, narrador?
- Olá chefe!
- Tá tudo porreiro. Andava à procura do Alberto, e o Guedes, aquele da livraria Calhamaços e outros, disse-me que ele estava aqui contigo.
- Pois não te enganou!
- Passa-se alguma coisa, narrador?
- Passa sim, Alberto. É pá, a tua esposa ligou-me a pedir-me “um grande favor”. Anda preocupada contigo; diz que lhe falas sempre com duas pedras na mão e que não és o mesmo de há uns dias a esta parte. Resumindo: pensa que tens uma amante.
- Essa agora!... Estás a topar, Albino? Então eu agora é que ando para aí a dar umas escapadelas?!
- É pá, isso só prova que é tudo falta de comunicação.
- Mas…, do que estão vocês a falar?
- Narrador, o Albino anda muito triste, mesmo deprimido, porque julga que a mulher tem um amante lá no hospital. Chamou-me para beber um copo e saber a minha opinião acerca de.
- Então há aí confusão, e da grande, mas, a meu ver, não passa disso.
- Pois, é o que eu acabo de dizer. Muito trabalho, falha nas comunicações, a cem à hora p’ra todo o lado… Uma combinação que resulta sempre em complicação.
- Espero que vocês estejam certos!...
- Vais ver que é isso, ó Alberto.
- É, meu amigo. O grande recife não passa de um pequeno escolho originado pelas exasperantes circunstâncias com que temos que lidar diariamente. Cabe-nos adquirir as competências para lidar com as situações, saber distinguir uma Sagres de uma Super bock, a bem de um caminho menos sinuoso. Liga à tua mulher e vão jantar fora. É o meu conselho.
- … Faz isso, Alberto.
- Pede aí a conta.
- Vai-te embora que eu pago. Bebes alguma coisa, narrador?
- Bebo uma imperial.
- Ainda aí estás? Vai-te, Alberto!... Arre!
- … Pois estas coisas são …




Carlos Jesus Gil

domingo, 21 de dezembro de 2008

E o Alberto e o Albino também...

E O ALBERTO E O ALBINO TAMBÉM…

XVI

O EGOÍSMO NACIONALISTA NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS

Mas com que frequência aqui se recorre à máquina do tempo!







- Dois amigos não se vêem há mais de dez anos; um Sporting/Benfica proporciona-lhes o inopinado reencontro:

- Não acredito, olha quem eu aqui venho encontrar! T’ás porreiro Manel?
- Oh, oh! Olha o Joaquim, como é que vai isso, pá? Há quanto tempo…!
- É pá vai bem, dá cá um abraço (iam partindo uma costela um ao outro). Mas e tu, pá, como vais?
- Na maior, Quim, felizmente as coisas correm bem.
- Então, vens ver o teu Benfica perder?, eh, eh,…
- Quinzito, Liedson resolve!..., às vezes.
- Mas, é pá, tu t’ás na mesma! Os anos não passam por ti.
- Tu também t’ás igual, pá.
- Oh, oh, t’ou pois, já cá cantam 52.
- 52?!...
- Pois, sou mais velho do que tu, não te esqueças.
- Eu sei, eu sei.
- Davas-me menos, era?
- É pá dava, dava-te menos…………… um quarto de hora!

Cada um para a sua claque; nunca mais se falaram.

- Eheheheheheheh!!!!!! Eheheheheh!!!, eh pá, tá boa Albino!


- Malta boa?...
- Sim, narrador.
- Chamaste, grande amigo?
- Chamei sim, Alberto. Quem me pode elucidar sobre um fenómeno humano, no âmbito das Relações Internacionais, designado corrente neo-realista?
- Possivelmente o Albino, não achas?
- Sim, também estava a pensar mais nele para esta tarefa, mas como tu és versado em tantas matérias…
- Sinto-me deveras lisonjeado! Sei de facto umas coisitas de muitas coisas, agora saber a sério…, isso só mesmo dos assuntos da minha área.
- Vá, não estejam com tergiversações. Eu posso discorrer um pouco sobre o tema. Ou estarás outra vez com tiques de menosprezo por mim?
- Ó homem, nunca te vi como ser menor. Aliás, em coisas várias até te considero bastante acima da média.
- Por exemplo…
- Como resmungão… Brincava. És um comparsa como poucos; uma pessoa com enorme sentido de humor e, sem dúvida alguma, um excelente analista político. É esta esfera que pretendo que roles aqui com grande frequência. Vamos à tarefa d’hoje?
- Na boa, pá. Vamos lá: ora, o neo-realismo nas Relações Internacionais é uma corrente doutrinária pessimista que vê os Estados como entidades egoístas, interesseiras, impossibilitando, com essa visão pessimista, uma verdadeira comunidade internacional.
- Ah! Compreendo. Será ela a responsável por esta des-União Europeia?
- Receio bem que sim. Puseste um dedo na ferida e carregaste com força. Não tenho dúvidas de maior quanto ao papel dominante desse pensamento político em todo este processo. Olha a relevância que dá ao Tratado de Lisboa o primeiro ministro britânico: anunciou hoje que não virá a Lisboa à cerimónia da sua assinatura. Não é que faça cá falta alguma, desde que delegue em alguém a responsabilidade da assinatura, mas é cá uma falta de consideração!... Enfim, é a marca desta União de Tratados feita e que com Tratados se arrasta.
- Talvez se existissem extra-terrestres e se eles fossem mais poderosos e mais bélicos e nos invadissem…
- Pois, talvez aí sim!
- Querem saber uma coisa?... Não discordo de vocês.


Carlos Jesus Gil