quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

E o Alberto e o Albino também...

E O ALBERTO E O ALBINO TAMBÉM…
XII


MÉRITO E FAMA

- Hoje, estive vai-não-vai para abordar o caso Madoff. Porém, de tão vulgares já se terem tornado estes escândalos tão peculiares do capitalismo exacerbado que eiva de há muito – demasiado! - todo o mundo ocidental, optei por dissertar um pouco acerca do mérito e da fama.
- Narrador?
- Sim, quem me chama?
- Sou o Albino, pá.
- E então, o que pretendes?
- Tão só conviver um pouco contigo e com o Alberto!
- É lá! Chamaram-me?
- Não, Alberto. O Albino, interrompendo-me, devo frisar, apenas proferiu o teu nome. Nem ele te chamou, embora o desejasse, pois apetece-lhe conversar, nem eu te convoquei. Para ser sincero convosco, hoje não dá. Ide tomar um copo a qualquer lado, como, aliás, fizeram um dia destes sem me passar cartucho. Apetece-me discorrer um pouquinho sobre um tema assaz importante e, como tal, seria bom não ser interrompido. E depois, se quisermos ser sinceros, nos últimos dias este mundo não tem correspondido à sua genuína designação. De facto, temos vivido “ E o Narrador Também… “, e não o contrário, tal tem sido a intensidade e a densidade com que vocês o têm ocupado e o exíguo espaço que me têm deixado! Adeus rapazes!
- Pronto, tu é que mandas…
- Pois, ele é que manda... Vamo-nos daqui!
- Vá, não levem a mal! Ei, ei… Já vão chateados. Paciência, hoje não dá… Aquilo passa-lhes.
Bem, vamos lá então:
Não devemos confundir mérito com fama. Os media não promovem a famoso só quem tem mérito – entendamos mérito raro, porque quantos e quantos, sendo excelentes no que fazem, sabem que jamais lograrão alcançar a fama? O mérito raro sim, pois constitui-se, legitimamente, num bem raro susceptível de grande apreço, logo uma porta aberta para a glória, notoriedade… para a fama.
Ao usar glória e notoriedade à guisa de sinónimos de fama, estou a roçar o ridículo, pois a boa fama pode comummente ser lida como glória, notoriedade, porém, não esqueçamos, também existe quem seja famoso por vis e ignóbeis razões. A comunidade de que somos sócios, cultivando o imediatismo, suscitando e acicatando a necessidade de egos titânicos, entronizando os media, redunda no paradoxo: sujeitos banais aparecem, promovidos, a proferir trivialidades ou a exibir dotes perfeitamente vulgares… Sim, é efémera a exposição dos sujeitos, sabemo-lo, mas não a da banalidade.
O comezinho, enquanto simplicidade, tem lugar, não o rejeito, muito pelo contrário: alimenta saudavelmente o essencial lazer, quando este se deve traduzir num espairecer; as banalidades não, ganhemos mioleira!
Com frequência elevada a fama confere estatuto superior, robustece curricula, confere poder. Dá para entender, ou melhor, dá para aceitar?!
Fama e celebridade são coisas diferentes. Tenho para mim!


Carlos Jesus Gil

13 comentários:

Alexandrina Areias disse...

E como era de esperar (pois faz parte do ser humano...) o narrador não deixou 'escapar' a oportunidade... e mandou o Alberto e o Albino tomar um copo 'só' os dois... como já o tinham feito anteriormente, sem 'consideração' pelo narrador...

Prefere o narrador ficar sozinho e reflectir sobre um tema importante... mérito/fama...
Na nossa sociedade sem dúvida que fama dá poder, estatuto... mas muitos destes 'ditos' famosos são famosos porquê? O que fizeram de útil para a sociedade? Qual o seu mérito?

Esta postagem fez-me lembrar uns programas de 'reality show' que por vezes aparecem nas 'nossas televisões' , em que, alguns que neles participam, se tornam tão importantes, que de um dia para o outro se vêem em tudo que é capa de revistas e jornais... é a tal fama efémera... pois tal como aparecem... assim desaparecem...
Porque para continuarem tinham que ter mérito...

Rafeiro Perfumado disse...

Não sei, posso estar enganado, mas sinto ali uma tensão sexual entre o Albino e o narrador...

Gaspar Lança disse...

obrigado. vapassando la pff. :D

Anónimo disse...

Também acho que fama e celebridade são coisas diferentes. Por exemplo o famoso Zezé Camarinha não é nenhuma celebridade. Os homens de mérito não precisam de evidenciar a sua fama.

Unknown disse...

Penso o mesmo que a aa e o Darwin. Excelente tema.

Anónimo disse...

Os media têm culpa no cartório!

Unknown disse...

" Não devemos confundir mérito com fama". Pois é. Essa confusão existe.

Anónimo disse...

E a análise social continua.

Lúcia Laborda disse...

Oie lindo! Muito verdadeiro seu post!Nem sempre quem é célebre, tem fama e vice-versa.
Eu queria que o Natal voltasse a ter seu verdadeiro sentido, porque o apelo do comércio transformou-o, apenas, em troca de presentes e assim perpetua e acentua ainda mais a discriminação social, porque é um dia imensamente triste para crianças pobres, que não podem ter papai noel, nem uma ceia digna.
FELIZ NATAL e que o ANO NOVO seja de realizações, paz, saúde e amor!
Beijos

pico minha ilha disse...

Boas festas com amor e paz.Abraço

Anónimo disse...

Fizes-te bem em ter optado por este tema.

Anónimo disse...

axo k este “criador de galinhas” já merecia ser literaria/ literal/ célebre há mto! :)

Mariazita disse...

Hoje concordo com a dispensa dada aos Alberto e Albino.
O assunto é sério, não deve estar sujeito a constantes interrupções.
E a "discussão" não é nada pacífica porque, se há uns que têm fama e proveito, também há outros que têm fama, mas não proveito.
O que acontece a maior parte das vezes é que, quem luta pela fama, esquece que ela é efémera - só não é efémera para quem não luta por ela, mas a alcança por mérito próprio.
E daqui podemos intuir que: mérito e fama são coisas completamente distintas, e que quem tem um não tem forçosamente a outra, e vice versa.
E não vou dizer mais nada para não ofuscar o teu belíssimo texto :)

BeijOOOcas
Mariazita