sábado, 4 de agosto de 2007

Mulher proibida

MULHER PROIBIDA




Mulher proibida,
gosto de ti como se gosta da vida
- não desta que me coube em sorte,
que é menos vida que morte!



Se em ti penso,
logo dispenso
outro pensar;
meu alimento,
paliativo pensamento,
meu respirar.



Diz-me, mulher proibida,
porque continuas a alimentar esta ferida,
grande, lagunar – não, maior que o mar.
Diz-me se é por saberes
que quanto mais ela cresce, mais eu vivo,
diz-me!



A raposa, matreira,
vai à capoeira
não por proibido ser,
mas por fácil se mostrar
- que difícil é caçar.
Nós, eu, não, mulher proibida,
sem perigo seria amar quem me está a esperar.


Grande é o orbe,
muitos os cérebros que nele cabem e couberam;
e caberão;
nenhum consentindo, porém, como o do homem,
o temerário conceito de veleidade,
vital, porque mobilizador, inibidor de desalentos;
perigoso, porque fantástico,
propiciador de altos adejos
e, quiçá, de grandes quedas.


Mulher proibida
- outra, e sempre a mesma -,
imagem perfeita da perfeição
- que defeitos não tem,
e mesmo tendo-os não os tem
(que os não sinto:
invisíveis aos meus olhos,
inodoros ao meu olfacto,
alheios aos gosto, ouvidos e dedos meus).


Mulher proibida,
exasperadamente graciosa e pretendida,
assim, só por seres proibida…
Se a proibição for delida, mulher proibida,
delidos serão os desejos vivamente vividos!


Que a proibição não seja revogada!




Carlos Jesus Gil

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Trabalho

TRABALHO


O trabalho, por vezes é um obstáculo a ultrapassar; outras, é um espectáculo para deleitar.




Carlos Jesus Gil




TRABALHO II


Outro Paradoxo


Vezes há em que, depois de desempenhada a função profissional, sinto que, ao invés de receber, deveria pagar e sem direito a meter a despesa no IRS; outras, não raro, vejo-me um explorado, um escravo.
Curiosamente, é quando sinto que recebo em vez de pagar que o patrão mais lucra comigo!




Carlos Jesus Gil

Função Pública - reestruturação

...Tenho andado a pensar nisto: passar de 1473 carreiras para apenas 3!!! É tudo ou nada, rapaziada... Ó senso bom, deixa de jogar às escondidas!


Carlos Jesus Gil

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Era nenhuma vez...

ERA NENHUMA VEZ …


O Sol brilhava sempre, todos os santos dias; a temperatura era invariavelmente agradável; havia áreas reservadas à precipitação, incumbidas da recepção e armazenamento da indispensável água; havia áreas com neve, muita neve todo o santo ano, para turista ver e desfrutar .
Todos amavam, todos eram amados; todos os activos trabalhavam, ninguém era tramado; trabalhava-se por necessidade e prazer; o lazer variado era, e inquestionavelmente praticado.
Era nenhuma vez um país assim!

Devia ter terminado o texto com um simples ponto final.




Carlos Jesus Gil

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Viagens

O PREÇO DAS VIAGENS


Lembrei-me hoje de que já não viajo, em lazer, há muito tempo. Cinco anos e alguns meses passaram sobre a última de algumas viagens que empreendi por esse mundo afora.
Instantes volvidos, tive a consciência epifanica de que não é bem assim. É que, paradoxalmente ou não, nunca deixei de viajar em lazer!... Aos sítios onde fui e que vivi regresso constantemente, sempre que necessito de me ausentar. Passo quase todos os dias largos minutos de deleite, sempre intenso, nesses pontos do orbe. Viajo à velocidade da luz de um ponto para o outro.
São pílulas de prazer de efeito perene, essas que não se encontram nas farmácias, mas nas agências de viagens!
A consciência leva-me a admitir que me enganava quando julgava altamente dispendiosos os meus devaneios viageiros. Caros?!...Não, do mais barato que há…,pois se só paguei uma vez e viajo sempre! Então, quando, pejado de prazer, falo delas aos meus amigos, o que é isto?... Se isto não é viajar em lazer!…
Menos de um cêntimo foi quanto me custou cada viagem; e, se viver muito, muito, muito – digo viver -, não temos moeda que se adapte ao preço.




Carlos Jesus Gil

Criançar/adultar

CRIANÇAR/ADULTAR


Gosto tanto das pessoas que demoram em ser crianças...!; vejo nobreza ímpar naquelas que precocemente se tornam adultas. Gosto dessas ainda mais!




Carlos Jesus Gil

terça-feira, 31 de julho de 2007

Espiritual

LUGARES XANAX


Que Paz me oferece Fátima, mais certo, a Cova da Iria e a contemplação, in situ, da maior Senhora! Não me refiro à imagem, embora ela ajude.
A grande Dama, mesmo que ali não tenha estado – e nada me diz que não esteve – é presença constante desde 13 de Maio do ano 17 do século XX.
Toldam-se os maus génios e o negro da alma, naquele lugar sagrado; as árvores e a pedra, mesmo a de Berlim, são um todo profusamente verde; a utopia materializa-se naquele lugar sagrado. E também em S. Tiago, e também em Lourdes, e também em Meca, em Jerusalém plural…
São tantos, e não demais, os lugares Xanax




Carlos Jesus Gil

segunda-feira, 30 de julho de 2007

Arroz de tomate

A TOMATADA


Certa vez, encontrando-me eu a actuar (também sou músico… de baile) num belo recanto deste nosso país tão fisicamente pequeno mas tão diverso e rico em costumes, eis que, por dizer algo que não devia – não recordo, creiam, a asneira -, eu que tenho a missão de comunicar e gerar empatia com o público, sou literalmente acertado por algumas dezenas de tomates bem madurinhos. Ora, eu, um sportinguista de alma e coração, ver-me ali da cabeça aos pés (cabeça e cara, soube-o através de um espelho zombador) um homem de vermelho!... foi humilhante, confesso.
Bem, tentei dar a volta à situação (imaginei-me, mesmo, benfiquista ferrenho, de modo a tornar menos penosa a pena), socorrendo-me do traquejo adquirido, perguntando se já lá estava o arroz. “… é pazes, arroz de tomate… com peixe frito… é um mimo!”. E vai daí, espanto completo: da multidão surge uma bela moçoila, com quem em tempos dera umas voltas, sobe intempestivamente ao palco, pega num microfone e proclama que “se fosse para fazer o dito cujo arroz não seria necessário gastar um cabaz de tomates, bastariam os dele!... e, saibam, dariam para um regimento…”.
Fiquei sem palavras.




Carlos Jesus Gil