quarta-feira, 8 de abril de 2009

Absolutamente deslocado

ABSOLUTAMENTE DESLOCADO


Agarra coragem, agarra coragem, pá!
Fora necessário imenso tempo. Luas passaram. Apenas pausava o suficiente para se nutrir, lavrar necessidades e dormir. A grande, a enorme tranche fora dedicada ao treino… Lograra, enfim, alcançar. Não o abandonara a timidez, não!, que para além de inata, tivera aquela reforçado alimento décadas, três, a fio. Continuaria, sussurremos!, para que nos não ouça e, assim, nos não leve a mal, a ser timorato ad infinitum. Todavia, graças a trabalho árduo – já aqui levemente insinuado – de treinado e treinador, era agora um homem de coragem. Acanhado, mas corajoso! Pois, o que é que o cu tem a ver com as calças?!... Fica esta questão apenas para aqueles que virem na sociedade acanhado-corajoso paradoxo evidente.
Perneta ficaria a estória, com a qual se pretende relatar a História, se omitida fosse a informação de que o eterno-não-emancipado auto-submetido a ditadura patriarcal não cardinalícia, informação esta apenas para que se não cometa injustiça grossa contra a meritória e digníssima magistratura eclesiástica, era homem de enormes talentos literários e possuidor de cordilheiras de cultura. Não daquelas que albergam simples serranias, não! Daquelas outras do tipo alpino, que a himalaiano ainda não chegara, longe como está da sapiente velhice. Daí que, sabendo-se como era e consciente, que presunção não era, de que o que era e é, que para o Além ainda não viajara, constitui valia de monta grande a uma sociedade carente, não de “eras” e “ques”, que se o era, com o presente texto o deixou de ser, resolvera telefonar a pessoa gozante de grande prestígio no mundo da edição literária, com o fito de conseguir uns minutinhos de conversa – ele nem ousava designá-la, a reunião, de reunião!
Aquiescera, o senhor.

- Mande entrar, mande entrar!
- Com licença!
- Faça favor!... Então, o que pretende de facto, senhorrrr
- Abílio Pereira, Dr. Tomás.
- Sr. Abílio, ao certo o que deseja de mim?
- Gostaria, Dr. Tomás, de propor-lhe um ensaio, ou mesmo um tratado, sobre “ a idealização de Sócrates e o utopismo político de Platão”.
- Mas, caro Abílio, muita gente grande já escreveu sobre essa temática. Olhe, estou a lembrar-me, por exemplo, de uma excelente, mesmo exemplar, obra do Vasco de Magalhães Vilhena. Nem é da nossa editora, é da Gulbenkian, mas li e reconheço ali trabalho maior… Não vejo o que poderia vir a acrescentar ao tomo.
- Sabe, há sempre coisas…
- Não, meu caro, não vá por aí!
- Então e se me propusesse traduzir os inefáveis sonetos de Shakespeare?
- Meu amigo, isso é consigo. Aqui é que não. Não dá! Não sabe o douto senhor que um outro Vasco, o Graça Moura, já tal empresa criara?!... e com qualidade isenta, creia, de repreensão.
- …………… Podia ensaiar sobre a mente e o corpo, estou bem por dentro do assunto.
- Então já não o fez tão maravilhosamente bem António Damásio?... e Karl Popper?
Olhe, caro amigo, vejo que dotes e cultura pululam avonde por todo o seu universo atómico, palavra!, mas o que me propõe publicar, por maior qualidade que tenha ou viesse a ter, nada de substancial acrescentaria à firma proprietária destes cadeirões. E, como compreende, sou forçado a levar isso em conta. Gostaria, no entanto, de lhe oferecer uma oportunidade de trabalhar comigo. Se aceitar trabalhar sobre uma ideia que namoro há uns tempos, fazemos negócio.
- A necessidade é minha e o prazer será meu. Projecte a sua ideia, Dr.
- Ora então: trata-se de uma explorar literariamente a incontrolável contrafacção do loiro nos cabelos… de mulheres e homens.
- … Mas, se a genética nunca se queixou…!
Estas palavras já foram sussurradas no sentido da porta.




Carlos Jesus Gil

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Epopeia sibilina

EPOPEIA SIBILINA




Nascera numa manhã de nevoeiro, que bem cedo levantou, num nauseabundo bairro de uma grande metrópole europeia, daquelas do primeiríssimo mundo que, por isso mesmo, alberga mais que as outras, as de mundos de prata ou de bronze, maior quantidade de caracteres do quarto, não de repouso, daquele posicionamento mundano que o coloca fora de prazo, ai, desculpem!, fora do pódio, intentava eu… Interessa saber qual?, achamos que não, como tal não destoldamos a placa.
Bem, serve o presente microconto para vos dar conta de como a …… …… ….. - pois, se das coordenadas geográficas vos não damos nota, do nome tão-pouco! -, parido às mãos de parteira experiente, enquanto na cozinha ao ladinho aguardava um mar de gente, isto no ano da Graça de 1912, tão depressa desaparecera a impossibilidade de o comparar economicamente a um porco quanto rápido se levantara o nevoeiro que o sentira nascer… Digo-o hoje porque à distância é mais fácil a compreensão: o mesmo se foi por medo do próprio, daquele que ora evocamos. Nunca mais o astro-rei deixara de o servir, excluídas, claro, as horas de não expediente… que o Sol também dorme! Diz-me ainda a distância e palavras, muitas, em papéis, que o ainda vivente …… …… ….. é homem de dívidas tantas e tão imensas, que quem não ouviu da distância nem aprendeu das letras em papéis terá dificuldades acrescidas, mesmo impossibilidade, em compreender o legado legal de milhares de milhões … muitos, que deixa a filhos, netos, bisnetos… Pena é que parte do trecho dedicado às dívidas se encontre envolto, ironia!, em denso nevoeiro. Apenas é cristal a referência à avultada dívida à inteligência, o resto… nada… e tem que haver mais, muito mais! À guisa de adenda, ainda se pode ler no temático documento que nem banca nem consciência são credoras.
Ele ainda anda por aí…rijo que nem um pêro.




Carlos Jesus Gil