Julgo
que nunca se falou tanto de produtividade
quanto nos últimos tempos. Claro, com facilidade todos compreendemos o porquê.
Urge,
porém, clarificar o conceito, por uma questão de justiça… para com os
trabalhadores. É que muita confusão paira por aí, a respeito de… A começar
pelos dizeres do próprio ministro com quem a substância do conceito mais
afinidade deveria ter, o da Economia, pois então. Quando, logo no início do seu
consulado, vem insinuar que acrescentando meia hora por dia ao horário de
trabalho dos portugueses a produtividade nacional aumentaria, cometia um erro
de palmatória, o senhor ministro. Estaria, possivelmente, a pensar em
competitividade, pois sabemos que, nesta área, o modelo que estes senhores
defendem se baseia na lógica dos baixos salários. O que poderia aumentar – e
digo poderia, por não ser líquido que
tal acontecesse, pois há que não esquecer a psique, a tão importante psique
individual e colectiva! Mais tempo de trabalho pelo mesmo dinheiro… hummm! –
era a produção, não a produtividade. Coisas, embora intimamente ligadas, bem
diferentes.
Depois,
bem, depois há mais, e um mais que pode muito injustamente ferir a verdade dos
factos e a dignidade dos trabalhadores. Por exemplo, não é raro ouvirmos como definição
de produtividade que esta se mede
dividindo o PIB (Produto Interno Bruto) pelo número de trabalhadores. Ora, esta
é uma definição aceitável, mas pouco, muito pouco, pois gera injustiças sobre
os trabalhadores, não permitindo chegar aos factos, à verdade. E quando nestas
contas o denominador, talvez por engano, é o total de activos, ainda pior!
Atentemos neste exemplo bem pertinente, porque muito actual: somos bons a fazer
sapatos - bons na qualidade, bons na inovação -; exportamos muitos sapatos; os
nossos sapatos são, no mínimo, tão bons e tão inovadores quanto os italianos.
Ora, acontece que, apesar dos nossos sapatos já não serem propriamente baratos,
os italianos custam bastante mais. É que não basta a qualidade e a inovação,
são necessárias também políticas efectivas e eficazes de promoção, de criação e
consolidação de marca. E aqui os
trabalhadores não entram, estas são questões que concernem às hierarquias - às
empresas e ao próprio governo. Acontece que, à luz daquela definição de produtividade, os portugueses ficam
sempre a perder, pois ainda que um português produza, por hora de trabalho, o
mesmo número de sapatos que um italiano, como os daquele são vendidos a preços
mais elevados, a sua produtividade é lida como mais elevada. Justeza; rigor
científico naquela definição? Julgo que não.
Urge
aprender a ler melhor a realidade, as componentes física e humana do mundo, os
números e as estatísticas, não segregando aqueles e estas da realidade; urge
informar/formar melhor. E aqui entra outra questão: quase sempre se dá a
entender que a produtividade depende
apenas do operário; não raro se escondem factores como a tecnologia aplicada –
da responsabilidade de outro ou outros -; a inovação; o ambiente na empresa, as
condições de trabalho, os ordenados… E isto conta tão enormemente!
Lembramos
que, no que diz respeito ao trabalho, ao trabalhador, de uma forma bastante
simples mas que em nada lesa a verdade, produtividade
é uma razão entre a produção e o número de trabalhadores utilizados para a
obter, por unidade de tempo.
Resumindo,
é perverso imputar eventuais baixas de produtividade
ao trabalhador ou apenas ao trabalhador, quando sabemos que vários são os
factores que para a mesma contribuem; é igualmente perverso calcular-se a produtividade recorrendo somente à
equação: PIB/Trabalhadores.