terça-feira, 16 de abril de 2013

CADEIA ALIMENTAR





            Ao animal mais poderoso, ao predador mais feroz e voraz, àquele que se encontra no topo da cadeia alimentar, não interessa, de todo, que o mais pequeno e frágil fique sem alimento ao ponto de deixar de existir. O mesmo por aí abaixo. Podemos aplicar o raciocínio a todos os reinos animados: ao animalia, ao protista, ao monera, ao fungi, ao plantae… Sem alimento para o que serve de alimento, nada de alimento e em breve seria o nada vivente. Seria a morte à míngua de!
            A ciência Economia de há muito que incorpora estes fundamentos orgânicos nas suas teorias e nos seus modelos, nomeadamente naqueles que com maior acuidade se debruçam sobre os mercados e o consumo como condição impreterível para a produção. Como pode o construtor da Ferrari vender Ferraris, ali e acolá, se não houver quem aqui e em todo o lado compre Renault Clio, por exemplo? Ou BMWs, ali, acolá e, vá lá, também aqui? O senhor de outros automóveis que também devo mencionar, não menosprezando, refira-se, nenhum de todos os outros que aqui não menciono, por não ser necessário, o senhor de outros automóveis, dizia, sabia-o muito bem. Por isso é que o legado Ford não se limita ao nome e à organização do trabalho debaixo do pavilhão – a perfeita linha de montagem, a tarefa especializada do operário, a eliminação do movimento desnecessário -, Henry Ford deixou muito mais, e um acrescento que só pode enriquecer a ciência Economia. O senhor Ford compreendeu perfeitamente que a política de salários vigente jamais permitiria à Economia e à sociedade o salto necessário à prosperidade que ambicionava. Sabia que se não pagasse bem aos seus operários, estes não teriam dinheiro para comprar batatas e febras em suficiência, logo os agricultores, os criadores de gado e os talhantes também não teriam dinheiro para lhe comprar fords… ou para trocar, com regularidade saudável, de ford e, assim, ele nunca venderia muito. E até teria que, inevitavelmente, mais tarde ou mais cedo vir a despedir operários. O fordismo convenceu e venceu mas, e porque talvez não tenha dado jeito ao criador do termo – António Gramsci, em1922, nove anos depois da idealização daquele sistema de produção por Henry Ford - e aos seus divulgadores, bem como aos economistas políticos que as ideias de Ford estudaram e estudam, a defesa daquele ideal salarial raramente a vemos fazer. Afunda completamente. Pelo contrário, volta e meia, como assistimos agora, é o seu oposto que vem à tona.
            O senhor Ford, que não era um biólogo, compreendia muito bem a cadeia alimentar, e até sabia que não há nada de pejorativamente animalesco na mesma. É assim que tem que ser. Sabia também o quanto de simbiótico deve ter uma Sociedade, para que o seja de facto. Não ignorava o tecido orgânico da Economia.
É incrível como, passados tantos anos, depois de tantas experiências vividas, de estudos feitos, refeitos, de revisitas aos erros e às virtudes, se continue a teimar no mesmo e que, regularmente, a obstinação roce o absurdo, como nestes conturbados tempos que vivemos! Isso, minha senhora - sim, é com ela que falo agora!, com ela e com mais alguns, poucos, senhores -, façam-nos definhar até sucumbir, e depois rumem ao espaço em busca de apascento.