quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Unidade


O Farol acendeu, e eu tirei uma foto. Ei-la:

 

 

UNIDADE

 

               

                Algumas são conversas inocentes, outras muito pelo contrário… Os meus átomos a ti pertencem também, assim, ou quase, falava não Zaratustra mas o Enorme Walt. Tudo e todos somo-nos! Porém, se assim é, os teus, átomos, são muito meus também, sendo que, querendo e podendo e protegidos por este pressuposto, podemos legitimamente, silogismando, sustentar que o conjunto dos nossos átomos e a imensidão de universos, tangíveis e não tangíveis, que constantemente tecem são propriedade nossa. Mais, nós próprios pertencemo-nos. Escuta, Zé que também és eu, até os jacintos das águas, a biotite parida na Serra da Freita e na remota Rússia, o salgueiro à beira d’água, o ozono lá do alto, os buracos negros de todos os quadrantes somos nós… e nós eles.

                Então, deve importar-nos, importunar-nos este nosso recorrente juízo de valor de que algumas conversas são inocentes e que outras nem por isso? Não, um não rotundo! Que nos há-de importar, se tudo e todos somos Um? Nada nem ninguém poderá, jamais, por muito e muito que paradoxalmente o queira, adulterar um átomo que seja - ou um seu qualquer ente subatómico – de algo ou de alguém. O Um não é masoquista! O que se passa, de facto, aquilo a que cada parte da Unidade assiste, umas vezes com positivo pasmo, outras com agonia indisfarçável, é ao resultado, digo, aos resultados, do ininterrupto metabolismo da Unidade. O mar bate na rocha e no mexilhão porque tem que ser… e nenhum se lixa, os três sabem que choram e riem a mesma vida.

                Somos a casa e o habitante; a comida e o comedor; o passeio e o caminhante; o livro e o leitor!