sábado, 30 de agosto de 2008

Onda de criminalidade violenta assusta!

ONDA DE CRIMINALIDADE VIOLENTA ASSUSTA!


Quando, ainda puto, depois de um sempre muito aguardado filme de Karaté, passava, sem abstinências, cerca de quinze vinte minutos de autêntica batalha estradal (“amigável”) de socos e pontapés com os outros putos – chegando a casa inevitavelmente “lavados em suor” e, não raro, rasgadíssimos nas roupas… e no corpo -, quando estas cenas se passavam, estava longe, ou não, de saber que toda aquela adrenalina que nos eivava, que toda aquela intrépida motivação provinha das frenéticas imagens a que acabáramos de assistir. Nem importava a causa dos “heróis”, importante era, isso sim, o grito de vitória (antecedido por dezenas de outros que acompanhavam os murros e os pontapés). O sabor da vitória!...; o sabor a domínio; a identificação com a referência “justa” e dominadora que nos fora dada a observar durante duas horas, mais coisa menos coisa; a intrusão, ainda não lúcida, no inebriante mundo da hegemonia.
Quando, acabadinhos de assistir, via televisão americana (leia-se: dos E.U.A., que o continente tem mais países!), a assaltos, outros actos criminais e, cereja sobre o bolo, a circenses perseguições de alto gabarito (alta competição mesmo!) em directo, muitos são os putos e os não putos que não podendo estar de um lado almejam estar do outro.
Quando, em Portugal, assistimos diariamente a novas de acções bem levadas a cabo por pessoal que gosta de altos níveis de adrenalina mas não só; quando as televisões e demais media teimam em não deixar escapar nada e a todos estes casos dar relevo himalaiano, estamos a assistir à administração de doses maciças de adrenalina a viciados esfaimados. Bem sei que as razões não se resumem ao dito; reconheço perfeitamente motivações/causas a montante (sociais, sobretudo), sobre as quais é forçoso actuar de forma aturada, cuidada e excelentemente estudada. Todavia, também não desconheço que perante o mesmo estímulo não reagimos todos da mesma forma. E é aqui, e por isto mesmo, que as televisões e demais média têm o seu papel… Podem ajudar na dissuasão, não tenho dúvidas. Basta, para tanto, que passem a ampliar mais os sucessos policiais, não o contrário… Depois, bem, depois temos aquela que deve estar na génese de toda a dissuasão da criminalidade: a Lei. Por aqui, porém, temos andado muito mal nestes últimos tempos. Pois, lembremo-nos das recentes alterações aos códigos Penal e de Processo Penal… Já deram provas de que não são solução mas sim problema, no entanto quem os pode de novo alterar teima em não o fazer… para já! A título de exemplo, refiro um estudo, levado a cabo por Kessler e Levitt (publicado em 2007), sobre o resultado do “endurecimento” das penalizações para quem, na Califórnia, cometer assalto à mão armada. O mesmo revela-nos que logo no primeiro ano aquele tipo de criminalidade desceu quatro por cento. Nos sete anos subsequentes continuou a descer… Pois, “ quem te cu tem medo “! Por cá as pessoas também têm cu! Faço-me entender, senhores legisladores?




Carlos Jesus Gil

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

A Insonsa

A INSONSA


Era uma vez uma rapariga tão linda tão linda, mesmo tão linda que, só não fazia parar o trânsito porque se deslocava sempre de metro e as portas de entrada e saída de sua casa bem como do seu local de trabalho davam directamente para o buraco (uns metritos, apenas). Bem - ou mal, consoante o juízo -, a bela diva padecia, contudo, de um grave problema congénito: era insonsa… sim, insulsa, insípida… não sabia a nada – qual génio perfumista de Suskind que, não obstante o seu potenciado e extraordinário olfacto, não possui cheiro próprio. Logo ele, ironia das ironias, que parido fora entre os mais nauseabundos fedores da Paris do século XVIII! -, a nada mesmo!
Os homens aproximavam-se, faziam trinta por uma linha para meterem conversa com ela e tornarem-se íntimos mas, quando tal sorte chegava em jeito de jack pot, logo verificavam que a massa ia quase toda para o fisco. Uma raspadinha, e fraquita! Serve esta modesta imagem para reportar o facto de que, mal bem conseguidos os intentos másculos, assim que dado o primeiro beijinho, feito o primeiro linguado e – e aqui é que está!- dada a primeira dentadinha, logo os ditos zé-zés camarinhas fugiam a 7777 pés…
Fora sempre assim. Desde que se lembra de ser gente e de andar à porrada nas ruas e na escola, sempre que algum ou alguma colega lhe punha os dentes, mal a primeira e única trincadela se dava, era um vê-se-te-avias, uma correria freneticamente louca, do dentuço ou da dentuça, para junto dos outros. “A cachopa não sabe a nada”, diz quem a provou, e assim também não!... Tem que haver algum tempero, digo eu, que até nem gosto muito de fazer juízos de valor… quer dizer, muito não, mas a um niquito não me coíbo.
Há, porém, males que vêm por bem – todos o sabem, que o povo o diz de há tanto que se perdeu registo. Desesperada e a necessitar de merecidas férias, compra, com uma amiga, passagem para destino exótico. Dez diazitos fora de tudo!
Bem – mal, digo eu, que os factos assim m’o exigem -, a outra, papada… literalmente. Ela, logo à primeira dentada, é projectada por valente cuspidela… Até os canibais gostam das coisas bem temperadas!… E ela corria, corria, corria a bom correr a caminho do trilho que leva à cidade e ao hotel; e olhava para trás; e corria ainda mais; e… não era necessário nada disso, pois ninguém fora no seu encalço.




Carlos Jesus Gil