quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

E o Alberto e o Albino também...

E O ALBERTO E O ALBINO TAMBÉM…

XXIV


FARRA

… Foi para onde eles foram. E eu vou também, que não está para outra coisa!

Votos de um excelente 2009 para todos… os indivíduos do mundo. Sim, o nosso Primeiro incluso!


Carlos Jesus Gil

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

E o Alberto e o Albino também...

E O ALBERTO E O ALBINO TAMBÉM…

XXIII


UMA RAPOSA NUMA CALDEIRADA



- Não pude, pá. Estive com os ouvidos no Parlamento; ora, vir para aqui sem os ouvidos não estava com nada, não é?
- Ah!..., hoje foi o Debate Mensal com o Primeiro-Ministro… Tens razão, é tua obrigação.
- Pois, mas é mesmo só por obrigação. É que rebento de indignação, tais são as barbaridades a que assisto em cada sessão. Aliás, mesmo fora destas. Daquelas bocas saem, não raro, excrementos muito bem embrulhados em papel de bombons.
- Mas, o que é que se debateu em concreto lá hoje?
- É pá, falou-se de Educação; de Segurança; de Desemprego… Falou-se, não se debateu; falou-se só, e de forma que muito emprego cria à falácia, mas que teima em deixar inactiva a idoneidade. Falou-se e ralhou-se.
Todos, mas todos mesmo, põem sempre o particular à frente do colectivo; todos, mas todos mesmo, à míngua de brasas, puxam as poucas existentes para as suas também poucas sardinhas… É humano, concordo! Não é, certamente, é eticamente aprovável em missões como aquelas a que escolheram dedicar-se.
Bem, mas no meio de tão grande e inquinada caldeirada, há um peixe que sobressai. Se não tivesse guelras e excluindo qualquer dos mamíferos aquáticos e não querendo ferir sem chumbo o animal, chamar-lhe-ia raposa. Uma Raposa numa Caldeirada!... O nosso Primeiro, pois está claro!
Ao espírito do supracitado dignitário, aconselharia (ao jeito de Santo Agostinho) que se alimente bem. Poderá começar, por exemplo – agora que, finda a árdua tarefa de presidir aos destinos da União Europeia, ficará com alguma disponibilidade -, pelo estudo da Estrutura da Ordem Jurídica. É bom que realize uma leitura cuidada da mesma e que apreenda tudo o que puder. Dar-lhe-á jeito (dará?) e é bom para nós, especialmente se dedicar atenção devida à sua segunda linha, aquela em que o Direito é chamado a institucionalizar limitações ao poder, a lembrar que arbitrariedades, demagogia, intenções déspotas encapotadas não são legais nem legítimas.
Aceitaria ele?
- Espero que sim, Albino. O homem é arrogante, não é burro.
-Pois, por isso mesmo. Aceitaria ele?
- Não pá. O tanas é que iria aceitar!...
- Alberto, também és um céptico do caraças… Olha, vamos mas é beber mais um copo. Ah, é verdade, e parabéns. Porto 2- Besiktas 0… Porto em primeiro lugar no grupo. É bom!
- Obrigado, narrador. Bebamos então!


Carlos Jesus Gil

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

E o Alberto e o Albino também...

E O ALBERTO E O ALBINO TAMBÉM…

XXII


O ALBERTO VERSEJA

- Alberto, estás por aqui?... Alberto?
- Desculpa, narrador! Estava aqui ao telemóvel com a Lenita. Ela está a fazer noite. Mas, passa-se alguma coisa, é?
- Não, não. Era precisamente de vocês que eu que queria saber. Correu bem o fim-de-semana?
- É pá, na maior! Há muito que não nos divertíamos tanto. E olha que nem sequer saímos de casa…
- Aííí!... Isso é que foi, heim!
- Do melhor. Não há nada como umas boas doses de transpiração para expulsar qualquer vírus…Mesmo bactérias… Mesmo toxinas…
- Estou feliz por vocês. Palavra de honra.
- Obrigado, meu amigo. Olha, por acaso não te importas que eu dê vida a um poema que escrevi ainda naquela fase crítica? A Lenita não se importa, perguntei-lho há bocado.
- Força com ele!
- Então aí vai:


MULHER SEM CULPA


Não tens mãos para me afagar
nem lábios para me beijar.
Não encerras em ti a virtude de indução de lembrança,
tranquilizadora lembrança que é não menos que bonança.

Não tens…
E no entanto és mulher completa;
e sem culpa;
dedicada e abnegada;
carinhosa.

Outras há, quiçá não inteiras,
culpadas mesmo, porém…

Impingem-se-me telepaticamente;
abreviam-me o regresso;
desvanecem-me as dúvidas;
pintam-me, de cores claras, o mundo.

Muito gosto eu de ti, mulher sem culpa!




- Alberto, está fixe pá. Muito porreiro…Estavas mesmo na fossa (como dizem os nossos irmãos de além-mar); hás-de ter passado das boas!
- Vá narrador. Deixemo-nos disso agora. Fica bem que eu também já estou.
- Pronto, adeus Alberto.


Carlos Jesus Gil

domingo, 28 de dezembro de 2008

E o Alberto e o Albino também...

E O ALBERTO E O ALBINO TAMBÉM…

XXI

II CIMEIRA U.E.-ÁFRICA 2

- “ A cimeira foi verdadeiramente extraordinária… O seu resultado superou um impasse de muitos anos. “
Assim se referiu à II Cimeira U.E.-África, a qual conseguiu reunir quase todos os líderes europeus e africanos em Lisboa, o primeiro-ministro e presidente em exercício da U.E., o portuguesíssimo José Sócrates. Queres que continue?
- Deixa-te de lérias e acaba o teu trabalho, Albino!
- Continuemos: Mas qual terá sido, então, o resultado assim tão positivo capaz de pôr fim ao dito cujo impasse de muitos anos?... Por exemplo, a Human Rights Watch não encontra qualquer decisão concreta emanada da cimeira. O Partido Comunista Português, por seu turno, diz que “ foram mais as vozes que as nozes “… Terão sido as parcerias económicas ( as negociações continuarão em 2008 )? Neste campo temos que o Senegal deixa a cimeira contra os acordos de parcerias económicas ( é claro que são raras as unanimidades ); o Fórum da Sociedade Civil diz que “ acordos são exemplo negativo “. Ah!..., só se foi o facto de Mugabe ter sido forçado a ouvir das boas da boca, por exemplo, da senhora Merkel. Claro, não é despicienda a atenção prestada ao Darfur. Mas terá sido ela suficiente? Hummmm!... Bem, regozijo-me com a atracção a Lisboa de movimentos sociais activos. É bom. E como nós estamos a precisar de desenvolver essa vertente!... Umas acções de formação na área vinham mesmo a calhar.
Ora, o facto de a União Europeia desejar um novo e mais justo relacionamento com África e fazer votos para que o colonialismo seja enterrado ( mas ainda existe colonialismo europeu em África?!... Pois, se calhar… ) de vez, é excelente. Há é que ter em atenção que este enterro requer cerimónias singelas mas não triviais. Exige profundidade, em termos literais e de espírito.
Para Sócrates, homem vaidoso que tudo move para que um dia os historiadores dele falem e os alunos nas escolas respondam a questões ( se ainda existirem testes nessa altura ) a ele referentes, foi profícua ( e então com a assinatura do “ Tratado de Lisboa “… ). Portugal consolida a imagem de país hospitaleiro ( o pessoal foi bem recebido; mordomias não faltaram ); reforçou também, penso não existirem dúvidas, o seu currículo de organizador de eventos.
É sempre útil uma Assembleia desta natureza. Contudo, como dizia ontem, se almejamos efectivamente o desenvolvimento de África, não podemos olhar para o continente apenas como a terra das matérias-primas baratas e um mercado para os nossos produtos ( até porque pobres, nunca se tornarão no mercado que almejamos e precisamos ). Mas não podemos nós europeus, nem podem os americanos do Norte nem o Japão nem a China nem a Índia…
Paremos com as dádivas de peixe, ensinemos a pescar! É uma frase mais que feita, porém, para o caso não encontro melhor. Fiquemos por aqui.
- Ok, tu é que sabes. Fica bem, Albino!
- Adeus, narrador!


Carlos Jesus Gil

sábado, 27 de dezembro de 2008

E o Alberto e o Albino também...

E O ALBERTO E O ALBINO TAMBÉM…

XX


E, recorrendo mais uma vez à máquina do tempo:

II CIMEIRA U.E.-ÁFRICA


- … Então agora está tudo bem, não é?
- Está pá. Felizmente, tudo não passou de um grande mal entendido.
- Pronto, ainda bem. Alberto, aproveitem o fim-de-semana, tá? Vou dar aqui um trabalhito ao Albino, coisa que não lhe ocupará, por certo, muito tempo.
- Ok., pá. Fica bem e dá cumprimentos ao Albino.
- Serão entregues. Chau.
Ó Albino?... Albino?
- Chamas, narrador?
- Sim, podes dar aqui um salto?
- Se é para saltar posso fazê-lo aqui onde me encontro… Correndo, é óbvio, o risco de me chamarem tolinho.
- Vá, deixa-te de brincadeiras. Podes vir aqui ou não?
- … Homem que narra é melhor que homem que marra!
- Que disseste, Albino?
- Nada, nada. Estava aqui a palrar com os meus botões… Então não sabes que estou a acompanhar a Cimeira União Europeia- África?
- É mesmo sobre isso que gostaria de conversar contigo. Preciso que digas algo de tua justiça acerca de.
- E para quando?
- Para ontem!
- Ó pá, já tenho matéria para uma curta análise, se quiseres…
- Quero, claro que quero. Este nosso mundo carece de nutrientes.
- Então vamos lá: pois, como toda a gente sabe, começou hoje em Lisboa a II Cimeira U.E.-África. No discurso de abertura dos trabalhos, José Sócrates, presidente em exercício da U. E. (mas que sonho realizado!...), defendeu que Portugal é a “ ponte perfeita “ entre a Europa e o continente africano. Disse ainda, o senhor presidente, que “ nas relações entre a União Europeia e o Zimbabué, a grave situação neste país não permitiu a convocação de uma segunda Cimeira mais cedo “. Mais, disse Sócrates agora em jeito de solenes promessas: “ o diálogo entre os dois continentes será entre iguais “; “ os Direitos Humanos serão tema central da cimeira “; “ não temos mais tempo a perder. É o momento para construir novas soluções para os dois continentes “; … um desafio para escrever em conjunto uma página nova nas relações entre os dois continentes “; “ grave situação, a que se vive no Darfur “; “ os Direitos Humanos são património universal “; “ esta cimeira faz-se a pensar nas gerações futuras dos dois continentes “.
Lindo! Mesmo brilhante e politicamente exemplar… Vamos acreditar que as palavras ditas correspondem a desígnios sérios? É com cada um!... Se continuarmos a olhar para África como fonte de matérias-primas e mercado para os nossos produtos, por seriíssimas que sejam as intenções não será logrado qualquer dos desígnios explícita ou tacitamente apontados. Tenho para mim!
- Pronto. Ficamos assim, por hoje. Olha, cumprimentos do Alberto.
- É verdade, como é que ele está?
- Está bem. Parece que as coisas se recompuseram.
- Ainda bem. O que eles têm mais é que se entender.
- Pois. É isso. Vá, fica bem.
- Tu também.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

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XIX


Microconto de Natal



- Então, posso ou não ler-te o contito?... É pá, chefe, não é por nada, mas era cá uma nutrição pr’ó meu ego! É que tenho uma enorme consideração por ti…, e depois ficar atrás do Alberto!... Não sei se estás a ver!
- Chefe mas pouco!... Afinal sempre é por alguma coisa! Aliás, tudo é sempre por alguma coisa. No caso… ó inveja!... Ia dizer maldita sejas, mas não. Por vezes até tu tens utilidade; os teus empurrões nem sempre são de lastimar.
- Estás a falar de quê? Não estás a criticar-me, pois não?
- Não, homem, não. Vá lá, vamos ao teu conto!
- Obrigado, grande amigo. Aí vai, ouve com atenção:






REGRESSO A VÉNUS




… Uma caixa de brocas perfurantes; radar/gps com funções de mapeamento; dez baterias de Z amperes; três caixas de pílulas XPT; três venuso-fatos; tenda venusiana ultra… Logística completa!
Vinte e dois de Dezembro de 2020, 14:30h TMG, algures numa base europeia de vocação espacial, e logo após uma contagem decrescente, um foguetão inicia a sua ascensão aos “céus”.
…Vinte e quatro de Dezembro de 2020, 22h TMG, três homens, depois de terem comunicado com as suas famílias, acabam de se “deleitar” com uma “faustosa” refeição sintética… Até que soubera bem; até que estavam bem-dispostos…fisicamente. A missão corria na perfeição!
Todavia sentiam-se tristes, tristes porque não haviam trazido consigo um pedaço de musgo, uma árvore de natal.
Erro de logística!




… e então?
- …………… Albino?
- Sim, narrador!
- … Sem palavras. Estou sem palavras!
- Queres dizer que valeu a pena ter dedicado um cargueiro d’horas a estas curtas linhas?
- Moço, já estou a ser incoerente com o que disse atrás. Não me ouviste a dizer que estou sem palavras?... Olha, vou roubar mais estas, que se justifica: Um bom Natal para ti e família!
- Para ti também, narrador!
- Ó Alberto!!!, ó Alberto!
- Sim, meu velho, o que queres?
- Que tu e a tua família tenham um feliz Natal!
- O mesmo para ti, amigo!
- Alberto?
-Sim, Albino!
- Tens uns minutitos?...




Carlos Jesus Gil

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

E o Alberto e o Albino também...

E O ALBERTO E O ALBINO TAMBÉM…

XVIII

De novo na máquina do tempo


COMO ELES NOS VÊEM

A série Alias é de excelência. Ficção de qualidade elevada, das poucas coisas boas que passam na televisão generalista em Portugal.
Criada por J. J. Abrams, a série retrata magistralmente o sofisticado e inteligente mundo da espionagem, um mundo de profusas ramificações onde todos desconfiam de todos. Sou fã!
O episódio desta noite deixou-me um tanto indignado. por isto: uma das missões “impossíveis” exige uma passagem por Portugal. Numa viagem de comboio, Sydney Bristow, a bela protagonista, conjuntamente com um colega agente tentam veementemente que o pica lhes permita o acesso a determinada área do comboio que, à partida, lhes está legalmente interdita. Em inglês, o portuga lá vai explicando que não, que o que pretendem não é possível. De tão instado ser, o nosso patrício – que afinal não o era. O actor, claro! – responde meio irritado, num português carregado de sotaque – não teriam dinheiro suficiente para contratar um verdadeiro actor português, ou os nossos não têm qualidade nem sequer para fazerem de revisores de comboio? -, que não dá.
É então que do bolso do expedito agente surge um apetecível punhado de euros… Aí já dá!
É assim que aquela rapaziada nos vê? Uns miseráveis profissionais do suborno?!
Bem, não vou generalizar. Pode muito bem ser que sejam só os E.U.A. a terem-nos nessa conta (hummmm!). Aquele país cujo presidente até considera um desperdício o dinheiro que despendem com o ensino do português.
Não fosse tão tarde (cinco da manhã) e convocaria o Alberto e o Albino.




Carlos Jesus Gil

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

E o Alberto e o Albino também...

E O ALBERTO E O ALBINO TAMBÉM…

XVII

AS DÚVIDAS DO ALBERTO


- De maneira que aqui estou na maior das aflições.
- É pá, ouve lá! Não achas que estás a exagerar?
- A exagerar, eu? Antes estivesse., aliás, rezo para que a visão que tenho disto transborde de exagero e de preocupações infundadas. Mas não, caro amigo.
- Então mas só pelo facto de ela fazer noites com grande frequência?
- Por esse, por um outro que passa por um cansaço permanente – quando a abordagem se dá -, por outro ainda que se manifesta no seu não enraizado mau humor. Albino, têm-se passado muitas coisas estranhas. Ela não era assim, de todo!
- Acho que deves ter uma conversa sincera e hipocritamente calma com ela.
- Pois, tenho andado a adiar mas vai ter que ser… É pá, e se ela me diz que sim, que é efectivamente verdade, que anda a ser objecto de picada de enfermeiro? É do caraças! Não sei qual irá ser a minha reacção, e esta tem sido a razão deste protelamento em pôr tudo a limpo.
- Olha, queres contratar um detective?
- Tás tolo?! Eu dou-lhe o detective…
- Já estou a começar a não gostar dos teus indícios de comportamento. Vê lá se és racional. Compreendes a sociedade como poucos, conheces o mecanismo dos fenómenos – sim, não me olhes assim…, que destes também estás por dentro -, conhece-la bem a ela… Só tens que adoptar a abordagem certa e avançar.
- Pois, é fácil quando se está na bancada, não é? Eventualmente até conheço bem estes meandros; serei, até, não tenho grandes dúvidas, um excelente analista de casos quejandos, mas isso é quando o papel principal é desempenhado por outro actor. Já agora, qual, no teu entendimento, é a abordagem certa?
- Ó pá, Alberto, já aqui te falei dela. É, forçosamente, uma abordagem eivada de calma - ou calma fingida, também pode ser -, que não descure a fria lógica das coisas. Não tens que anular o factor emocional, não! O que não podes é deixá-lo, qual ditador, dominar hegemonicamente o teu discurso e a tua performance de gestão das coisas internas. Olha, vamos é beber mais um copo. Ó garçon, por favor mais duas coisas destas… com muito gelo, que o ambiente aqui aqueceu muito.
- Olá!... Isso é que é dar-lhe, heim?
- Então, tudo bem, narrador?
- Olá chefe!
- Tá tudo porreiro. Andava à procura do Alberto, e o Guedes, aquele da livraria Calhamaços e outros, disse-me que ele estava aqui contigo.
- Pois não te enganou!
- Passa-se alguma coisa, narrador?
- Passa sim, Alberto. É pá, a tua esposa ligou-me a pedir-me “um grande favor”. Anda preocupada contigo; diz que lhe falas sempre com duas pedras na mão e que não és o mesmo de há uns dias a esta parte. Resumindo: pensa que tens uma amante.
- Essa agora!... Estás a topar, Albino? Então eu agora é que ando para aí a dar umas escapadelas?!
- É pá, isso só prova que é tudo falta de comunicação.
- Mas…, do que estão vocês a falar?
- Narrador, o Albino anda muito triste, mesmo deprimido, porque julga que a mulher tem um amante lá no hospital. Chamou-me para beber um copo e saber a minha opinião acerca de.
- Então há aí confusão, e da grande, mas, a meu ver, não passa disso.
- Pois, é o que eu acabo de dizer. Muito trabalho, falha nas comunicações, a cem à hora p’ra todo o lado… Uma combinação que resulta sempre em complicação.
- Espero que vocês estejam certos!...
- Vais ver que é isso, ó Alberto.
- É, meu amigo. O grande recife não passa de um pequeno escolho originado pelas exasperantes circunstâncias com que temos que lidar diariamente. Cabe-nos adquirir as competências para lidar com as situações, saber distinguir uma Sagres de uma Super bock, a bem de um caminho menos sinuoso. Liga à tua mulher e vão jantar fora. É o meu conselho.
- … Faz isso, Alberto.
- Pede aí a conta.
- Vai-te embora que eu pago. Bebes alguma coisa, narrador?
- Bebo uma imperial.
- Ainda aí estás? Vai-te, Alberto!... Arre!
- … Pois estas coisas são …




Carlos Jesus Gil

domingo, 21 de dezembro de 2008

E o Alberto e o Albino também...

E O ALBERTO E O ALBINO TAMBÉM…

XVI

O EGOÍSMO NACIONALISTA NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS

Mas com que frequência aqui se recorre à máquina do tempo!







- Dois amigos não se vêem há mais de dez anos; um Sporting/Benfica proporciona-lhes o inopinado reencontro:

- Não acredito, olha quem eu aqui venho encontrar! T’ás porreiro Manel?
- Oh, oh! Olha o Joaquim, como é que vai isso, pá? Há quanto tempo…!
- É pá vai bem, dá cá um abraço (iam partindo uma costela um ao outro). Mas e tu, pá, como vais?
- Na maior, Quim, felizmente as coisas correm bem.
- Então, vens ver o teu Benfica perder?, eh, eh,…
- Quinzito, Liedson resolve!..., às vezes.
- Mas, é pá, tu t’ás na mesma! Os anos não passam por ti.
- Tu também t’ás igual, pá.
- Oh, oh, t’ou pois, já cá cantam 52.
- 52?!...
- Pois, sou mais velho do que tu, não te esqueças.
- Eu sei, eu sei.
- Davas-me menos, era?
- É pá dava, dava-te menos…………… um quarto de hora!

Cada um para a sua claque; nunca mais se falaram.

- Eheheheheheheh!!!!!! Eheheheheh!!!, eh pá, tá boa Albino!


- Malta boa?...
- Sim, narrador.
- Chamaste, grande amigo?
- Chamei sim, Alberto. Quem me pode elucidar sobre um fenómeno humano, no âmbito das Relações Internacionais, designado corrente neo-realista?
- Possivelmente o Albino, não achas?
- Sim, também estava a pensar mais nele para esta tarefa, mas como tu és versado em tantas matérias…
- Sinto-me deveras lisonjeado! Sei de facto umas coisitas de muitas coisas, agora saber a sério…, isso só mesmo dos assuntos da minha área.
- Vá, não estejam com tergiversações. Eu posso discorrer um pouco sobre o tema. Ou estarás outra vez com tiques de menosprezo por mim?
- Ó homem, nunca te vi como ser menor. Aliás, em coisas várias até te considero bastante acima da média.
- Por exemplo…
- Como resmungão… Brincava. És um comparsa como poucos; uma pessoa com enorme sentido de humor e, sem dúvida alguma, um excelente analista político. É esta esfera que pretendo que roles aqui com grande frequência. Vamos à tarefa d’hoje?
- Na boa, pá. Vamos lá: ora, o neo-realismo nas Relações Internacionais é uma corrente doutrinária pessimista que vê os Estados como entidades egoístas, interesseiras, impossibilitando, com essa visão pessimista, uma verdadeira comunidade internacional.
- Ah! Compreendo. Será ela a responsável por esta des-União Europeia?
- Receio bem que sim. Puseste um dedo na ferida e carregaste com força. Não tenho dúvidas de maior quanto ao papel dominante desse pensamento político em todo este processo. Olha a relevância que dá ao Tratado de Lisboa o primeiro ministro britânico: anunciou hoje que não virá a Lisboa à cerimónia da sua assinatura. Não é que faça cá falta alguma, desde que delegue em alguém a responsabilidade da assinatura, mas é cá uma falta de consideração!... Enfim, é a marca desta União de Tratados feita e que com Tratados se arrasta.
- Talvez se existissem extra-terrestres e se eles fossem mais poderosos e mais bélicos e nos invadissem…
- Pois, talvez aí sim!
- Querem saber uma coisa?... Não discordo de vocês.


Carlos Jesus Gil

sábado, 20 de dezembro de 2008

E o Alberto e o Albino também...

E O ALBERTO E O ALBINO TAMBÉM…

XV

O ALBINO IRRITA-SE (e volta por instantes à máquina do tempo)

Ontem à noite, estava eu em casa a pinar, portanto a meter o pin no telemóvel, quando nisto toca o telefone fixo. Era o albino, notoriamente indignado, mais, verdadeiramente exasperado. Aqui fica um pequeno trecho que bem ilustra o sucedido:
“ Sim, quem fala?”, “ É o Albino “, “ Olá Albino, estás bom? “, “ O caraças, é que estou bom!... Mas o que é que é isso? Primeiro dás-me folga sem que eu t’a tenha pedido; depois convocas o amigo Alberto e eu que me … É pá, só me apetece dizer asneiras! Estou a ser preterido, é? “, “ Ó Albino…”, “ Não, pá, não me venhas com coisas. Acho que estás arrependido de me pores neste mundo… “, “ Ó Albino… “, “ É pá, deixa-me falar!... Ou desabafar, pronto. Se queres ver-te livre de mim, é fácil: bas-ta-di-ze-res-me, tá?, “ Ó Albino… “, “ Porra, deixa-me desabafar, pá! Tenho sido algum pária neste mundo, é? Não te compreendo, pá… É que desde o princípio do mundo que sinto ser apenas e tão só – e tão só, sim! – um enteado. Enchi, pá. Mais uma gota, e transbordo. “, “ Albino… “, “ Fala, pá. Se queres falar, fala. Acabei. “, “ Albino, se tivesses tido um pouco mais de atenção, não só saberias que poisámos aqui ontem, sim, mas que quem o fez primeiro foi o Alberto. O nosso amigo escreveu um pequeno conto de Natal, penso que pelo facto de estarmos em Dezembro, deu-o a ler à esposa, que gostou, e resolveu dar-lhe luz. Apercebi-me que eles estavam cá, já o casal dialogava. Sabes bem que qualquer ente deste nosso mundo é autónomo ( será que é?... Bem, desta dúvida não lhe dei notícia ). Não sabes que podes entrar ou sair de cena quando bem entenderes? Entendidos? “, “……… Ok, pá. Desculpa. Estava um bocado irritado, mas já está a passar. “
E passou. Passou-lhe efectivamente a irritação. Tanto que sugeriu de imediato a realização de uma curta análise de um facto político na ordem do dia: “ Olha, achas que posso comentar …………………….”, “ Claro, força! Mas não dês seca!... Estava a brincar. “, “ Então aí vai: A Câmara Municipal de Lisboa deve muito; todas as câmaras municipais devem muito. Até aí… O caso, que o houve, é que António Costa, o seu presidente, faz tensão de pagar as dívidas o mais rápido possível. Deseja um saneamento financeiro da câmara (mas quem é que não?... Se às vezes – quase sempre – não se metessem em alhadas era bem melhor para todos.). Para tal, necessita no imediato de 500 milhões de euros, portanto de contrair um empréstimo naquele montante.
O executivo camarário aprovou; a Assembleia Municipal, de maioria PSD, recebeu indicação das cúpulas do partido para não viabilizar a contracção do empréstimo. Ora, António Costa, feroz tubarão de há bastante navegante nestas águas, não demora a dar a sua dentadinha de aviso mas já a fazer sangue. Caso a Assembleia Municipal inviabilize o empréstimo, haverá renúncia…
Bem, pediste que fosse breve, não me vou alongar. Temos que nem a Câmara de Lisboa vai cair – não me refiro à acepção literal do termo, que não sou nenhum astrólogo! -, nem o PSD é tão peremptório como quis fazer passar. Não aprova o empréstimo dos 500 milhões, mas viabiliza um de 400 milhões. Opta pela abstenção, pois tá claro!
Eles têm cu, logo têm… “
E foi isto.

Carlos Jesus Gil

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

E o Alberto e o Albino também...

E O ALBERTO E O ALBINO TAMBÉM…
XIV

MICROCONTO DE NATAL



- Lenita?
- Sim, amor.
- Leste o conto de Natal que escrevi ontem? Deixei-to em cima da mesinha de cabeceira.
- Li, está muito bonito… transmite espírito natalício. Subentende-se uma omnipresença do valor família.
- Então gostaste!... O que é que achas, devo ou não libertá-lo?
- Claro que sim! Deixa-o viver.
- Mas… e se o narrador levar a mal?
- Isso não vai acontecer. Às vezes chego a pensar que me saíste cá um coninhas do caraças… Sê afoito!, o que é que o ditadorzito te poderia fazer? Ele vai gostar, mas caso não, que mal te poderia causar?
- Poderia, por exemplo, nunca mais me convocar!
- Não não… Não vês, até pelo que se está a passar hoje, que já és autónomo? Esqueces-te que a partir do momento em que o dito cujo nos criou, já somos.
- Tens razão. E depois ele vai gostar. De certeza!
- Vai sim, homem. Força com isso. Acende a luz!...
- Seja:


O PRIMEIRO NATAL


MICROCONTO DE NATAL


Era dia vinte e quatro de Dezembro. Mafalda, uma menina de nove anos, fora com Teresa, empregada doméstica em sua casa, fazer as compras de Natal.
As ruas da baixa lisboeta estavam uma confusão, era um “mar de gente”… Mafalda, que resolvera enfrentar o frio agasalhando-se bem, deixara, inadvertidamente, cair o cachecol que lhe pendia do pescoço. Intuitivamente larga a mão de Teresa para apanhar o cachecol.
… Teresa não sabia o que fazer, foi uma questão de segundos!...
Mafalda chorava; para trás, para a frente, para os lados. Estava sozinha…na multidão!
Ao cabo de uns minutos, um vadio esfarrapado, um verdadeiro andrajoso, um “mete-medo-às-criancinhas”, aproxima-se de Mafalda. Esta não foge!
- O que tens, minha linda?
- Perdi-me de Teresa, a minha empregada.
- As palavras saíam-lhe da boca sem lágrimas por companhia, cada vez mais calmas à medida que ia tomando consciência que, por absurdo que parecesse, aquela situação não lhe era de todo estranha. Sempre estivera só, no meio de gente, mas só!
- Então os teus pais?
- O meu pai deve estar a chegar de Madrid, tem lá negócios. A minha mãe é advogada e também chega sempre tarde. E tu, onde vives?
- Eu?, eu vivo por aqui, nas ruas.
- Não tens casa?!
- Tenho, tenho muitas, em cada rua tenho uma.
- Onde vais passar o Natal, velhinho?
- Sozinho ou com os meus companheiros, numa das “nossas casas”.
- Deixa-me passar o Natal contigo.
- Não, vou levar-te à polícia, eles levam-te a casa.
- Não quero, em casa tenho muitas prendas mas não tenho Natal.
- Pois é, os pais de hoje dão coisas em vez de afectos!...
Mafalda passou a noite a partilhar as “iguarias”, a fogueira e os cartões dos vadios, mas teve Natal… O seu primeiro Natal.


- Isso mesmo!...
- … Sim senhor, muito bonito!; grande sensibilidade. Gosto, tinhas razão, ó coninhas, gosto de verdade.
- Estavas a espiar-nos, meu velho?
- Senti-vos, e fiquei-me a apreciar-vos. É engraçado, palavra!
- Espero que não faças o mesmo quando estivermos na cama. Ou já fizeste?
- Bem que já pensei fazê-lo…, mas não, pá. Fica descansado. Não sou nenhum pervertido. Já agora - esta é para a tua mulher -, também não sou nenhum ditadorzito. Ditador?!... Só se fosse zão!
Vá, fizeste um bom trabalho. Fica bem! Beijinhos, Lenita.
- Desculpa aquilo de há bocado, narrador!
- Tá tudo bem, vão descansados.
Mesmo jeitosa, esta enfermeirinha. Se o tema que os trouxe cá não fosse tão venerável, era capaz de deixar aqui umas ideias assim a modos que para a sacanice. Cala-te boca!





Carlos Jesus Gil

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

E o Alberto e o Albino também...

E O ALBERTO E O ALBINO TAMBÉM…

XIII


FOLGA


Hoje, exceptuando este tempinho, o narrador está de folga. E o Alberto e o Albino também.




Carlos Jesus Gil

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

E o Alberto e o Albino também...

E O ALBERTO E O ALBINO TAMBÉM…
XII


MÉRITO E FAMA

- Hoje, estive vai-não-vai para abordar o caso Madoff. Porém, de tão vulgares já se terem tornado estes escândalos tão peculiares do capitalismo exacerbado que eiva de há muito – demasiado! - todo o mundo ocidental, optei por dissertar um pouco acerca do mérito e da fama.
- Narrador?
- Sim, quem me chama?
- Sou o Albino, pá.
- E então, o que pretendes?
- Tão só conviver um pouco contigo e com o Alberto!
- É lá! Chamaram-me?
- Não, Alberto. O Albino, interrompendo-me, devo frisar, apenas proferiu o teu nome. Nem ele te chamou, embora o desejasse, pois apetece-lhe conversar, nem eu te convoquei. Para ser sincero convosco, hoje não dá. Ide tomar um copo a qualquer lado, como, aliás, fizeram um dia destes sem me passar cartucho. Apetece-me discorrer um pouquinho sobre um tema assaz importante e, como tal, seria bom não ser interrompido. E depois, se quisermos ser sinceros, nos últimos dias este mundo não tem correspondido à sua genuína designação. De facto, temos vivido “ E o Narrador Também… “, e não o contrário, tal tem sido a intensidade e a densidade com que vocês o têm ocupado e o exíguo espaço que me têm deixado! Adeus rapazes!
- Pronto, tu é que mandas…
- Pois, ele é que manda... Vamo-nos daqui!
- Vá, não levem a mal! Ei, ei… Já vão chateados. Paciência, hoje não dá… Aquilo passa-lhes.
Bem, vamos lá então:
Não devemos confundir mérito com fama. Os media não promovem a famoso só quem tem mérito – entendamos mérito raro, porque quantos e quantos, sendo excelentes no que fazem, sabem que jamais lograrão alcançar a fama? O mérito raro sim, pois constitui-se, legitimamente, num bem raro susceptível de grande apreço, logo uma porta aberta para a glória, notoriedade… para a fama.
Ao usar glória e notoriedade à guisa de sinónimos de fama, estou a roçar o ridículo, pois a boa fama pode comummente ser lida como glória, notoriedade, porém, não esqueçamos, também existe quem seja famoso por vis e ignóbeis razões. A comunidade de que somos sócios, cultivando o imediatismo, suscitando e acicatando a necessidade de egos titânicos, entronizando os media, redunda no paradoxo: sujeitos banais aparecem, promovidos, a proferir trivialidades ou a exibir dotes perfeitamente vulgares… Sim, é efémera a exposição dos sujeitos, sabemo-lo, mas não a da banalidade.
O comezinho, enquanto simplicidade, tem lugar, não o rejeito, muito pelo contrário: alimenta saudavelmente o essencial lazer, quando este se deve traduzir num espairecer; as banalidades não, ganhemos mioleira!
Com frequência elevada a fama confere estatuto superior, robustece curricula, confere poder. Dá para entender, ou melhor, dá para aceitar?!
Fama e celebridade são coisas diferentes. Tenho para mim!


Carlos Jesus Gil

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

E o Alberto e o Albino também...

Continuação (também dos rombos do e no "capitalismo selvagem" - caso Madoff):


E O ALBERTO E O ALBINO TAMBÉM…
XI

... De volta à máquina do tempo


30 DE NOVEMBRO DE 2007 – GREVE GERAL DA FUNÇÃO PÚBLICA


- Pois, amigo Alberto, só causando transtorno, montes de transtorno, as greves surtem os efeitos desejados pelos trabalhadores.
- Tens razão, é por isso, por exemplo, que as greves dos maquinistas da CP costumam aproveitar as quem as realiza. A malta fica mesmo à nora quando os comboios param. E depois, já se sabe que ninguém cede a cem por cento, nem lá perto, por isso se leva para cima da mesa o que é verdadeiramente fundamental conseguir, juntamente com algo que poderemos classificar de direitos acessórios.
- Há mais, Alberto, diz-nos a experiência que greves de apenas um dia não causam mais que pequenas beliscaduras nos governos. Alguns membros dos governos, ou mesmo todos, até devem rir de gosto com os pré-avisos de greve de um só dia. É transtorno mínimo para o povo em geral e para a economia, claramente despiciendo em termos políticos… a não ser que elas se sucedam com frequência elevada. Aí…
- Pois é, Albino, queres tu dizer que só uma recusa legal ao trabalho por tempo indeterminado leva aos desígnios da malta assalariada.
- Claro. Só dessa forma.
- É pá, mas isso não se adequa ao perfil das contas bancárias dos nossos trabalhadores. Então como é que um trabalhador da nossa praça, excluindo algumas dúzias de privilegiados, pode aguentar mais que um ou dois dias sem trabalhar?... Os tostões estão contadinhos…
- Alberto, é altura de os - demasiados – sindicatos despenderem energias e meios numa solução idónea. Por exemplo, bem que poderiam apelar aos associados com dificuldades menos agudas, uma quotização extra, temporária, criando por esse meio um fundo que possa assegurar aos trabalhadores mais carenciados um pecúlio que lhes permita uns dias sem ordenado oficial.
- Isso é, de facto, uma solução. Difícil, convenhamos, mas possível. Com a greve a durar, o transtorno atingirá o ponto-rebuçado – elevado grau de azedume -, o povo, até então contra os irmãos grevistas, sairá à rua; a multidão engrossará e o governo outro remédio não terá senão ceder.
- Parece demasiado lírico e idealista, mas realmente também não vejo outra solução.
- Então, rapazes, de que falam?
- Olá narrador!
- Tudo bem, criador?
- Olá pessoal!... Criador?! Só se for de galinhas. Mas do que falavam?
- É pá, falávamos da greve geral de hoje.
- Bom tema. Cada vez me orgulho mais de vocês.
- Olha, olha, sabias que ele sentia orgulho por nós, Alberto?
- Já desconfiava!...
- Vá, não brinquemos com coisas do foro sentimental! Mas sim, fizeram muito bem em debater tão importante tema.
Narrador, nós preocupamo-nos com a sociedade. Estas coisas, até pelo dever profissional, não nos passam ao lado.
- Certo, podem continuar. Vou ter que ir embora. Tenho um jantar com uma cachopa que é uma loucura. Não quero atrasar-me.
Aí, sortudo!...
- Porquê, só vocês é que merecem, é?
- Não. Estava a brincar. Vai lá! Olha, até eu vou embora. Está a fazer-se tarde, o que achas, Alberto?
- Sim, por hoje chega de paleio. Vamos à nossa vidinha. Chau pessoal!
- Até amanhã… ou não!
- Adeus rapazes!
Estes caraças foram-se embora sem abordar a questão da disparidade nos valores de adesão apresentados pelo governo e pelos sindicatos… Pois, tem sido uma constante. Já não causa qualquer espanto, ainda que as diferenças sejam abissais. O Alberto e o Albino conhecem muito bem a raiz do problema, sabem que ela reside na qualidade das lentes de uns e doutros.



Carlos Jesus Gil

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

E o Alberto e o Albino também...

Continuação:


E O ALBERTO E O ALBINO TAMBÉM…
X


PALANQUE


- Narrador, podes convocar o Albino ?
- Ó pá, assim como entraste sem a necessidade do meu consentimento – o que de resto não fora a primeira vez -, também o Albino o poderá fazer. Olha, já que cá estás, convoca-o tu.
- Ok… Albino, tens um tempinho livre?
-… Olá Alberto! É pá, tenho. Precisas de alguma coisa.
- Sabes, Albino?, ontem fui para casa com a nossa conversa teimosamente nos ouvidos. É que, realmente, a ânsia de poder tolda as consciências… assim como o seu exercício as transmuta. Vai daí, lembrei-me de um poema que, à guisa de ornamento, inseri num trabalho que realizei no âmbito da Sociologia das Promessas… Eleitorais. Gostaria que ouvisses!
- Força; vamos a isso!
- Aqui vai:




PALANQUE


É o reino do verbo;
da verborreia;
do diferente que é igual.
O palanque aguça o nervo,
leva mesmo à apneia,
assombroso festival!


Galos por um poleiro,
o mais alto, que é melhor;
galinhas por um qualquer.
Que ter poleiro é porreiro
e não o tem só o sabedor,
que o fútil o pode ter!


Que há-de ser dos pintainhos?!:
viver rasteiros no chão?;
dizer sim, mas nunca não?...
Tenho para mim que não!
Usemos nosso bastão!,
calemos esses mesquinhos!




- É pá, Alberto, tá fixe, meu!
- Gostaste?, sinceramente?
- Gostei, pá. Está demais…
- És mesmo amigão, pá. Porque isto não passa de merda…
- Claro que sou teu amigo! E tu, tenho a certeza, também és meu. A propósito, gostaria de te pedir desculpa por, naquele dia do reencontro no Algarve, não te ter respondido logo. É que, pá, nós já não nos víamos há cerca de quatro meses… e, ao contrário do que o narrador fez parecer, nós na altura nem éramos amigos. Apenas tínhamos convivido por duas vezes, porque temos amigos comuns; éramos conhecidos. Ao princípio nem me lembrei do teu nome, só depois me veio à tola. Desculpa, tá? Ah, mas a propósito da poesia gostei mesmo.
- Fico contente. Muito, até. Já agora, não precisas de pedir desculpa pelo episódio do Algarve. Olha, vamos tomar um copo, pode ser?
- Claro que sim. Isso é que é falar… Convidamos o narrador?
- É melhor não. O gajo às vezes é um chato do caraças! Bem, ultimamente não tem sido. Ainda assim, hoje vamos só os dois.
- Como queiras…
… Aquilo é que aqueles dois me saíram cá uns…!




Carlos Jesus Gil

domingo, 14 de dezembro de 2008

E o Alberto e o Albino também...

Continuação:




E O ALBERTO E O ALBINO TAMBÉM…
IX


CONVERSANDO


- Albino, Alberto… apareçam!
- Sim, narrador; - cá estou, meu amigo.
- Moços, discorram – não sejam prolixos, para a rapaziada leitora não secar – sobre esta coisa de o Governador do Banco de Portugal sustentar que ainda é cedo para uma redução na carga fiscal, enquanto que vozes no governo a defendem já para 2009.
- É pá, se quiseres posso fazê-lo sozinho. Estou bem por dentro do assunto.
- Acredito, Alberto, mas creio que o Albino estará, mais do que tu, a jogar em casa. Digamos que, no assunto que vos proponho, tu és o visitado mas jogas em campo emprestado, enquanto que o nosso amigo Albino está de facto a jogar em casa.
- Mas, afinal o que é que faz o Albino na vida?
- Posso, narrador?
- Força, Albino.
- Alberto, não costumas ver telejornais ou assistir a debates políticos na televisão?
- Vejo, sempre que posso. Não perco um, desde que me seja dada essa possibilidade. Mas porquê?
- Nada, nada… É que eu nunca intervim em nenhum. Era só para saberes.
- Tá, obrigado pela informação, mas estamos na mesma. O que é que fazes, homem?
- Sou politólogo, meu caro. E de renome. Colaboro com a imprensa e com a rádio… Televisão, nada! É pá, não é por falta de convites, mas… acho que não fico bem na televisão, pronto!
- Muito bem, Albino. É uma área engraçada, sim senhor. Temos muito que conversar; podemos até fazer estudos em conjunto.
- Por que não? É só algo pôr-se a jeito. E termos disponibilidade, claro.
- Moços, já vai sendo tempo de marcarem uma jantarada com as respectivas esposas. Sempre dá para pôr a escrita em dia.
- Acho que tens razão, narrador. Então ele também é casado!... Foste um gajo porreiro para nós, mesmo bacano.
- Amigos, já vos disse que me limitei a caçar o que por aí andava. Sim, cacei sem dificuldades de maior uma bela mulher para o Albino. Tarefa facilitada pelas qualidades do rapaz. Se fosse um pária qualquer, ou mesmo específico, a coisa já se tornaria mais difícil… talvez impossível. Bem, vais ter oportunidade de conhecê-la. Está nas vossas mãos marcarem a comezaina. Agora, se não fosse grande o incómodo, diziam qualquer coisa sobre o assunto que aqui nos trouxe hoje, tá?
- Vá, fala Albino. Na verdade estás mais em casa do que eu.
- Vamos lá então. Digam-me uma coisa, não foram desmarcadas as eleições legislativas de 2009, pois não?
- Claro que não! Por alma de quem?!
- Então está tudo aí: é política!
- Mas… só isso?, só te ocorre isso?
- Não, ocorre-me muito mais, mas para quê inflacionar o texto, se isto basta? É política, pá. A perpetuação do poder começa a ser gizada desde o início do mandato. Governa-se um país gerindo um governo; gere-se um governo em nome de um país, acredito, mas também, e não em dose despicienda, em nome do poder… da comandita, sim. É política!
- Tens razão, não é preciso mais.
- Então, está tudo dito?
- Sim, por mim está.
- Também sinto que sim. Não vejo o que acrescentar à explicação do Albino.
- Fiquem bem, rapazes!
- Adeus, narrador!; - até sempre, narrador!
- Chau, Albino!
- Até um dia destes, Aberto!




Carlos Jesus Gil

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

E o Alberto e o Albino também...

E, como dissera um anónimo comentador no anterior capítulo, a chaga continua:


PS coitado do sujeito! Então não é que ele se questiona porque é que sendo isto tão chaga continua a vir aqui!... Vá-se lá entender o ser humano! Será que Schopenhauer tinha razão?!


E O ALBERTO E O ALBINO TAMBÉM…
VIII

METEOROLOGIA E A MÁQUINA DO TEMPO


Cá dentro, atmosfera londrina; fora…, libertação no azul sozinho do céu!
- Que devaneios são esses, caríssimo?
- Olá Alberto, tudo bem?
- Sim, estou óptimo. O que é que se passa?; que discurso era esse?!
- Oh, nada, nada. Estava pr’aqui a falar comigo. Acontece-me não raro.
- Estás triste, é?
- É pá, triste e indignado… com o fado do Sporting. Então não é que mais uma vez perdemos de forma assaz inglória?!
- Camarada, perder envolve sempre inglória.
- Não, discordo. Há derrotas e derrotas!... Quando não existem argumentos ou não se faz por isso, a derrota encaixa. É um elemento da obra. Agora assim?!... E depois há outra coisa, é pá, uma equipa que está a ganhar a maior parte do tempo, que o Manchester só empatou por volta do minuto sessenta e um, não merece perder. Que se consiga outra designação e outro estatuto, mas derrota não. Durante o tempo de jogo, os noventa mais os quatro minutos suplementares, os ingleses só estiveram à frente cerca de dois minutos. Não pode apenas existir vitória, empate e derrota. Exige-se a existência de uma outra condição… que, obviamente, seria a do Sporting hoje.
- Moço, não está mal pensado, de facto. Mas é complicado, não achas?
- Não é fácil, não. Exige abastada reflexão. Mas, e tu, estás contente?
- Contente com quê?
- Com a derrota dos leões?
- É pá, acho que não.
- Achas que não? Então não tens a certeza?!
- Sabes que isso depende sempre do clube a que pertencemos. Aqui é assim; e pelo que me é dado a perceber, o mesmo se passa noutros países. Esta não é uma particularidade nossa. Bem, esta minha incerteza prende-se com o facto de não saber se gosto de futebol e, a gostar, qual o meu clube. Não me definiste neste domínio.
- Desculpa, defini-vos no essencial. Tu e o Albino já são! Se gostam ou não de futebol, isso é convosco. Não tenho absolutamente nada a ver com isso, nem tal se me mostrou.
- Claro que gosto de futebol, mais, adoro!... Já que posso escolher, nem penso vez e meia, sou portista.
- E o Albino?, já agora vamos ver como é que é com ele. Ó Albino?
- Sim narrador!
- Desculpa lá, que camisa clubistica vestes na praia, se é que gostas de futebol?
- Então não se vê logo?... Sou do Benfica, claro! E tu, narrador; e o Alberto?
- Eu sou sportinguista e o Alberto é do Porto.
- … Chato, o que se passou hoje em Manchester. O Sporting não merecia…
- Falas a sério, Albino?
- Claro que sim. Se fosse o Porto…
- Também digo o mesmo, narrador. Agora que tenho consciência que sou portista, estou triste por o Sporting ter perdido. Se fosse o Benfica…
- Fiquem bem rapazes!...
- Adeus narrador; - Até à próxima, narrador!
Ainda agora aqui chegaram, digo eu, e já se encontram impregnados de natureza humana… Porra!, o que quero eu? De que forma haveriam eles de ser?! Natureza humana, sim…, a inerente racionalidade – se o rival perder fica menos forte… - e a emoção que devem ser postas em todas as coisas. Em simultâneo sim!... Não, não é um paradoxo, é natureza humana.




Carlos Jesus Gil

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

E o Alberto e o Albino também...

E a saga continua:


E O ALBERTO E O ALBINO TAMBÉM…
VII


VAMOS LÁ AO ALBINO!

- Ó Albino!...
- Sim, narrador. É pr’a hoje?
- Se te referes à tua indefinida situação, sim, é pr’agora. Desculpa, mas no outro dia já não dava. Fez-se tarde, e eu também tenho a minha vida… Compreendes?
- Estás desculpado, pá. Tenho andado aqui com uma ansiedade do caraças, mas eu entendo perfeitamente que não te tem sido possível ocupares-te do meu mundo.
- Se pensas, Albino, que a dita cuja te vai abandonar só porque te vou enquadrar num normal quotidiano, estás enganado. Pode até acontecer, e eu vejo nisso enorme possibilidade, que a tua ansiedade vá aumentar. Tu vais ver como é ser peça deste dominó.
- Seja como for, narrador, empurra-me. Torna-me útil ao movimento.
- Ok. Albino, tu ocupas-te do estudo dos fenómenos políticos – o que é de cósmica abrangência, tenho para mim, pois toda a actividade humana se encontra eivada de política, por vezes de politiquice, sim, mas tu tão bem quanto os melhores saberás fazer a destrinça -, observas, lês, meditas, cruzas informações, tiras as tuas conclusões que explanas, nos media, para que o mundo que não entende estes meandros continue a não os entender, mas menos, que com os teus comentários, crónicas e conjecturas o pessoal já fica com umas luzes. Quem quiser ficar a dominar o assunto pode, caso possa mesmo… frequentar o curso de Direito da Universidade Novíssima de Lisboa, onde tu és reputado professor de Ciência Política e de Sistemas Políticos . Foi, aliás, aí que te formaste em Direito e onde fizeste o teu mestrado (doutoramento, ainda nada. Mas vais lá, calminha. Já apanhas é com Bolonha… Melhor ainda, não é?). Portanto, Albino, és um conceituado politólogo. Com as coisas eminentemente jurídicas nunca tiveste suficiente empatia.
- Contente, muitíssimo contente. Apraz-me o assunto e o desafio.
- Pronto, ainda bem. Quanto às tuas origens, nasceste no Barreiro, no dia 27 de Outubro de 1971, no seio de uma família de operários fabris: O sr. António e a dona Conceição, ambos trabalhadores numa unidade de produção de componentes para a indústria automóvel. Tens uma irmã, mais nova do que tu, aliás, bem mais nova – não digo quanto, pois, pelo menos por enquanto, nada aproveita ao enredo -, intermitente professora de História, casada com um bancário, e neste momento à espera do teu primeiro sobrinho… Sim, é um menino.
- Porreiro, meu caro, uma mana e um sobrinho a caminho… Um casal simpático, já estou mesmo a ver, como pais… São gente boa, os meus pais?
- Da melhor. Muito trabalharam para merecerem o orgulho que hoje têm por ti… e pela tua irmã, claro, apesar de uma certa mágoa… É que a tua irmã, excelente rapariga, diga-se de passagem, não se preparou para nadar nestas águas. Não me interpretes mal, é uma excelente professora de História, mas é professora! Tudo dito... Os teus pais, humildes mas inteligentes, cultos e atentos, sabem bem como as coisas estão. Mas adiante. Tens uma bonita mulher, uma loirinha de 29 anos, tua colega na Novíssima de Lisboa onde lecciona a cadeira de Direito Constitucional I, e onde, de resto, a conheceste. Foi amor à primeira vista. Namoraram oito meses e… zás, matrimónio. Estão casados há três anos e ainda não pensam em ter filhos. Vocês é que sabem… Ah, já me esquecia, é de Castelo Branco, a tua Ritinha.
Bem, julgo que por agora nada mais há a acrescentar. Foi isto que acerca de ti apanhei até ao momento. Se algo mais por aí andar e eu conseguir caçar, disso conhecimento te darei. Vou contar até…
- Já sei, já sei. Eu assisti a todo o processo do Alberto. Aliás, estou muito satisfeito com o que ele é. Fiquei, no entanto, algo chateado com vocês.
- Então porquê?
- É pá, despediram-se um do outro e a mim nem burro tu estás aí!
- Tens razão, Albino. As minhas desculpas. Depois, sabes, o Alberto já estava lá com umas coisas com a mulher no sofá… De maneira que, naquele dia, eu achei que o melhor era ficar por ali.
- Tá, anda, conta lá.
- Vamos a isso: um, dois, três.
- Já sou… Como é bom ser! … Já vou, Ritinha, já vou.
- Fica bem Albino.
- Adeus, narrador.




Carlos Jesus Gil

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

E o Alberto e o Albino também...

Outro capítulo?... Pronto, aí vai ele:




E O ALBERTO E O ALBINO TAMBÉM…
VI


DE ONDE VÊM; O QUE FAZEM


Pois!..., já vai sendo tempo de desenhar melhor aquela gente
- Rapazes, apareçam!
- Diz, narrador; - Sim, narrador.
- Alberto, Albino, aqui vai:
- Aqui vai o quê, criador?
- Albino, por favor não me chames criador. É forte demais, não se ajusta a quem calça sapatos. Anda tudo por aí, ninguém cria nada. Caça, aquilo a que chamamos criação artística não passa de caça. Envolve elevação, sim, daí se distinguindo da outra, mas é caça.
- Seja, tu é que sabes.
- Bem, quero dizer-vos que já apanhei a vossa definição, querem ouvir?
- Claro, vamos a isso; - já não é sem tempo!
- Têm razão, mas estas coisas dão trabalho. É necessária muita espera. Vamos lá:
- Alberto, tu és oriundo da Beira Litoral, de uma aldeiazinha algures no distrito de Coimbra. És filho do senhor Amílcar e da dona Deolinda, agricultores, daqueles que vêem a agricultura como uma religião. Nasceste a 29 de Abril de 1972. Tens, portanto… é só fazeres as contas!
Quanto ao ofício, voga por aí informação de que és um brilhante sociólogo.
- Sociólogo?!
- Sim, querias ser o quê? Talvez proxeneta!...
- Não pá, está bem assim. Aliás, está óptimo. Bela profissão! Já agora, onde é que fiz o curso?
- Em Coimbra. Com hercúleo esforço dos teus pais (só Deus e eles sabem!...), frequentaste a vetusta academia.
- Portei-me bem ou fui mais um Afonso?
- Portaste-te muito bem. Não obstante não teres falhado nenhuma festa académica nem similar, também não falhaste qualquer ano. Foste, em termos discentes, exemplar. Os teus velhos (velhos o tanas!... Às vezes sou cá um insensível do carago. Mas também isto não passa de um tique geracional, convenhamos. A malta não quer faltar ao respeito…) muito se orgulham de ti.
Caríssimo Alberto, estás cá com um mijo do caraças. Conheces a Angelina?, aquela actriz…
- A Angelina, pá? A minha esposa vai ser a Angelina?
- Calma, Alberto. Não, não vai ser ela. Só estava a ver se a conhecias. Já agora, era uma pergunta retórica, pois se ainda não vives realmente… Se ainda só emergiste meia dúzia, ou menos, de vezes. Para que é que estavas aí com coisas… como se a conhecesses. Bem, de qualquer modo a reacção que tiveste é a que teria qualquer homem em plena posse de todos os argumentos. Mas não, não vai ser ela. Vai ser uma menina de 26 aninhos, natural de Viseu, chama-se Helena e é enfermeira de profissão.
Camarada, vou contar até três. No final da curta contagem estarás na posse da tua nova vida e de tudo o que lhe é inerente: um, dois, três. Boa sorte Alberto!
- Narrador, isto é bom pá. Estou no sofá com a minha mulher…
- Pronto, chega por hoje. Olha, vou ter que deixar o Albino para outro dia. Depois compensá-lo-ei. Adeus Alberto!
- Adeus narrador, isto é o máximo!
- Com quem é que estás a falar?
- Deixa pr,a lá, Lenita!...


Carlos Jesus Gil

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

E o Alberto e o Albino também...

Aí vai mais disto:




E O ALBERTO E O ALBINO TAMBÉM…

V



DE ONDE EU VIM


- Ó narrador, ó narrador, onde estás?
- Quem me chama?
- É o Albino. Já resolveste a nossa situação?
- Tem calma, sim? Encontro-me empenhadamente a tratar disso. Prometi-vos vida, vida irão viver. Mas vida a sério, de emoções banhada.
- E namoradas?, já nos arranjaste namoradas?
- Ainda não, procuro com calma, pois não quero atirar-vos com uma coisa qualquer. Já agora, vai ser na condição de esposas que as irão receber.
- Casados nós, já?!
- Sim, mas tens alguma coisa contra o casamento, é?
– Narrador, narrador, se ele tiver é problema dele. Eu não me importo… desde que seja bonita, bem feita e tenha bom feitio.
- Olá Alberto! Tem calma, tá? Tenham os dois muita calma. Vou atribuir-vos duas beldades com essas qualidades todas mas muitas mais. Confiem cá na vossa fonte. Quanto ao Albino, eu sei que casamento algum lhe mete medo. Quanto mais se for com o tipo de mulher que vos prometo!... Não é verdade Albino?
- É, claro que é. Só fiquei um pouco surpreendido!
- Sabes que em determinadas etnias sempre este foi o procedimento. A escolha de mulher para os rebentos não está a cargo destes.
- Sim, mas conhecerem-se já como casados?! Não achas isso grotesco?
- Neste mundo, onde quotidianamente se assiste a tanta coisa a sair dos eixos, onde procurar exótico é empresa épica, onde se pode provar física e matematicamente que a distância mais curta entre dois pontos não se traduz numa linha recta mas sim numa curva, onde é normal um político prometer uma coisa e fazer outra, num mundo destes, dizia, classificar algo como grotesco é manifestação de atavismo. Bem, mas eu encontrava-me aqui em meditação, e vocês, mais uma vez, vieram interromper-me. Vá, vão descansados que eu hoje não levo a mal, mas vão já, tá?
- Sim, narrador, até um destes dias!
- Chau narrador!
- Adeus Alberto; adeus Albino. Fiquem bem!
…………………. (pensamento, ócio, pensamento)------------» :

Eu vim do mínimo, que nada não existe… Se existisse, teria, por certo, partido de lá.




Carlos Jesus Gil

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

E o Alberto e o Albino também...

Ok. Vida ao Alberto e ao Albino... e não só!:



E O ALBERTO E O ALBINO TAMBÉM…


IV


À VOLTA DA ORIGEM DA VIDA


A Vida terá surgido na Terra, depois de esta ter arrefecido o suficiente para o permitir, em ambiente aquático.
Pensa-se que o Grande fenómeno ter-se-á verificado graças ao ácido ribonucleico (RNA), o qual possui capacidade catalizadora de reacções químicas. Antes, julgava-se que apenas as proteínas possuem aquela capacidade. Como tal, a Vida teria começado com o surgimento de proteínas. Contudo, para existirem proteínas terá que existir genoma, mas para existir genoma é necessária a existência de proteínas. Assim, vê-se hoje como mais provável uma Vida surgida com a participação fundamental do RNA.
“ Muito bem (palmas), muito bem! “, “ Tu outra vez, Albino?!... “, “ Não, sou eu, o Alberto. Já não me conheces, narrador? “, “ É pá, conheço, desculpa lá! Ouve uma coisa, Alberto, eu já não vos tinha dito que durante uns tempos era melhor não me aparecem? “, “ Ó chefe, ó chefe, não nos faças isso. Por favor! É que, e eu falo por mim, não consigo viver sem ser nas tuas coisas… “, “ Então vocês não viviam nas narrações de outros narradores?! “, “ Isso devem ser coisas do Albino. É claro que nós só vivemos em ti. Vá lá, chefe!... “, “ Bem, em primeiro lugar eu não sou vosso chefe; em segundo… em segundo, já que admites que só existem em mim e que desejas tanto esta existência… vou contar contigo. “ “ Obrigadinho, che… narrador, obrigadinho!... E quanto ao Albino?... é que gostava que contasses com ele também! “, “ O Albino foi muito arrogante “, “ Arrogante, eu? Tu é que nos trataste de rastos, narrador. Tu foste até brejeiro no discurso, para não dizer que foste ordinário. Desculpa lá, mas… “, “ ……… Tens razão pá, tenho andado um pouco agitado, isso reflectiu-se no relacionamento que tive convosco nos últimos dias. Mas tu, Albino, também te portaste um bocado mal, pois foste intrometido e, por vezes, importunaste narrações importantes. É ou não é verdade? “, “ Se as narrações eram ou não importantes, não faço a mínima ideia. Agora é verdade, sim, que me intrometi e que importunei. Sentidas desculpas! “, “ Estás desculpado. “, “ (palmas)… Muito bem, estou muito contente. Narrador e Albino, já ganhei o dia! Agora só falta dizeres, narrador, que também contas com ele. “, Tá, também vou contar com ele. Mais ainda, vou arranjar para cada um de vocês uma bela namorada… e uma profissão. Que me dizem? “, “ Porreiro, magnífico, não é Albino?”, “ Sim, a parte da bela namorada é o máximo, agora a da profissão!... Estava a brincar, eu até quero constituir família, logo terei que ter uma profissão… e emprego, claro. “, “ Pronto, estou de bem com vocês, vocês estão de bem comigo. Óptimo! Vou começar a tratar dos vossos casos. Não sei o tempo que vou levar, pois não é empresa fácil o que vos prometo. Assim que tiver notícias convoco-vos, tá? “, “ Ok, obrigado! “, “ Obrigadinho! “, “ De nada, fiquem bem. “




Carlos Jesus Gil

sábado, 29 de novembro de 2008

E o Alberto e o Albino também...

Espiei-os… e concluí: o Alberto - deste pouco sabia - e o Albino são, efectivamente, personagens de carácter dúbio! Devo, ainda assim, acabar já com a sua raça? Tenho para mim que não (não lhes direi por enquanto). Uma hipótese mais:




E O ALBERTO E O ALBINO TAMBÉM…


III

COMPARAÇÃO


Comparação:

… Pode até não ser tão boa, mas é boa. E, sendo boa, já me serve… De cerveja estou falando. Que a Leff é bestial; que a Hoegarden é do melhor; que as Chimay, Duvel e Guiness são de beber e chorar por mais; que a Rochfort e a Orval proporcionam tão inestimável deleite que até devia estar consagrada na Constituição a obrigatoriedade do seu consumo por todos os constituintes; que tudo o que supra disse, o disse com convicção (vá lá, nem tudo, pronto!), é uma coisa; agora eu afirmar que só estas é que servem!... “ E afirmaste, que eu bem ouvi”, “ É pá cala-te, Albino! Não tive há dias uma conversinha contigo? Chato do caraças; e para além de melga és mentiroso. Olha, faz-me um favor, vai jogar ao botão com o Alberto, tá? “, “ Sou maior, vacinado e dono da minha vontade, por isso…”, “ Carraça dum carago, deixa-me, por favor, acabar o texto! “, “ É pá, pronto, ok. Vou vazar. Olha, se vires o Alberto manda-lhe cumprimentos.”, “ Como é do teu conhecimento, tão depressa não farei questão de vos ver. Chau!”. Sacana do gajo, mas para que é que eu os inventei?!!! Bem, deixa-me mas é terminar isto depressa antes que ele volte. Ou mesmo o Alberto, que, embora menos chato, também não é de trato fácil. Vamos lá: pois, estava eu a querer dizer que nem só as finórias loiras, ou morenas, merecem a nossa garganta. Então, são fracas a Sagres e a Super bock?; já não prestam, é?... Malta, são boas; boas e mais baratas. Ora, sendo boas já me servem, não me bastam, mas servem-me… Dúvidas interditas!








PS Em qualquer Sociedade desenvolvida as Famílias são os alicerces; os Professores, os pilares!

Pressuposto: o recurso dos recursos é o recurso humano!




Carlos Jesus Gil

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

E o Alberto e o Albino também...

Olá malta! Depois deste curto interregno, o qual se deve a uma micro tournée musical realizada por terras da Alemanha (se um dia destes me vier à real gana, postarei sobre a dita) , eis que regresso ao nosso sítio. Aqui vai o segundo capítulo da estória “ E o Alberto e o Albino também…”:


II

E O ALBERTO E O ALBINO TAMBÉM…


HÁ MAIS MARIAS NA TERRA


Era uma vez um casalito - lito só porque eram mesmo novinhos, que maturidade, dignidade e sentido de vida não lhes eram em míngua – que, depois de muito matutar, resolvera, por unanimidade, aceitar a ajuda dos dois casais progenitores para continuar a estudar. Os empregos e o ou os filhos viriam mais tarde.
Certo dia “ Olá narrador presunçoso! Estás bom, velho amigo? “, “ Tu?!, outra vez tu?! Ó pá, Albino, nunca te disseram que a casamentos e baptizados só vão os convidados?, arre!..., bem, a culpa é minha… “, “ O que é que queres dizer com isso, narrador? “, “ Com isso o quê, com o arre ? “, “ Não, com o outro paleio. “, “ Albino… É pá, será que não compreendes que não és bem-vindo? Ter-te-ei convocado, por ventura? “, “ Ok, não me chamaste, pá. Só que eu já estava com saudades! “, “ Saudades de quem, meu? “, “ É pá, de ti… e do Alberto, principalmente dele, pronto. Se ao menos me pusesses em contacto com ele!... Nem que fosse só para o cumprimentar. “, “ … Ó pá, prometes que me deixas em paz? “, “ Prometo, palavra de escuteiro! “, “ Lá sabes tu o que isso é!... “, “ Sei sim, isso é que sei! Olha, vou contar-te um segredo: não fui só teu personagem, nem eu nem o Alberto. Existimos em cabeças várias, não és o único que nos narras… Daí que não sou o ignorante por que me tomas. Dá-se, que simpatizava contigo. Narrador, palavra de escuteiro, sim, que não te incomodo mais, tragas-me tu ou mesmo não me tragas o Alberto! “, “ Tá bem pá, vou convocar o Alberto: ó Alberto! “, “ Sim, narrador, que me queres? “, “ Está aqui o Albino para te cumprimentar. “, “ Narrador, diz ao meu amigo que agora não dá, estou bastante ocupado com o trabalho que me está a dar um colega teu. Mais tarde, diz-lhe que mais tarde. Convoca-nos aos dois daqui a uns dias, tá? “, “ Não, não tá! Vão os dois enganar a real puta que vos há-de vir a parir. Vocês existem só e unicamente na minha lavra. Aliás, nenhum camarada de ofício se daria ao trabalho de alimentar dois meliantes como vocês, dois mal-paridos, desconchavados e de elevado défice estrutural. “, “ Não, narrador, nem eu nem o Albino somos os personagens que ora pintas. E o que aqui somos a ti devemos. Por acaso já leste sobre o Alberto de Sicrano e o de Beltrano? “, “ Já, pá, conheço-os muito bem, são dois brilhantes personagens, cada um à sua maneira… Não, rapazito, com vocês não há hipótese. A vossa natureza não permite a mim narrador grandes veleidades. Os outros Albertos, e os outros Albinos, que também conheço admiráveis em outros narradores, não são vocês… muito longe! mais Marias na Terra. “, “ Então… queres dizer nunca mais? “, “ Tudo acaba, ou pelo menos muda. O nunca mais não constitui excepção. É, também ele, temporal. Caso mudem; se a hibernação (não se limitem a respirar!) a que vão ficar sujeitos vos ensinar alguma coisa, um dia voltarão. Dar-vos-ei hipótese de tal. “
Cansados e aborrecidos com a intromissão, Mafalda e Pedro Miguel deram o fora. Já sei como é, hoje já não os apanho.


Carlos Jesus Gil

terça-feira, 18 de novembro de 2008

E o Alberto e o Albino também...

E, então, deu-me para repostar uma estória tonta. A mesma desenrola-se ao longo de 24 capítulos... Claro, de permeio poderei interromper a estória e postar isto e aquilo. A ver vamos!


I


BAR DE UMA PORTA SÓ


“ É pá, t’ás bom?”, pergunta Alberto a Albino, quando, ao fim de cerca de quatro meses voltam a encontrar-se, num bar algarvio, algures em Albufeira. Um bar muito sui generis com, notem bem!, porta e janelas viradas para a rua, um bem arranjado conjunto de prateleiras recheadas de garrafas com bebidas de elevado teor de álcool, um compartimento frigorífico com águas, refrigerantes e cervejas – para além das torneiras para imperiais, colas e outros refrigerantes a jeito do patrão -, bem como uma despachada máquina de gelo. Ah, e uma outra de café. Máquina de tabaco?, deixa cá ver… também tinha, agora me lembro, estava meio escondida num recanto. Passava também música, nesse bar; por vezes era tocada ao vivo. Como vêem, um bar muito sui generis… Estava a brincar, mas o bar de facto é mesmo único, pois só possui uma porta – nem sei como é que os bombeiros e demais serviços de segurança ainda não fecharam aquilo! -, a simultaneamente de saída e de entrada. Lá dentro?, nem uma! Casas de banho, arrumações, escritório?... aquilo tem uma viela ao lado (que deve dar para um quintal, pequeno, presumo eu, que o terreno ali é de monta elevada), esses serviços hão-de encontrar-se lá instalados. Ah, agora compreendo porque via tantas pessoas a sair para logo depois se debaterem, de novo, por um lugar no bar… Também não estive lá assim tanto tempo, mas apercebi-me do fenómeno por não raro se manifestar. Na altura não compreendi, ou julguei que iam à rua telefonar. Vá, isso pouco importa, ou não importa mesmo nada, que despiciendo é para o caso.
Bem, vai daí, à pergunta do amigo segue-se a habitual - em circunstâncias quejandas -, resposta imediatamente seguida de pergunta……… Vá lá, Albino, eu, narrador sério e objectivo e de mau feitio quando me chateiam, disse resposta imediatamente seguida de pergunta; se deixas ficar mal o narrador!... “ Ok, não te preocupes narrador, invejoso por não seres autodiegético! “, “ Eu, invejoso por não me encontrar numa posição autodiegética?!... Deves estar a bater mal! “,” Não, não me parece. Conheço-te há pouco, mas já deu para ver que gostas muito de protagonismo. “, “ Ó pá, conheces-me há pouco e vê-se que me conheces mal, muito mal mesmo. E por este andar não vais ter grandes hipóteses de me conhecer melhor… é que começo a não sentir qualquer tipo de empatia contigo, e quando assim é… Até os dedos se me querem sublevar, tal não é a indignação que experimentam por os obrigar a lavrar terra da tua natureza! Eu, invejoso por expressar a tua subjectividade - sim , que a ti conheço eu de ginjeira – e não a minha?!... Só mesmo de personagens como tu! “, “ Mas o que querias tu de mim?; não sabias como eu era? “ Queria, apenas e tão só, que me deixasses contar a história. Mas a história dos dois, ou desprezas assim tanto o Alberto?!, de toda a figuração e, principalmente, do Bar de uma porta só. Se não obedeces ao passado, se és assim tão autonomamente personalizado e de poder inquestionável, cria-te a ti próprio, inventa a vida que desejas.”, “ Pronto, tu mandas! “, “ Oh, oh, mando pois! Não entendes mesmo patavina, ou entendes… És, não tenho dúvidas, um reiterado sonso. Comigo não! Abomino gente sonsa. Que se lixe o Bar de uma porta só! E tu, se quiseres cumprimenta o teu amigo, se não quiseres…, “ Alberto, é contigo!, estou porreiro meu, e tu, grande amigo, como vais? “.




PS não posso deixar passar esta: mas a quem é que lembra, ainda que de ironia se tratasse, bradar por um interregno na Democracia, defender um período de seis meses de ditadura "para pôr as coisas na ordem" e depois continuar com o Governo do Povo!? Mas a quem é que lembra, ainda para mais quando o quem é dirigente político e líder da oposição!? Nunca um governo se viu tão sozinho..., tão bem, tão confortavelmente bem, pese embora o tanto quevai mal! A História vai achar este período interessante!
Ei, isto não tem rigorosamente nada a ver com a estória!


Carlos Jesus Gil

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Reduzido tormento

Ora, vamos lá a mais uma inflexão!:




REDUZIDO TORMENTO


Ele sabia muito bem aquilo que andava a fazer. Tudo fazia, porém, para que os outros não soubessem que ele sabia. Assim, sempre poderia usufruir de uma atenuante caso a justiça temporal lhe pusesse a mão. Era, portanto, um verdadeiro sonso!
Compensava ser-se sonso, passe a redundância, que sonsice é sinónimo de três quartos do caminho do lucro percorridos logo à partida. Cedo tomou consciência de que se conseguisse passar uma certa imagem de si próprio, tal lhe proporcionaria fazer das dele… Ah pois, vivia bem, o moço! É claro e absolutamente normal, à primeira vista, quando confrontados com casos quejandos, somos levados a pensar que não, que aquilo
não se deseja a ninguém; “ coitado do moço! “, tantas e tantas vezes ouvimos. Mas não, de modo algum! Uma análise breve, não aturada, conduz-nos à consciência do facto: ali brilha o sol; as coisas, afinal, não lhe pesam (mas que leveza!)… Também quero!
Eh, eh, eh, não meu caro amigo, não é para todos! É necessário muito talento.
Ele?... Pelo menos até ver…




Carlos Jesus Gil

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Por vezes dá vontade de fugir. Aí, faço que fujo!

Eh pá!... Mas quanto ódio - estarei equivocado? - no ar! Eh pá, que mal vos fizeram os profs!?... Carago, vou mudar de tema já!... Vou fazer que fujo!



FUGA RECORRENTE


Regresso muitas vezes ao tempo de jogar às escondidas
Ao tempo em que jogar às escondidas era um jogo
Ao tempo de andar descalço
Quando pão com manteiga era verdadeira iguaria

Compreendia melhor a linguagem da Terra, naquele tempo
Habituei-me a lidar com ela e com o que dela vinha
De cedo esta empatia
A necessidade exigia

Era também o tempo de jogar ao botão
Na estação do botão jogava-se ao botão
Na do pião era este que reinava
Era assim naquele tempo

Era o tempo das coisas da escola
Chatas, quantas vezes
Mas sempre, sabemo-lo mais tarde, geradoras de boas recordações
O tempo dos alicerces

Era o tempo do ingénuo desobedecer
Também do desobedecer sonso
O tempo das incompreendidas palmadas de crescimento e
Das guerras logo sanadas

Das guerras logo sanadas

E é por isto
Só por isto
Por as guerras não serem logo sanadas
Que recorrentemente regresso àquele tempo




Carlos Jesus Gil

domingo, 9 de novembro de 2008

Manif à maneira!

Em Março, quando 100 mil professores, pacificamente clamando por justiça, ocuparam um dia livre com a ocupação de ruas e praças de Lisboa, escrevi assim:


OBRIGADO SENHORA MINISTRA


O lema foi, o lema é: dividir para reinar. Ensinamentos antigos da Arte de Facilmente Governar; competências adquiridas e postas em prática pelas últimas administrações do nosso burgo, as quais – para desencanto de muitos e para mal da tão essencial formação dos nossos recursos humanos - lograram transformar uma classe profissional idónea e consciente do seu fundamental valor social, num lamentável rebanho tresmalhado. Uma classe profissional que para além de ensinar também educa, quando, no máximo, deveria coadjuvar as famílias nessa inalienável tarefa… Pois, mas estas não têm tempo – às vezes! -, de modo que com ou sem insustentável leveza se eximiram daquela tarefa. Ministério do Ensino… Designação mais adequada para aquele atormentado órgão estatal. Função/Missão: formar recursos humanos, condição cuja ausência impede a inovação, a competitividade e o desenvolvimento de uma sociedade. Educar? Sim, também, mas como apêndice, um complemento simpático ao trabalho basilar que deve residir nas famílias. E tudo isto se fará, com esforço mas de bom ânimo, bastando para tal que a rapaziada assalariada deste ofício não seja sistematicamente tratada com desdém pela patroa e não só: “olha, aquele é funcionário público e ainda por cima professor!...”; “ Ó stôr?... Ó stôr?!, mas qual stôr?, se os outros licenciados são doutores – ridículo, mas por cá é assim -, então os professores também o são. Até os mestres e os mesmo doutores, que os há já em quantidade apreciável nas nossas escolas, são stôres! Desplante.
Bem, voltemos ao big-bang deste mui errante texto. Vejo sinais, fortes sinais. Pela primeira vez (já lá vão alguns anos que estou na casa) assisto a algo que classifico de união. Com ela, a força aparece naturalmente; com força suficiente a obra é feita. Creiam, sócios da Sociedade, que esta bem carece desta obra!
Senhora Ministra, muito obrigado por não conseguir mexer-se sem causar tumulto. Só assim foi possível!




Hoje, à guisa de carta aberta, acrescento:
Mais ainda, muitos mais professores na rua, senhora ministra. Cerca de cento e vinte mil. É obra!... Num dia de descanso; num dia de viver em família, rumaram a Lisboa, gastaram tempo e dinheiro, alentados pela esperança de a ensinarem a ler os sinais. A senhora, todavia, porfia em não aprender!... A senhora, o seu secretário de Estado; os dois juntos, com o apoio cego do senhor primeiro-ministro. Será possível que nem um dos três, nem sequer um, note o absurdo em que teimam!? Tornaram a Escola uma perfeita incubadora de mal-estar… O quê!? Ainda não deram por ela!?... Atentem, eminentes políticos!: o povo já compreendeu que, no que concerne ao assunto em causa, só para não ficaram mal na fotografia não dão os senhores a mão à palmatória, que é como quem diz… Notem que, num universo de eleitores tão exíguo, o elevado número de professores descontentes – desesperados, até! -, a mais os seus familiares, a mais os amigos mais chegados, não irão votar em vós (muitos milhares dos que desfilaram ajudaram-vos a subir ao poleiro). Ganharão as próximas Legislativas, por certo…, por certo também perderão a maioria que vos sustenta as teimosias, qual pílula três em um, de autismo, arrogância e soberba!
Foram muitos, senhora ministra. Muitos, e ainda teriam sido mais se eu me tivesse juntado a eles. Eu, que até votei PS; que até tenho o Cartão do Partido; eu, que embora desejasse erguer bem alto uma cartolina com dizeres, não pude; eu que, também por certo, não fui o único a querer juntar a voz à dos colegas lutadores e a não poder… Muitos, senhora ministra. Muitos em prol da dignificação de uma carreira Digna; de um saudável ambiente das Escolas; de condições para ENSINAR.

Sem outro assunto, de momento, envio-vos respeitosos cumprimentos e votos de que, sem delongas, ganhem tino.


Carlos Jesus Gil

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Parabéns, Barack Obama!

PARABÉNS BARACK OBAMA!


Em termos políticos, coloco-me mais à Esquerda (sim, ainda há ideologias!...). Digo mais, pois, sem os especificar - que, ora, não me apetece -, também existem pressupostos políticos de Direita que perfilho com ternura e dedicação.
Bem, feitas as contas…, já se viu que, com satisfação e sem causar qualquer estupefacção em quem quer que seja, depois de lido o supra escrito, vou dar os parabéns a Barack Obama: Parabéns Barack!
… Todavia, e como ingénuo não sou, deu-me para o seguinte textito:
Será o Estado público ou privado?... Privado, tenho para mim!... Ou não fosse tão titânica a força dos lobyes.
Daí: cuidado com as expectativas!




Carlos Jesus Gil

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Como as ondas do mar

Poderia escrever sobre as eleições americanas; poderia aludir à nacionalização do BPN (Banco Português de Negócios, em ruína por péssima gestão, muito anterior ao crash económico-financeiro sem precedentes que vivemos); poderia, e seria pertinente, fazer referência à considerável injecção de capital por parte do Estado na banca portuguesa em geral, como forma de a salvar da míngua de liquidez...; poderia isto e muito (minto descaradamente, pois argumentos e disponibilidade me faltam!) mais! Porém, à real gana assomou um outro imperativo. A seguinte repostagem:



COMO AS ONDAS DO MAR


Venho de lá agora. Estou a chegar agorinha mesmo. Já sei que daqui a nada vou voltar, é sempre assim um vai-vem contínuo, uma roda-viva… Esperem, passa-se o mesmo com os outros, sim com vocês também! Pensavam que não?, alguns de vocês julgavam que não? Pois, prestem mais atenção, observem-se melhor. Eu também só há bem pouco tempo é que me dei conta, e foi necessária uma forte brisa, um quase vento, soprar-me teimosamente colada ao ouvido, como quem diz: eh pá, não enxergas nada, presta-te atenção, ó remoinho! Era tudo tão absolutamente normal que eu tomei por estranha a veemente intervenção, e ela repetiu “ ó remoinho, dá-te conta!…”.
É, está na nossa natureza; somos todos assim. Creiamos, nesta regra não existe excepção.
Não, não!, não é fundamental ser-se de outra maneira, se o fosse não teríamos cá
chegado… Os átomos escondem um frenesim. Certo, reconheço virtude num alargamento das estadas em , mas não é, de todo, vital.
Inquietação…
Vou e regresso constantemente. Como as ondas do mar!




Carlos Jesus Gil

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

O Porta-Carraças

Tive sempre um enorme respeito pelos Vira-Latas puros... Aquela precoce maturidade tão vivamente presente em menino enteado!...

Ao vira-las que meu primo visitava e que, num repente, o nevoeiro apagara!



Conto


O PORTA-CARRAÇAS

Porta-carraças é um vira-latas puro, do mais genuíno que há.
À semelhança da generalidade dos puros derruba-caixotes, porta-carraças é possuidor não só de uma vasta colónia de carrapatos, mas também de uma mui nobre e forte personalidade.
Tais atributos não passaram despercebidos às cadelinhas da rua que passara a administrar desde que, com um pragmatismo invejável, abandonara a rua onde sempre vivera, objecto, agora, de um olhar muito cuidado do senhor presidente da câmara, pois lá comprara apartamento um parente qualquer. Pese embora o facto de em termos de estatura física o animal nem dever nada – entenda-se: devotos agradecimentos - aos vários pais que o conceberam e à mãe que o pariu, uma paixão pandémica impregnou o ar rasteiro daquela rua. Baixa estatura física, imperial porte moral!...
Fêmeas à moda antiga, sim!, das de antes, ainda, do cinema, da televisão e das revistas – daquelas que vendem muito -, sete cadelinhas polidas, penteadas, perfumadas e…mimadas, que, muito embora não concebam uma vida sem fachada, nos machos, porém, valorizam sobremaneira o que não se vê ( tá bem, e também algo que se veja! ), tendo, por conseguinte, caído perdidamente de amores pelo solitário canino. Culpa das saídelas à noitinha, para um simples passear (do dono) ou para uma mijinha…ou cagadinha!
Pronto, como o horário das saídas era coincidente - até porque era aí que a vizinhança punha a escrita em dia -, aquilo era um espectáculo!: sete cadelas a um osso, donas e donos arrastados, correntes desprendidas, uivaria, gritaria e, no meio de todo este pandemónio, claro está, o instinto animal a funcionar…com a que chegasse primeiro, que eram todas um mimo.
A coisa durou alguns dias, os suficientes para pôr a cabeça em água aos zelosos donos; para, em conjunto, decretarem a elaboração de um abaixo-assinado dirigido ao digníssimo edil - que aquela rua era de gente e cadelas de bem -; suficientes ainda para depositar a sementinha em algumas das sete fofinhas. Bem, pelo sim pelo não, as meninas não iriam sair à rua enquanto o cão não fosse para o exílio!
Tá bem, tá!, parece que não conhecem o nosso país!... Nem com o Simplex! Tudo leva o seu tempo – digo, para não ter que lavrar outro texto, muito tempo -, rapaziada.
Quinze, quinze foram as noites que a mais estóica das famílias aguentou. Já nem com o mais poderoso – também não é bem assim!... – dos indutores de sono conseguiam dormir, tal não eram as noitadas de ganição e ladração da sua bichinha! Queria filhos, mas não de um qualquer pai; queria-os fortes de carácter; queria os genes do porta-carraças.
Já as outras matilhavam a rua havia alguns dias – agora, por certo, já todas fecundadas – quando a cãozinha se lhes junta. O desvelo, vencido pela falta de descanso, deu lugar à resignação dos donos. E os técnicos do canil camarário que nunca mais vinham!...
Mas vieram, a seu muito tempo chegaram ao território do porta-carraças – o qual desconheciam, o que os levou a uma imediata indagação.
Depois de identificado o prevaricador, foi só sacar dos apetrechos e…zás, já está! Fácil, muito fácil; nunca passara por situação semelhante, de modo que carecia de treino específico… Na antiga morada a ordem de expulsão fora a falta de pão – que em rua limpa não se trinca.
Não acaba aqui a história do nosso herói – ainda vivente. Ao cabo de alguns dias num canil municipal, fugiu – não é cão de gaiola, o porta-carraças. Não me perguntem como!, que não sei. Sei por onde anda, mas não vo-lo digo.
Ah, as cadelinhas!... essas, depois de alguns dias na sua verdadeira sala, descobriram que as necessidades fisiológicas são para satisfazer quando é preciso, de modo que, ao voltar a casa das donas…





Carlos Jesus Gil

terça-feira, 21 de outubro de 2008

O lápis e a borracha

Como as aulas estão praticamente no início, justifica-se (digo eu) a seguinte repostagem:


PARÁBOLA/CONTO


O LÁPIS E A BORRACHA


Moravam no mesmo estojo, um lápis todo janota e uma borracha toda borracho. Ambos executavam com brio as suas funções: se o lápis escrevia – não fosse, ou mesmo fosse, o que devia -, lá vinha a borracha, esbelta, esguia, e tudo, tudo de algo delia.
Duro coração, o daquela borracha. Como enganava aquela textura macia!; coitado do lápis, incansável e abnegado trabalhador, amigo de verdade, um indefectível! Esferográficas, marcadores, afiadeira, tubo de cola, caneta correctora, lápis de outras raças, até a própria borracha, todos podiam contar com ele. Aliás, todos os coabitantes daquele estojo eram família. Bem, não o foram sempre, mas tornaram-se. Uma verdadeira Pensão Familiar, aquele estojo.
De facto desconheciam-se por ali querelas, graves aborrecimentos. Talvez as esferográficas tivessem alguma razão de queixa da caneta correctora…, nada, contudo, de muito exasperante. O corrector nunca fora tão rude, é verdade que, volta-e-meia, toldava a lavra da esferográfica, mas a coisa era feita com alguma delicadeza e mesmo serenidade.
Com a borracha a atitude era outra, com ela era tudo à bruta!... De maneira que o bom do lápis andava desgostoso, mesmo deprimido com o desdém com que era tratado pela vizinha. E diminuído que estava! Bem, é certo que todos os lápis em função decrescem com a idade, mas com aquele era demais, tantas, em tão pouco tempo, foram as vezes que visitara o aguço. O mais terrível de tudo era a consciência do pouco que tinha produzido, pois tanto fora devastado.
Estava, pois, na hora de uma conversa de macho para fêmea (de ser para ser, que não era dessas coisas, o lápis); ser borracha é tanto como ser lápis, uma não é mais que outro!, pensam os justos.
- Por que me tratas assim, vizinha?
- Assim como, rapaz?
- Assim, tão friamente, despeitando-me com assaz constância, derrubando tanto do que ergo.
- Está na minha natureza, lápis, não é por mal, crê!
- Mas não podias, ao menos, não passar por cima de algumas coisas? Às vezes até voltam ao mesmo, coisas que apagas!
- Não, é instintivo, já te disse que é a minha natureza. Repara, tu também tens a tua natureza, a qual, por sua vez, também há-de, de quando em quando, ferir o prestável papel. Não com a pressão que exerces sobre ele, mas com a substância de algumas das marcas que lá deixas. E olha que há papel bastante nobre, que não merece certas coisas!...
- Pronto, já vi que não mudas. Olha como já estou tão pequenino!
- Lápis, sinceramente… não te julgava tão piegas! Eu também estou bem mais pequena, de cada vez que apago a tua lavra também eu perco físico. Mas quem te julgas tu afinal?, o desditoso mártir do estojo?!
Posto isto, ao bondoso do lápis não resta senão a resignação: uma vida implacavelmente a correr para o fim, ao ritmo frenético das inexoráveis apagadelas!... – Deixa lá, está na nossa natureza!

Carlos Jesus Gil

domingo, 19 de outubro de 2008

O sexo dos anjos

O SEXO DOS ANJOS



- Os anjos têm pilinha!
- Não sejas tolinho! Os anjos têm ratinha.
… Este Manel; esta Laurinha!... Eh pá, pessoal, ou os anjos são imortais e o seu número foi sempre o mesmo, ou então há anjos com pilinha e anjos com ratinha. Fácil, não!?... Ok, tá bem. Podem ser hermafroditas!
Ah, eles?... Como me vim logo embora, não sei como é que a coisa ficou.




Carlos Jesus Gil

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Era nenhuma vez...

Veio-me à real gana que talvez fosse interessante repostar este texto:


ERA NENHUMA VEZ …


O Sol brilhava sempre, todos os santos dias; a temperatura era invariavelmente agradável; havia áreas reservadas à precipitação, incumbidas da recepção e armazenamento da indispensável água; havia áreas com neve, muita neve todo o santo ano, para turista ver e desfrutar .
Todos amavam, todos eram amados; todos os activos trabalhavam, ninguém era tramado; trabalhava-se por necessidade e prazer; o lazer variado era, e inquestionavelmente praticado.
Era nenhuma vez um país assim!

Devia ter terminado o texto com um simples ponto final.




Carlos Jesus Gil

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Hipermercados CTT

Para desanuviar:




HIPERMERCADOS CTT


Quando me encontro em casa, só mesmo quando…, lancho por volta das dezassete horas. Sempre, ou quase, o menu “resume-se” ao melhor: broa, azeitona galega (uma delícia, hummm!) e café de borra com açúcar amarelo. Ora, um destes dias, já com tudo (tudo?) preparadinho sento-me eu (eu?... eh eu, se é sento-me não pode ser tu… nem ele ou ela ou outro qualquer!) à mesa do lanche, que não é a mesma do almoço ou do jantar. Nada de confusões! Naquela, só mesmo o lanche e o pequeno-almoço. Bem, tergiverso nem sei bem porquê. Quer dizer, até sei, mas não digo… por desnecessário ser. Pronto, vamos lá! Galeguinha de primeira; broa acabadinha de sair do forno, portanto paradoxalmente fresquinha; café de borra a escaldar; açúcar… açúcar?, onde está o açúcar!?... Népia, deixara acabar o açúcar amarelo… nem do refinado, mais branco que o cavalo branquíssimo do Napoleão, havia. Nem resquícios! Vai daí, com o pragmatismo que nem sempre foi meu apanágio, deixo-me de lérias, de dilações, e começo a pensar numa solução. Só que, nas redondezas, nem hipers, nem supers, nem micros, nem tão pouco mercearias!... Estou feito ao bife, café azedo é que não! Entrava já em processo de depressão quando se fez luz no lusco-fusco que invadia a minha tola: há, bem perto do meu apartamento, uma estação dos CTT. Estou salvo!... Aí vou eu a correr; num ápice estou a tirar o ticket… de repente vejo-me numa fila… grande… demorada… trinta minutos de comprimento…. Eis que chega a minha vez! : - Minha senhora, era um quilo de açúcar amarelo, por favor!... Ela sorriu, depois riu; depois riram os que se me seguiam… - Caro senhor, por enquanto ainda não temos!




Carlos Jesus Gil

domingo, 12 de outubro de 2008

Sociedade

SOCIEDADE



Ora, uma sociedade pressupõe a existência de sócios; eu vivo, pertenço, a uma sociedade… grande, enormíssima em termos de ecúmena. Logo, e em jeito de silogismo, afirmo: sou sócio… de uma enormíssima sociedade!
Euforia: UAU!!!
Depressão, quase simultânea: carago, mas..., mas qual é a minha quota!!!?




Carlos Jesus Gil

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Para desanuviar

Para desanuviar, mas fundamentalmente para contribuir para um sorriso…melhor, riso, de uma amiga bloguista brasileira, vou repostar uma brincadeira. Bem gostaria de escrever uma nova! A falta de disponibilidade e, talvez mais influente ainda, a total carência de discernimento de tantos daqueles que se diziam meus amigos, cercearam-me, por ora, a já de si exígua criatividade.
Bem, que sirva o texto, que como todos os etiquetados como brincadeira pretende ser humorístico, para animar a minha simpática e brilhante amiga…Que ria, quanto mais não seja por isto não ter piada alguma!




TRATA-SE DE FICÇÃO, VELHA FICÇÃO


Pois, a história existe há bué! Por ser tão possivelmente ilustradora de realidades; por, simultaneamente, induzir hilaridade em níveis não despiciendos, vou recontá-la. Eis a dita:


Dois ministros das obras públicas, um xisez, outro ypsilonez, encontram-se, por ocasião de merecidas férias, no palacete com quinta adjacente, numa bonita e tranquila região de Xis. Tal não é o encanto da construção aludida, tal não é o deslumbramento causado pelo conjunto magnífico palacete – quinta, que em contemplação demorada o homólogo ypsilonez indaga: “ Eh pá, como é que conseguiste tudo isto? Tu há uns anitos tinhas apenas um apartamento, num condomínio de luxo, mas um apartamento!... Aliás, aquele onde vives. Vai daí, o xisez responde: “ Olha, estás a ver aquela auto-estrada? “, “Estou, e então?! “, “ Então que 30% dos milhões que ela custou vieram parar ao meu bolso! “, “ Ah, meu sacanita! “


Uns tempos passaram, quantos , aqui p’ra nós pouco ou nada interessa, pois nada acrescenta ao efeito, e os dois dignitários amigos voltam a encontrar-se. Em Ypsilon, desta vez:
Do aeroporto, o ministro xisez, já fora da administração central, dentro, porém, da administração de uma grande multinacional, fora, em limusina, directamente para o casarão, estilo Casa – Branca, mesmo no que toca à profusão se seguranças, do seu amigo ypsilonez.
Encontram-se no faustoso hall de entrada; abraçaram-se! Tudo bem práqui; tudo bem práli, e o espanto plantado na cara do xisez… “ Amigo, isto é tudo teu?, o casarão?!este terreno todo?! Eh pá, beltrano, como é que conseguiste tudo isto? “… O outro riu, riu, riu… A resposta surgiu de seguida: “ Sicrano, estás a ver aquela auto-estrada? “, “ Qual auto-estrada?!!! “.




Reformulação por
Carlos Jesus Gil

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Efeito de dominó

O mundo vive (e só vive porque...) em " Efeito de Dominó ". A "esfera" económica é a mais visível, no momento... Será a mais intensamente visível, como legitimamente podemos antever, durante tempo indesejavelmente longo!
Do que disse, decorre a decisão de repostagem do seguinte pequeno texto, escrito há já uns tempitos:




EFEITO DE DOMINÓ




Por exemplo: há uns anos atrás, já lá vão uns quantos!, um homem e uma mulher, em momentos de amor e erotismo, conceberam um outro homem… Foi mais uma peça que caiu. Antes, porém, outras peças caíram para que a união dos pais de W. Bush se concretizasse.
Sim, as peças que hoje caiem estão a ser empurradas por outras, que já o foram por muitas outras por aí ancestralmente fora.
Obviamente, também podemos evocar o caso daquele cantor famoso que só o é porque na hora XPTO o grande produtor resolveu, porque algo concorreu para tal, ir tomar um copo ao bar de Beltrano… Tantas peças que caíram para que o iluminado produtor pudesse encontrar o talentoso cantor!
É, de facto, uma questão de toques em cadeia… é claro que é possível desenhar e redesenhar o percurso, mas…há um limite para a inflexão. A peça de trás só tomba a da frente se lhe tocar até determinada secção.
A primeira foi empurrada – por quem? Deus, por certo!... Se algum dia uma não cair…, é o nada!
Não temo; haverão sempre peças… a cair!




Carlos Jesus Gil

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Tão somente...

TÃO SOMENTE…


Algo tinha que ser feito! O Plano Paulson revisto (do mal, o menos…), pode ser uma solução. Para já, serve. Xanax ultra forte; a química de síntese a emparedar os ventos, a remetê-los para lugar recôndito, porém não intransponível… Enfim,”quando o mar bate na rocha, quem se lixa é o mexilhão!”.
Pretendo tão somente que os senhores mentores doutrinários (ainda em labor) do neo-liberalismo, retirem do sucedido a devida lição (um político, Paulson, ultra-liberal; um governo ultra-liberal, propõem uma intervenção político-financeira de esquerda!) ! Que não abominem tanto o Estado; melhor: que deixem de abominar o Estado… o Estado (POVO) que os salvou, que nos salvou!... Ah, e que o Estado regule mais e passe a supervisionar melhor!
É só!




Carlos Jesus Gil

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

O livro

Claro que podia muito bem voltar a postar sobre o Plano Paulson! No entanto, pr'a descongestionar - ou não -, optei por isto:




O LIVRO



A páginas tantas, dou comigo a matutar no que foi o dia d’ontem… Um espaço temporal de vinte e quatro horas (arredondando a coisa), foi o que foi! Igual aos outros, portanto… Satisfeito, pois concluíra – nem sempre é fácil concluir! -, acabei a página, fechei o livro, adormeci… Não longo fora o sono; oh oh, muito longe disso! Estremunhado – quiçá, por conclusões que o não foram. Aturados a concluir, sugerira-me certo dia alguém chegado… Fizera ouvidos de mercador! -, volto a pegar no livro. A página seguinte dizia-me precisamente o oposto. Não, não fora um dia igual aos demais. Fora o dia em que um tropeção me ensinou… Sim, pela primeira vez, e ao fim de incontáveis tropeços, aprendi!
Confuso, voltei atrás. Em todas as páginas, o mesmo. Só os vocábulos mudavam. A repetição existe; o disco volta ao princípio e a música é a mesma (será?), todavia, cada toque traz-nos ingredientes inauditos. Onde se encontravam eles?... Que bem se escondem!... Quantos mais aguardam, sorrateiros, pelo momento?... É tão assim, que sentencio: são músicas diferentes… sempre!
Aprendi a ler o livro!




Carlos Jesus Gil

terça-feira, 30 de setembro de 2008

Cada um por si!

CADA UM POR SI!


Afinal, os Representantes na “Câmara dos…” chumbaram o mega plano da Administração Bush… Não admira, nem um pouco. As eleições, também para eles, estão à porta. Eles, Representantes, não desejam deixar de Representar; não querem macular a sua carreira política; não querem, sobretudo, ver o seu poleiro ser ocupado por outro galo ou galinha. Daí que, ao saberem que nos bairros, nas vilas, nas aldeias, os seus caciques angariadores de votos ouvem constantemente do POVO: então, concebem um plano para, com o nosso dinheiro, salvar as big e privadíssimas empresas, e não concebem outro para salvar as nossas casas ou as nossas aplicações financeiras!? E mais: que lucro vamos ter nós, prole da nação, com o investimento que querem fazer com o nosso dinheiro!?... e ainda mais: onde é que está a vergonha desses senhores gananciosos e Himalaiamente bem pagos, que sempre negaram o Estado e aceitam agora o seu socorro!?... Pois, os caciques também não querem perder o privilégio de poder contar com elevada “cunha” pr’a momentos de necessidade! Donde se compreende sem esforço que logo telefonam aos seus senhores… Representantes… que, para não perderem votos, dão chumbo pesado no Plano. A coisa ainda lá vai, pois tem que ser mesmo o Estado, que por não gostar de si próprio não soube regular, a salvar o moribundo sistema financeiro americano… Têm que ser os Estados capitalistas, que pela sua baixa auto-estima enquanto Estados, deixaram a “criatividade” – para mim ganância, negligência e ineficácia – fazer rombo no barco… nos barcos, a resgatar as tripulações e a reconstruir a frota… Da lição, porém, não se livram os donos do mundo – americanos ou outros.
… Na Wall Street?... Foi o pânico, claro! Igual estado d’alma nas restantes bolsas mundiais!
Eh pessoal, capitalismo?... Pode ser, mas com freios!




Carlos Jesus Gil