A Feira
Popular era, de facto, popular. Fazia, sem dúvida alguma, jus ao seu velho nome.
Sextas, sábados, domingos, vésperas de feriados, feriados e períodos de férias
sempre a abarrotar. Nos outros dias, se bem que o bulício não fosse igual,
ambiente e vida nunca faltavam.
A história
que, resumidamente, vos vou contar tem como protagonistas um grupo de amigos,
em rigor conhecidos - pois nenhum ainda passou daquela fase que precede uma
eventual relação de amizade -, pessoas que se foram conhecendo, ao longo do
tempo, na Roda Gigante da Feira.
Dividia-os a
paixão pelo clube, pois por muito inverosímil que pareça cada um tinha o seu, e
cada qual o defendia com garras e dentes. Acesas discussões todos os
fins-de-semana e princípios da nova, em tempo de época, até o defeso chegar.
Embora as discussões não mostrassem sinais de conhecer um fim, o convívio
era-lhes inevitável, vital mesmo! As temperaturas das querelas, essas assim
como tão rápido subiam, também súbito desciam. O equilíbrio sempre espreitou, e
quando era de facto necessário entrar, entrava mesmo.
Ora, se na
Roda se foram conhecendo, era porque na Roda se encontravam regularmente. Pode
mesmo dizer-se, sem que grande seja o exagero, sem se cair em avaliação
ridícula, tão só enfatizando, que viviam na Roda, tal não era o uso dado pelo
grupo de compinchas ao monstro de cadeirinhas voadoras!
Não é para todos, a Roda! Um gosto danado pela
adrenalina, adictos inveterados, os impulsionou à viagem. Uma paixão doentia e
um amor calculista pelo trajecto alimentavam a rotina.
Todos
adoravam o ponto cimeiro, o cume, o zénite do lugar. Porém, por paradoxal que
às primeiras pareça, era cá em baixo, na base, onde cada um deles se sentia
verdadeiramente bem.
Só às
primeiras o paradoxo aparece como opção a reter, só às primeiras; bem depressa
chegam as segundas a mostrarem-nos que a lógica é reinante na factual
observação. É que uma vez chegados acima, todos o sabem, não tarda começa a
descida, e quão brusca ela é tantas vezes! Tão mais brusca quanto mais alto se
subir e menos cautelas forem postas na construção da inevitável descida. Ao
invés, cá em baixo, para além de ser ausente a possibilidade de queda
inquietante, para além deste perigo não existir sabe-se que, mais agora, logo
mais, recomeçará a subida. É o reino da ditadura do futuro, do sofrimento por
antecipação.
Ora, devo, a
bem de ficar de bem comigo próprio, referir que estas sensações de, digamos
euforia/depressão, as do falso paradoxo em relação ao lugar de surgimento, apenas
as sentem dois dos amigos, conhecidos, vá lá! Os outros desconhecem aquela
relação; para eles será sempre o eterno limbo emocional.
Mas então,
continuando a história, que não é estória, impõe-se-me mencionar que a Roda não
sobe sempre direitinha, sem oscilações, o mesmo acontecendo com as descidas.
Assim sendo, volta e meia, ou menos que isso, vemos os das pontas serem
encostados aos ferros, e os do meio chegarem-se aos das pontas.
Raras são as
vezes em que os forçados encostamentos não encontram reacção alérgica, o que,
diga-se, e a comprovar o supra referido, não configura a presença de verdadeiras
amizades, mas sim mais o encontro de pessoas que se conhecem, convivem e sabem
não lhes ser possível dispensar esse convívio. Qualquer delas, das pontas ou do
meio, sabe serem indispensáveis as regularíssimas convivências, as repetidas
reuniões. O problema poderá surgir não tanto da natureza da reacção em si, mas
mais da intensidade da mesma.
Já falam
entre eles, os que sentem o falso paradoxo e os do limbo, que a bem da digestão
de cada um, do bom funcionamento dos seus estômagos, deverão, todos, ter o bom
senso de, sem prejuízo de mazelas graves, claro, amparar, amortecer o choque
dos do meio. Caso não, os vomitanços
surgirão… mais tarde ou mais cedo.
E é nesta
reflexão que se encontram todos, de há muito. Entretanto, a viagem continua.
Umas vezes sobe-se, outras desce-se. Por ligeiro que seja o declive, curto é o
tempo na horizontal.
2 comentários:
quanto tempo não venho aqui. saudades desse blog!!
bjos...
Verdade, Nanda. Temos de retomar! E eu de voltar a postar com frequência digna.
Bjs
Ps comentar nos seus blogs, porém não me foi possível.
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