sexta-feira, 4 de junho de 2010

O vício

O VÍCIO




Porque me pareceu estar com febre – quente, que ela estava! -, dei um comprimido de paracetamol a uma árvore do meu pequeno quintal. Dissolvi-o muito bem em água, e meti tudo na raiz. Foram cinco litros de água para um grama daquele princípio activo.
Deu-se o caso por alturas do ocaso. No outro dia, manhã cedo, rompido de há pouco o astro-rei, acerquei-me do vivente doente e, perscrutando-o, notei algumas melhoras, não grandes, ainda assim, perceptíveis. Continuei, portanto, a terapêutica administrando-lhe dose igual.
Pelas duas da tarde, as suas folhas apresentavam já alguma viçososidade, não obstante a intratável caloraça do pleno Julho… Eram dez e meia da noite, mesmo antes de me preparar para a noitada, nova administração – não, a outra não fora demitida, nada de confusões!
Andei nestes desvelos cerca de uma semana… A Árvore, via-se, e confirmar-se-ia por análise idónea, vendia já saúde. Porém, se de oito em oito horas lhe não levasse a toma, era um tal zurzir na parede ali ao lado… Tive que pintar toda a parede e, como de brilho e ofuscação se passou a conviver entre as quatro, que remédio tive senão pintar toda a casa por fora!
Não fosse tê-la arrancado pela raiz, não chegariam hoje dez caixas de Panadol por dia. As tomas já eram de seis em seis horas, e os gramas já eram três de cada vez. Progressão geométrica! Teria que arranjar trabalho extra, está de ver.
Mas não, tomei a decisão correcta. Hoje, é um descanso!
Ah, a lenha?... Dei-a toda a uma vizinha que merece.




Carlos Jesus Gil

terça-feira, 1 de junho de 2010

Ditadura do futuro

Repostagem




DITADURA DO FUTURO

Mesmo quando tudo está bem – connosco, com os nossos -; mesmo quando o Sol brilha e o vento assume o heterónimo de brisa; mesmo quando a melodia que escutamos é deveras inefável e a harmonia que a envolve empatiza com a nossa; mesmo quando as camisas que admiramos e defendemos são as mais transpiradas e as que mais vezes são levantadas, à guisa de brinde; mesmo quando a química inexplicavelmente inexplicável nos torna parte dum óptimo produto de reacção; mesmo quando tudo isto acontece em simultâneo e até o metal aparece, mesmo assim, nunca realizamos o pleno…Há sempre algo que obsta: a consciência do efémero, a incerteza do Futuro!




Carlos Jesus Gil

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Ai tu pensas que és o único?

AI TU PENSAS QUE ÉS O ÚNICO?!


Cansado de tanto escrever e não ser lido, não ser tido nem achado - por mais que, com excelência, variadíssimos temas estejam abordados na vasta temática que constitui a Terra que habita – nem à borla perguntado, José Manuel Rufino Ortigão e Costa - trintão oriundo de famílias-bem, tornadas, por força/empurrão ancestral, perdidamente ancestral ( que o acontecido e o a acontecer assim o é e será, em dominó), e vontades colectivas em “famílias-bem” -, à mesa de esplanada com um amigo, desabafa: “ … Depois, quando for famoso para além da minha rua, já vão olhar fixamente para o que escrevo, não vão mais olhar de viés; já vão prestar atenção ao que digo. Irão ler o que tácita ou explicitamente escrevi ou escrevo; nem as entrelinhas serão esquecidas… Depois! “. O outro: “ Mas… achas estranho isso?!! “




Carlos Jesus Gil