terça-feira, 16 de dezembro de 2008

E o Alberto e o Albino também...

Continuação (também dos rombos do e no "capitalismo selvagem" - caso Madoff):


E O ALBERTO E O ALBINO TAMBÉM…
XI

... De volta à máquina do tempo


30 DE NOVEMBRO DE 2007 – GREVE GERAL DA FUNÇÃO PÚBLICA


- Pois, amigo Alberto, só causando transtorno, montes de transtorno, as greves surtem os efeitos desejados pelos trabalhadores.
- Tens razão, é por isso, por exemplo, que as greves dos maquinistas da CP costumam aproveitar as quem as realiza. A malta fica mesmo à nora quando os comboios param. E depois, já se sabe que ninguém cede a cem por cento, nem lá perto, por isso se leva para cima da mesa o que é verdadeiramente fundamental conseguir, juntamente com algo que poderemos classificar de direitos acessórios.
- Há mais, Alberto, diz-nos a experiência que greves de apenas um dia não causam mais que pequenas beliscaduras nos governos. Alguns membros dos governos, ou mesmo todos, até devem rir de gosto com os pré-avisos de greve de um só dia. É transtorno mínimo para o povo em geral e para a economia, claramente despiciendo em termos políticos… a não ser que elas se sucedam com frequência elevada. Aí…
- Pois é, Albino, queres tu dizer que só uma recusa legal ao trabalho por tempo indeterminado leva aos desígnios da malta assalariada.
- Claro. Só dessa forma.
- É pá, mas isso não se adequa ao perfil das contas bancárias dos nossos trabalhadores. Então como é que um trabalhador da nossa praça, excluindo algumas dúzias de privilegiados, pode aguentar mais que um ou dois dias sem trabalhar?... Os tostões estão contadinhos…
- Alberto, é altura de os - demasiados – sindicatos despenderem energias e meios numa solução idónea. Por exemplo, bem que poderiam apelar aos associados com dificuldades menos agudas, uma quotização extra, temporária, criando por esse meio um fundo que possa assegurar aos trabalhadores mais carenciados um pecúlio que lhes permita uns dias sem ordenado oficial.
- Isso é, de facto, uma solução. Difícil, convenhamos, mas possível. Com a greve a durar, o transtorno atingirá o ponto-rebuçado – elevado grau de azedume -, o povo, até então contra os irmãos grevistas, sairá à rua; a multidão engrossará e o governo outro remédio não terá senão ceder.
- Parece demasiado lírico e idealista, mas realmente também não vejo outra solução.
- Então, rapazes, de que falam?
- Olá narrador!
- Tudo bem, criador?
- Olá pessoal!... Criador?! Só se for de galinhas. Mas do que falavam?
- É pá, falávamos da greve geral de hoje.
- Bom tema. Cada vez me orgulho mais de vocês.
- Olha, olha, sabias que ele sentia orgulho por nós, Alberto?
- Já desconfiava!...
- Vá, não brinquemos com coisas do foro sentimental! Mas sim, fizeram muito bem em debater tão importante tema.
Narrador, nós preocupamo-nos com a sociedade. Estas coisas, até pelo dever profissional, não nos passam ao lado.
- Certo, podem continuar. Vou ter que ir embora. Tenho um jantar com uma cachopa que é uma loucura. Não quero atrasar-me.
Aí, sortudo!...
- Porquê, só vocês é que merecem, é?
- Não. Estava a brincar. Vai lá! Olha, até eu vou embora. Está a fazer-se tarde, o que achas, Alberto?
- Sim, por hoje chega de paleio. Vamos à nossa vidinha. Chau pessoal!
- Até amanhã… ou não!
- Adeus rapazes!
Estes caraças foram-se embora sem abordar a questão da disparidade nos valores de adesão apresentados pelo governo e pelos sindicatos… Pois, tem sido uma constante. Já não causa qualquer espanto, ainda que as diferenças sejam abissais. O Alberto e o Albino conhecem muito bem a raiz do problema, sabem que ela reside na qualidade das lentes de uns e doutros.



Carlos Jesus Gil

22 comentários:

xistosa, josé torres disse...

Aproveito a narração, para narrar um facto verídico.

Há muitos anos ... muitos, (mais de 20), os sindicatos ingleses que representavam os mineiros que extraiam o carvão para colocar tudo a rolar, fizeram greve.
Um, dois, vinte, trinta, cinquenta, cem, duzentos, trezentos, trezentos e cinquenta e oito dias.
Quase 1 ano !!!
Houve mortes ...
Foram vergados no essencial, mas os Sindicatos, pagavam escrupulosamente todos os meses.
O dinheiro era da cotização mensal dos associados dos sindicatos.

Aqui é para pagar aos dirigentes ...
É o nosso sindicalismo.
Não vou dizer que venceram a 1ª Ministra Tatcher, não, não venceram, foram vencidos pela força do poder, depois de milhares de prisões ... e mais de 4000 condenações.

O dinheiro não dura sempre ...

Mas foi um braço de ferro que fez estremecer.

Aqui é um dia e quem sofre é quem trabalha.
Não ganha, ou melhor ... perde.

Este governo não liga a números de cabeças, pernas ou orelhas ...

Não liga!!!

Anónimo disse...

Percebo bem que a greve é uma forma de luta.
Um direito constitucional e irrenunciável.
Mas também percebo a razão pela qual tal direito só tem expressão na função pública. É que, queiramos ou não assumir, os funcionários públicos continuam a ser os filhos do Estado, enquanto os outros são enteados.
Percebo a luta dos trabalhadores da função pública. Ela é justa (por vezes).
Todavia, no dicionário do sector privado da economia o termo "greve" não existe. No outro, no público, parece existir em demasia.
Todos os dias, os enteados, são surpreendidos com as greves dos filhos.
Pagar a água só amanhã, hoje há greve; a sua certidão só para semana, hoje há greve; a sua consulta foi adiada por motivos de greve; não deposite o lixo, hoje há greve; o julgamento foi adiado, hoje há greve… etc., etc.
A greve é manifestamente um privilégio da função pública.
Que continuem as greves e as manifestações diariamente. É disso que o País precisa para aumentar a produtividade, para sair da pobreza, para se tornar um verdadeiro País Europeu e para ter a consideração do resto do Mundo.
Viva o PCP e a CGTP.
A propósito, amanhã haverá greve na função pública?

Unknown disse...

Obrigado pela sua visita. Que venho retribuir. Gostei do que li. E voltarei. Bom Natal.
Eduardo

Anónimo disse...

Justamente por poderem usufruir do acto "GREVE"...é que abusam das ditas greves. Esse é um dos grandes benefícios dos Funcionários Públicos.

Unknown disse...

Excelente evocação e interpretação sr. José Torres.

Unknown disse...

Senhor Darwin, não sei quem é, mas uma coisa é certa: está mal informado. O sector privado também faz greves. Esteja atento. Já agora não zombe dos funcionários públicos ao perguntar se amanhã há greve. Seja digno.

Anónimo disse...

Batutaemeia...ai de mim pensar sequer em aderir a algum tipo de greve. Entende o que eu digo?

Anónimo disse...

Excelente análise político-social. Muito bem.

Anónimo disse...

Desculpem, mais esta: "Criador?!... Só se for de galinhas." Está demais.

Anónimo disse...

Senhor Zeus, vocês também têm direitos consagrados na Constituição. Não podem resignar-se.

Unknown disse...

Desculpe senhor Zeus, o últimos anónimo sou eu.

Anónimo disse...

Batutaemeia....pois tenho. E também tenho o meu patrão na secretária ao lado da minha. É certo e sabido que é deveras mais fácil a um funcionário público aderir a uma greve do que um trabalhador do sector privado. Eu só não consigo entender é o porquê de isso irritar tanto os funcionários públicos quando toda a gente sabe que é assim.

Unknown disse...

Zeus, peço desculpa mas você deveria olhar mais pelos seus interesses. Sou trabalhador numa unidade de produção de componentes para a indústria automóvel, já fiz greve por aumentos salariais e consegui. eu e os meus camaradas. Porque nós somos precisos, somos bons no que fazemos. Agora se você não é bom no que faz, se é prescindível, aí já é outra coisa.

Anónimo disse...

Vivam todos os que querem uma Sociedade mais justa como as personagens da história.

Anónimo disse...

só para lembrar que o direito à grve vem-nos já de Dezembro de 1910, decretado pelo governo provisório que sucedeu à monarquia.
Para bem de todos os concidadãos é bom conhecermos os deveres mas também os direitos

dragao vila pouca disse...

Alberto, Albino e Narrador...o que vocês arranjaram com isto das greves.
Obviamente, não tem nada a ver com o sector público ou privado, mas sim com o abuso que foi feito da lei da greve, a seguir ao 25 de Abril. Agora parece um bocado a história do rapaz e do lobo.
Um abraço

Anónimo disse...

Laurindo...a empresa onde trabalho tem 10 funcionários divididos por 3 balcões diferentes. É com certeza bem diferente da empresa onde trabalha que com certeza terá umas centenas. Não fale do que não sabe pois pode ter a certeza que se não tivesse receio de despedimento, seria o 1º a lutar pelos meus direitos e aderia à greve. Mas isso na Mahle n acontece, pois não camarada?

Anónimo disse...

Bela observação da Sociedade. Continue.

Unknown disse...

Zeus, já lhe disse, se for mesmo bom o patrão vai atendê-lo.

Graça disse...

Já visito o teu blogue há algum tempo. Vai-se lá saber porquê, mas gosto dele :)

Obrigada pela passagem.

Anónimo disse...

Obrigado pela sua visita. Que venho retribuir. Gostei do que li. E voltarei... Gostei do Alberto, do Albino e do Narrador... Apesar de haver para aí narradores que não deixam ninguém falar. São tão participantes, mas tão participantes que ignoram as outras personagens na sua poderosa verborreia...

Ana Maria disse...

Passei para desejar-lhe boa noite .
Beijinhos!