terça-feira, 12 de março de 2013

CONCEITO DE PRODUTIVIDADE




            Julgo que nunca se falou tanto de produtividade quanto nos últimos tempos. Claro, com facilidade todos compreendemos o porquê.
            Urge, porém, clarificar o conceito, por uma questão de justiça… para com os trabalhadores. É que muita confusão paira por aí, a respeito de… A começar pelos dizeres do próprio ministro com quem a substância do conceito mais afinidade deveria ter, o da Economia, pois então. Quando, logo no início do seu consulado, vem insinuar que acrescentando meia hora por dia ao horário de trabalho dos portugueses a produtividade nacional aumentaria, cometia um erro de palmatória, o senhor ministro. Estaria, possivelmente, a pensar em competitividade, pois sabemos que, nesta área, o modelo que estes senhores defendem se baseia na lógica dos baixos salários. O que poderia aumentar – e digo poderia, por não ser líquido que tal acontecesse, pois há que não esquecer a psique, a tão importante psique individual e colectiva! Mais tempo de trabalho pelo mesmo dinheiro… hummm! – era a produção, não a produtividade. Coisas, embora intimamente ligadas, bem diferentes.
            Depois, bem, depois há mais, e um mais que pode muito injustamente ferir a verdade dos factos e a dignidade dos trabalhadores. Por exemplo, não é raro ouvirmos como definição de produtividade que esta se mede dividindo o PIB (Produto Interno Bruto) pelo número de trabalhadores. Ora, esta é uma definição aceitável, mas pouco, muito pouco, pois gera injustiças sobre os trabalhadores, não permitindo chegar aos factos, à verdade. E quando nestas contas o denominador, talvez por engano, é o total de activos, ainda pior! Atentemos neste exemplo bem pertinente, porque muito actual: somos bons a fazer sapatos - bons na qualidade, bons na inovação -; exportamos muitos sapatos; os nossos sapatos são, no mínimo, tão bons e tão inovadores quanto os italianos. Ora, acontece que, apesar dos nossos sapatos já não serem propriamente baratos, os italianos custam bastante mais. É que não basta a qualidade e a inovação, são necessárias também políticas efectivas e eficazes de promoção, de criação e consolidação de marca. E aqui os trabalhadores não entram, estas são questões que concernem às hierarquias - às empresas e ao próprio governo. Acontece que, à luz daquela definição de produtividade, os portugueses ficam sempre a perder, pois ainda que um português produza, por hora de trabalho, o mesmo número de sapatos que um italiano, como os daquele são vendidos a preços mais elevados, a sua produtividade é lida como mais elevada. Justeza; rigor científico naquela definição? Julgo que não.
            Urge aprender a ler melhor a realidade, as componentes física e humana do mundo, os números e as estatísticas, não segregando aqueles e estas da realidade; urge informar/formar melhor. E aqui entra outra questão: quase sempre se dá a entender que a produtividade depende apenas do operário; não raro se escondem factores como a tecnologia aplicada – da responsabilidade de outro ou outros -; a inovação; o ambiente na empresa, as condições de trabalho, os ordenados… E isto conta tão enormemente!
            Lembramos que, no que diz respeito ao trabalho, ao trabalhador, de uma forma bastante simples mas que em nada lesa a verdade, produtividade é uma razão entre a produção e o número de trabalhadores utilizados para a obter, por unidade de tempo.
            Resumindo, é perverso imputar eventuais baixas de produtividade ao trabalhador ou apenas ao trabalhador, quando sabemos que vários são os factores que para a mesma contribuem; é igualmente perverso calcular-se a produtividade recorrendo somente à equação: PIB/Trabalhadores.