sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Reduzido tormento

Ora, vamos lá a mais uma inflexão!:




REDUZIDO TORMENTO


Ele sabia muito bem aquilo que andava a fazer. Tudo fazia, porém, para que os outros não soubessem que ele sabia. Assim, sempre poderia usufruir de uma atenuante caso a justiça temporal lhe pusesse a mão. Era, portanto, um verdadeiro sonso!
Compensava ser-se sonso, passe a redundância, que sonsice é sinónimo de três quartos do caminho do lucro percorridos logo à partida. Cedo tomou consciência de que se conseguisse passar uma certa imagem de si próprio, tal lhe proporcionaria fazer das dele… Ah pois, vivia bem, o moço! É claro e absolutamente normal, à primeira vista, quando confrontados com casos quejandos, somos levados a pensar que não, que aquilo
não se deseja a ninguém; “ coitado do moço! “, tantas e tantas vezes ouvimos. Mas não, de modo algum! Uma análise breve, não aturada, conduz-nos à consciência do facto: ali brilha o sol; as coisas, afinal, não lhe pesam (mas que leveza!)… Também quero!
Eh, eh, eh, não meu caro amigo, não é para todos! É necessário muito talento.
Ele?... Pelo menos até ver…




Carlos Jesus Gil

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Por vezes dá vontade de fugir. Aí, faço que fujo!

Eh pá!... Mas quanto ódio - estarei equivocado? - no ar! Eh pá, que mal vos fizeram os profs!?... Carago, vou mudar de tema já!... Vou fazer que fujo!



FUGA RECORRENTE


Regresso muitas vezes ao tempo de jogar às escondidas
Ao tempo em que jogar às escondidas era um jogo
Ao tempo de andar descalço
Quando pão com manteiga era verdadeira iguaria

Compreendia melhor a linguagem da Terra, naquele tempo
Habituei-me a lidar com ela e com o que dela vinha
De cedo esta empatia
A necessidade exigia

Era também o tempo de jogar ao botão
Na estação do botão jogava-se ao botão
Na do pião era este que reinava
Era assim naquele tempo

Era o tempo das coisas da escola
Chatas, quantas vezes
Mas sempre, sabemo-lo mais tarde, geradoras de boas recordações
O tempo dos alicerces

Era o tempo do ingénuo desobedecer
Também do desobedecer sonso
O tempo das incompreendidas palmadas de crescimento e
Das guerras logo sanadas

Das guerras logo sanadas

E é por isto
Só por isto
Por as guerras não serem logo sanadas
Que recorrentemente regresso àquele tempo




Carlos Jesus Gil

domingo, 9 de novembro de 2008

Manif à maneira!

Em Março, quando 100 mil professores, pacificamente clamando por justiça, ocuparam um dia livre com a ocupação de ruas e praças de Lisboa, escrevi assim:


OBRIGADO SENHORA MINISTRA


O lema foi, o lema é: dividir para reinar. Ensinamentos antigos da Arte de Facilmente Governar; competências adquiridas e postas em prática pelas últimas administrações do nosso burgo, as quais – para desencanto de muitos e para mal da tão essencial formação dos nossos recursos humanos - lograram transformar uma classe profissional idónea e consciente do seu fundamental valor social, num lamentável rebanho tresmalhado. Uma classe profissional que para além de ensinar também educa, quando, no máximo, deveria coadjuvar as famílias nessa inalienável tarefa… Pois, mas estas não têm tempo – às vezes! -, de modo que com ou sem insustentável leveza se eximiram daquela tarefa. Ministério do Ensino… Designação mais adequada para aquele atormentado órgão estatal. Função/Missão: formar recursos humanos, condição cuja ausência impede a inovação, a competitividade e o desenvolvimento de uma sociedade. Educar? Sim, também, mas como apêndice, um complemento simpático ao trabalho basilar que deve residir nas famílias. E tudo isto se fará, com esforço mas de bom ânimo, bastando para tal que a rapaziada assalariada deste ofício não seja sistematicamente tratada com desdém pela patroa e não só: “olha, aquele é funcionário público e ainda por cima professor!...”; “ Ó stôr?... Ó stôr?!, mas qual stôr?, se os outros licenciados são doutores – ridículo, mas por cá é assim -, então os professores também o são. Até os mestres e os mesmo doutores, que os há já em quantidade apreciável nas nossas escolas, são stôres! Desplante.
Bem, voltemos ao big-bang deste mui errante texto. Vejo sinais, fortes sinais. Pela primeira vez (já lá vão alguns anos que estou na casa) assisto a algo que classifico de união. Com ela, a força aparece naturalmente; com força suficiente a obra é feita. Creiam, sócios da Sociedade, que esta bem carece desta obra!
Senhora Ministra, muito obrigado por não conseguir mexer-se sem causar tumulto. Só assim foi possível!




Hoje, à guisa de carta aberta, acrescento:
Mais ainda, muitos mais professores na rua, senhora ministra. Cerca de cento e vinte mil. É obra!... Num dia de descanso; num dia de viver em família, rumaram a Lisboa, gastaram tempo e dinheiro, alentados pela esperança de a ensinarem a ler os sinais. A senhora, todavia, porfia em não aprender!... A senhora, o seu secretário de Estado; os dois juntos, com o apoio cego do senhor primeiro-ministro. Será possível que nem um dos três, nem sequer um, note o absurdo em que teimam!? Tornaram a Escola uma perfeita incubadora de mal-estar… O quê!? Ainda não deram por ela!?... Atentem, eminentes políticos!: o povo já compreendeu que, no que concerne ao assunto em causa, só para não ficaram mal na fotografia não dão os senhores a mão à palmatória, que é como quem diz… Notem que, num universo de eleitores tão exíguo, o elevado número de professores descontentes – desesperados, até! -, a mais os seus familiares, a mais os amigos mais chegados, não irão votar em vós (muitos milhares dos que desfilaram ajudaram-vos a subir ao poleiro). Ganharão as próximas Legislativas, por certo…, por certo também perderão a maioria que vos sustenta as teimosias, qual pílula três em um, de autismo, arrogância e soberba!
Foram muitos, senhora ministra. Muitos, e ainda teriam sido mais se eu me tivesse juntado a eles. Eu, que até votei PS; que até tenho o Cartão do Partido; eu, que embora desejasse erguer bem alto uma cartolina com dizeres, não pude; eu que, também por certo, não fui o único a querer juntar a voz à dos colegas lutadores e a não poder… Muitos, senhora ministra. Muitos em prol da dignificação de uma carreira Digna; de um saudável ambiente das Escolas; de condições para ENSINAR.

Sem outro assunto, de momento, envio-vos respeitosos cumprimentos e votos de que, sem delongas, ganhem tino.


Carlos Jesus Gil