sábado, 14 de março de 2009

Cinismo, até sim... hipocrisia não!

CINISMO, ATÉ SIM… HIPOCRISIA NÃO!



- Mas, chefe, será que não dá mesmo pr’a eu ficar… mesmo com menos horas? A empresa, sabemo-lo, até que tem tido imensos lucros. Só agora as encomendas amainaram.
- Senhor António, sei que o senhor tem aqui muitos anos de serviço e que ainda não criou os filhos todos, sei disso. Falei nisso ao patrão, mas ele diz que não pode fazer nada por si. Nem por si nem pelos colegas que já aqui estiveram. Alguém tem que sair, senhor António. Diz o patrão, que se não mantiver este nível de rendimento não pode alimentar os desejos a que habituou os filhos. Que os filhos não têm culpa que os tenha criado assim. O do meio, por exemplo, quer juntar à colecção o último modelo do Porsche Carrera.
E mais disse o patrão ao chefe, que o sei porque estava lá, calhou, e ouvi: diga-lhes, senhor Américo, que prefiro ser cínico a hipócrita. Diga-lhes a verdade!... Os meus filhos têm direito àquilo a que os habituei. Eles não têm culpa.




Carlos Jesus Gil

sexta-feira, 13 de março de 2009

Blog subnutrido

BLOG SUBNUTRIDO


Sabem?...quando a gente está em casa, cheios de fome, mesmo cheiinhos, e não tem nada pr’a comer? Quer dizer, o ter até temos, estão lá, num saquito de plástico em cima duma prateleira onde param umas garrafitas de gasosas e afins, dois papo-secos…rijos, mesmo secos. Sabem?... Assim está o meu blog hoje, cheiinho dela, larica da bera, e eu sem nadinha, ou quase…Que se fique com este naquito de broa – quase estufa de bolor -, e já é um pau! Vá, mastiga devagar, “real” cabo das tormentas, deglute bem! Não estamos em tempo de estragação.




Carlos Jesus Gil

quinta-feira, 12 de março de 2009

Era eu Garçon

ERA EU GARÇON

Naquela qualidade, ouvira eu:


Ela acicatou a minha leveza. Conhece-a bem, sabe quão frágeis são os aloquetes da jaula que é a minha consciência. Ela é sabedora disto, tanto ou mais do que eu. Ainda assim, não perde uma oportunidade, por pequena que seja e inusitado o momento, de exortar o meu já avonde exacerbado estímulo por semelhantes… a ela. Mais, não ignora o ignóbil ser que, tratando-se dela – qual original comparado com cópia! -, a coisa é elevada a potência n (não sendo, muito pelo contrário, despiciendo, o n, pois acarreta sempre multiplicação vultuosa). É conhecedora de todos os meus botões; tão bem como as suas mãos, conhece o meu painel de controle
A desnaturada mui amada (mas que amor?!, paixão, só paixão turva tanto o entendimento) usou e abusou, usa e abusa (na verdade, que excelentes os seus usos e abusos!...) e, qual maré baixa a suceder à alta, vai-se… Vai-se, e eu, ao contrário do que adivinho no afastamento do mar, com ela nada; some-se não sei para onde… Sim, ela volta, mas quando quer (ou será quando pode?), e eu a querer que ela queira rápido… Também, doutro padrão ela não carece, pois aqui o labrego, volte ela num ápice ou luas leve a voltar, definha de braços abertos, pronto a sufocá-la.

Era assim, como supra mencionei. Regressou-me a lucidez: os braços vão estar fechados, para ela, na sua ausência. Quando tornar, na milenar qualidade de amante estará.

Desculpe, proferi eu enquanto lhe servia outro beirão com três pedrinhas de gelo, então ele há lá condição melhor?!
Olhou-me, demoradamente, sem me ver, e retorquiu : responder-lhe-ei daqui a umas luas.




Carlos Jesus Gil

quarta-feira, 11 de março de 2009

Brutal Brutalidade

BRUTAL BRUTALIDADE


É brutal a brutalidade do ignóbil ser que dedica tudo a ver mas não enxerga nada; o tempo que gasta é perdido, pois só conhece um sentido: o seu, que é o meritório, tão… que não envolve contraditório. Encarregar-se-á o tempo e o homem, igualmente arrojado mas amplo na cogitação e regular na respiração, expirando só depois de ter inspirado, de propor novas veredas e modernos (futuros velhos) caminhos.




Carlos Jesus Gil

terça-feira, 10 de março de 2009

Foi apenas um sonho

FOI APENAS UM SONHO


Acabara de nascer
dotado de omnisciência…
Mal abrira os olhos, cá fora,
logo a instâncias
chorara copiosamente para regressar
ao ventre.
Chegara, até, a rogar
à minha mãe pr’ abortar.

Ah hum, foi apenas um sonho!




Carlos Jesus Gil

segunda-feira, 9 de março de 2009

Direito (torto) Internacional

Deu-se há uns tempos atrás, bem antes de Obama:


DIREITO (TORTO) INTERNACIONAL


Dia 23 de Março de 2007, as autoridades dos Estados Unidos da América emitem um visto de autorização para viajar até Nova Iorque ao presidente do Irão, para que, na sequência do problema suscitado pelo desenvolvimento da tecnologia nuclear que este país quer levar a cabo e que a Comunidade Internacional quer travar, vá prestar esclarecimentos na Organização das Nações Unidas (ONU).
Questão: Então não deveria ser a ONU território mundial?!... Se o é, e porque não dispõe em espaço contíguo à sede de um aeroporto, não deve qualquer cidadão que tenha que discursar, prestar esclarecimentos ou realizar qualquer outra função legal, ter “livre acesso”, ou seja, não necessitar do visto de um país, um só país?!
Direito ou torto?




Carlos Jesus Gil

domingo, 8 de março de 2009

Eu e os meus botões

EU E OS MEUS BOTÕES


A aparência prostibular daquela coisa deixou-me intrigado, mesmo indignado… e de mal com os meus botões. Então, digo eu, a dignidade das funções estatais que ali são realizadas não implica uma maior sobriedade e adequabilidade das instalações, do próprio edifício? Por fora, ainda vá, agora por dentro!… Que não, dizem eles, os meus bem tratados botões – que os prefiro aos fechos éclairs -, sempre esmerados e bem cosidos – não por mim, que quando uma vez mo mandaram fazer corri de imediato para a prateleira dos tachos, e, já um ia meio de água a caminho do fogão quando, em justa zombaria, me fizeram ver que o perigo de coser um botão é a picadela e não a queimadela -, que não, que nada de mal viam naquela arquitectura, muito pelo contrário... eu, continuaram, estou é a ficar conservador… Conservador eu?!, eu, sim, e muito, eles. É uma pena, quem tu eras!..., eles.
Das milhentas vezes que com eles privara a muito sós, nunca como desta vez uma discussão chegara a tal ponto, nunca se atreveram eles - e unanimemente! – a classificarem-me de conservador. Eu, todo feito com os revolucionários, tão p’á frentex, tão amigo de que as coisas mudem… para melhor!
Fiquei triste com os meus botões. Já tinham ouvido e visto tanto de mim, e, ainda assim, consideravam a hipótese de algum dia eu vir a tornar-me conservador!... De maneira que me senti na obrigação de ripostar. Recorrendo a ensinamentos musicais que outrora me foram ministrados no Conservatório Gulbenkian em Aveiro, pausei (que pausa também é música)… depois melodiei, sem apoio harmónico, que sozinho era: nobre, o trabalho/ nobres as funções/ dignifiquem a pauta/ senhores musicosões/ o povo é quem paga, sempre/ o papel, a tinta, a obra, a orquestra inteira, as instalações/ criem com talento/ criem condições… melodiei, em duas notas e figuras várias melodiei para os meus botões.




Carlos Jesus Gil