sábado, 22 de dezembro de 2007

Passa-se, e não devia...

PASSA-SE, E NÃO DEVIA…

ZONA DEMARCADA PARA TODOS


A propósito de uma inauguração, neste tão atribulado consulado socrático (Sócrates, o lusito):
- Olha eles, olha eles!
- Ó amigo, chegue-se lá para trás! – Agente da autoridade, também ele lusito, no rigoroso cumprimento das suas obrigações. Até a voz fora colocada como manda a lei: carrada de decibéis; aspereza em dose ao jeito de “não quero cá faltas; míngua, comigo não!”.
Vai daí, o mexilhão (quando o mar bate na rocha…) lusito que intentava, efectivamente, abandonar a Zona Demarcada dos Lusitos Anónimos, com o fim de dar uma palavrinha, do largo mas audível, ao nosso Primeiro, outro remédio não tem que dá-la a um outro lusito anónimo que, a seu lado, já se preocupava com a sua situação: “Eu só queria pedir-lhe que não me faça sentir baralhado. Ele diz que vivemos em Democracia, mas eu acho que a Democracia não é assim. Eu só queria indicar-lhe alguma bibliografia de referência… Grega, por exemplo, da terra do outro Sócrates.”
- Ó pá, deixa lá isso, manifestemo-nos mas sem o molestar. Senão, já sabes…
- Pois, é por isso que nunca vamos a lado nenhum. Temos que os molestar!... Achas que eles nos ligam, se não os molestarmos?
- Camarada, eu cá por mim não quero problemas. Venho aqui, mas não quero problemas. Eles só nos admitem se formos inócuos. Vai por mim.
- Vou por ti?! Acabo de te dizer que se os não molestarmos fica tudo na mesma…!
- Olha, faz como quiseres. Mas tem cuidado, que esses mexilhões como nós parece que se julgam do mundo deles.
- Não te preocupes. Ó senhor guarda, vá lá!
- Olhe, identifique-se, se faz favor.
- Então, mas…
- Identifique-se, se faz favor.
- Ok., ok…
Sócrates não teve oportunidade de ser aconselhado sobre bibliografia essencial… a uma governação de matiz democrática. Mas isso também pouco lhe interessaria. A que verdadeiramente lhe interessa, a que o serve, ele leu e releu. Ele conhece perfeitamente as múltiplas formas de evitar que alguém – digo, alguém – saia da linha. Zona demarcada para todos!




Carlos Jesus Gil

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Se a terra for de cegos...

SE A TERRA FOR DE CEGOS…


Há que:
Alimentar Corpo e Alma… Já dizia Santo Agostinho; já diziam outros Santos, aspirantes a…, e os demais que a tal jamais ousaram aspirar.
Ora, toda a gente sabe bem (hummm, que sabor!) como deve ser alimentado um corpo; são conhecidas maneiras saborosas e saudáveis (conciliação difícil, dificílima mesmo, mas não impossível, tenhamos esperança!), outras somente saborosas e outras, ainda, apenas saudáveis. Falamos do corpo, do nosso corpo, tão necessariamente imprescindível para que possamos, por exemplo, falar de terras cegos. Mas e a Alma (o quê?! Vocês aí não acreditam na sua existência?... Lembrem-se das bruxas!...), de que alimentos se nutre? Bem, todos os que nela acreditam, e mesmo os que não e os que apenas sonegam o seu acreditar, têm consciência de que tais nutrientes só poderão advir do conhecimento das coisas, da ciência, da cultura, da meditação, enfim, de informação e mais informação cruzada, reflectida e ponderada no cérebro. No cérebro do corpo; no cérebro que também se alimenta das outras iguarias…, sim, das de carácter físico; no cérebro mediador, qual intermediário entre o físico e a Alma!
Mas para quê todo este paleio? Pois, só para lembrar que ao poder interessa mais alimentar músculos, patrocinar ginásios (ainda que não tenham dado – foi um descuido, cuido eu – atenção ao decrescente poder de compra da arraia…) do que providenciar os outros alimentos. É que esses, ó, esses… Esses municiam poderosamente verdadeiros exércitos inimigos.
Se calhar tenho aqui um exemplo – que cai sempre bem uma ilustração!: a constituir verdade absoluta (não as há, já sabemos!...) aquilo que não se cansa de proferir o Ministério da Educação, temos um país mais culto e mais informado. Daí o dilema do poder executivo e não só: então, com grande parte da rapaziada já culta, informada, de espírito bem alimentado, “ainda corremos o risco, caso cumpramos a promessa eleitoral de referendar a ratificação do Tratado de Lisboa, de vermos o mesmo ser rejeitado.”
É tramado! Educar o povo, e este, depois, não saber agradecer!... Assim, o bom pessoal da administração, que sempre se deu melhor com Democracias representativas do que com Democracias participativas, vai pensar muitas vezes antes de fazer algo em prol da Educação… Ou será que já pensaram?... Olha, não tinha pensado nisto! Se calhar esta reforma na educação (com os alunos a poderem faltar e por aí fora…) já foi produzida a pensar nisto!... Espertalhões!




Carlos Jesus Gil

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

O X, o Y, o Z e outra letra que se lê

O X, O Y, O Z E OUTRA LETRA QUE SE LÊ


Continuação do post anterior ( é conveniente – ou não – ler primeiro o post anterior )


Foi o Miguel, um amigo nosso de Santiago do Cacém, quem lhe dera a volta. Porém, de modo indeliberado. O Miguel, ainda que pareça inverosímil aquela jovem não atrair seja que homem for, só via nela uma amiga. Foi isto mesmo que lhe transmitiu na manhã desse revelador dia de Junho, numa conversa que, segundo Liliana, levara ano e meio para ter lugar.
Bem, o que é que eu podia fazer?... Apenas duas coisas: desejar que ela me desejasse - o que me parecia menos possível do que Pinochet, enquanto vivente presidencial, ter-se tornado um complacente democrata -; e filosofar-lhe um bocadito. Como a primeira já ocupava o meu íntimo, platonicamente, de há muito, resolvi então armar-me em filósofo barato:
- Liliana, para tristeza minha e de milhões de outros, as coisas são assim mesmo. O indivíduo X ama o Y, que por sua vez ama o Z, que não ama o Y, mas sim o X… Liliana, este é o circuito normalmente percorrido. Quando alguém, talvez por engano, sai do circuito, acontece o Supremo Bem-Estar da Felicidade… Só mais uma coisa, Liliana: nunca estudes o circuito!
A minha amiga secou as lágrimas, esboçou um sorriso e convidou-me para uns finitos entremeados com uns saborosos camarões eusébianos.




Carlos Jesus Gil

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

O X, o Y, o Z e outra letra que se lê

O X, O Y, O Z E OUTRA LETRA QUE SE LÊ

Ela estava triste…, até chorava! Era um bonito princípio de tarde de finais de Junho. Muito sol, temperatura agradável, férias à vista, mas ela estava triste. Triste e sem fome, apesar de nada ter almoçado. Nem a fatia de vieneta, de que tanto gostava, se atrevera a comer. Tal era o fastio!
Eu cirandava por ali, de esplanada em esplanada, junto à praia, quando a vi. Acenei-lhe vivamente, mas ela apenas ensaiou um tímido e preguiçoso gesto com o braço direito… Aquilo não era normal. A Liliana?!..., tão alegre, tão jovial, tão, não raro, prolixamente frenética, tão senhora de si… Coisa estranha e indesejada habitava, de há pouco, tinha a certeza, o espírito da minha bela amiga. Não, havia ali coisa sim senhor. E eu tinha que indagar sobre o que…, e sem delongas. De modo que, num ápice, safei-me do resto do fino que consumia, disse “ até já “ aos meus companheiros e dirigi-me à muralha, cujas esquinas Liliana ajudava, de momento, a polir.
Enquanto atravessava a estrada pensava na noite anterior; em muitas noites e muitas tardes passadas. Aquela rapariga sempre transbordara de alegria, sempre fora a origem de autênticas cheias de boa disposição. Toda a gente adora estar junto dela, desde as amigas, que são muitas, aos amigos e admiradores que, de tantos serem, só mesmo com calculadora… Se, de facto, neste nosso mundo não é descabida a busca pela perfeição, por a ele, apesar de rara, não causar estranheza; se, efectivamente, aquela não se resumir a mais um utópico desígnio da humanidade, ela é a sua personificação. Do mais belo por fora; invejavelmente atraente por dentro; Q.I. à Sharon Stone!... Mas, então o que estará a passar-se? Serão problemas de saúde?... Não tive tempo para mais conjecturas, pois de repente encontrava-me frente-a-frente com a doce (na hora, como já vimos, nem por isso) Liliana.
- O que é que se passa, queriducha?
“ Olá! Nada, não se passa nada. “ – mentiu ela descaradamente.
- Olha, acredito mais depressa na vitória do Sporting no campeonato do que na informação contida na tua resposta. Aliás, não é necessário analisá-la ao pormenor, parâmetro por parâmetro, em termos de som e de emoção – muito embora o esforço posto no disfarce -, para chegar à conclusão de que se passa mesmo algo…, e algo não despiciendo. Queres que acredite que não se passa nada de errado contigo, quando te vejo, pela primeira vez, triste e com urgente necessidade de uma remessa grande de lenços de papel?... Vá, presenteia-me com um sorriso! Vá, nem que seja ele enganador, que, desde que potenciado por esses teus lindos olhos, já os meus ficam lavados, libertos de qualquer impureza!
“ Lindos olhos?!... Só tu é que vês isso. “ – retorquiu ela com a mágoa estampada nos próprios.
- Ah, então é isso! Quem é que conseguiu tal proeza?
“ Que proeza, Rui? Deixa-te de coisas. – ela não desarma.
- Então, aos dezanove anitos alguém, que eventualmente nem procurou muito, encontra a chave do teu coração. Estava magicamente escondida; com magia foi encontrada!
“ Ó Rui, já te disse, pára com isso! – a renitência continua.
- Vá lá, temos que ser uns para os outros. Não confias em mim, é isso?
… Ela confiou. Aliás, já tinha essa certeza comigo antes de emitir a questão. Somos unha com carne; alho com bacalhau; sei lá!...

Continua (um destes dias)

Carlos Jesus Gil

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Então?...

ENTÃO?...



- Por que é que vives com ela?
- Ora, porque ela é muito bonita; e bem feita!… Não, não é por isso. Ela tem carisma, e eu aprecio imenso essa qualidade; além do mais é uma mulher interessante…
Não, também não é por isso. Ela até é absolutamente vulgar, só se distingue entre as eleitas… Deixemo-nos de coisas, de facto ela é é de uma deferência fora do comum, é uma amiga do peito. Reside aí a razão!... Ó pá não, também não é esse o motivo. É a cama pá, a cama é que é a causa: a mulher é recurso qualificado, de enorme produtividade… Porra, não é nada pá, a gaja é de um marasmo atroz; é um texto prolixo!...
Bem…, a gaja nem sequer é, e, vistas bem as coisas, eu nem ando com ela… E, vistas as coisas ainda melhor, ela nem sequer existe!
- Então?...




Carlos Jesus Gil

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Passou-se há já algum tempo

PASSOU-SE NO CONSULADO DE GUTERRES


GUTERRES TINHA RAZÃO

Os alunos dos Ensino Superior têm um novo slogan: “ A Educação não é Paixão, é Desilusão “. Como assim?! É paixão sim, ou melhor foi paixão. Guterres tinha razão, a Educação foi a sua paixão e o problema reside mesmo aí, na paixão. Paixão, sabemo-lo bem, não é Amor. Ainda para mais, a paixão de Guterres foi curta – a lembrar aquelas de praia – e, isto é o mais grave, nunca evoluiu para amor. Se tivesse chagado a amor…
Um estudo levado a cabo por técnicos “ fora-de-portas “, revela a real posição de Portugal no contexto da Europa, digo da Europa, não da União Europeia, no que toca às destrezas conseguidas pelos nossos alunos do Básico e do Secundário em áreas como a Interpretação de textos, a Matemática e as Ciências em geral. Mas que posição a nossa, temos a Albânia a alcançar-nos!
É o fruto da política ditatorial das estatísticas, implementada, de há anos, pelos sucessivos elencos da governação educativa: todos devem transitar, todos devem progredir… Retenção? Só em casos de excepcional excepcionalidade!
Bom, aí estão os resultados… Amor e Rigor, senhores, é que é preciso!


Tão actual, ainda, este texto!


Carlos Jesus Gil