sábado, 3 de janeiro de 2009

E o Alberto e o Albino também...

E O ALBERTO E O ALBINO TAMBÉM…

XXVI


O FIM

- Alberto?, Albino?
- Sim, narrador!
- Cá estou, meu caro.
- ……………….
- Sim…, narrador?
- Então, o que é que se passa homem?
- ……………….
- Nahhh, aqui há gato!
- … Rapazes, este nosso mundo vai acabar!...
- … O quê?!!!
- Deve ser um pesadelo… Dá-me um soco, Albino! Mas… Mas vai acabar porquê?
- Ó pá, Alberto, temos andado a ser espiados.
- Isso deve ser paranóia tua.
- Não, Albino. Antes fosse!... Fui intimado para ir hoje, às duas da tarde, ao todo poderoso Conselho de Oligarcas da Agregação de Todos os Mundos. Às duas menos um quarto já lá estava. A conta gotas, eles também foram chegando, de modo que às quatro e meia da tarde lá começamos a reunião. Que foi curta, muito curta. De modo assaz sinóptico e injusto, debitaram que nós poluímos; mais, que conspurcamos o Cosmos; mais ainda, que tencionamos desordená-lo… Como remate, uma injunção: “ Não poderá, caro senhor, empreender esforço de alegação. O que a seguir iremos comunicar-lhe, é decisão irrevogável. “. E continuou o porta-voz: “ Pelo dito, e por muito mais que da nossa parte ficará conscientemente por dizer, deliberou por unanimidade este Conselho proceder, num prazo que não ultrapassará as oito horas, ao corte definitivo de energia ao vosso mundo. Resolva-se!, pode sair. “. E mais não disseram, aquelas bestas. Nós desordenamos o Cosmos?!!!... Ignorantes! Nunca o Cosmos - e tantos que com autoridade a isso já se referiram! – deixara de ser, naturoparadoxalmente, um caos. Um caos ordenado, para o qual também nós contribuímos.
Não gostam da nossa merda… Julgam, sobranceiramente, que a deles cheira melhor. Mas, em termos de merda, o que é isso de cheirar melhor? Se é merda é merda; há mau cheiro, e quanto mais mau for o cheiro, mais genuína é a merda. Poderosos ignorantes…
Moços, temos alguns minutos para fugir. Daqui a nada é o nada!
- Mas para onde é que fugimos?
- Albino, sois livres. A liberdade também arrasta consigo as suas durezas, eu sei… Temos que tomar decisões, meu amigo. Esta, a que temos em mãos, é por certo a mais premente, difícil e delicada, mas tem que ser.
- Como vamos fazer?
- Alberto, ainda tenho mais uma má notícia para vós. É que muito embora possa, cada um de nós, escolher um novo mundo, não o podemos coabitar. Não nos querem mais juntos. Dizem os déspotas que, produzindo nós individualmente merda na quantidade (enorme) que eles viram e tendo conseguido sinergias como poucos, o monte (eles disseram montanha) que em poucos meses faríamos deixaria irremediavelmente perdido, em termos ambientais, qualquer mundo. De modo que é tragicamente assim! Vamos ter que partir sozinhos… com as respectivas famílias, claro.
- Mas como vamos fazer?
- Albino, isso é o mais fácil. Juntamo-nos às nossas famílias e sonhamos… Sonhamos muito. Assim que encontrarmos um mundo que nos agrade ou que pelo menos nos não seja hostil, só temos que verificar se já lá está um de nós. Se não estiver… É fácil, portanto. Difícil a valer é o termos que abandonar esta nossa já empática comunidade… E ainda por cima sem eu ter conferido energia suficiente aos vossos familiares. Peçam, por favor, desculpas por mim a essa boa gente.
Rapazes, temos que despachar-nos. Está a acabar-se o tempo… Amigos……………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………, até um dia, num lugar com outro tipo de energia.
- É pá, ainda não acredito!
- Eu estou sem palavras!
- Despachem-se amigos. Isto vai apagar…
Mundo é mundo todos os dias, mas só se nele se verificar a existência de pensamentos e instintos. Caso não…
Vivam!




Carlos Jesus Gil

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

E o Alberto e o Albino também...

E O ALBERTO E O ALBINO TAMBÉM…

XXV

Uiiiiiiii, que ressaca!... O melhor, mesmo, é recorrer novamente à máquina do tempo:


“ TRATADO DE LISBOA “

Vinte e dois anos depois da adesão de Portugal à C.E.E. (acompanhámos a Espanha neste processo… ok., e vice-versa), é assinado em Lisboa o Trado de Lisboa (um Tratado Reformador que, segundo muitos, não em menos que 90% corresponde ao rejeitado Tratado Constitucional Europeu, mas que, no entanto, reforma efectivamente o Tratado de Roma e o Tratado de Maastricht – paredes-mestras desta União. É, assim, de facto um Tratado Reformador.
E agora?... É necessário que todos os países o ratifiquem. Mas de que forma? Por uma via absolutamente representativa, tendo como protagonista o Parlamento, ou por via participativa, pondo canetas nas mãos do povo eleitor? Qualquer destas, digamo-lo, não fere o nosso Direito. Nem o nacional nem o comunitário. Bem, vou pedir a opinião dos peritos deste nosso mundo.
- Alberto?; Albino?
- Sim!
- Cá estou. É só chamares.
- Então é o seguinte: na vossa opinião, como deveria ser ratificado em Portugal o Tratado de Lisboa?
- Posso?
- Força, Alberto!
- Ó pá, eu penso que só referendando existirá verdadeira legitimidade. Não podemos esquecer-nos de que também a promessa de referendo a um novo Tratado Europeu concorreu para a vitória do Partido Socialista nas últimas Legislativas, que portanto foi também esse pressuposto que os levou ao governo… e com a almofada que se conhece. Para além desse facto, já em 2004 a Assembleia da República legitimara a opção pelo referendo, o qual só não avançou por a questão formulada se encontrar ferida de inconstitucionalidade.
Sou pelo referendo!
- Sim, sim… As coisas, politicamente falando, são um pouco mais complexas. Aliás, um muito. Façamos o seguinte exercício de raciocínio: o Tratado foi cá assinado, vai indelevelmente ficar associado a Portugal. É pá, sejamos agora ponderados e congruentes!... Em que posição ficará o país caso o próprio opte pela rejeição do Tratado?... É que, para nós, não se trata somente de mais um atraso no processo de integração europeia. É a nossa imagem que está em causa, rapazes.
Ora, ninguém nas maiorias (a do governo e a da oposição) irá permitir tal. Combaterão até à exaustão os eurocépticos de esquerda e de direita, fazendo uso de todo e qualquer instrumento eleitoralista, mas também, e de modo exacerbado e recorrente, de chantagem moral. Profetizarão catástrofes políticas, económicas (atenção aos fundos, bom povo!) e sociais. Enfim, se referendo houver, o povo acorrerá massivamente (sou um lírico do caraças…) às urnas, para que o mesmo seja validado; o povo votará sim. Será, todavia, um sim não convicto nem convincente, só comparável a uma confissão obtida por coacção… Desejam uma ratificação nestes moldes ou preferem que sejam os nossos representantes a fazer esse trabalho no Parlamento? Eles são os nossos delegados (embora por vezes não o pareçam, reconheço)!
- Não vou responder-te. Queria tão só a vossa opinião. Já a tenho.
- Ó Albino, tu pá… Às vezes…
- Chega, chega! Não pedi um debate, pedi, como já referi reiteradamente, opiniões.
- Seja, narrador socrático! Fiquem bem.


Carlos Jesus Gil

quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

E o Alberto e o Albino também...

E O ALBERTO E O ALBINO TAMBÉM…

XXIV


FARRA

… Foi para onde eles foram. E eu vou também, que não está para outra coisa!

Votos de um excelente 2009 para todos… os indivíduos do mundo. Sim, o nosso Primeiro incluso!


Carlos Jesus Gil

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

E o Alberto e o Albino também...

E O ALBERTO E O ALBINO TAMBÉM…

XXIII


UMA RAPOSA NUMA CALDEIRADA



- Não pude, pá. Estive com os ouvidos no Parlamento; ora, vir para aqui sem os ouvidos não estava com nada, não é?
- Ah!..., hoje foi o Debate Mensal com o Primeiro-Ministro… Tens razão, é tua obrigação.
- Pois, mas é mesmo só por obrigação. É que rebento de indignação, tais são as barbaridades a que assisto em cada sessão. Aliás, mesmo fora destas. Daquelas bocas saem, não raro, excrementos muito bem embrulhados em papel de bombons.
- Mas, o que é que se debateu em concreto lá hoje?
- É pá, falou-se de Educação; de Segurança; de Desemprego… Falou-se, não se debateu; falou-se só, e de forma que muito emprego cria à falácia, mas que teima em deixar inactiva a idoneidade. Falou-se e ralhou-se.
Todos, mas todos mesmo, põem sempre o particular à frente do colectivo; todos, mas todos mesmo, à míngua de brasas, puxam as poucas existentes para as suas também poucas sardinhas… É humano, concordo! Não é, certamente, é eticamente aprovável em missões como aquelas a que escolheram dedicar-se.
Bem, mas no meio de tão grande e inquinada caldeirada, há um peixe que sobressai. Se não tivesse guelras e excluindo qualquer dos mamíferos aquáticos e não querendo ferir sem chumbo o animal, chamar-lhe-ia raposa. Uma Raposa numa Caldeirada!... O nosso Primeiro, pois está claro!
Ao espírito do supracitado dignitário, aconselharia (ao jeito de Santo Agostinho) que se alimente bem. Poderá começar, por exemplo – agora que, finda a árdua tarefa de presidir aos destinos da União Europeia, ficará com alguma disponibilidade -, pelo estudo da Estrutura da Ordem Jurídica. É bom que realize uma leitura cuidada da mesma e que apreenda tudo o que puder. Dar-lhe-á jeito (dará?) e é bom para nós, especialmente se dedicar atenção devida à sua segunda linha, aquela em que o Direito é chamado a institucionalizar limitações ao poder, a lembrar que arbitrariedades, demagogia, intenções déspotas encapotadas não são legais nem legítimas.
Aceitaria ele?
- Espero que sim, Albino. O homem é arrogante, não é burro.
-Pois, por isso mesmo. Aceitaria ele?
- Não pá. O tanas é que iria aceitar!...
- Alberto, também és um céptico do caraças… Olha, vamos mas é beber mais um copo. Ah, é verdade, e parabéns. Porto 2- Besiktas 0… Porto em primeiro lugar no grupo. É bom!
- Obrigado, narrador. Bebamos então!


Carlos Jesus Gil

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

E o Alberto e o Albino também...

E O ALBERTO E O ALBINO TAMBÉM…

XXII


O ALBERTO VERSEJA

- Alberto, estás por aqui?... Alberto?
- Desculpa, narrador! Estava aqui ao telemóvel com a Lenita. Ela está a fazer noite. Mas, passa-se alguma coisa, é?
- Não, não. Era precisamente de vocês que eu que queria saber. Correu bem o fim-de-semana?
- É pá, na maior! Há muito que não nos divertíamos tanto. E olha que nem sequer saímos de casa…
- Aííí!... Isso é que foi, heim!
- Do melhor. Não há nada como umas boas doses de transpiração para expulsar qualquer vírus…Mesmo bactérias… Mesmo toxinas…
- Estou feliz por vocês. Palavra de honra.
- Obrigado, meu amigo. Olha, por acaso não te importas que eu dê vida a um poema que escrevi ainda naquela fase crítica? A Lenita não se importa, perguntei-lho há bocado.
- Força com ele!
- Então aí vai:


MULHER SEM CULPA


Não tens mãos para me afagar
nem lábios para me beijar.
Não encerras em ti a virtude de indução de lembrança,
tranquilizadora lembrança que é não menos que bonança.

Não tens…
E no entanto és mulher completa;
e sem culpa;
dedicada e abnegada;
carinhosa.

Outras há, quiçá não inteiras,
culpadas mesmo, porém…

Impingem-se-me telepaticamente;
abreviam-me o regresso;
desvanecem-me as dúvidas;
pintam-me, de cores claras, o mundo.

Muito gosto eu de ti, mulher sem culpa!




- Alberto, está fixe pá. Muito porreiro…Estavas mesmo na fossa (como dizem os nossos irmãos de além-mar); hás-de ter passado das boas!
- Vá narrador. Deixemo-nos disso agora. Fica bem que eu também já estou.
- Pronto, adeus Alberto.


Carlos Jesus Gil

domingo, 28 de dezembro de 2008

E o Alberto e o Albino também...

E O ALBERTO E O ALBINO TAMBÉM…

XXI

II CIMEIRA U.E.-ÁFRICA 2

- “ A cimeira foi verdadeiramente extraordinária… O seu resultado superou um impasse de muitos anos. “
Assim se referiu à II Cimeira U.E.-África, a qual conseguiu reunir quase todos os líderes europeus e africanos em Lisboa, o primeiro-ministro e presidente em exercício da U.E., o portuguesíssimo José Sócrates. Queres que continue?
- Deixa-te de lérias e acaba o teu trabalho, Albino!
- Continuemos: Mas qual terá sido, então, o resultado assim tão positivo capaz de pôr fim ao dito cujo impasse de muitos anos?... Por exemplo, a Human Rights Watch não encontra qualquer decisão concreta emanada da cimeira. O Partido Comunista Português, por seu turno, diz que “ foram mais as vozes que as nozes “… Terão sido as parcerias económicas ( as negociações continuarão em 2008 )? Neste campo temos que o Senegal deixa a cimeira contra os acordos de parcerias económicas ( é claro que são raras as unanimidades ); o Fórum da Sociedade Civil diz que “ acordos são exemplo negativo “. Ah!..., só se foi o facto de Mugabe ter sido forçado a ouvir das boas da boca, por exemplo, da senhora Merkel. Claro, não é despicienda a atenção prestada ao Darfur. Mas terá sido ela suficiente? Hummmm!... Bem, regozijo-me com a atracção a Lisboa de movimentos sociais activos. É bom. E como nós estamos a precisar de desenvolver essa vertente!... Umas acções de formação na área vinham mesmo a calhar.
Ora, o facto de a União Europeia desejar um novo e mais justo relacionamento com África e fazer votos para que o colonialismo seja enterrado ( mas ainda existe colonialismo europeu em África?!... Pois, se calhar… ) de vez, é excelente. Há é que ter em atenção que este enterro requer cerimónias singelas mas não triviais. Exige profundidade, em termos literais e de espírito.
Para Sócrates, homem vaidoso que tudo move para que um dia os historiadores dele falem e os alunos nas escolas respondam a questões ( se ainda existirem testes nessa altura ) a ele referentes, foi profícua ( e então com a assinatura do “ Tratado de Lisboa “… ). Portugal consolida a imagem de país hospitaleiro ( o pessoal foi bem recebido; mordomias não faltaram ); reforçou também, penso não existirem dúvidas, o seu currículo de organizador de eventos.
É sempre útil uma Assembleia desta natureza. Contudo, como dizia ontem, se almejamos efectivamente o desenvolvimento de África, não podemos olhar para o continente apenas como a terra das matérias-primas baratas e um mercado para os nossos produtos ( até porque pobres, nunca se tornarão no mercado que almejamos e precisamos ). Mas não podemos nós europeus, nem podem os americanos do Norte nem o Japão nem a China nem a Índia…
Paremos com as dádivas de peixe, ensinemos a pescar! É uma frase mais que feita, porém, para o caso não encontro melhor. Fiquemos por aqui.
- Ok, tu é que sabes. Fica bem, Albino!
- Adeus, narrador!


Carlos Jesus Gil