quinta-feira, 10 de junho de 2010

Simples empirismo, porém...

O texto que segue foi escrito na passada segunda-feira. É o resultado de observações absolutamente despretenciosas mas obstinadamente continuadas. Entretanto, estatísticas emanadas pelo Instituto Nacional de Estatística provam o que nele defendo, o que quase me levou a o não publicar. Quase, pois aí vai ele:




SIMPLES EMPIRISMO, PORÉM…


Diz-se que o enorme - talvez o maior de sempre - geógrafo português, Orlando Ribeiro, tinha no seu gabinete da Faculdade onde leccionava, exactamente na parede frontal à porta de entrada, uma enorme fotografia de um olho. Pretendia o eloquente cientista, professor e escritor “ mensajar “a quem entrava da sua convicção de que uma das maiores ferramentas ao dispor de um geógrafo é a observação. Vale a mesma, aliás, para todas as outras ciências, digo eu!
Ora, reportando-me eu à grave fase – não ciclo! – financeira e económica que o planeta (o conceito de mundo, que estive tentado a usar, engloba algo infinitamente mais vasto… o infinito em todas as dimensões…) – quase na sua totalidade, safando-se apenas algumas das economias emergentes, principalmente o Brasil, a Índia e a toda poderosa China – vive, e lembrando-me do valor que o grande mestre atribuía à pura observação dos fenómenos, ferramenta científica que não substituindo outras também por nenhuma outra ou outras deverá, jamais!, ser substituída – da conjugação se chegará à conclusão -, resolvo, então, aplicá-la a dois indicadores económicos de importância relevante: o movimento de camiões nas estradas; o movimento portuário (no caso, o do pequeno porto comercial da Figueira da Foz).
Durante quase dezoito meses, com grandes doses de curiosidade e desejo de melhoras… p’ró meu país, p’ ró planeta, dediquei aturada atenção ao movimento de camiões (mercadoria, leiamos!) e de navios cargueiros no porto comercial supra referido. Facto observado: tanto no que à rodovia diz respeito (foram muitas, é imenso o número de estradas que percorro nos meus ofícios de geógrafo e de músico) como no que ao movimento portuário concerne, verifico um respeitável aumento. Vê-se “ a olhos nus”; não preciso de números para afirmar que o referido é um facto. Em relação a 2009, são, de há uns meses a esta parte - finais de 2009 -, muitos mais os camiões que circulam nas estradas portuguesas; são muitos mais os navios que descarregam e carregam diariamente no porto da Figueira da Foz. Portugal apresenta, não tenho dúvidas, um crescimento económico positivo e não despiciendo. Chega “ p’rás encomendas? “… Claro que aqui chegamos ao ponto em que não basta o poder da observação, são necessários números... Se os tivesse…! Creio, no entanto, que não. Vi-me, todavia, na obrigação de contribuir p’ rá luta “anti-bota-abaixo” que por cá grassa. Estamos a crescer, sim, e de um modo que devemos não depreciar. Pretende este pequeno texto ser sinopse de um idóneo estudo científico? Claro que não! Não desprezemos, contudo, o poder da Observação!




Carlos Jesus Gil

domingo, 6 de junho de 2010

Caminhos possíveis

É um tempo de repostagens. Aqui vai outra:


CAMINHOS POSSÍVEIS




E pensar que tudo Isto pode muito bem ter surgido de um enigmático Buraco Negro; mais, de um Buraco Negro do tamanho de um átomo! Incrível, não? Se os Buracos Negros não possuem apenas a enorme capacidade de sugar sofregamente massa, tornando-se assim cada vez mais densos, mas também a faculdade de a expelir, de a expelir violentamente num terrífico e devastador/criador big-bang, como pensam grandes cabeças, então há enormes possibilidades de todo Este enorme colorido, cada vez mais enorme, pois em expansão, ter surgido – mas quanta ironia pode comportar a matemática!!! – de uma minúscula mas significante partícula sem graça.
É a pensar nisto, na Teoria de Tudo, na mais recente Teoria das Cordas, em matérias diversas mas quejandas, sim, magicando - em cocktail de colapso nervoso com pinguinhos de euforia justificada - no donde viemos, que veredas, caminhos, estradas e auto-estradas teremos percorrido, que me embrenho de cabeça nos bairros mais sombrios da cidade que me habita, da perigosa cidade que me habita.
Parece que a conheço tão bem, e conheço, pois tantas vezes percorro aquelas vielas, aquelas ruas, aquelas praças… todos os dias o faço, todos os dias, não há um que por lá não passe, e de repente tudo me é tão estranho!.. Mas que cidade é esta onde moro?, que me habita? Então? Sou um perfeito desconhecido na minha cidade, sou-me um perfeito desconhecido?... Era tão pequena e pitoresca, a minha cidade! Toda a gente se conhecia, ninguém era enigma para ninguém. Todos estávamos a par de tudo e de todos, antigamente na minha cidade. O pior de tudo é que não foi assim tão antigamente, até que, vistas bem as coisas, não foi há mais que cinco segundos… Quais cinco segundos?!, foi há um segundo, apenas há um segundo. Incrível, não? É, foi só quando deixámos de dar primazia às veredas, e passámos a importanciar as estradas e as auto-estradas que a mudança p’ró desconhecido se deu… E isso foi há um segundo, apenas há um segundo!... Dá-me medo agora, a minha cidade; dou-me medo, bastante e incessante medo!... Procuro um bar ou um café aberto, preciso de um copo, de companhia, de alguém que conheça bem a minha cidade. Encontram-se, parece impossível!, todos fechados. Às onze da noite não há um bar aberto, não se encontra luz em qualquer um dos poucos cafés que ainda existem. Que estranho! Que estranha, a minha cidade!... Procuro um quiosque, um daqueles de estação ferroviária, que estão toda a noite abertos, mas também os proprietários destes foram dormir mais cedo. Ou será que agora é assim, que tudo fecha mais cedo?... Onde vou eu arranjar um mapa, uma mapa da minha cidade? Onde vou eu encontrar a carta da cidade que me habita? Sem esta, como posso eu, com tudo assim tão mudado, regressar a mim?
“ Aquele que conhece o outro é sábio, quem se conhece a si próprio é iluminado”! Alguém assim falou… e como eu penso que bem!




Carlos Jesus Gil