sábado, 20 de dezembro de 2008

E o Alberto e o Albino também...

E O ALBERTO E O ALBINO TAMBÉM…

XV

O ALBINO IRRITA-SE (e volta por instantes à máquina do tempo)

Ontem à noite, estava eu em casa a pinar, portanto a meter o pin no telemóvel, quando nisto toca o telefone fixo. Era o albino, notoriamente indignado, mais, verdadeiramente exasperado. Aqui fica um pequeno trecho que bem ilustra o sucedido:
“ Sim, quem fala?”, “ É o Albino “, “ Olá Albino, estás bom? “, “ O caraças, é que estou bom!... Mas o que é que é isso? Primeiro dás-me folga sem que eu t’a tenha pedido; depois convocas o amigo Alberto e eu que me … É pá, só me apetece dizer asneiras! Estou a ser preterido, é? “, “ Ó Albino…”, “ Não, pá, não me venhas com coisas. Acho que estás arrependido de me pores neste mundo… “, “ Ó Albino… “, “ É pá, deixa-me falar!... Ou desabafar, pronto. Se queres ver-te livre de mim, é fácil: bas-ta-di-ze-res-me, tá?, “ Ó Albino… “, “ Porra, deixa-me desabafar, pá! Tenho sido algum pária neste mundo, é? Não te compreendo, pá… É que desde o princípio do mundo que sinto ser apenas e tão só – e tão só, sim! – um enteado. Enchi, pá. Mais uma gota, e transbordo. “, “ Albino… “, “ Fala, pá. Se queres falar, fala. Acabei. “, “ Albino, se tivesses tido um pouco mais de atenção, não só saberias que poisámos aqui ontem, sim, mas que quem o fez primeiro foi o Alberto. O nosso amigo escreveu um pequeno conto de Natal, penso que pelo facto de estarmos em Dezembro, deu-o a ler à esposa, que gostou, e resolveu dar-lhe luz. Apercebi-me que eles estavam cá, já o casal dialogava. Sabes bem que qualquer ente deste nosso mundo é autónomo ( será que é?... Bem, desta dúvida não lhe dei notícia ). Não sabes que podes entrar ou sair de cena quando bem entenderes? Entendidos? “, “……… Ok, pá. Desculpa. Estava um bocado irritado, mas já está a passar. “
E passou. Passou-lhe efectivamente a irritação. Tanto que sugeriu de imediato a realização de uma curta análise de um facto político na ordem do dia: “ Olha, achas que posso comentar …………………….”, “ Claro, força! Mas não dês seca!... Estava a brincar. “, “ Então aí vai: A Câmara Municipal de Lisboa deve muito; todas as câmaras municipais devem muito. Até aí… O caso, que o houve, é que António Costa, o seu presidente, faz tensão de pagar as dívidas o mais rápido possível. Deseja um saneamento financeiro da câmara (mas quem é que não?... Se às vezes – quase sempre – não se metessem em alhadas era bem melhor para todos.). Para tal, necessita no imediato de 500 milhões de euros, portanto de contrair um empréstimo naquele montante.
O executivo camarário aprovou; a Assembleia Municipal, de maioria PSD, recebeu indicação das cúpulas do partido para não viabilizar a contracção do empréstimo. Ora, António Costa, feroz tubarão de há bastante navegante nestas águas, não demora a dar a sua dentadinha de aviso mas já a fazer sangue. Caso a Assembleia Municipal inviabilize o empréstimo, haverá renúncia…
Bem, pediste que fosse breve, não me vou alongar. Temos que nem a Câmara de Lisboa vai cair – não me refiro à acepção literal do termo, que não sou nenhum astrólogo! -, nem o PSD é tão peremptório como quis fazer passar. Não aprova o empréstimo dos 500 milhões, mas viabiliza um de 400 milhões. Opta pela abstenção, pois tá claro!
Eles têm cu, logo têm… “
E foi isto.

Carlos Jesus Gil

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

E o Alberto e o Albino também...

E O ALBERTO E O ALBINO TAMBÉM…
XIV

MICROCONTO DE NATAL



- Lenita?
- Sim, amor.
- Leste o conto de Natal que escrevi ontem? Deixei-to em cima da mesinha de cabeceira.
- Li, está muito bonito… transmite espírito natalício. Subentende-se uma omnipresença do valor família.
- Então gostaste!... O que é que achas, devo ou não libertá-lo?
- Claro que sim! Deixa-o viver.
- Mas… e se o narrador levar a mal?
- Isso não vai acontecer. Às vezes chego a pensar que me saíste cá um coninhas do caraças… Sê afoito!, o que é que o ditadorzito te poderia fazer? Ele vai gostar, mas caso não, que mal te poderia causar?
- Poderia, por exemplo, nunca mais me convocar!
- Não não… Não vês, até pelo que se está a passar hoje, que já és autónomo? Esqueces-te que a partir do momento em que o dito cujo nos criou, já somos.
- Tens razão. E depois ele vai gostar. De certeza!
- Vai sim, homem. Força com isso. Acende a luz!...
- Seja:


O PRIMEIRO NATAL


MICROCONTO DE NATAL


Era dia vinte e quatro de Dezembro. Mafalda, uma menina de nove anos, fora com Teresa, empregada doméstica em sua casa, fazer as compras de Natal.
As ruas da baixa lisboeta estavam uma confusão, era um “mar de gente”… Mafalda, que resolvera enfrentar o frio agasalhando-se bem, deixara, inadvertidamente, cair o cachecol que lhe pendia do pescoço. Intuitivamente larga a mão de Teresa para apanhar o cachecol.
… Teresa não sabia o que fazer, foi uma questão de segundos!...
Mafalda chorava; para trás, para a frente, para os lados. Estava sozinha…na multidão!
Ao cabo de uns minutos, um vadio esfarrapado, um verdadeiro andrajoso, um “mete-medo-às-criancinhas”, aproxima-se de Mafalda. Esta não foge!
- O que tens, minha linda?
- Perdi-me de Teresa, a minha empregada.
- As palavras saíam-lhe da boca sem lágrimas por companhia, cada vez mais calmas à medida que ia tomando consciência que, por absurdo que parecesse, aquela situação não lhe era de todo estranha. Sempre estivera só, no meio de gente, mas só!
- Então os teus pais?
- O meu pai deve estar a chegar de Madrid, tem lá negócios. A minha mãe é advogada e também chega sempre tarde. E tu, onde vives?
- Eu?, eu vivo por aqui, nas ruas.
- Não tens casa?!
- Tenho, tenho muitas, em cada rua tenho uma.
- Onde vais passar o Natal, velhinho?
- Sozinho ou com os meus companheiros, numa das “nossas casas”.
- Deixa-me passar o Natal contigo.
- Não, vou levar-te à polícia, eles levam-te a casa.
- Não quero, em casa tenho muitas prendas mas não tenho Natal.
- Pois é, os pais de hoje dão coisas em vez de afectos!...
Mafalda passou a noite a partilhar as “iguarias”, a fogueira e os cartões dos vadios, mas teve Natal… O seu primeiro Natal.


- Isso mesmo!...
- … Sim senhor, muito bonito!; grande sensibilidade. Gosto, tinhas razão, ó coninhas, gosto de verdade.
- Estavas a espiar-nos, meu velho?
- Senti-vos, e fiquei-me a apreciar-vos. É engraçado, palavra!
- Espero que não faças o mesmo quando estivermos na cama. Ou já fizeste?
- Bem que já pensei fazê-lo…, mas não, pá. Fica descansado. Não sou nenhum pervertido. Já agora - esta é para a tua mulher -, também não sou nenhum ditadorzito. Ditador?!... Só se fosse zão!
Vá, fizeste um bom trabalho. Fica bem! Beijinhos, Lenita.
- Desculpa aquilo de há bocado, narrador!
- Tá tudo bem, vão descansados.
Mesmo jeitosa, esta enfermeirinha. Se o tema que os trouxe cá não fosse tão venerável, era capaz de deixar aqui umas ideias assim a modos que para a sacanice. Cala-te boca!





Carlos Jesus Gil

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

E o Alberto e o Albino também...

E O ALBERTO E O ALBINO TAMBÉM…

XIII


FOLGA


Hoje, exceptuando este tempinho, o narrador está de folga. E o Alberto e o Albino também.




Carlos Jesus Gil

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

E o Alberto e o Albino também...

E O ALBERTO E O ALBINO TAMBÉM…
XII


MÉRITO E FAMA

- Hoje, estive vai-não-vai para abordar o caso Madoff. Porém, de tão vulgares já se terem tornado estes escândalos tão peculiares do capitalismo exacerbado que eiva de há muito – demasiado! - todo o mundo ocidental, optei por dissertar um pouco acerca do mérito e da fama.
- Narrador?
- Sim, quem me chama?
- Sou o Albino, pá.
- E então, o que pretendes?
- Tão só conviver um pouco contigo e com o Alberto!
- É lá! Chamaram-me?
- Não, Alberto. O Albino, interrompendo-me, devo frisar, apenas proferiu o teu nome. Nem ele te chamou, embora o desejasse, pois apetece-lhe conversar, nem eu te convoquei. Para ser sincero convosco, hoje não dá. Ide tomar um copo a qualquer lado, como, aliás, fizeram um dia destes sem me passar cartucho. Apetece-me discorrer um pouquinho sobre um tema assaz importante e, como tal, seria bom não ser interrompido. E depois, se quisermos ser sinceros, nos últimos dias este mundo não tem correspondido à sua genuína designação. De facto, temos vivido “ E o Narrador Também… “, e não o contrário, tal tem sido a intensidade e a densidade com que vocês o têm ocupado e o exíguo espaço que me têm deixado! Adeus rapazes!
- Pronto, tu é que mandas…
- Pois, ele é que manda... Vamo-nos daqui!
- Vá, não levem a mal! Ei, ei… Já vão chateados. Paciência, hoje não dá… Aquilo passa-lhes.
Bem, vamos lá então:
Não devemos confundir mérito com fama. Os media não promovem a famoso só quem tem mérito – entendamos mérito raro, porque quantos e quantos, sendo excelentes no que fazem, sabem que jamais lograrão alcançar a fama? O mérito raro sim, pois constitui-se, legitimamente, num bem raro susceptível de grande apreço, logo uma porta aberta para a glória, notoriedade… para a fama.
Ao usar glória e notoriedade à guisa de sinónimos de fama, estou a roçar o ridículo, pois a boa fama pode comummente ser lida como glória, notoriedade, porém, não esqueçamos, também existe quem seja famoso por vis e ignóbeis razões. A comunidade de que somos sócios, cultivando o imediatismo, suscitando e acicatando a necessidade de egos titânicos, entronizando os media, redunda no paradoxo: sujeitos banais aparecem, promovidos, a proferir trivialidades ou a exibir dotes perfeitamente vulgares… Sim, é efémera a exposição dos sujeitos, sabemo-lo, mas não a da banalidade.
O comezinho, enquanto simplicidade, tem lugar, não o rejeito, muito pelo contrário: alimenta saudavelmente o essencial lazer, quando este se deve traduzir num espairecer; as banalidades não, ganhemos mioleira!
Com frequência elevada a fama confere estatuto superior, robustece curricula, confere poder. Dá para entender, ou melhor, dá para aceitar?!
Fama e celebridade são coisas diferentes. Tenho para mim!


Carlos Jesus Gil

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

E o Alberto e o Albino também...

Continuação (também dos rombos do e no "capitalismo selvagem" - caso Madoff):


E O ALBERTO E O ALBINO TAMBÉM…
XI

... De volta à máquina do tempo


30 DE NOVEMBRO DE 2007 – GREVE GERAL DA FUNÇÃO PÚBLICA


- Pois, amigo Alberto, só causando transtorno, montes de transtorno, as greves surtem os efeitos desejados pelos trabalhadores.
- Tens razão, é por isso, por exemplo, que as greves dos maquinistas da CP costumam aproveitar as quem as realiza. A malta fica mesmo à nora quando os comboios param. E depois, já se sabe que ninguém cede a cem por cento, nem lá perto, por isso se leva para cima da mesa o que é verdadeiramente fundamental conseguir, juntamente com algo que poderemos classificar de direitos acessórios.
- Há mais, Alberto, diz-nos a experiência que greves de apenas um dia não causam mais que pequenas beliscaduras nos governos. Alguns membros dos governos, ou mesmo todos, até devem rir de gosto com os pré-avisos de greve de um só dia. É transtorno mínimo para o povo em geral e para a economia, claramente despiciendo em termos políticos… a não ser que elas se sucedam com frequência elevada. Aí…
- Pois é, Albino, queres tu dizer que só uma recusa legal ao trabalho por tempo indeterminado leva aos desígnios da malta assalariada.
- Claro. Só dessa forma.
- É pá, mas isso não se adequa ao perfil das contas bancárias dos nossos trabalhadores. Então como é que um trabalhador da nossa praça, excluindo algumas dúzias de privilegiados, pode aguentar mais que um ou dois dias sem trabalhar?... Os tostões estão contadinhos…
- Alberto, é altura de os - demasiados – sindicatos despenderem energias e meios numa solução idónea. Por exemplo, bem que poderiam apelar aos associados com dificuldades menos agudas, uma quotização extra, temporária, criando por esse meio um fundo que possa assegurar aos trabalhadores mais carenciados um pecúlio que lhes permita uns dias sem ordenado oficial.
- Isso é, de facto, uma solução. Difícil, convenhamos, mas possível. Com a greve a durar, o transtorno atingirá o ponto-rebuçado – elevado grau de azedume -, o povo, até então contra os irmãos grevistas, sairá à rua; a multidão engrossará e o governo outro remédio não terá senão ceder.
- Parece demasiado lírico e idealista, mas realmente também não vejo outra solução.
- Então, rapazes, de que falam?
- Olá narrador!
- Tudo bem, criador?
- Olá pessoal!... Criador?! Só se for de galinhas. Mas do que falavam?
- É pá, falávamos da greve geral de hoje.
- Bom tema. Cada vez me orgulho mais de vocês.
- Olha, olha, sabias que ele sentia orgulho por nós, Alberto?
- Já desconfiava!...
- Vá, não brinquemos com coisas do foro sentimental! Mas sim, fizeram muito bem em debater tão importante tema.
Narrador, nós preocupamo-nos com a sociedade. Estas coisas, até pelo dever profissional, não nos passam ao lado.
- Certo, podem continuar. Vou ter que ir embora. Tenho um jantar com uma cachopa que é uma loucura. Não quero atrasar-me.
Aí, sortudo!...
- Porquê, só vocês é que merecem, é?
- Não. Estava a brincar. Vai lá! Olha, até eu vou embora. Está a fazer-se tarde, o que achas, Alberto?
- Sim, por hoje chega de paleio. Vamos à nossa vidinha. Chau pessoal!
- Até amanhã… ou não!
- Adeus rapazes!
Estes caraças foram-se embora sem abordar a questão da disparidade nos valores de adesão apresentados pelo governo e pelos sindicatos… Pois, tem sido uma constante. Já não causa qualquer espanto, ainda que as diferenças sejam abissais. O Alberto e o Albino conhecem muito bem a raiz do problema, sabem que ela reside na qualidade das lentes de uns e doutros.



Carlos Jesus Gil

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

E o Alberto e o Albino também...

Continuação:


E O ALBERTO E O ALBINO TAMBÉM…
X


PALANQUE


- Narrador, podes convocar o Albino ?
- Ó pá, assim como entraste sem a necessidade do meu consentimento – o que de resto não fora a primeira vez -, também o Albino o poderá fazer. Olha, já que cá estás, convoca-o tu.
- Ok… Albino, tens um tempinho livre?
-… Olá Alberto! É pá, tenho. Precisas de alguma coisa.
- Sabes, Albino?, ontem fui para casa com a nossa conversa teimosamente nos ouvidos. É que, realmente, a ânsia de poder tolda as consciências… assim como o seu exercício as transmuta. Vai daí, lembrei-me de um poema que, à guisa de ornamento, inseri num trabalho que realizei no âmbito da Sociologia das Promessas… Eleitorais. Gostaria que ouvisses!
- Força; vamos a isso!
- Aqui vai:




PALANQUE


É o reino do verbo;
da verborreia;
do diferente que é igual.
O palanque aguça o nervo,
leva mesmo à apneia,
assombroso festival!


Galos por um poleiro,
o mais alto, que é melhor;
galinhas por um qualquer.
Que ter poleiro é porreiro
e não o tem só o sabedor,
que o fútil o pode ter!


Que há-de ser dos pintainhos?!:
viver rasteiros no chão?;
dizer sim, mas nunca não?...
Tenho para mim que não!
Usemos nosso bastão!,
calemos esses mesquinhos!




- É pá, Alberto, tá fixe, meu!
- Gostaste?, sinceramente?
- Gostei, pá. Está demais…
- És mesmo amigão, pá. Porque isto não passa de merda…
- Claro que sou teu amigo! E tu, tenho a certeza, também és meu. A propósito, gostaria de te pedir desculpa por, naquele dia do reencontro no Algarve, não te ter respondido logo. É que, pá, nós já não nos víamos há cerca de quatro meses… e, ao contrário do que o narrador fez parecer, nós na altura nem éramos amigos. Apenas tínhamos convivido por duas vezes, porque temos amigos comuns; éramos conhecidos. Ao princípio nem me lembrei do teu nome, só depois me veio à tola. Desculpa, tá? Ah, mas a propósito da poesia gostei mesmo.
- Fico contente. Muito, até. Já agora, não precisas de pedir desculpa pelo episódio do Algarve. Olha, vamos tomar um copo, pode ser?
- Claro que sim. Isso é que é falar… Convidamos o narrador?
- É melhor não. O gajo às vezes é um chato do caraças! Bem, ultimamente não tem sido. Ainda assim, hoje vamos só os dois.
- Como queiras…
… Aquilo é que aqueles dois me saíram cá uns…!




Carlos Jesus Gil

domingo, 14 de dezembro de 2008

E o Alberto e o Albino também...

Continuação:




E O ALBERTO E O ALBINO TAMBÉM…
IX


CONVERSANDO


- Albino, Alberto… apareçam!
- Sim, narrador; - cá estou, meu amigo.
- Moços, discorram – não sejam prolixos, para a rapaziada leitora não secar – sobre esta coisa de o Governador do Banco de Portugal sustentar que ainda é cedo para uma redução na carga fiscal, enquanto que vozes no governo a defendem já para 2009.
- É pá, se quiseres posso fazê-lo sozinho. Estou bem por dentro do assunto.
- Acredito, Alberto, mas creio que o Albino estará, mais do que tu, a jogar em casa. Digamos que, no assunto que vos proponho, tu és o visitado mas jogas em campo emprestado, enquanto que o nosso amigo Albino está de facto a jogar em casa.
- Mas, afinal o que é que faz o Albino na vida?
- Posso, narrador?
- Força, Albino.
- Alberto, não costumas ver telejornais ou assistir a debates políticos na televisão?
- Vejo, sempre que posso. Não perco um, desde que me seja dada essa possibilidade. Mas porquê?
- Nada, nada… É que eu nunca intervim em nenhum. Era só para saberes.
- Tá, obrigado pela informação, mas estamos na mesma. O que é que fazes, homem?
- Sou politólogo, meu caro. E de renome. Colaboro com a imprensa e com a rádio… Televisão, nada! É pá, não é por falta de convites, mas… acho que não fico bem na televisão, pronto!
- Muito bem, Albino. É uma área engraçada, sim senhor. Temos muito que conversar; podemos até fazer estudos em conjunto.
- Por que não? É só algo pôr-se a jeito. E termos disponibilidade, claro.
- Moços, já vai sendo tempo de marcarem uma jantarada com as respectivas esposas. Sempre dá para pôr a escrita em dia.
- Acho que tens razão, narrador. Então ele também é casado!... Foste um gajo porreiro para nós, mesmo bacano.
- Amigos, já vos disse que me limitei a caçar o que por aí andava. Sim, cacei sem dificuldades de maior uma bela mulher para o Albino. Tarefa facilitada pelas qualidades do rapaz. Se fosse um pária qualquer, ou mesmo específico, a coisa já se tornaria mais difícil… talvez impossível. Bem, vais ter oportunidade de conhecê-la. Está nas vossas mãos marcarem a comezaina. Agora, se não fosse grande o incómodo, diziam qualquer coisa sobre o assunto que aqui nos trouxe hoje, tá?
- Vá, fala Albino. Na verdade estás mais em casa do que eu.
- Vamos lá então. Digam-me uma coisa, não foram desmarcadas as eleições legislativas de 2009, pois não?
- Claro que não! Por alma de quem?!
- Então está tudo aí: é política!
- Mas… só isso?, só te ocorre isso?
- Não, ocorre-me muito mais, mas para quê inflacionar o texto, se isto basta? É política, pá. A perpetuação do poder começa a ser gizada desde o início do mandato. Governa-se um país gerindo um governo; gere-se um governo em nome de um país, acredito, mas também, e não em dose despicienda, em nome do poder… da comandita, sim. É política!
- Tens razão, não é preciso mais.
- Então, está tudo dito?
- Sim, por mim está.
- Também sinto que sim. Não vejo o que acrescentar à explicação do Albino.
- Fiquem bem, rapazes!
- Adeus, narrador!; - até sempre, narrador!
- Chau, Albino!
- Até um dia destes, Aberto!




Carlos Jesus Gil