O Farol acendeu, e eu tirei uma foto. Ei-la:
UNIDADE
…
Algumas
são conversas inocentes, outras muito pelo contrário… Os meus átomos a ti pertencem
também, assim, ou quase, falava não Zaratustra mas o Enorme Walt. Tudo e
todos somo-nos! Porém, se assim é, os teus, átomos, são muito meus também,
sendo que, querendo e podendo e protegidos por este pressuposto, podemos
legitimamente, silogismando, sustentar que o conjunto dos nossos átomos e a
imensidão de universos, tangíveis e não tangíveis, que constantemente tecem são
propriedade nossa. Mais, nós próprios pertencemo-nos. Escuta, Zé que também és
eu, até os jacintos das águas, a biotite parida na Serra da Freita e na remota
Rússia, o salgueiro à beira d’água, o ozono lá do alto, os buracos negros de
todos os quadrantes somos nós… e nós eles.
Então,
deve importar-nos, importunar-nos este nosso recorrente juízo de valor de que
algumas conversas são inocentes e que outras nem por isso? Não, um não rotundo!
Que nos há-de importar, se tudo e todos somos Um? Nada nem ninguém poderá,
jamais, por muito e muito que paradoxalmente o queira, adulterar um átomo que
seja - ou um seu qualquer ente subatómico – de algo ou de alguém. O Um não é
masoquista! O que se passa, de facto, aquilo a que cada parte da Unidade
assiste, umas vezes com positivo pasmo, outras com agonia indisfarçável, é ao
resultado, digo, aos resultados, do ininterrupto metabolismo da Unidade. O mar
bate na rocha e no mexilhão porque tem que ser… e nenhum se lixa, os três sabem
que choram e riem a mesma vida.
Somos a
casa e o habitante; a comida e o comedor; o passeio e o caminhante; o livro e o
leitor!