quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

O X, o Y, o Z e outra letra que se lê

O X, O Y, O Z E OUTRA LETRA QUE SE LÊ

Ela estava triste…, até chorava! Era um bonito princípio de tarde de finais de Junho. Muito sol, temperatura agradável, férias à vista, mas ela estava triste. Triste e sem fome, apesar de nada ter almoçado. Nem a fatia de vieneta, de que tanto gostava, se atrevera a comer. Tal era o fastio!
Eu cirandava por ali, de esplanada em esplanada, junto à praia, quando a vi. Acenei-lhe vivamente, mas ela apenas ensaiou um tímido e preguiçoso gesto com o braço direito… Aquilo não era normal. A Liliana?!..., tão alegre, tão jovial, tão, não raro, prolixamente frenética, tão senhora de si… Coisa estranha e indesejada habitava, de há pouco, tinha a certeza, o espírito da minha bela amiga. Não, havia ali coisa sim senhor. E eu tinha que indagar sobre o que…, e sem delongas. De modo que, num ápice, safei-me do resto do fino que consumia, disse “ até já “ aos meus companheiros e dirigi-me à muralha, cujas esquinas Liliana ajudava, de momento, a polir.
Enquanto atravessava a estrada pensava na noite anterior; em muitas noites e muitas tardes passadas. Aquela rapariga sempre transbordara de alegria, sempre fora a origem de autênticas cheias de boa disposição. Toda a gente adora estar junto dela, desde as amigas, que são muitas, aos amigos e admiradores que, de tantos serem, só mesmo com calculadora… Se, de facto, neste nosso mundo não é descabida a busca pela perfeição, por a ele, apesar de rara, não causar estranheza; se, efectivamente, aquela não se resumir a mais um utópico desígnio da humanidade, ela é a sua personificação. Do mais belo por fora; invejavelmente atraente por dentro; Q.I. à Sharon Stone!... Mas, então o que estará a passar-se? Serão problemas de saúde?... Não tive tempo para mais conjecturas, pois de repente encontrava-me frente-a-frente com a doce (na hora, como já vimos, nem por isso) Liliana.
- O que é que se passa, queriducha?
“ Olá! Nada, não se passa nada. “ – mentiu ela descaradamente.
- Olha, acredito mais depressa na vitória do Sporting no campeonato do que na informação contida na tua resposta. Aliás, não é necessário analisá-la ao pormenor, parâmetro por parâmetro, em termos de som e de emoção – muito embora o esforço posto no disfarce -, para chegar à conclusão de que se passa mesmo algo…, e algo não despiciendo. Queres que acredite que não se passa nada de errado contigo, quando te vejo, pela primeira vez, triste e com urgente necessidade de uma remessa grande de lenços de papel?... Vá, presenteia-me com um sorriso! Vá, nem que seja ele enganador, que, desde que potenciado por esses teus lindos olhos, já os meus ficam lavados, libertos de qualquer impureza!
“ Lindos olhos?!... Só tu é que vês isso. “ – retorquiu ela com a mágoa estampada nos próprios.
- Ah, então é isso! Quem é que conseguiu tal proeza?
“ Que proeza, Rui? Deixa-te de coisas. – ela não desarma.
- Então, aos dezanove anitos alguém, que eventualmente nem procurou muito, encontra a chave do teu coração. Estava magicamente escondida; com magia foi encontrada!
“ Ó Rui, já te disse, pára com isso! – a renitência continua.
- Vá lá, temos que ser uns para os outros. Não confias em mim, é isso?
… Ela confiou. Aliás, já tinha essa certeza comigo antes de emitir a questão. Somos unha com carne; alho com bacalhau; sei lá!...

Continua (um destes dias)

Carlos Jesus Gil

1 comentário:

Tomas de alencar disse...

À tens de contar mesmo , senao sou eu quem te alerto.