Eram
cerca de sete e meia da tarde do dia vinte e quatro de Dezembro de um ano não
austero, normal em termos da hierarquia de assimetrias sociais. O incidente tivera lugar numa movimentada
baixa de uma cosmopolita cidade do hemisfério Norte.
Fulano
Tal, depois de uma fatigante jornada, prolixa em papelada e telefonemas,
copiosa em chatices, decreta: “ Basta, nem mais um segundo! “. Despede-se de
patrão, colegas e colegas amigos, dizendo, enquanto apressadamente se dirigia
ao labirinto que o haveria de conduzir ao elevador, já de sobretudo vestido e
pasta na mão: “ Tenho que ir fazer as compras de Natal, é mais que tempo! “ Em
casa esperava-o a esposa, um filho, os pais, os sogros, dois cunhados, e uma
irmã com dois filhos… Prendas para muita gente, um problema… e não era o
dinheiro que o preocupava.
O
escritório era em plena baixa, de modo que resolveu deslocar-se a pé e pôr de
imediato mãos à obra. Entra numa loja de perfumes, apinhada, e agoniza um
degrau mais. Não sai, porém, sem aquilo ao que veio, pois tem consciência que àquela
hora melhores circunstâncias não encontraria. Ao cabo de uns minutos largos, “
Boa noite, precisa de ajuda? “, acenou que sim… Com o apoio sempre deferente de
uma beldade bem cheirosa, compra perfumes para as mulheres do sangue e do
afecto. Mais um tanto, tormento mesmo, a embrulhar e “laçar”, e pronto, pronto
para outra dose. Acolhe-o uma sensação apaziguadora, afinal boa parte das
compras, quiçá a mais difícil, já estava resolvida.
Rua
com ele, a caminho do centro comercial mais próximo, por sinal no mesmo
quarteirão em que se encontrava, afinal ali poderia fornecer-se de toda a
mercadoria. Saco de plástico numa mão, pasta na outra, e aí vai ele em passo de
corrida, pois muito embora mais calmo, o atraso era significativo. Todos ansiosamente
esperavam por si em casa. “ Olhe, se faz favor!... se faz favor! “, olhou para
traz e viu o que lhe pareceu ser um velho andrajoso a correr no seu encalço.
Velho não era, andrajoso com toda a certeza. A princípio nem confiança lhe
dera, mas como o andrajoso insistisse, “ Por favor, ó senhor, ó senhor! “,
Fulano Tal consente, embora sem parar, comunicação. “ O que é que o senhor
quer, vou com pressa, não posso parar! “, “ Por favor, ó senhor, só quero
conversar. “, ainda sem parar, “ Mas quer conversar o quê? “, “ Quero conversar
um pouco com alguém, seja sobre o que for… “, agora já os dois parados e
próximos um do outro, o esfarrapado continua “ Não comi mas não tenho fome, não
bebi mas não tenho sede, tenho é uma necessidade ardente de conversar com
alguém, e seja sobre o que for. Seria a minha melhor prenda de Natal!”...
Teve
prenda.
2 comentários:
Uma boa prenda seria um fato para nos proteger do napalm fiscal, desejos de um FELIZ ANO NOVO
que um Satanás norueguês nos salve:
http://www.youtube.com/watch?v=Nh8CfWEnSJ8
Feliz 2013, Táxi! Feliz ano novo para todos!
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