terça-feira, 20 de junho de 2017

Estrada 236


 
 

A permanência da tragédia tolhe-me qualquer pequeno pedaço de capacidade que possa ter para levar a cabo a simultaneamente tormentosa e exultante tarefa de escrever. Tento a prosa, ensaio um verso; atinjo por vezes um já significativo número de caracteres, porém todos constituindo uma desengraçada amálgama, um amontoado de palavras apenas com significado formal, tão só aquele que lhes é atribuído pelo dicionário, nada de alma, nem réstia de emoção! Apago.

            Nada de alma nem réstia de emoção, no tema que me propunha abordar, e que, devo admitir, surgia absolutamente a despropósito neste bocado de vida que teimo em confundir com um filme de terror, um script competentemente macabro. Se tivesse sido escrito pela mão do homem e posto na película ou em suportes digitais pelo homem e arranjado de fotografia pelo homem e interpretado pelo homem dado a estas coisas, o pessoal de Hollywood, tenho a certeza, tê-lo-ia galardoado com três óscares: melhor fotografia; melhor realização; melhor filme. O script, até à última para ganhar, não arrebata o prémio apenas porque perturbou demasiado a serenidade dos jurados. Outras categorias, desconfio, também não seriam contempladas nem tão pouco nomeadas. A música, por exemplo: uma banda sonora que acompanhasse em consonância aquelas perturbadoras imagens provocaria um conflito cerebral imediato em qualquer mente crítica, pois esta, é sua condição, habita o cérebro, e neste também moram os sentimentos e as emoções. Talvez os efeitos especiais também trouxessem de Los Angeles a estatueta cobiçada… Nada de alma nem réstia de emoção no tema que pretendia desenvolver, pois toda aquela era tomada pelo que via na televisão, todos os sentimentos e todas as emoções viajavam com as gentes daquelas terras do centro do Portugal peninsular, materialmente com todas elas, as que faleceram, que os mortos se dados às nossas consciências passam a ser todos nossos conhecidos, com os feridos, com os desapossados, com os abnegados e heroicos combatentes, com o povo como um todo, com o lar no sentido de Estado, de Nação, até mesmo com os políticos empenhados em mitigar sofrimentos, em consolar corações inconsoláveis, em encorajar quem sofre directamente na pele as consequências da tragédia, mesmo com aqueles que, dissimuladamente, tentam tirar proveito da dolorosa realidade. A minha alma, os meus sentimentos, as minhas emoções encontram-se também com eles. Até mesmo com as televisões, as rádios, os jornais e as revistas (em papel ou online) que não perdem uma oportunidade para “tabloidar”. Até mesmo com estas entidades, pois que elas informam, sim, mostram realidades que é fundamental não serem escondidas, apenas pecando (está no seu ADN) por aos eventos susceptíveis de cativar grandes audiências dedicarem tempo demasiado, principalmente em excessivos directos, sendo estes naturalmente pouco dados à prévia e cuidada ponderação exigível; por tanto insistirem no ocorrido, na notícia, tanto tanto que o desvio acontece e esta vai perdendo a sua essência tornando-se, não raro, em mera efabulação. E a realidade, já distante, a fazer pagar bem caro aos protagonistas da desgraça, da notícia, aqueles que em verdade proporcionam a venda da Coca Cola.

            Abomino a censura, porém é-me assaz clara a urgência de um lápis azul capaz de por termo a guiões que possam levar à realização de filmes desta categoria. São argumentos escritos a duas mãos: a da global natureza e a do homem. À parte do homem, revisão prévia! Com esta feita de forma idónea e afastada do cinismo, até a Una Natureza será influenciada na sua criatividade. Cinema deste, não! A comunicação social, essa terá sempre que noticiar… e sensacionalizar.

            Estrada Nacional 236, décor de um pavoroso filme de terror. Deixei de gostar de filmes de terror!

quarta-feira, 10 de maio de 2017

Viagem na Roda Gigante


 

            A Feira Popular era, de facto, popular. Fazia, sem dúvida alguma, jus ao seu velho nome. Sextas, sábados, domingos, vésperas de feriados, feriados e períodos de férias sempre a abarrotar. Nos outros dias, se bem que o bulício não fosse igual, ambiente e vida nunca faltavam.

            A história que, resumidamente, vos vou contar tem como protagonistas um grupo de amigos, em rigor conhecidos - pois nenhum ainda passou daquela fase que precede uma eventual relação de amizade -, pessoas que se foram conhecendo, ao longo do tempo, na Roda Gigante da Feira.

            Dividia-os a paixão pelo clube, pois por muito inverosímil que pareça cada um tinha o seu, e cada qual o defendia com garras e dentes. Acesas discussões todos os fins-de-semana e princípios da nova, em tempo de época, até o defeso chegar. Embora as discussões não mostrassem sinais de conhecer um fim, o convívio era-lhes inevitável, vital mesmo! As temperaturas das querelas, essas assim como tão rápido subiam, também súbito desciam. O equilíbrio sempre espreitou, e quando era de facto necessário entrar, entrava mesmo.

            Ora, se na Roda se foram conhecendo, era porque na Roda se encontravam regularmente. Pode mesmo dizer-se, sem que grande seja o exagero, sem se cair em avaliação ridícula, tão só enfatizando, que viviam na Roda, tal não era o uso dado pelo grupo de compinchas ao monstro de cadeirinhas voadoras!  

             Não é para todos, a Roda! Um gosto danado pela adrenalina, adictos inveterados, os impulsionou à viagem. Uma paixão doentia e um amor calculista pelo trajecto alimentavam a rotina.

            Todos adoravam o ponto cimeiro, o cume, o zénite do lugar. Porém, por paradoxal que às primeiras pareça, era cá em baixo, na base, onde cada um deles se sentia verdadeiramente bem.

            Só às primeiras o paradoxo aparece como opção a reter, só às primeiras; bem depressa chegam as segundas a mostrarem-nos que a lógica é reinante na factual observação. É que uma vez chegados acima, todos o sabem, não tarda começa a descida, e quão brusca ela é tantas vezes! Tão mais brusca quanto mais alto se subir e menos cautelas forem postas na construção da inevitável descida. Ao invés, cá em baixo, para além de ser ausente a possibilidade de queda inquietante, para além deste perigo não existir sabe-se que, mais agora, logo mais, recomeçará a subida. É o reino da ditadura do futuro, do sofrimento por antecipação.

            Ora, devo, a bem de ficar de bem comigo próprio, referir que estas sensações de, digamos euforia/depressão, as do falso paradoxo em relação ao lugar de surgimento, apenas as sentem dois dos amigos, conhecidos, vá lá! Os outros desconhecem aquela relação; para eles será sempre o eterno limbo emocional.

            Mas então, continuando a história, que não é estória, impõe-se-me mencionar que a Roda não sobe sempre direitinha, sem oscilações, o mesmo acontecendo com as descidas. Assim sendo, volta e meia, ou menos que isso, vemos os das pontas serem encostados aos ferros, e os do meio chegarem-se aos das pontas.

            Raras são as vezes em que os forçados encostamentos não encontram reacção alérgica, o que, diga-se, e a comprovar o supra referido, não configura a presença de verdadeiras amizades, mas sim mais o encontro de pessoas que se conhecem, convivem e sabem não lhes ser possível dispensar esse convívio. Qualquer delas, das pontas ou do meio, sabe serem indispensáveis as regularíssimas convivências, as repetidas reuniões. O problema poderá surgir não tanto da natureza da reacção em si, mas mais da intensidade da mesma.

            Já falam entre eles, os que sentem o falso paradoxo e os do limbo, que a bem da digestão de cada um, do bom funcionamento dos seus estômagos, deverão, todos, ter o bom senso de, sem prejuízo de mazelas graves, claro, amparar, amortecer o choque dos do meio. Caso não, os vomitanços surgirão… mais tarde ou mais cedo.

            E é nesta reflexão que se encontram todos, de há muito. Entretanto, a viagem continua. Umas vezes sobe-se, outras desce-se. Por ligeiro que seja o declive, curto é o tempo na horizontal.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

Há Tradições e Tradições



 

UMA ALDEIA, UM MONTE, UM VELHINHO, O FILHO, UMA MANTA E UM CANIVETE

Conta-se que naquela aldeia, mandava a tradição, chegados a uma determinada idade os velhinhos eram levados pelo filho fisicamente mais possante para o cume da montanha em cujo sopé tinha sido edificada. Com eles levavam apenas uma manta, um alforge com comida para alguns dias, bem como um garrafão com uns litros de água. Ninguém o fazia por maldade, mas a verdade é que os velhinhos eram levados para ali terminarem os seus dias… Era a tradição, qual Lei Superior, qual Jurisprudência! Ninguém reclamava!

Tudo termina quando, naquele Dia de Mudança, ao despedirem-se lá em cima, mesmo antes de o filho retornar à base, triste, obviamente, o pai lhe pergunta: “filho, trazes contigo um canivete?”, “Claro, senhor meu pai, trago sempre”, “Então, como a manta é tão grande, corta-a ao meio. Assim ficas já com uma para quando o teu filho te trouxer para cá. Escusas de comprar.”… O filho não tarda a perceber que há tradições e tradições. Esta já não teria mais dias para contar! Pega no pai, não se sabe se trouxe consigo o saco e a manta e a água, bem presente encontra-se o facto de os dois terem voltado para casa juntos, e que foram ainda bastantes os anos em que com estima conviveram e se trataram de filho e senhor meu pai.


 

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Importâncias


IMPORTÂNCIAS

 

Que m’ importa
que tu não saibas?:

 
o que é o PIB;
o valor do défice;

o Pacto
de Estabilidade
e Crescimento
(ainda que sintas o tormento);

o spread;

a inflação;

o abortado Tratado Constitucional da União;

o funcionamento do coração;

os traços da Arquitectura;

escolher televisão
(ainda que te ocupe boa parte do serão).

 
Que m’ importa?,
que m’ importa?

 
Do teu parco saber vem-me o pão
e a razão
quase toda!

quinta-feira, 11 de agosto de 2016

O PAPEL DOS EUCALIPTOS



Um chão de relva mal aparada – bem, talvez seja um eufemismo chamar-lhe relva, mas vegetal era com toda a certeza – constituía o palco. A boca de cena, embora parecesse enorme, não mais tinha que uns escassos metros, uma meia dúzia, quando muito. Ao fundo, um oceano de pinheiros bravos, neste tempo bravos pinheiros. Se não soubéssemos da quase redondez da terra e que o horizonte é enganador, diria que o mundo físico termina em pinheiros, bravos pinheiros.
            À hora estipulada o espectáculo tem início. Uma oliveira e duas azinheiras com notória aparência de desidratação, mesmo para quem tem muito de xerofilia, entram em palco. Dirigem-se de imediato para o fundo deste, como que procurando a proteção dos bravíssimos pinheiros. Um tudo-nada mais tarde entram em cena um eucalipto, mais outro eucalipto e, pasmemos!, ainda outro eucalipto. Todos eles suculentos e bastante enérgicos. Todos eles ligeiramente diferentes uns dos outros. Os genomas, dava para entender, não seriam absolutamente iguais Eram, todavia, idênticos; eram todos eucalyptus.
            A contracenação tinha pleno início. O espectáculo era composto por uma série desusada de actos, mais que seis, já não lembro bem quantos eram ao certo, mas eram mais que meia dúzia. Havia uma outra particularidade, é que o último acto era deixado em aberto, ou seja, à guisa de telenovela brasileira, o final da peça teria de, forçosamente, ir ao encontro do que, depois de perguntados, a maioria dos espetadores escolheria – democraticamente e de braço no ar.
            Assistimos aos actos todos, quer dizer, alguns foram saindo como que enfastiados, mas a maioria, diga-se, assistiu aos actos todos com devoção e indignação. Eu, e falo por mim, vivo as coisas… no cinema é a mesma coisa. Às vezes dou por mim a trincar a língua e de punho em riste virado ao vilão da fita. A sorte é que nunca vou sozinho, senão era um embaraço do caraças. Bem, nos intervalos, que foram bastantes, ia-me preocupando com o desenlace de todo aquele enredo. É que os eucaliptos, óptimos, justiça seja feita, para o papel em que fora escrito o seu próprio papel, não cansavam de desancar nas coitadas, isso mesmo, coitadas, da oliveira e das azinheiras. No acto que precedeu a votação do público, a tal que decidiria o último acto, de tanto serem sugadas já quase não se tinham de pé oliveira e azinheiras. Causava dó, indignação, revolta!
            Estóico eu me considero, mas, pessoal, há um limite para tudo… ou quase tudo. Durante este último intervalo, muito resumidamente escrevi aquilo que, independentemente do final que fosse escolhido, a meu ver aconteceria às três xerófilas. Pedi a um segurança o enorme favor de entregar o papelinho ao encenador – segundo ele, um coletivo de entidades “desconhecidas” -, e vim embora.
            … Um tanto mais tarde, recorrendo, com dificuldade já esperada, a uma biblioteca pública, vi que, infelizmente, como escrevera, a peça terminou com os eucaliptos a crescerem a olhos vistos – como estamos em matéria de efeitos especiais!!! - , enquanto oliveira e azinheiras sobreviviam acanhadas, quase só fazendo sombra, tímida sombra, elas próprias uma sombra do que outrora foram.

terça-feira, 24 de maio de 2016

Os Sentidos


OS SENTIDOS

 

            O Mundo é belo! O Mundo é extremamente belo se vivido e apercebido por inteiro. Sem esta premissa ele ronda a neutralidade, vivível mas quase neutro.   

            O Mundo é lindo pelos ouvidos, ó, se é…!; é-o pelo nariz, pelo tato, pelo palato – hummm!

Porém, que é do Mundo sem a Luz?! A escuridão só não integra o absurdo - aliás, chega mesmo a ter dotes de flor, de Grande Mãe, de Cinderela! - quando a luz nos é possível.

            Todos diferentes, todos iguais?! Sinto que não.




 

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

A Literatura é o Bairro Deles





A Literatura é o Bairro Deles

 
É um cavalo-alado, vejam, é um cavalo-alado! A noite estrelada e aluada traz-nos um cavalo-alado. Vem para aqui, está a chegar. Venham, venham ver o belo animal que nos chega doutro reino. Larguem o que estão a fazer, e cheguem cá. Não quero ser só eu a recebê-lo, desejo partilhar esta memória futura com vocês. Deixem, deixem tudo e venham para aqui. Já aterrou, venham ver. Ena! Mas que grande, tão grande que é o cavalo-alado! Martim, és tu? Olha-me para este animal encantador! Repara-me nestas asas, tão grandes, são maiores do que as de alguns aviões. Malta, é um cavalo-alado, aqui na praça está um cavalo-alado, e vem montado. Vem montado, o cavalo-alado, não vem sozinho. Tem frio, meu senhor? É noite e está frio, quer entrar ali no café?... Martim, ele não diz nada, será que não me entende? Senhor, quer tomar uma bebida quente ali no café?... Nada, não diz nada. Talvez esteja a pensar no cavalo, onde deixá-lo, já reparou que não cabe na porta do café. Senhor, o animal pode ficar ali na garagem do meu pai. Martim, por que estás tão calado? E onde está todo o pessoal do bairro, não gostam de ver cavalos-alados? Se calhar vêem-nos muitas vezes, talvez seja por isso, mas eu, juro-te, é a primeira vez que estou ao pé de um… E do montador… Olha que roupa tão, sei lá, tão adequada à montada! Onde terá ido comprá-la? Se calhar não quer entrar no café e beber uma bebida quente porque não tem frio nenhum. A roupa não deixa o dono ter frio… nem molhar-se, se chover…. Mas então, que quererá ele, Martim? Por que veio cá? “ Menino Rui, venho da parte da Literatura. Quer o Conselho dos Fazedores daquela que eu vos entregue esta missiva. Escolheram o vosso bairro, como antes escolheram outros, e a demanda não terá fim. Gostariam imenso que mudassem de residência, não que esta não seja digna, mas tão só porque sabem que algumas pessoas é como se não tivessem sido paridas, se não se afastarem da parteira… da parteira, não da mãe. Tu e o teu amigo são desse raro tipo. É por isso que ninguém mais nos veio ver. Nem sequer te ouviram chamar por eles, apenas o teu amigo. Somente vocês, de entre todos os do bairro, vão entender esta folha. É uma simples folha, duas páginas. Compreenderão que não poderia trazer-vos menos que duas páginas. Vocês, só vocês e mais uns poucos em mais uns poucos bairros já visitados, se encontram capazes. A Literatura é o vosso bairro. Eles sabem!”. Senhor, entregue-nos então a folha, por favor! “ É para já, menino Rui. Pega. Leiam-na juntos. Depois, com tempo e muitas noites e dias de permeio, façam pela causa. Chega aqui, pega!”… Martim, está em branco! Mas, senhor, está em branco!
O montador, já em cima da montada, sorriu e disse: “Está tudo aí. Vocês vão ver!”.

           O cavalo relinchou, depois, usando primeiro as patas e logo a seguir as asas, levou para longe no Céu estrelado e aluado o mensageiro do reino das Palavras.
 

 

terça-feira, 7 de abril de 2015

Fotoshop

            Há cerca de dois meses que eram amigos no Facebook. Não se conheciam, jamais se haviam visto, ver-se-iam, vão ver que sim, mas jamais iriam conhecer-se. Viviam longe um da outra, uma do outro. Esta coisa do longe é bastante relativa, mas sim, viviam longe um do outro neste exíguo Portugal peninsular, ainda assim tinham alguns amigos em comum. Talvez daí a amizade, no fundo uma amizade por contágio.
            Eh pá, pessoal, o gajo não era mal-parecido, ela, hummmmm, um mimo, daquelas de capa de revista, vá lá, das páginas centrais.
            Afoito como era - não sei se ainda o é, pois só imaginei o passado -, desde o terceiro dia daquela maciça amizade que encetava, ele, o António, conversas brincalhonas com a beldade, a Rita, Rita Maria, adianto mais um pouco na precisão. Ele com cara de uns trinta e poucos, ela com aparência de não mais que vinte e cinco, por aí. Bem, ao cabo de duas semanas já a desafiava para um desejado fim-de-semana no Algarve. Ela, em jeito de brincadeira, dizia: “ vamos às caraíbas passar uma semanita “. Ele: “ Ok, vamos marcar isso “. Embora ambos se dissessem numa relação, tal não impedia estas conversas, aliás, não impediu, de todo, o desenvolvimento da intensidade e da densidade da temática.
            Então, era tempo. Caraíbas, fora de causa!, Algarve também, agora Alentejo, o romanesco Alentejo, é para já. Deliberaram. Até porque a moçoila era - talvez ainda seja, como dei a entender não imaginei o futuro do passado – de Santiago do Cacém. Ele, a confiar nas informações disponibilizadas, de Aveiro.
            “ Ritinha “, já a tratava assim, “ consegues alforria no próximo fim-de-semana, de sexta a domingo?, “ Sim, em princípio sim. Amanhã confirmo-te, pode? “, “ OK “. Era segunda-feira, terça à noite já havia resposta... positiva. Ele ia gastando as mãos, de tanto as esfregar de contentamento. Não cabia em si. Na próxima sexta-feira iria encontrar-se, pelas oito da noite, da tarde, que a primavera já se impunha, e a hora de verão voltara, num simpático bar, por ela sugerido, em Vila Nova de Santo André. No apelativo litoral alentejano. Uma vez lá, marcariam hotel, ainda antes de faustoso e afrodisíaco jantar. Falavam mesmo neste registo, com smiles à mistura, obviamente. Comida à maneira, melhor, comidas, pois!, também das que se enquadram no quadro, passe o pleonasmo, que essas são mesmo as do menu principal; praia; descanso... bem, descanso talvez não, nem convém. Duas noites e três dias de paraíso, que os momentos que antecedem estas coisas, logo após a alvorada, já contam. Ó se contam! Até o trabalho não sabe a isso, durante a sexta programada. Duas noitadas e três dias de paraíso.
            Ora, à hora marcada, mais coisa menos coisa, lá estava o António, depois de curta busca, no bar combinado. Um barzinho bem simpático e, para espanto do aveirense, com bastante movimento para hora ainda tão jovenzinha. Ok, era sexta-feira, mas às oito horas?! Pelos vistos ali era assim.
Então, toca de pedir um copo, de o ir bebericando à medida que ia metendo os óculos em tudo o que era canto, na esperança de já lá se encontrar aquela doce e encantada cara conhecida... Mas nada. Na mesa ao lado, não; nas mesas mais próximas, o mesmo; nas mais afastadas, igual; ao balcão, de todo. Como se conheciam tão bem, nem combinaram lugar no bar, esta geografia por si só bastaria, pois mal se olhassem...
            Passa um quarto de hora, meia hora já lá vai, uma, e já passa das nove, mas nada, absolutamente nada. A distância percorrida implicava mais um sacrificiozinho, esperaria pelo menos mais uma horita.
            Às onze e meia da noite, já o bar começava a ficar pelas costuras, decide dar meia volta, não esperaria mais. Procurar a auto-estrada e rumar à Praça do Peixe, a capital da noite em Aveiro, era agora o seu objectivo imediato, o hospital  certo para a doença aguda que o atormentava. Tinha olhado, por vezes aturadamente, para todas as mulheres presentes naquele bar, para as que já lá não se encontravam, para as que iam entrando, mesmo para as acompanhadas. Nada. E com aquele comportamento não tardaria estaria a levar no pêlo, pela certa. Tinha sido ludibriado, gozado, literalmente gozado. Alguma vez?! Uma beldade daquelas para os seus queixos, tá bem, tá!
            Pouco mais que vinte minutos depois da decisão tomada e levada a cabo pelo António, que agora se sentia Tóino, uma senhora toda só numa mesa bem perto da sua, de olhos que já não aguentavam mais, procede da mesma forma.
Ambos se encontravam inconsoláveis, cada um se dirigiu à sua viatura, os bancos do lado, ambos vazios.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Regresso a Vénus

Repostagem
REGRESSO A VÉNUS


            … Uma caixa de brocas perfurantes; radar/gps com funções de mapeamento; dez baterias de Z amperes; três caixas de pílulas XPT; três venuso-fatos; tenda venusiana ultra… Logística completa!
            Vinte e dois de Dezembro de 2040, 14:30h TMG, algures numa base europeia de vocação espacial, e logo após uma contagem decrescente, um foguetão inicia a sua ascensão aos “céus”.
            …Vinte e quatro de Dezembro de 2040, 22h TMG, três homens, depois de terem comunicado com as suas famílias, acabam de se “deleitar” com uma “faustosa” refeição sintética… Até que soubera bem; até que estavam bem-dispostos…fisicamente. A missão corria na perfeição!
            Todavia sentiam-se tristes, tristes porque não haviam trazido consigo um pedaço de musgo, uma árvore de natal.

            Erro de logística!

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Ping Pong e outras Coisas



O polivalente da escola, uma secundária da académica Coimbra, era palco de um vaivém ininterrupto de jovens sem tempo - foi o que pensei na hora, não agora que refleti com tempo -, tal não era a pressa de chegar sei lá onde, talvez, quem sabe?, ao sítio de onde nunca saíram.

Era hora de almoço, este não furtava grande tempo aos destinatários, até porque uma boa parte das refeições era servida no bar, no balcão das sandes e dos sumos, de modo que, assim, aquele pátio interior, naquela tarde de chuva, como noutras em horas destas e a rua a não convidar, encontrava-se à pinha. Ouvia-se uma musiquinha nos altifalantes do equipamento, música pop-rock, para gregos e troianos, assim não há problemas. Às vezes, algum aluno mais ousado, por exemplo um gótico assumido, lá metia algo que enojava muitos e deliciava alguns, o seu clube restrito, com palavra, santo e senha. Como qualquer culto, pelos seus adorado, pelos outros abominado. Metal, trash metal, hard rock, também por lá passavam. Até jazz, vejam lá... putos a gostarem de jazz! Mas, calma, o pacífico pop-rock era hegemónico. De quando em quando, a vez dos outros. Havia como que um contrato tácito, no que respeita à música ambiente – não ao som ambiente, que esse era uma mistela de muitas coisas, coisas de gente e coisas de coisas (como é bela e útil esta palavra tão polissémica! O Mário Zambujal bem que tem razão), ruídos, por assim dizer. O certo é que nunca presenciei rixa alguma por causa de um ou outro ouvido mais azucrinado por esta ou aquela música que o outro meteu no leitor. A indignação, que a havia, era contida pelo respeito. É, a malta também possui esta ferramenta, se por vezes não a usa é mesmo porque não quer. E isto pode ser lamentável ou não. Quer dizer, é, é sempre, estava aqui a pensar na irreverência, mas esta quando justificada e pura nunca é falta de respeito. Concordam? Vocês também o serão, não? Eu sou-o, eu cá sou irreverente e sempre fiz por sê-lo. Houve até alturas em que uma coisa – Estão a ver? Bendito vocábulo! – a que chamam bom-senso me tentou impedir de me insurgir contra a verdade de outros, e eu, logo todo abespinhado comigo mesmo me disse: “Estás tolo ou quê pá? Pior, és covardolas agora, és? “. Foi logo, rajada de argumentos e chuva de ações atacantes, que a melhor defesa sempre foi o ataque.

Bem, era um vaivém de gente para um lado e para o outro, de todos e para todos os lados; as cadeiras todas ocupadas; o palco da sala também repleto, os parapeitos das largas janelas eram assento de casalinhos assolapadamente apaixonados, para toda a vida de uma semana, que para a outra, as outras, existirão outros assentos, outras janelas, como sempre acontece. O é só a ti e a mais ninguém assume aqui, nestas salas, nestes encostos, uma verdade tão absoluta quanto a que assumirá mais tarde em salas maiores ou menores, e cadeiras com outros tampos. Era um vaivém ininterrupto e um barulho, agora assumo, um barulho ensurdecedor, da música, das palavras, dos gritos, dos risos, do arrastar das cadeiras e das mesas, enfim, das coisas todas, era um barulho ensurdecedor e, alheia a tudo em seu redor, alheia de ouvidos e mente, aquela jovem não focava senão o ecrã do seu smartphone. Ora escrevia, ora lia, ora escrevia, ora lia, assim durante, sei lá!, no mínimo uma boa meia hora, que foi mais ou menos quanto eu demorei à porta da Direção, enquanto esperava o diretor, a fim de resolvermos uns imbróglios próprios das coisas das escolas. A diligência foi rápida e eficaz. À saída, e já a preparar-me para ir para uma aula, acerco-me da jovem e, mesmo não a conhecendo de todo, pergunto-lhe: “Posso jogar com vocês“, “ Jogar?! Jogar a quê?”, “Às mensagens, ao ping pong de mensagens.“ Perante a sua estupefacção, não insisto, retiro-me e vou dar a aula. Até porque o tal bom-senso me dizia que não era motivo para uma falta injustificada.




 

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

O mais do tempo, voo!

Vim de longe
De outros lares, de outras lições
Onde em clausura, qual monge!
Me afundei em emoções

Quis sair
Fiz-me ao caminho
Troquei todo o meu vestir
voltei de novo ao menino

Novo começo
A novidade
Mas na alma um arremesso
Me alertava pr’á saudade

E nesse brado
Que vem de dentro
Vejo-me louco, enganado
Na direção do tormento

Volto a mim
Dou-me à razão
Junto ao verde o carmim
É esta, a minha canção

REFRÃO
Com barbatanas nadei
Não muito, que não gostei
Não é pr’a mim isso, eu sei

Deram-me asas
e voei, voei, voei...
Sem pausas sempre voei

Porquê, mãe natureza?
(Ocorre-me perguntar)
Se nem o pássaro, que adeja
Vive constante no ar!

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Sobre Música - Aplicando-se a outras artes


Coltrane tocava de forma magistral. Ninguém necessita tocar como ele, aliás, convém nem o tentar. A magistralidade só poderá conseguir-se, como ele e muitos outros a conseguiram, não imitando-o, não imitando-os. Muito pelo contrário, somente usando a informação, as ferramentas ao dispor de todos, matérias-primas que, uma vez apreendidas, com imenso trabalho, dominadas com destreza, mas sempre em simbiose com um coktail imprescindível – personalidade, idiossincrasia, alma - se chega a… Num dizer mais comum: talento e tormento; inspiração/transpiração. Muitos o afirmam, eu o confirmo, 99% será trabalho.

            Tratamos de magistralidade, um tanto acima da excelência. Para aquela, condição sine qua non: não à imitação. Quanto à outra existe lugar para a cópia, o cover - com trabalho, muito, e algum talento, os resultados ver-se-ão. Para aquela, quem aqueles pressupostos não respeitar, porque não pode ou porque não quer - na composição, na execução -, jamais, tenho para mim, marcará pontos. Limitar-se-á a debitar, em matemática sonora, a informação recolhida. Será igual a tantos outros por esse mundo afora.

            Talvez Coltrane, como outros verdadeiros mestres, desejasse um futuro de progresso infinito para o Jazz, para a Música em geral; talvez sonhasse que um dia o superassem, não em magistralidade, mas em conhecimento e ferramentas. Ele sabia que não podemos estacionar nos clássicos e seus standards, que devemos usá-los para avançar, como uma parte do Caminho. O Caminho que só os que marcam pontos podem construir. Na origem nem tão pouco havia asfalto, depois ele surgiu, mais tarde de qualidade e textura mais condicentes, agora e no futuro com renovadas formas de pavimentação. Porém, sempre o mesmo caminho que, e aqui é que está o Ganho, em nenhum sector jamais sofrerá desgaste, dano algum, tal não fora a qualidade de construção.

             É obrigação de quem pode, continuar a Estrada!

terça-feira, 24 de junho de 2014

Casas do Povo


 

            No dia 26 de Abril de 2014, um sábado primaveril, eu, o meu irmão e um grupo de amigos fomos tocar à Casa do Povo de Mira.  Um evento no âmbito das comemorações dos quarenta anos do Vinte e Cinco de Abril de Mil Novecentos e Setenta e Quatro. Tocámos e cantámos músicas e canções – Palavras vestidas e engalanadas, sem vaidades, apenas para que mais facilmente despertem a atenção daqueles por quem vivem - a condizer, pois claro! Não faltaram o Zeca, o Zé Mário, o Sérgio, o senhor Paredes, entre outros nomes Maiores do nosso manancial musical de intervenção. Havia, como sempre em tudo há, limites de tempo, caso não, muitos mais companheiros de causa se lhes teriam juntado.

            Houve também Poesia dita, e que bem dita que foi por um grupo de boa gente de Aveiro que fez questão de, com razão e emoção, aceder à solicitação que lhes fora dirigida! Bonito! Poesia da grande, daquela que menos não é que Filosofia. Filosofia como a Filosofia, Filosofia-Filosofia, que há uma só, aqui, no entanto, mais amante do sentimento, da forma, da imagem bela cultivada mas não adulada, dos gestos, dos sons. Sim, que um Poeta é um Filósofo esteta.

            Houve ainda discursos à maneira - daqueles não prolixos, que o tempo, como se disse, também não era muito -, dos que com pouco se diz muito.

            Bem, correu tudo pelo melhor. Senti-o assim, parecendo-me que aos outros lhes sucedeu o mesmo. Correu tudo maravilhosamente bem a nós, músicos, aos Dizedores de Poesia, à organização do evento, bem como aos seis espectadores indefectíveis que assistiram ao espetáculo... As portas encontravam-se franqueadas, era para todos, até dar, claro, mais apenas vieram seis! Apesar de não se tratar de Pop-Rock, confesso que esperava muito mais. Ainda assim, reitero, foi maravilhoso. E depois a coisa talvez não tenha sido bem divulgada. Nem na SIC passou!!!!

            Mais uma coisita: assomou-me à cabeça que o facto de nesse dia as portas da Casa do Povo se encontrarem abertas, e para quem quisesse, tal não significava que sempre ou com regularidade aceitável assim fosse. As portas estavam abertas, verdade; de vez em quando estão abertas, verdade. Alguém as abre. Alguém que tem as chaves, digamos, o senhor das chaves, ou um dos senhores das chaves da Casa do Povo. É que a Casa é do Povo – e neste país existem tantas! -, mas só alguns têm as chaves!

terça-feira, 27 de maio de 2014

Coisas Curtidas

         Os tremoços e as azeitonas estão a curtir. A pele também curte. Cá para mim, tudo malta fixe, curtida! Os tremoços e as azeitonas, tenho a certeza, para além de curtirem uns com as outras também curtem rock, vá lá, pop-rock...mesmo jazz. A pele, essa curte música de dança. Não há outra hipótese!

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Ping Pong


Há bocado, aí pelas dez e meia, encontrando-me à mesa de um café a beber o “Copo da Casa”, eis que vislumbro, perto de mim, numa mesa ali ao lado, uma bela e elegante moçoila tenazmente entregue à nobre tarefa de ping pong de mensagens...

Ganhei coragem, acerquei-me dela e perguntei se podia jogar com ela, “Jogar a quê?!”, ela, “Às mensagens”.

Ela sorriu, e eu não fui atrás... És cá um tóininho, Ricardo Manuel, uma pena!

sexta-feira, 16 de maio de 2014

Jogo de Cintura


Se toda a gente dissesse apenas o que pensa, se todos, sempre que falamos, jamais traíssemos a nossa verdade; se todos sempre se comportassem de acordo com as suas convicções, tão e tão só de acordo com elas, ai da sociedade!... Não funcionaria, de todo! Uns para cada lado, o caos instalado, um turbilhão de intenções concebidas para nascer, impossíveis de abortar, arrancadas das entranhas de quem em prática as daria a conhecer, a profusa confusão, o fim da arreigada e heterogénea tainada. Amizades, poucas. Veríamos, no entanto, sorrisos genuínos, ouviríamos gargalhadas loucas de paixão pela razão do próprio riso; como ouviríamos choros intensos, profundos e inelutáveis lamentos.

            De acordo com este raciocínio, e querendo nós que a sociedade funcione e em pleno, há que, se não formos ingratos, fazer um elogio à hipocrisia, dizer um: bem hajas, hipocrisia! Bendita hipocrisia, benditos hipócritas, nós! Os que não o são, ora, esses doutrinam a confusão. Longe desses!

Bem, num modelo social em que discutir é trocado por ralhar; em que uma peleja de natureza argumentativa, com arsenal puramente dialético, retórico, é preterida em benefício de uma batalha por ideias feitas e tidas como verdades absolutas, opiniões que são as válidas porque são nossas, ideias e opiniões que se querem impostas porque são as que perfilhamos, uma batalha que quando ganha emite diretamente do perdedor para o ganhador quantidade apreciável da sua energia; numa sociedade que não tem em relação à discussão o apreço que se deve ter por tudo o que permite chegar à razão, à verdade do momento, do tempo -mais ou menos alargado,  não importa-, do tempo de todos os contemporâneos e, se for o contexto, dos tempos dos que já foram e dos daqueles que hão de vir, num modelo social assim, somente, mesmo!, com jogo de cintura! É, quando o paradigma construído e largamente difundido é este, e tão bem sabemos que o é, então só nos resta, de facto, se almejamos um grau de intranquilidade satisfatório -que a tranquilidade absoluta não é uma opção do catálogo-, entramos no jogo. E sim, faz todo o sentido o elogio à hipocrisia. É um elogio proveniente do bom-senso e da resignação, mas merecerá ser genuíno. Não, não temos que nos envergonhar de genuinamente elogiarmos algo que interiormente repugnamos, pois é uma ferramenta fundamental que nos é oferecida. Com ela construímos os apetrechos que nos evitam tropeços, trambolhões, mazelas várias. E até podemos aduzir aqui a estas alegações exemplos de quão mazelados, literalmente, ficamos de quando em quando, ao optarmos em determinadas alturas pelo não fingimento, entrando desse modo numa outra via, a do porradar. São frequentes estes exemplos, pelo menos apresentam uma frequência muito acima do que uma sociedade, um grupo de sócios, não é?, deveria admitir. Muito para lá do tolerável, pois somos o habitáculo da imperfeição, logo episódios daquele teor serão sempre admitidos, mas sendo raros, exceções, não como exceções/regra.

É que, e isto é-nos tão natural, cultural, quando entramos numa discussão é já com o pressuposto de que a razão é nossa, como tal nunca nos poderá passar pela cabeça, ainda que passe, mudar de opinião. Se o outro é deveras persuasivo, tão eloquente que nos consegue mesmo uma mudança, raramente lhe mostramos isso, em sua vez, zangados –e só pode ser conosco próprios-, porradamos!

Bendito Jogo de Cintura!

 

quinta-feira, 8 de maio de 2014

VIVER NO TEMPO; VIVER O TEMPO


 
 O que depreendo; pelo menos o que penso:

            Viver no tempo sem viver o tempo implica uma atitude de absoluta passividade. O sujeito que está na vida deste modo é como que um passageiro com passe vitalício mas com destino limitado e circular. É curto o raio da sua ação, sendo em consequência curto o diâmetro da circunferência que descreve com os seus curtos passos; para mais, não ousa nunca sair do perímetro, da linha. Nunca experimenta uma inflexão, fosse ela ao menos para dentro. Confunde-se o seu local de origem com o de passagem, passagens ou mesmo estadas. Apenas aquele, o de origem, é de algum modo pensado, e não por ele.

            O facto da posse de um passe assegurado e vitalício, pelo menos enquanto for senhor da razão, da sua razão, pode levar-nos a crer ser um paradoxo o acima afirmado, mas será de pequena duração esta hesitação. Pois uma ausência de restrições de movimentos existe, porém ela é parceira de uma permanência, a da limitação de horizontes. Um sujeito deste tipo pode - como todos os que podem, todos os que estão na posse da razão, da sua razão -, pode mas não tem vontade. Esta é-lhe alheia. Sabe que existe, que é dos conceitos materializáveis mais importantes, até experimenta, de quando em quando, encontrá-la, mas depressa desiste. É um sujeito com posses mas sem vontade! É alguém que se deixa conduzir, que não decide caminhos, rotas, alguém que por norma não faz escolhas. A vida, o próprio tempo é para este sujeito o decisor, o transporte e o condutor.

            Ora, ao invés, um ser que viva o tempo, é um sujeito ativo. É ele             quem traça as rotas no mapa, quem o procura, quem aponta para esta ou aquela escala, quem o estuda, quem o reflete. Pode até nem compreender todos os percursos - e é isto mesmo que acontece a maior parte das vezes -, pode até nem levar até ao fim algum dos empreendidos, pode até nem cumprir nenhum, porém atreve-se a encetar a viagem, mais, tudo faz por ela, pois é para ele fundamental que as coisas tenham sentido, e elas apenas o têm se o seu cérebro e toda a orgânica que compõe o seu todo material, em conjugação com o que nele é espiritual empreenderem, não se acomodarem. Para este sujeito o tempo é o transporte, o veículo, mas é ele quem o conduz. Um sujeito assim viaja de verdade, na Terra, no Éter, por onde lhe for possível. Faz escolhas, as possíveis e as impossíveis. Constrói possibilidades ou miragens de possibilidades. Numas e noutras, construções... a vida!

domingo, 4 de maio de 2014

Palavras "Novas"

...
Ninguém pensava, mesmo tendo em conta a vitória em casa por dois a um, que o Benfica chegasse à Final da Liga Europa. O adversário era muito poderoso, historicamente muito poderoso. À Juventus, nunca, de todo!, lhes passou pela cabeça ficar a assistir à Final da prova, ainda por cima no seu estádio, desconfortavelmente instalados em sofás, frente a plasmas. Mesmo os benfiquistas, lá bem no seu íntimo, despensavam da capacidade da equipa para ultrapassar o manhoso e poderoso concorrente e chegar à Final de Turim. Tal é a himalaianeidade da empresa! Sim, um objetivo possível, mas de grau de dificuldade himalaiano, convenhamos!
O jogo da segunda mão? É daqueles espetáculos que só mesmo ouvistos!, como uma Obra Maior em música.

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Parabéns, Benfica!

Parabéns, Benfica! Porto, lamento!

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Real Madrid sem Cristiano Ronaldo? Humm!

Ai o Real sem o Cristiano!!! Um tudo-nada acima duma vulgar, vá lá!, média equipa de futebol. Frango de churrasco sem piri-piri!

quinta-feira, 3 de abril de 2014

Parabéns Porto; Parabéns Benfica!

Pela razão evocada no post anterior.

quinta-feira, 20 de março de 2014

Parabéns Benfica!; Parabéns Porto!

Sou sportinguista, mas acima de tudo português! Sei que ficam mais fortes. Estas coisas são alimento, nutrição de qualidade; sempre fortalecem quem as aproveita. E isto para os outros não é bom, pois vão ter que disputar com pares ainda mais musculados, mais fortes. Mas, como disse, sou acima de tudo português, e isto vale. Daí, pronto, reiterados e sinceros Parabéns!

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Medicina


A propósito de um caso, que conheço, em que um menino com uma doença rara - tão rara quem ainda ninguém vislumbra nome para a dita - tem sido, não digo negligenciado, mas tratado com alguma displicência por quem o tem seguido. Apenas agora se considerou a pertinência da intervenção de várias especialidades médicas no estudo do caso. É, agora, um Caso de Estudo.

A medicina é semiologia; é intervenção; é terapêutica. É também dedicação, plena, e humildade... A Medicina, com letra Grande!
O laboratório e a prática andam de mãos dadas no avanço daquela atividade humana bem científica, mas tão empírica por natureza. O laboratório plural, multidisciplinar, e a prática. Porém tal não se coaduna, de todo, com negligência e ausência de uma saudável ambição por saber mais, ir mais além nas possibilidades.Com a soberba, a sobranceria, ainda vá!, se a idoneidade e a genialidade, bem como a capacidade para um intercâmbio, coexistem num espírito forte mas narcísico, grato tanto e tão só a si próprio... ainda vá!. Com negligência, displicência, falta de ambição, Não! Porque não dá, não dá mesmo, nem faz sentido!
Concordam, senhores a montante, no meio e a jusante destas Coisas?
A Ciência não é um jogo solitário!


sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Marca "Portugal", urgente! E não me refiro ao Ronaldo

Não sou um indefectível do Facebook - fez esta semana dez anos, a propósito -, ainda assim de quando em quando vou lá... ver os meus "amigos" e postar umas coisitas.

Há tempos, ainda ele era demasiado curioso, pois não cansava de nos importunar com o "Em que estás a pensar", postei isto:


Em que estou a pensar?... Olha, Face, estou a pensar que os portugueses, na sua maioria, não são, de todo, como a senhora Merkel os definiu. Tb aqui moram a excelência e o trabalho. O Pritzker, sim, o Nobel da Arquitectura, vem pela segunda vez para Portugal. Quantos países, dos desenvolvidíssimos, se dão a esse "luxo"?
Viva Souto Moura; Viva Siza Vieira; Viva Portugal!... Lá fora é k é bom, mas... acabemos com isso!... Até pq o "lá fora"
é muita Geografia!

domingo, 2 de fevereiro de 2014

O Caso Molas da Roupa

Lá fora o sol batia a pique. Eram cerca das duas tarde, e eu para a minha mãe “mãe, preciso de duas molas da roupa.”, e ela “não me digas que vais sair de bicicleta!”, “vou, sim.”. Era um domingo de Agosto, e havia arraial à tarde ali numa aldeia bem pertinho da nossa. E o conjunto era bom, dos melhores mesmo. Daqueles que arrastam sempre muita gente, muitos rapazes, muitas raparigas. Uma coisa atrai a outra, e uma ideia, uma certa ideia que se faz, não que se tem, atrai todas… as coisas. Era um domingo de Agosto, naqueles anos em que Agosto já era Inverno, porque nesse tempo primeiro de Agosto era primeiro de Inverno. Dizia o povo, e o povo nestas coisas pouco se engana, pouco ou nada mesmo. Povo sábio, saber que só existe porque se viveu o sabido. Povo sábio!... se te tenho dado ouvidos… não tinha chegado a casa no estado em que cheguei, uma bolha de água comigo lá dentro. Povo humilde e sábio, que pões o teu manancial de coisas que importa saber ao serviço de todos. Claro, não és masoquista, todos somos tu! Povo sábio, se te temos dado ouvidos, eu e os meus três companheiros de caça, nenhum de nós passaria pelo que passou, cada um em sua casa, nesse domingo à noite, pela hora do jantar.
A minha Esmaltina estava sempre um brinco. Travões afinadíssimos, corrente sempre oleadinha, quadro sempre esmerado, guarda-lamas impecáveis, campânula sempre com lâmpadas a dar luz – que as havias aos montes com as lâmpadas sempre fundidas, ou mesmo sem lâmpadas. Seriam bicicletas para o dia? Talvez, mas o certo é que também as via a circular à noite. Via-as porque para lá apontava a potente luz da minha. -, dínamo potente, daqueles que exigiam das pernas, pneus, bem, com os pneus é que a coisa nem sempre corria bem, ficavam depressa carecas, e eu tinha que os aguentar, eram caros. Na parte de trás o suporte, que nós apelidávamos, qual anglófono!, de sport. Por debaixo deste, uma caixinha com ferramentas, cola e remendos para algum furo que vitimasse a câmara de ar. No quadro, à frente, atrás ou em cima, consoante o modelo, uma bomba de ar. Tudo o que era preciso para fazer quilómetros e mais quilómetros, pois então!
“Não sobrou nenhuma, acabei de meter a roupa no fio.” Fui averiguar da verdade daquela informação, e deparei-me de fronte com ela. De facto as molas estavam todas ocupadas. “ Ó raio, como é que eu vou agora fazer?”, sempre tive a mania de conversar comigo mesmo. Por vezes até fico rouco, vá lá, disfónico, pronto! “ Olha ali aquela combinação tão agarradinha ao fio! Assim, tão caída, tão coladinha a ela própria, a parte de cima à de baixo, tão morta sobre o fio, nem vai precisar de molas. Vão ser já aquelas duas.”. E foram, tirei-as, a combinação deixou-se ficar, nem deu por ela, eu pego nos quatro pedacitos de madeira -dois a dois unidos por uma mola metálica-, e meto-os no bolso. Chego à minha mãe e digo-lhe até logo, saio de novo de casa, dirijo-me à arrecadação e pego na bicicleta, na minha Esmaltinha, o meu veículo estimado e cobiçado, que eu sei, eu sei que o era. Ele cobiçado e eu invejado. Bem, já na estrada meto a mão direita no bolso, e molas cá para fora. Eram as calças do Domingo, tinha que as proteger do óleo da corrente. Mesmo com as da semana fazia isso, quanto mais com as do Domingo! Uma mola para a perneira direita, outra para a esquerda, mesmo ali juntinho aos sapatos.
Em cima da bicha, vou ao café, onde já me esperavam o Francisco, o João e o Manel. O Mário e o Albino eram para vir, mas preferiram ficar a ver o Bonanza. Lá com eles!
Arrancámos ligeiros virados à festa. O sol ainda batia a pique, mas nuvens, ainda não muitas, faziam-lhe já companhia. A meio do caminho, mais. Parecia que iam também para a festa, e que estavam ainda com mais pressa do que nós. Mas de repente de novo a solidão da luz. E assim foi praticamente durante toda a tarde.
Uma vez chegados, depressa fomos ver se encontrávamos alguém conhecido, se víamos algum BMW, que era mais isso que lá nos levava. O baile ainda não tinha começado, mas o recinto já se encontrava bem composto. Num entretanto, que os entretantos sempre acontecem, fomos beber uma laranjada fresquinha. Estávamos a precisar.
À hora marcada -mais a meia três quartos da praxe-, lá começa o conjunto a debitar som, do bom, que aquele conjunto era mesmo à maneira. Os já arranjados foram os primeiros a menear as ancas, os que melhor piscavam os olhos foram os que se lhes seguiram. Comigo e com os meus camaradas, nada! Nada na primeira, nada na segunda; nada na primeira parte, nada na segunda. Da terceira não posso dizer o mesmo, só mesmo porque esta não existiu, nem sequer fizeram um encore! Soubera-o mais tarde. Estou a faltar à verdade, ainda demos uns pezinhos de dança, mas só naquelas modas de danças sozinho, tipo yé-yé.
Piscávamos tão mal os olhos!, qualquer um de nós!... Até devia meter dó. Digo isto hoje, à distância, porque a mesma e o espaço que a compôs me ensinaram coisas. Devemos ter metido dó a alguém mais piedoso. Enfim!
E o céu já carregado de nuvens, ainda não era noite nem crepúsculo. Lá por cima o vento, de oeste, dava-lhe forte. Nós como só olhávamos para baixo, nem sequer para a altura dos olhos das pessoas olhávamos, não demos por nada. “ Eh pá, pessoal, temos que nos meter ao caminho. Vamos levar uma molha do caneco!”, o manel. “Espera aí mais um bocadito, já falta pouco para acabar!”, o Francisco. “Pois, então isto está a render como o caraças!”, o João. Eu estive para não dizer nada. Pois o que haveria mais para dizer?! Tempo perdido, melhor, mal gasto. Irmos à caça mal armados! Ai, se nós nos atrevêssemos a aprender com o povo. Temos vergonha de ir para a carreira de tiro antes de nos aventurarmos no mato, depois é assim! Estive para não dizer nada, mas disse. Lembrei-me da minha Esmaltina, e resolvi dar razão ao manel. “ O manel tem razão, malta. Vamos já embora, a ver se nos livramos a ela!”.
Fomos, viemos… mas não nos livrámos a ela, de todo. Mal tínhamos encetado a viagem de regresso, ainda o conjunto se ouvia, já chovia a potes. Aguaceiro daqueles que fazem lembrar que seria mesmo bom que de vez em quando o pessoal da Câmara Municipal limpasse as sarjetas. Depressa nos confundíamos coma a água. E depois era a chuva a molhar-nos directamente, era a chuva a molhar-nos por via dos pneus das bicicletas uns dos outros, que os guarda-lamas não são guarda-chuvas, e pronto. De repente, e já o crepúsculo morria para dele nascer a noite, o céu pára de nos desancar. Mas eis que, nem dez minutos depois, nova descarga, e esta dura até chegarmos à terrinha, até cada um ir, sem um até amanhã, para sua casa.
Comigo sei o que se passou a seguir. Quer dizer, com os outros também, pois cada um contou aos outros, no dia seguinte, mas deles não vou falar. Pareceria mal. Chego a casa, meto a bicicleta na arrecadação, bato à porta, esta é aberta, pelo meu pai, e a minha mãe, lá de dentro “ Vês, vês o que fizeste à minha combinação? Ainda agora o teu pai ma ofereceu, pelos anos. Vê como ela está?!”.
Estava uma lástima, a combinação. Aliás, a combinação já não o era. Era combinação mas de um outro tipo. Era mais uma combinação de tecido com buracos no tecido, com óleo de carros e com água da chuva. Dera-se o caso de a roupa ter secado durante a tarde. Não chovera, fizera algum vento, a temperatura ainda estava para essas coisas, e a roupa secara. A combinação, coisa fina, de espessura, mal secara logo ficara à disposição do vento. Tão magrinha, mesmo um ventito qualquer faz dela o que quer. Assim, numa rajada um pouco mais atrevida e cínica, voara do fio para o chão do quintal; deste voltara a voar, mas agora para o chão da rua, que é a estrada. A combinação fez-se, contra-vontade, bem o sei, pista para motorizada, alvo para ciclista apontar, asfalto para carro rolar. Foi rompida, vilipendiada, sujada de óleo e de lama, e no fim de água molhada. O problema é que uma combinação nunca pode, a bem, deixar de ser combinação, e aquela deixou-o. E foi por isso que a minha mãe não ralhou comigo naquele dia por eu estar todo molhado.
“As molas, onde estão as molas?”.

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

As casas ficaram maiores

Viva, pessoal! Apetece-me postar uma cançãozinha -só a letra, a música fica a vosso cargo:)


A noite passada sonhei que já não havia ninguém com quem jogar à bola.
Um amigo de meu pai diz que já não tem com quem ir à bola.
Um conhecido lamenta os matraquilhos despedidos do café da sua aldeia.
A moça do lado diz não ter já razão pr’a ter vaidade.
E eu noto que o meu sonho espelha a realidade.

Tantos lugares pr’a estacionar, tantos!
Mas quantos carros sem papás ao volante!
Mas quantos carros conduzidos por avôs!
Que saudades dos ais que as mamãs provocam!,
sentem meninos e meninas a quem estas coisas tocam.

refrão

“Que é dele, do meu filho, que andava a namorar?”
“Que é da minha menina que estava pr’a casar?”
Carpem desgostos, pais novos, mas velhos de agonia.
Lamentam de noite, deploram de dia.
Que é feito do futuro que o passado prometia?

Deram-lhes o ser, pagaram-lhes o saber.
Em troca, apenas quiseram o ter.
O ter sem posse, o ter que é mais um ser.
Ser o amigo, ser a companhia,
o porto seguro, na noite, no dia.

O papá não está!
Mamãs, poucas por cá!
Pr’a onde foi tanta gente,
assim num repente?
Por que ficaram as casas tão frias?

Refrão

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

" Vitória " Pírrica

O texto que segue é uma repostagem. Faço-o porque é pertinente: ainda que se vislumbre já algum crescimento - nano, micro, médio ou... mesmo macro (???) -, para tal não vale tudo. Gaspar, "o obstinado", talvez se tenha consciencializado disso, perdendo assim nobelmente o cognome, daí o "fora"; Maria Luís Albuquerque, essa não!, essa teima na folha de exel, alheia à rua; e parece que também para o sr. Primeiro ministro, as pessoas continuam a ser meros números. Caramba, mostrem mesmo vontade de renegociar, com a Troika, prazos e juros; trabalhem a sério as rendas excessivas, revejam eficazmente as parcerias publico-privadas em benefício do bem-comum. Vão ver, não necessitarão destes cortes tão crus, cegos e cruéis, e a dívida, que não somos caloteiros, será paga! Nota: com estas políticas, que visam crescer com base num saldo positivo na balança comercial, mas com este baseado num empobrecimento da população, pois importamos menos porque não temos dinheiro para mais - e muito de essencial fica por importar. Não esqueçamos que também importamos menos bens de equipamento! -, ao mesmo tempo que se exporta mais por via de uma competitividade salarial, duvido bué do propalado crescimento, pelo menos de forma sustentável. O Texto: “ VITÓRIA “ PÍRRICA Austeridade, austeridade, austeridade… E não há meio! O problema persiste, teima que nem o mais acintoso dos birrentos. Subsiste porque eles esquecem a vital necessidade: Interação e Complementaridade, com equidade e em toda a geografia. A única via para um crescimento harmónico e sustentável, a rota capaz de levar a um crescimento positivo, condição sine qua non para o efectivo desenvolvimento. Referia-me ao orbe, aludo agora à nossa realidade. Vítor Gaspar, putativo guru da Economia e das Finanças, não passa, a meu ver, de um mero técnico de gabinete absolutamente alheado da realidade, com fobia ao campo. Como diz Sandro Mendonça, professor de Economia no ISCTE, um economista de folha de cálculo, fiel seguidor da econometria. Pensamento na linha do que um dia defendera Keynes, ao afirmar que um economista que apenas saiba de Economia jamais será um bom economista. Técnico idóneo é aquele que, nunca abdicando da secretária, não se exime de recorrentes idas ao terreno. A Escola Monetarista de Chicago – neoliberalismo puro e duro – eiva-lhe a mnemónica. Como Milton Friedman, cultiva números, estatísticas, calculadoras; esquece as pessoas; defende uma sociedade individualista, da Lei do mais forte, não mostrando consciência de que as pessoas não nascem todas com iguais capacidades, com as mesmas forças. Para que servirá o Estado senão para colmatar estas “falhas”? A Aldeia nunca será, em verdade, global se forem negligenciados aqueles pressupostos. Desconchavo, pensar-se o contrário, negar o impreterível! Já viram alguma equipa de futebol jogar apenas com avançados? Não há muito, quando toda a geografia era local, compreendia-se melhor isto de que falo. Ainda que os trilhos que, obstinadamente, eles pisam nos possibilitem a chegada ao desejado porto, e tudo aponta precisamente para o oposto; ainda que a teimosia deles nos levasse à vitória, esta teria o amargo sabor de uma “vitória” pírrica… diria mesmo de uma não vitória. Pirro, enorme guerreiro de Épiro – Grécia – nos tempos antes de Cristo, conseguiu a enorme proeza de derrotar o poderosíssimo exército romano. Porém, para tal, Pirro perdera todo o seu exército… Terá valido a pena?

sábado, 1 de junho de 2013

Na Ação

A vaidade, por vezes confundida com megalomania mas apenas no vestir parecidas, é motor para um primeiro impulso - um fundamental primeiro impulso - porém, depois impede-nos por completo a compreensão do feed back daquilo que fazemos. A megalomania apresenta os mesmos resultados, mas aqui a moral das geografias e a ética universal permanecem impolutas.

terça-feira, 16 de abril de 2013

CADEIA ALIMENTAR





            Ao animal mais poderoso, ao predador mais feroz e voraz, àquele que se encontra no topo da cadeia alimentar, não interessa, de todo, que o mais pequeno e frágil fique sem alimento ao ponto de deixar de existir. O mesmo por aí abaixo. Podemos aplicar o raciocínio a todos os reinos animados: ao animalia, ao protista, ao monera, ao fungi, ao plantae… Sem alimento para o que serve de alimento, nada de alimento e em breve seria o nada vivente. Seria a morte à míngua de!
            A ciência Economia de há muito que incorpora estes fundamentos orgânicos nas suas teorias e nos seus modelos, nomeadamente naqueles que com maior acuidade se debruçam sobre os mercados e o consumo como condição impreterível para a produção. Como pode o construtor da Ferrari vender Ferraris, ali e acolá, se não houver quem aqui e em todo o lado compre Renault Clio, por exemplo? Ou BMWs, ali, acolá e, vá lá, também aqui? O senhor de outros automóveis que também devo mencionar, não menosprezando, refira-se, nenhum de todos os outros que aqui não menciono, por não ser necessário, o senhor de outros automóveis, dizia, sabia-o muito bem. Por isso é que o legado Ford não se limita ao nome e à organização do trabalho debaixo do pavilhão – a perfeita linha de montagem, a tarefa especializada do operário, a eliminação do movimento desnecessário -, Henry Ford deixou muito mais, e um acrescento que só pode enriquecer a ciência Economia. O senhor Ford compreendeu perfeitamente que a política de salários vigente jamais permitiria à Economia e à sociedade o salto necessário à prosperidade que ambicionava. Sabia que se não pagasse bem aos seus operários, estes não teriam dinheiro para comprar batatas e febras em suficiência, logo os agricultores, os criadores de gado e os talhantes também não teriam dinheiro para lhe comprar fords… ou para trocar, com regularidade saudável, de ford e, assim, ele nunca venderia muito. E até teria que, inevitavelmente, mais tarde ou mais cedo vir a despedir operários. O fordismo convenceu e venceu mas, e porque talvez não tenha dado jeito ao criador do termo – António Gramsci, em1922, nove anos depois da idealização daquele sistema de produção por Henry Ford - e aos seus divulgadores, bem como aos economistas políticos que as ideias de Ford estudaram e estudam, a defesa daquele ideal salarial raramente a vemos fazer. Afunda completamente. Pelo contrário, volta e meia, como assistimos agora, é o seu oposto que vem à tona.
            O senhor Ford, que não era um biólogo, compreendia muito bem a cadeia alimentar, e até sabia que não há nada de pejorativamente animalesco na mesma. É assim que tem que ser. Sabia também o quanto de simbiótico deve ter uma Sociedade, para que o seja de facto. Não ignorava o tecido orgânico da Economia.
É incrível como, passados tantos anos, depois de tantas experiências vividas, de estudos feitos, refeitos, de revisitas aos erros e às virtudes, se continue a teimar no mesmo e que, regularmente, a obstinação roce o absurdo, como nestes conturbados tempos que vivemos! Isso, minha senhora - sim, é com ela que falo agora!, com ela e com mais alguns, poucos, senhores -, façam-nos definhar até sucumbir, e depois rumem ao espaço em busca de apascento. 

terça-feira, 12 de março de 2013

CONCEITO DE PRODUTIVIDADE




            Julgo que nunca se falou tanto de produtividade quanto nos últimos tempos. Claro, com facilidade todos compreendemos o porquê.
            Urge, porém, clarificar o conceito, por uma questão de justiça… para com os trabalhadores. É que muita confusão paira por aí, a respeito de… A começar pelos dizeres do próprio ministro com quem a substância do conceito mais afinidade deveria ter, o da Economia, pois então. Quando, logo no início do seu consulado, vem insinuar que acrescentando meia hora por dia ao horário de trabalho dos portugueses a produtividade nacional aumentaria, cometia um erro de palmatória, o senhor ministro. Estaria, possivelmente, a pensar em competitividade, pois sabemos que, nesta área, o modelo que estes senhores defendem se baseia na lógica dos baixos salários. O que poderia aumentar – e digo poderia, por não ser líquido que tal acontecesse, pois há que não esquecer a psique, a tão importante psique individual e colectiva! Mais tempo de trabalho pelo mesmo dinheiro… hummm! – era a produção, não a produtividade. Coisas, embora intimamente ligadas, bem diferentes.
            Depois, bem, depois há mais, e um mais que pode muito injustamente ferir a verdade dos factos e a dignidade dos trabalhadores. Por exemplo, não é raro ouvirmos como definição de produtividade que esta se mede dividindo o PIB (Produto Interno Bruto) pelo número de trabalhadores. Ora, esta é uma definição aceitável, mas pouco, muito pouco, pois gera injustiças sobre os trabalhadores, não permitindo chegar aos factos, à verdade. E quando nestas contas o denominador, talvez por engano, é o total de activos, ainda pior! Atentemos neste exemplo bem pertinente, porque muito actual: somos bons a fazer sapatos - bons na qualidade, bons na inovação -; exportamos muitos sapatos; os nossos sapatos são, no mínimo, tão bons e tão inovadores quanto os italianos. Ora, acontece que, apesar dos nossos sapatos já não serem propriamente baratos, os italianos custam bastante mais. É que não basta a qualidade e a inovação, são necessárias também políticas efectivas e eficazes de promoção, de criação e consolidação de marca. E aqui os trabalhadores não entram, estas são questões que concernem às hierarquias - às empresas e ao próprio governo. Acontece que, à luz daquela definição de produtividade, os portugueses ficam sempre a perder, pois ainda que um português produza, por hora de trabalho, o mesmo número de sapatos que um italiano, como os daquele são vendidos a preços mais elevados, a sua produtividade é lida como mais elevada. Justeza; rigor científico naquela definição? Julgo que não.
            Urge aprender a ler melhor a realidade, as componentes física e humana do mundo, os números e as estatísticas, não segregando aqueles e estas da realidade; urge informar/formar melhor. E aqui entra outra questão: quase sempre se dá a entender que a produtividade depende apenas do operário; não raro se escondem factores como a tecnologia aplicada – da responsabilidade de outro ou outros -; a inovação; o ambiente na empresa, as condições de trabalho, os ordenados… E isto conta tão enormemente!
            Lembramos que, no que diz respeito ao trabalho, ao trabalhador, de uma forma bastante simples mas que em nada lesa a verdade, produtividade é uma razão entre a produção e o número de trabalhadores utilizados para a obter, por unidade de tempo.
            Resumindo, é perverso imputar eventuais baixas de produtividade ao trabalhador ou apenas ao trabalhador, quando sabemos que vários são os factores que para a mesma contribuem; é igualmente perverso calcular-se a produtividade recorrendo somente à equação: PIB/Trabalhadores.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

ALGUMAS QUESTÕES





            Qual é a principal componente de uma Democracia?... O Primado da Lei, julgo!... Ser um Estado de Direito.
            Quem deve obedecer (respeitar) às leis? Ora, todos os cidadãos imputáveis, bem como todas as instituições!
            Qual é o requisito primeiro a ter em conta aquando da feitura das leis? Pois, a Obediência à Lei Fundamental, a Constituição! Quer se goste, quer se não goste dela.
            Será judicializar a política usar a faculdade legal de solicitar ao Tribunal Constitucional a fiscalização sucessiva do Orçamento de Estado, ou de qualquer outra lei? Não, tenho para mim!
            Configura algo legal, o governo encomendar a uma entidade externa, no caso o Fundo Monetário Internacional, um estudo que, à guisa de chantagem, tente justificar o brutal corte de quatro mil milhões de euros nas despesas do Estado? Mais, que nele, estudo, tenha directamente participado?... Legal, parece-me. Porém, será eticamente imaculada esta diligência? Não! Pelo menos à luz da Nossa Moral. Noutras – que esta não é universal -, quiçá. Parece-me, aliás, que a entidade exógena supra referida é composta por técnicos de gabinete, alheios à realidade do terreno… pessoas que, de todo, não reconhecem na diversidade geográfica e humana agentes de riqueza do mundo. Mais, que talvez nem enxerguem essas diversidades… e que cada realidade exige uma abordagem individual.
            Visa, este consulado de Passos Coelho, acabar - ou reduzir a um mínimo inaceitável – com o Estado Social? Temo que sim!
            Estarão os portugueses dispostos a pagar mais (ainda!) para o tornar exemplarmente digno?... Sugiro: perguntem, em referendo, ao Povo de Portugal se está disposto a suportar, como os suecos, cinquenta e tal por cento de carga fiscal e parafiscal, se em troca lhes for facultado o Estado de Bem-Estar – Saúde, Educação, prestações sociais… - que usufruem?... O sim ganharia, por certo!
            Bem, poderia continuar, debitando caracteres atrás de caracteres, com questões do tipo. Mas chega! Peço apenas que não interpretem como arrogância as minhas respostas peremptórias. Elas tão só reflectem a realidade material.
            Uma última questão, se me permitem: respeita, o actual executivo, o Primado da Lei?
            A esta, caros soberanos – que soberano é o Povo, assim disso tenha consciência! -, respondereis vós.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

A PRENDA




            Eram cerca de sete e meia da tarde do dia vinte e quatro de Dezembro de um ano não austero, normal em termos da hierarquia de assimetrias sociais. O incidente tivera lugar numa movimentada baixa de uma cosmopolita cidade do hemisfério Norte.
            Fulano Tal, depois de uma fatigante jornada, prolixa em papelada e telefonemas, copiosa em chatices, decreta: “ Basta, nem mais um segundo! “. Despede-se de patrão, colegas e colegas amigos, dizendo, enquanto apressadamente se dirigia ao labirinto que o haveria de conduzir ao elevador, já de sobretudo vestido e pasta na mão: “ Tenho que ir fazer as compras de Natal, é mais que tempo! “ Em casa esperava-o a esposa, um filho, os pais, os sogros, dois cunhados, e uma irmã com dois filhos… Prendas para muita gente, um problema… e não era o dinheiro que o preocupava.
            O escritório era em plena baixa, de modo que resolveu deslocar-se a pé e pôr de imediato mãos à obra. Entra numa loja de perfumes, apinhada, e agoniza um degrau mais. Não sai, porém, sem aquilo ao que veio, pois tem consciência que àquela hora melhores circunstâncias não encontraria. Ao cabo de uns minutos largos, “ Boa noite, precisa de ajuda? “, acenou que sim… Com o apoio sempre deferente de uma beldade bem cheirosa, compra perfumes para as mulheres do sangue e do afecto. Mais um tanto, tormento mesmo, a embrulhar e “laçar”, e pronto, pronto para outra dose. Acolhe-o uma sensação apaziguadora, afinal boa parte das compras, quiçá a mais difícil, já estava resolvida.
            Rua com ele, a caminho do centro comercial mais próximo, por sinal no mesmo quarteirão em que se encontrava, afinal ali poderia fornecer-se de toda a mercadoria. Saco de plástico numa mão, pasta na outra, e aí vai ele em passo de corrida, pois muito embora mais calmo, o atraso era significativo. Todos ansiosamente esperavam por si em casa. “ Olhe, se faz favor!... se faz favor! “, olhou para traz e viu o que lhe pareceu ser um velho andrajoso a correr no seu encalço. Velho não era, andrajoso com toda a certeza. A princípio nem confiança lhe dera, mas como o andrajoso insistisse, “ Por favor, ó senhor, ó senhor! “, Fulano Tal consente, embora sem parar, comunicação. “ O que é que o senhor quer, vou com pressa, não posso parar! “, “ Por favor, ó senhor, só quero conversar. “, ainda sem parar, “ Mas quer conversar o quê? “, “ Quero conversar um pouco com alguém, seja sobre o que for… “, agora já os dois parados e próximos um do outro, o esfarrapado continua “ Não comi mas não tenho fome, não bebi mas não tenho sede, tenho é uma necessidade ardente de conversar com alguém, e seja sobre o que for. Seria a minha melhor prenda de Natal!”...
            Teve prenda.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Unidade


O Farol acendeu, e eu tirei uma foto. Ei-la:

 

 

UNIDADE

 

               

                Algumas são conversas inocentes, outras muito pelo contrário… Os meus átomos a ti pertencem também, assim, ou quase, falava não Zaratustra mas o Enorme Walt. Tudo e todos somo-nos! Porém, se assim é, os teus, átomos, são muito meus também, sendo que, querendo e podendo e protegidos por este pressuposto, podemos legitimamente, silogismando, sustentar que o conjunto dos nossos átomos e a imensidão de universos, tangíveis e não tangíveis, que constantemente tecem são propriedade nossa. Mais, nós próprios pertencemo-nos. Escuta, Zé que também és eu, até os jacintos das águas, a biotite parida na Serra da Freita e na remota Rússia, o salgueiro à beira d’água, o ozono lá do alto, os buracos negros de todos os quadrantes somos nós… e nós eles.

                Então, deve importar-nos, importunar-nos este nosso recorrente juízo de valor de que algumas conversas são inocentes e que outras nem por isso? Não, um não rotundo! Que nos há-de importar, se tudo e todos somos Um? Nada nem ninguém poderá, jamais, por muito e muito que paradoxalmente o queira, adulterar um átomo que seja - ou um seu qualquer ente subatómico – de algo ou de alguém. O Um não é masoquista! O que se passa, de facto, aquilo a que cada parte da Unidade assiste, umas vezes com positivo pasmo, outras com agonia indisfarçável, é ao resultado, digo, aos resultados, do ininterrupto metabolismo da Unidade. O mar bate na rocha e no mexilhão porque tem que ser… e nenhum se lixa, os três sabem que choram e riem a mesma vida.

                Somos a casa e o habitante; a comida e o comedor; o passeio e o caminhante; o livro e o leitor!

 

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

A Cisma







Era longe na noite, e eu sem adormecer. Voltas e mais voltas, contas atrás de contas a rebanhos inteiros, mas nada! Pensei tomar um soporífero, mas o meu estoicismo aliado ao repúdio por coisas dessas levaram-me a tomar outra decisão. Tinha que me levantar.
Sinceramente, este meu traço de carácter tem-me feito das suas! Sou um seu vassalo, logo eu que tanto vendo irreverência! Se calhar não, às tantas não passo de um mero fã daquela, e o ser fã, de per si, apenas nessa postura, como sabemos ou deveríamos saber, nunca fez do próprio um par do seu ídolo. Prisioneiro único do edifício que construí, é a minha condição. Digamos que - que aflição! -, mesmo aqui, em matéria de construção, também não estou a ser rigoroso. É que, pensando melhor, quando muito apenas forneci a matéria-prima para o edifício, e, sabem os engenheiros e os arquitectos, com a mesma massa e os memos tijolos quanta coisa diferente, de qualidade vos falo, podemos construir. Bem, o certo é que a ansiedade me roía, enquanto a consciência me consumia. Havia, mais uma vez, que recorrer à purga, à recorrente catarse. A metodologia, o mais importante em qualquer actividade humana, é que era o busílis. Como iria eu limpar a porcaria, tanta!, que fizera durante o dia? É certo que lutei bastante contra, mas uma vez mais soçobrara. E também não fora por pura maldade ou por mal querer a alguém que fizera o que fizera, mas fizera-o, pronto!... Dá sempre jeito aduzir à liça uns quantos considerandos do tipo, sempre ajuda a uma desejada mitigação do problema, por menor que seja. E era-o, de facto, menor, micro, quase nano. Melhor que nada, ainda assim. Bem, ainda que manhãzinha cedo tivesse que estar aprumadinho e primeiro que todos, para exemplo, na torre mais alta; ainda que pouco ou nada dormisse, tinha que me levantar e dirigir-me ao sítio. Urgia corrigir ou pelo menos remediar o erro. O meu Senhor mo exigia. Iria despachar todo remelado? Que se danasse! Pelo menos seguiria tranquilo… até a minha condição me conduzir a outra. Pessoa facilmente contrita nunca poderá - se se quer livre de expensas, daquelas não tangíveis - navegar por estas águas, por mais titânica que seja a nave que comanda ou ajuda a comandar… Levantei-me.
Existe permanentemente em cada um de nós, ainda que por vezes de forma latente ou falsamente latente, um forte espírito de competição. Digo-o porque é verdade, mas também à guisa de desculpa para o que a seguir resumidamente descrevo. Já sentado à secretária do meu sumptuoso escritório, pouco depois de, com reverência de autómato - pese embora o facto de lhe sentir uma certa estupefacção, tal não era desusado aquele horário! - o segurança me ter franqueado a porta do majestoso edifício, já de computador ligado e esferográfica em frenética dança na mão direita – os meus neurónios recusam trabalhar sem a cooperação deste velho ritual -, qual alienado!, vejo-me de repente a apreciar as vivendas e os faustosos apartamentos dos meus amigos, dos meus colegas - mais dos meus colegas, diga-se em abono da verdade -; dou umas voltas nos seus carrões enquanto os meus filhos sonham com os bólides dos filhos deles; aprecio os respeitáveis colégios onde estudam aqueles meninos… A esferográfica, ofegante, talvez por o andamento imposto ter sido bastante superior ao normal, pára… Volvidos escassos minutos retoma a dança, ao ritmo e andamento normais. Desligo o computador; saio do escritório; chamo o elevador; o segurança, “ Boa noite senhor doutor! “. A cama esperava-me, como o Diário do Poder esperava os diplomas que assinara na tarde anterior… tal qual, sem tirar nem pôr. A cisma estava debelada, outras me esperavam. Está na nossa natureza!

Resumo:


É frio
            lá fora.
            Cá dentro, quentinho.
            … Este é o meu lugar!