quarta-feira, 27 de agosto de 2008

A Insonsa

A INSONSA


Era uma vez uma rapariga tão linda tão linda, mesmo tão linda que, só não fazia parar o trânsito porque se deslocava sempre de metro e as portas de entrada e saída de sua casa bem como do seu local de trabalho davam directamente para o buraco (uns metritos, apenas). Bem - ou mal, consoante o juízo -, a bela diva padecia, contudo, de um grave problema congénito: era insonsa… sim, insulsa, insípida… não sabia a nada – qual génio perfumista de Suskind que, não obstante o seu potenciado e extraordinário olfacto, não possui cheiro próprio. Logo ele, ironia das ironias, que parido fora entre os mais nauseabundos fedores da Paris do século XVIII! -, a nada mesmo!
Os homens aproximavam-se, faziam trinta por uma linha para meterem conversa com ela e tornarem-se íntimos mas, quando tal sorte chegava em jeito de jack pot, logo verificavam que a massa ia quase toda para o fisco. Uma raspadinha, e fraquita! Serve esta modesta imagem para reportar o facto de que, mal bem conseguidos os intentos másculos, assim que dado o primeiro beijinho, feito o primeiro linguado e – e aqui é que está!- dada a primeira dentadinha, logo os ditos zé-zés camarinhas fugiam a 7777 pés…
Fora sempre assim. Desde que se lembra de ser gente e de andar à porrada nas ruas e na escola, sempre que algum ou alguma colega lhe punha os dentes, mal a primeira e única trincadela se dava, era um vê-se-te-avias, uma correria freneticamente louca, do dentuço ou da dentuça, para junto dos outros. “A cachopa não sabe a nada”, diz quem a provou, e assim também não!... Tem que haver algum tempero, digo eu, que até nem gosto muito de fazer juízos de valor… quer dizer, muito não, mas a um niquito não me coíbo.
Há, porém, males que vêm por bem – todos o sabem, que o povo o diz de há tanto que se perdeu registo. Desesperada e a necessitar de merecidas férias, compra, com uma amiga, passagem para destino exótico. Dez diazitos fora de tudo!
Bem – mal, digo eu, que os factos assim m’o exigem -, a outra, papada… literalmente. Ela, logo à primeira dentada, é projectada por valente cuspidela… Até os canibais gostam das coisas bem temperadas!… E ela corria, corria, corria a bom correr a caminho do trilho que leva à cidade e ao hotel; e olhava para trás; e corria ainda mais; e… não era necessário nada disso, pois ninguém fora no seu encalço.




Carlos Jesus Gil

25 comentários:

Anónimo disse...

Tá bestial, amigo gana. Não nos conhecemos mas já o considero um amigo. Tá bestial.

Milheirão disse...

PORRA, MAÇO! Esta dá pano p'ra mangas. Então a pobre da cachopa era assim tão insípida que nem os canibais a quiseram. Não será ao menos aquela história do "são todas iguais" mas há algumas mais iguais do que outras? Caraças, Pá. Tu lembras-te de cada uma! Xiça! Não me digas que se trata daquela definição de frasco. Ou seja: "frasco é uma gaja que quando está de frente, parece estar de lado e quando está de lado não se vê".

stériuéré disse...

Mas nós sabemos também que há muitas Marias na terra, não vamos por isso generalizar assim a imagem das cachopas da Praia, heheheh, não que sejam todas "sem tempero" mas, a verdade seja dita, algumas até são é temperadas demais.
E olha digo-te mais , adorei esta !

Anónimo disse...

Muito bem masso!
gostei de saber que a malta dá valor a coisas temperadas.há coisas que um homem nunca esqueçe , quem não se lembra do sabor do primeiro beijo?
Como tu sabes eu já tenho uma certa idade e como o raio do colestrol não para de chatiar era(home), como diria o pescador do alto,para lhe dar uma dentadita.
Assim o dr.carlos não ia dar por nada.Manda lá a cachopa aqui p`ro prazo que com calma vai ao lume.

Anónimo disse...

Os nossos repórteres andaram de nariz no ar que é como quem diz, a meter o nariz na massa, e conjuntamente com o Observatório Nacional chegaram à brilhante conclusão:
O Aquecimento Global veio para ficar e a Globalização acolheu-o de antenas abertas.

O Globo Terrestre, esta nossa humilde casinha, está a meter água por todos os lados, ora em estado líquido vinda dos pólos, ora em "mau" estado físico vinda dos tolos ...

"Da água viemos, na água nos afogamos!"

Táxi Pluvioso disse...

A solução para todos esses males é Corporación Dermostética. Ou Talon, ou algo espanhol.

Anónimo disse...

É o quê pá!? Coméquié!? A Gaja era assim tão insípida que nem os canibais a comiam. Acho este post muito machista e estereótipo. Quer isto dizer o quê? Não sei! Baldei-me a essas aulas para ir atirar calhaus às gaivotas.

Acho que o teu texto tem um significado dúbio e perigoso... torna-se numa armadilha que nos prende lá no meio. É uma faca de dois gumes. Se pegar o bicho come, se fugir o bicho pega(ou será ao contrário?). Depois admiramo-nos que a sociedade feminina se queixe de tratamento machista. Sinceramente, pá!

É pá, eu sei que tenho de ajudar os meus velhos companheiros de guerra, mas nem sempre é fácil. Embora isto que escreves no teu post, sejam tudo verdades intemporais, que nunca irão pôr em causa a tua imagem pública, o importante é um gajo dar um arzinho da sua graça. Creio que a vida tem um grande sentido de humor. Às vezes dá-nos um abanão e diz-nos "não te leves tão a sério".
Na verdade, o humor é uma componente da alegria da criação. (E esta, pá!?)

Anónimo disse...

Em minha opinião, acho que o post está bem escrito, isto porquê? Lembro-me quando era mais piiiiiquena de o meu irmão andar aí no verão atrás de uma rapariga, que ainda hoje o digo, era linda como o sol e até era boa pessoa. Quando ele finalmente recebeu algum mimo de troca, depois de dias e dias a fazer-se-lhe ao bico. Resultado, chegou-se ao pé de mim e disse:
-" A "fulana" não dá uma para a caixa. Nem uma conversa sabe ter. Parece uma garotita."
Isto diexou-me admirada, visto conhcer de ginja o meu irmão. Mas o certo é que apesar de ela ser linda, o certo é que a unica coisa que ela tinha era somente mesmo a imagem dela. Segundo o meu "mano" era uma seca. Por isso acredito que haja não só raparigas como rapazes "insípidos". A imagem nem sempre vale pelo recheio.

Anónimo disse...

Muito bom. Sítio bom para vir.

Anónimo disse...

SIm, as coisazs têm que ser muito bem temperadas.

plageonline disse...

e os ideais da revolução francesa? igualdade, fraternidade, liberdade
que é feito desses valores? Não haverá liberdade suficiente para haver punks, dreds, betos, ... não poderá haver espaço para insonsas, insipidas, sem cheiro, sem cor, ... e porque havemos de defender os apetites canibais, ... por acaso defendemos o lobo ibérico, a canela ou o pau de cabinda? não estarão os nossos apetites muito temperados a levar para a extinção insonsas, indigestas, e outras que tais?
Pelo menos não deixem acabar as louras, as morenas, as ruivas e as mulatinhas

Anónimo disse...

Ei, sou loira mas não sou como a que o gil retrata no post. Aliás, ele, e muito bem, nem sequer fala na sua tez nem na cor do seu cabelo.
Plageonline, gostei.

Anónimo disse...

Amigo Gana,
… a massa ia toda para o fisco!? Mas que bem visto, meu Amigo Gana 
A química corporal, os odores, sem dúvida que nos caracterizam a nós humanos, também a outras espécies. É ela, eles, um dos principais causadores da atracção/repulsa entre pessoas.
Neste caso, superiormente descrito por ti, a analogia é quase perfeita. Quase porque me parece incompleta, não sei se propositadamente ou não, mas o cheiro dela daria para escrever um livro (um novo Grenouille…)
Talvez nem tudo sejam desvantagens para esta linda-mas-insonsa, pois se considerarmos a ausência de cheiro sempre e em quaisquer circunstâncias, podemos encontrar algumas valias na malfadada moça. São apenas questões, dúvidas que me tomam os sentidos após uma primeira leitura à tua lúcida exposição. Não sei se terão resposta, ou se não, ou mesmo se serão legítimas estas dúvidas, mas pode ser válida a tentativa de considerar positivo o facto de tal beldade poder satisfazer o requintado alívio de libertar gases de determinada intensidade sem que ninguém fique a olhar para ela por cima do ombro. Esta é pertinente.
Mas haverá outras, meu estimado Amigo, como a hipótese, também ela válida, de a menina se tornar numa atleta de classe mundial, nas disciplinas de corta-mato ou quiçá maratona. Está fácil de ver: Primeiro porque, quer com o treino que leva a fugir dos canibais, quer da observação atenta da surpreendente técnica de corrida dos inúmeros dentuças que, astutos, vêm transformando um momento romântico numa espécie de largada olímpica da maratona… com barreiras…, a jovem, bela mas insonsa, tem reunido todas as condições técnicas e tácticas; Segundo, porque dada a sua natureza, não precisa de se besuntar com anti-transpirantes, anti-odores, anti-derrapantes, anti-sei-lá-o-quê-mais (não quero entrar em exageros, ainda me acusam de ser do contra…) para combater um cheiro que eu até acho normal num atleta em pleno exercício – apesar de admitir que haja quem não pense assim -, que é obviamente o cheiro do suor.
Já agora, outra dúvida, a dita rapariga é branca ou é preta?
É que isso é importante, pelas corridas que dá, e pela importância de não ter cheiro, pode muito bem ser etíope ou queniana…

Cumprimentos ao Amigo Gana e a todos.

o que me vier à real gana disse...

Muito boa noite a todos! Bem re-vindo, plageonline. Gostei do teu comentário, como de todos em geral. Mas, de facto, o teu e o do zmb, o trabalho do nosso orgão noticioso e o de Mr.Darwin, fascinaram-me.
Digníssimo amigo e sublime, culto e inteligentíssimo comentador - como há poucos na blogosfera - zmb, com o k pretendi, pode de facto ser branca, negra, amarela, índia... desde que seja sensaborona...

Anónimo disse...

Excelente texto postado.
Muito bom comentário do comentador zmb.

Anónimo disse...

O DN divulga que uma equipa de investigadores franceses descobriu que existe relação directa entre o excesso de peso e a perda de memória.

O GN, que tem agendado para breve o lançamento de um videojogo, o "Gânia Game", também andou a fazer estudos idiotas e descobriu o seguinte:

- Existe uma relação directa entre o corte das unhas dos pés e as cáries dentárias;

- Tirar macacos do nariz aumenta a potência sexual;

- Não limpar as ramelas aumenta a incidência de calos nos pés;

- Beber café faz as pernas bonitas;

- Desfazer a barba com gillette pode aumentar as dores menstruais.

Já agora por falar em desfazer a barba com gillette, ainda me recordo do tempo em que a “Gillette” tinha apenas uma lâmina. E qual era a função dessa lâmina? Era pura e simplesmente cortar o pêlo. Depois, a “Gillette” lançou o seu modelo de lâmina dupla. Duas lâminas? Não entendo o porquê! A menos que a primeira lâmina corte o pêlo, e a segunda vá confirmar se o trabalho ficou bem feito. Mais recentemente, com a nova “Mach3”, a “Gillette” voltou a inovar e fez aparelhos de barbear com três lâminas.
Assim fico mais confuso ainda. Se a primeira lâmina tem a função de sempre, e a segunda serve de inspectora que vai avaliar se a primeira cumpriu o seu dever convenientemente, a terceira lâmina corre o risco de enlouquecer. Para a terceira lâmina, o tipo que se está a barbear nunca tem barba. Quando chega a vez de ela passar pela área a barbear, nunca há nada que se assemelhe com um pêlo. Isto faz com que a terceira lâmina pense que foi comprada por um qualquer doido que não tem barba mas que mesmo assim insiste em cortar a mesma. Deve ser duro ser a terceira lâmina de uma “Mach3”.

Anónimo disse...

Nada a ver com o post, mas se me permitem:

Os serviços de jardinagem do munícipio fizeram um excelente trabalho naquela rotunda ao pé da Quinta da Lagoa. Contrariamente ao que é hábito, já que se usa e abusa de relvas e flores muito exigentes em termos de cuidados, nesta vislumbra-se um bonito manto de "datura stramonium", também conhecida por estramónio, erva-do-diabo, erva-das-bruxas, ou, mais comum entre nós, Figueira do Inferno. É certo que daqui por uns tempos vão apresentar um aspecto seco meio desolador, mas por agora está muito bem.

Anónimo disse...

Os homens estão sempre dispostos a coscuvilhar e a investigar sobre as vidas alheias, mas têm preguiça de se conhecerem a si mesmos e de corrigirem as suas próprias vidas.
Penso que isto acaba por acontecer a todos nós, a uns mais do que outros. Deixem a "insonsa". Nesse dia não usava perfume.

Anónimo disse...

uito bom observador, sr. gana. Há por aó muitas insonsas e muitos insonsos.

Anónimo disse...

É maça, não é nada assim.As insonsas nem com perfume lá vão.

Anónimo disse...

Boa noite.Com tanta gana nos comentários só me atrevo a comunicar que em homenagem á " insonsa" vou abrir um SPA, mas, com a primeira consulta gratuíta e com tudo a que têm direito, perfumes da YveSantLourant, Chanel,massagens de argila, chás de ervas aromáticas e quiçá com alguma lama da barrinha para as estrias.Vai ser Unisexo, porque a bem da verdade tambem nos homens existem (sem ofensa para ninguém) as caracteristicas da senhora em causa. Qual não é o homem que após 5 minutos de maratona não exala do seu corpo o cheirinho que entope qualquer narina, já não falando dos que usam calções até ao joelho e meias pretas com havaianas chinezas, anel no dedo mindinho para sobresair a unha comprida, com óculos de sol em espelho, enfim,estou a pensar sériamente em abrir esse estabelecimento. Entram tipo "Fanam" e saiem tipo "Brad Pitt"...mas com tempero...

Anónimo disse...

Gania Notícias/Gillette: todos sabemos que não é fácil fazê-las e muito menos com o sentido de humor que esta engloba. Embora me cheire ao "déjà vu", porque não me é completamente estranho o texto, reconheço as capacidades e a actualidade do reporter nesta e noutras notícias publicadas. Pelo menos este não publica notícias sensacionalistas do tipo literatura de cordel ou cantiga do céguinho. Excelente o ZMB. Bom ao Anónimo José pela sua alusão às figueiras de inferno da rotunda mas, enfim, é tempo delas. A Maça das 14:56 do dia 28/8, faz-me lembrar a minha mana. Nota positiva pela comparação.Um abraço a todos.

Anónimo disse...

anónimo das 23:53, pois parece-me que
a insonsa a que se refere o gil não tem mesmo sabor... nem cheiro.

Anónimo disse...

Primeira vez de visita a este espaço. Sr. Carlos Jesus Gil, parabéns.
Quanto a esta história da Insonsa, nem sempre a embalagem corresponde ao conteúdo. Amiúde se repetem episódios de mancebos caídos na esparrela de seguir instintos primários provocados por ancas ondulantes e seios de mamilos pontiagudos, de bocas rosáceas e nádegas e coxas roliças. Ah, belo sexo cativante e agente principal das doidivanices dos machos! Já Camões se queixava dos desencontros com Leonor, que descalço ia à fonte, formosa e não segura, quiçá devido a algum herpes labial ou talvez consciente do característico mau hálito matinal que da sua boca emanaria, se bem que odores orais putrefactos fossem coisa comum daqueles tempos. Já Bocage não seria, se não ousasse acérrima defesa da espampanante donzela da corte que, inadvertidamente,do seu cobiçado traseiro deixara sair sonoro e odorífico traque, jurando o poeta a pés juntos, e cruzando os dedos das mãos atrás das costas, que o ousado espipado era legítimo produto do seu seco e desenvergonhado "sim-senhor".
Meus senhores, uma das mulheres mais marcantes da minha vida, na altura da primeira troca de salivas, presenteou-me com um gosto a vinha de alhos inesquecível.Recebeu em troca o mesmo paladar, certamente. Tudo fruto dum lauto jantar de bacalhau à Lagareiro, regado com um tinto de rara qualidade e que antecedeu os nossos primeiros jogos amorosos.
Nisto da atracção física e mental não há insonsice que perdure, aliás, não há sabores insonsos se o(a) cozinheiro(a) for mestre e souber usar o sal e a pimenta q.b.
Senhores, sejamos os poetas que cantam versos às nossas musas inspiradoras, porque sem elas as nossas vidas seriam caminhadas...insonsas!

Anónimo disse...

Muito bem, senhor argileu palmeira.Mas de facto o gil tem razão no que defende no belo texto com que nos presenteou. Mas, repiti,muito bem e continue connosco.