sexta-feira, 10 de julho de 2009

Não basta ser...

NÃO BASTA SER…


Há rebuçados principescamente bem embrulhados, e outros que nem por isso. Os primeiros, esses, pelos menos num dos requisitos obedecem, sem mácula, às mais fundamentais regras sociais dos tempos que correm; os outros, nem por isso.
Até que nem me oponho ao adágio donde furtei o título, até que não!, todavia, devo aduzir que o ESTEIO reside, não somente mas hegemonicamente, na substância.




Carlos Jesus Gil

domingo, 5 de julho de 2009

Os ós pelos ás

OS ÓS PELOS ÁS


Isto deve ter acontecido por aí. Se os meus radares o captaram!... Mas isto o quê?, já perguntam, com razão mas também com elevada dose de tensão, os impacientitos leitores. Isto daquele rapaz de dezassete anos, aluno do 12º numa escola de referência na grande Lisboa, daquelas sempre cá em cima, rankinguescamente falando, neto de um guarda florestal que fez carreira ao balcão dos Serviços Administrativos da área à sua guarda, um perfeito amante da natureza, como sem esforço de monta se depreende destas inflacionadas palavras. É que há aqueles que têm a mania – será mania? – de falar pouco, e aqueles que falam pelos cotovelos, chegando mesmo a utilizar todo o antebraço. A verdadeira majestade da comunicação, o estádio em que aquela atingirá a perfeição, acontecerá, tenho para mim, a partir do momento em que o homem passar a casar todas as palavras, toda a fonética, em melodia. Claro, implica notas e figuras musicais! Eh pá, pessoal, aí será o Supremo. Nos casos de entendimento, tolerância, não há lugar a desafinanços, pois os acordes serão os adequados e a harmonia perfeita. Os outros…casos, esses tenderão à atomização, depressa cairão no esquecimento, tal não será a azucrinação que sofrerão ouvidos e cérebros!... Sim, depressa todos recorrerão à melodia inefável, à harmonia perfeita. Haverá problemas, claro!, de vez em quando uma palheta parte, um si desafina, mas… Que me lembre, os pássaros já fazem isso… e até outros animais, mas se vamos por aí nunca mais daqui saio. Bem, vocês entendem… um apelo em música; uma ordem em soprano… okey, em barítono… concordo! Bem, voltando à narrativa, dizia eu que o sr. guarda de balcão e secretária, com a natureza florestal só contactara mesmo durante o período do curso, e ainda assim… O homem não conhece o cheiro do mato, o cheiro à terra quando, depois de muito votada ao abandono da chuva esta volta a cair altruisticamente. Coisas que já experienciara, sim, mas das quais agora aos sessenta e três anos de idade já não fazia a mínima… Uma coisa é certa, aquele guarda florestal sempre se apresentara ao serviço conforme impõem as rígidas regras militares ou mesmo militarizadas. Farda devidamente engomada, gravata no sítio, sapatos engraxados, a velha pistola à cintura… Tudo no sítio, sempre! O senhor Vitorino Rosmaninho Palonço é de facto homem de respeito. Pode não distinguir um pinheiro duma acácia, mas é um respeitável guarda de florestas, com folha de serviço sem mácula. No bairro da capital de distrito onde morava, para todos era o sr. guarda. Até o edil lá do sítio o tratava com desusada deferência… Afinal autarca é autarca… por mais grande ou maior que seja um guarda florestal, a hierarquia beneficia o outro. Nunca compreendi todos aqueles paparicos, mas… Bem, acontece que os seus grandes feitos à secretária e ao balcão – não falámos deles aqui, nem acolá o faremos, descansem! - chegaram ao conhecimento das majestades do sector. Daí que o sr. director regional tenha convocado, sem carácter de urgência mas com interesse afirmado, o seu chefe de serviço com o fim de com ele travar conversa sobre uma possível transferência do guarda Vitorino para os Serviços Centrais, em Lisboa. Só uma demorada análise à figura do chefe, que nos faz chegar à conclusão que o dito é mesmo chefe… pois, se o é manda, não faz!..., nos permite compreender a paradoxal relação sentimental que demonstrou em relação ao subalterno. Pois se por um lado afirma ao director ser realmente aquele um guarda de competência pouco vista, o melhor dos elementos, que até merecia uma promoção, por outro roncava – como o canto seria tão melhor! -, denotando míngua de respeito pelo sr. director – cá para mim é daqueles que vê muito o “ Canal Parlamento”-, que não, que o homem sempre ali vivera; que ali se encontravam os filhos, os netos, quase toda a sua família e amigos… E depois quem é que meteria ele a picar os bois?!... A ausência de aspas na expressão obriga-me, a mim, que comparando os acervos de escrúpulos, meu e do chefe, fico a ganhar, a um clamado pedido de desculpas aos animais da repartição… que de homens se trata, não de bois!... Aqui ficam, pois, aquelas!... Pois, mas continuando: sim, mas o homem vai ganhar mais, returque o director, sabedor das invulgares capacidades do sr. Vitorino como guardador de florestas, embora em gabinete; conhecedor do zelo indizível, mesmo desvelo, que põe no seu serviço, ainda que da floresta só trabalhe mesmo com o subproduto papel. Roupa à civil, ausência de pistola, altos conhecimentos, continuava… Pereira, chame ao seu gabinete o guarda Vitorino e exponha-lhe o cenário! Certo?; pronto, senhor director, assim farei… E fez, e o aprumado Vitorino, depois de prestada toda a atenção à debitação do superior, responde que não, que não vai para Lisboa coisa nenhuma, isso seria ficar longe da família e dos amigos… e ainda por cima sem usar farda e pistola?! Não! Pode transmitir ao senhor director que aprecio muito a sua consideração por mim mas que não posso aceitar; eu bem que já adivinhava a tua resposta, Vitorino… e muito me alegra ela!... E vai daí, o neto dele, dele do guarda, espero que não se tenham esquecido do rapaz!, o filho do filho do meio, que apesar de ter um papá dono da maior e mais conceituada carpintaria da região não distingue uma serra dum serrote… bem, só cá pr’a mim, nem eu! Qual é a diferença?... Mas o que é que eu queria mesmo com isto?; do que falava eu?... Ah, do bem-vestido-à-marca, aluno do 12º ano de escolaridade, que resolvera cravar no placard de mensagens da sua nobilíssima escola o anúncio de que pr’a ele só uma rapariga muito bonita, muito inteligente e muito culta… E então?! E então que logo no intervalo a seguir dele se aproximou uma jovem moçoila, assim logo à partida com um dos requisitos muito bem preenchido, e lhe pergunta Zé-Zé, gostaria muito de ver um acaso contigo assim juntinhos à beira-mar!; um acaso?!; sim, um acaso… é tão romântico!...; deves querer dizer ocaso, não?... Ela, vermelha: sabes, troco muito os ós pelos ás, não faz mal pois não?; não! Se queres ir à praia comigo ver o pôr-do-sol, por que não? Essas trocas não têm importância nenhuma. Mas olha, se por acaso algo mais se pôr… em cima de… Depois não te queixes!... Com voz de soprano, em melodia que exige acordes maiores, ela pergunta?: queixar-me, eu… achas?!... aaaaachas?!







Carlos Jesus Gil