SOLIDARIEDADE
Faz de conta que eu sou “ um “ Saramago ou “ um “ Philip Roth ou “ um “ Orhan Pamuk… ou “ dois “, vá lá, Paul Auster. Faz de conta, tá? Então, é nesse faz de, e vivendo-me em qualquer deles, que numa tarde qualquer, outonal de preferência, bebendo um café quentinho à mesa de um qualquer café, aquecido de muitos bafos, não das lareira e radiadores caloríficos ausentes, me exercito tentando meter-me na pele de mim próprio a esboçar um texto com cabeça, tronco e membros… ok: com um princípio, meio e fim que não sejam meramente contabilísticos. Vai daí, e como era o tal, optei mesmo por me dizer que rejeito a primeira designação da planificação e parto para a obra com a segunda no consciente. Menos prosaica…muito menos, embora o não possa parecer! Bem - no caso até mal e bem mal, ou melhor, mal e mal mal -, começo por me concentrar na escolha de um tema – pertinente, ousado, que acrescentasse… -, e eis que logo aí surge o primeiro empecilho, qual escolho impedindo o real barcão de continuar a navegação!: nada me merece a pena; tudo é vão, medonhamente vão! Depois, logo depois, dou conta de um segundo: mesmo que o mapa intelectual m’o tivesse revelado, revelei-me na condição de trolha, não de pedreiro. Frustradamente me defrontei com a demolidora realidade de não conseguir usar os tijolos… de - e voltando agora, porque passara a adequada, à primeira designação da planificação – não conseguir desenhar uma cabeça pegada a um tronco a membros pegado. Triste! Muito triste fiquei eu pelo outro… que sou eu! Triste, por notar que aquilo que a mim não exigiria esforço de monta, estava a exigir a mim uma força desusada… não contida. Triste porquanto o mais que eu poderia conseguir seria um tronco… e tosco, quando muito! O domínio da perfeita proporcionalidade que a mim me era tão natural, revelava-se a mim completamente impossível… só capaz de ser sonhado. As partículas do inefável, que por aí pululam à espera de quem as una, eu, por exemplo, teimam em não se me revelar. De modo que ficou, fiquei, ficámos…tristes!
Carlos Jesus Gil
Faz de conta que eu sou “ um “ Saramago ou “ um “ Philip Roth ou “ um “ Orhan Pamuk… ou “ dois “, vá lá, Paul Auster. Faz de conta, tá? Então, é nesse faz de, e vivendo-me em qualquer deles, que numa tarde qualquer, outonal de preferência, bebendo um café quentinho à mesa de um qualquer café, aquecido de muitos bafos, não das lareira e radiadores caloríficos ausentes, me exercito tentando meter-me na pele de mim próprio a esboçar um texto com cabeça, tronco e membros… ok: com um princípio, meio e fim que não sejam meramente contabilísticos. Vai daí, e como era o tal, optei mesmo por me dizer que rejeito a primeira designação da planificação e parto para a obra com a segunda no consciente. Menos prosaica…muito menos, embora o não possa parecer! Bem - no caso até mal e bem mal, ou melhor, mal e mal mal -, começo por me concentrar na escolha de um tema – pertinente, ousado, que acrescentasse… -, e eis que logo aí surge o primeiro empecilho, qual escolho impedindo o real barcão de continuar a navegação!: nada me merece a pena; tudo é vão, medonhamente vão! Depois, logo depois, dou conta de um segundo: mesmo que o mapa intelectual m’o tivesse revelado, revelei-me na condição de trolha, não de pedreiro. Frustradamente me defrontei com a demolidora realidade de não conseguir usar os tijolos… de - e voltando agora, porque passara a adequada, à primeira designação da planificação – não conseguir desenhar uma cabeça pegada a um tronco a membros pegado. Triste! Muito triste fiquei eu pelo outro… que sou eu! Triste, por notar que aquilo que a mim não exigiria esforço de monta, estava a exigir a mim uma força desusada… não contida. Triste porquanto o mais que eu poderia conseguir seria um tronco… e tosco, quando muito! O domínio da perfeita proporcionalidade que a mim me era tão natural, revelava-se a mim completamente impossível… só capaz de ser sonhado. As partículas do inefável, que por aí pululam à espera de quem as una, eu, por exemplo, teimam em não se me revelar. De modo que ficou, fiquei, ficámos…tristes!
Carlos Jesus Gil
17 comentários:
Vais ao café, bebes o cafézinho e não tens alma de pagar um ao teu outro eu. Forreta!
A dificuldade deve ter haver com a palavra SOLIDARIEDADE!Todos se dizem solidários com "nobres causas" mas bem se vê no dia a dia como somos solidários com o nosso Eu e o nosso "egoismo"...Somos um Povo que Adoramos a "Tragédia" e quando alguma acontece,realmente unem-se esforços e os inimigos tornam-se amigos em nome dum "cuscuvilhar" a vida e drama alheio...
Pena que se feche todos os dias os olhos aos nossos idosos que a cada dia que passa se encontam mais abandonados como se fossem "fardos" ou ninguém...Pena que as pessoas se esqueçam que a velhice é o dia delas amanhã...Todos os dias sou confrontada com esta realidade com momentos de grande angústia porque não,não os posso trazer para casa cuidar deles com todo Carinho e Dignidae que merecem...Hoje à mesa do meu café o tema era este dum,um entre tantos idosos, que se encontra abandonado pela familia...da tristeza do seu olhar por sentir que é rejeitado por aqueles a quem tanto deu...
Apelo a todos que possam ajudar e contribuir para melhorar estas situações o façam...Apelo aos nossos novos governantes que tenham atenção especial a estas Pessoas que são os nossos Pilares...Gente da nossa terra e criem centros de dia,lares de terceira idade ou apoios domiciliários de modo a dar um minimo de Dignidade a estas Pessoas.
Há dias mais dificeis que outros!!!Aproveitando o texto do Autor...
Bela tolice eheheh. não sei bem o que queres dizer mas deve ser alguma coisa séria dita com bom humor.
ora aì està um recado dado com inteligência srs.comentadores.
Um pedido de desculpa...a ver e não haver...acontece!!!...
Eu estou desgostoso porque não consegui bilhetes para os U2. O meu outro eu está resignado e acha que são mais uns euros que ficam no bolso. Eu acho que estas coisas são mesmo assim e que quem se chega à frente primeiro é que tem legitimidade para ir. O meu outro eu acha que tudo isto é um embuste e que as oportunidades não são iguais para todos e que os meninos da cidade ficam sempre a ganhar. PORQUE NÂO FIZERAM A VENDA DE BILHETES EM EXCLUSIVO NO MULTIBANCO? Assim é que era justo. Lá se foram os U2...Só se eu agora me puser a tentar encontrar bilhetes no mercado negro e alimentar a chulice de muita gente que vai ganhar balúrdios com isso. Mas o meu outro eu recusa-se a encher os bolsos a oportunistas. PORRA, ESTOU DANADO!
flor tambem devias ter corrigido a palavra "dignidade"(jà que estamos a corrigir)!!!
Cá temos mais um belo post. E também alguns belos comentários. O gil deve estar a dizer que uns têm tanto e ouros tão pouco. Penso eu de que
Carlos, eu não diria que seja triste, pois o mais dificil foi achar esta força dentro de ti, mas com o tempo que exercita-la, ela vai ficar melhor, pense assim...
O insano em tratamento não é exatamente meu, fui convidade a escrever lá (só apareço de vem em quando)...
Fique com menino, Carlos.
Um abraço.
Boa! Solidários todos sempre.
Quem te manda a ti sapateiro tocar rabecão ?
Um abraço
PS: "Toda arrogância é odiosa, mas a arrogância do talento e da eloqüência é uma das mais desagradáveis."
( Cícero )
Meu caro amigo, quem é o Saramago à tua beira? O que te falta é tempo!
Um abraço
Ena, concordo em pleno com o Dragão vila pouca às 13:53. É isso mesmo!
E também eu sinto alguma - muita - decepção em relação ao -usando das suas próprias palavras- senhor saramago. Fica-lhe mal sr saramago, fica-lhe bem mal. Nunca antes me arrependera de comprar um livro e nem será desta vez, mas o senhor jamais me enganará com livros, lançamentos e mediatizações totalmente marketizadas.
Gostei do faz de conta.
Beijinhos no seu coração.
Segundo os dicionários:
"solidariedade - sentimento de ternura, piedade ou simpatia pelos pobres ...".
Desta definição vem o "faz de conta" como somos tratados pelos nossos governantes, com o carinho pelos nossos impostos.
Paul Auster, Philip Roth ou o Nobel Orhan Pamuk, também Saramago é um Nobel.
Felizmente pode expressar-se livremente, sem qualquer receio dum qualquer "santo ofício", vindo de qualquer "bocarra" bacoca.
Não há maior valor que isto e estes valores sobrepõem-se a qualquer mentecapto duma qualquer religião e mesmo a qualquer uma destas (religiões).
Façamos de conta que o café está quentinho e essas inefáveis partículas, que poderão inebriar-nos se uniram.
ups...falhou o "d"...Obrigada...
Este é um dos meus post preferido!!!...
Para os textos basta ter cabeça. Infelizmente, muita da literatura portuguesa, não tem.
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