FUGA RECORRENTE
Regresso muitas vezes ao tempo de jogar às escondidas
Ao tempo em que jogar às escondidas era um jogo
Ao tempo de andar descalço
Quando pão com manteiga era verdadeira iguaria
Compreendia melhor a linguagem da Terra, naquele tempo
Habituei-me a lidar com ela e com o que dela vinha
De cedo esta empatia
A necessidade exigia
Era também o tempo de jogar ao botão
Na estação do botão jogava-se ao botão
Na do pião era este que reinava
Era assim naquele tempo
Era o tempo das coisas da escola
Chatas, quantas vezes
Mas sempre, sabemo-lo mais tarde, geradoras de boas recordações
O tempo dos alicerces
Era o tempo do ingénuo desobedecer
Também do desobedecer sonso
O tempo das incompreendidas palmadas de crescimento e
Das guerras logo sanadas
Das guerras logo sanadas
E é por isto
Só por isto
Por as guerras não serem logo sanadas
Que recorrentemente regresso àquele tempo
Carlos Jesus Gil
terça-feira, 11 de março de 2008
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11 comentários:
Regressa você e regresso eu. Tá bonito, parabéns.
Obrigado, João cara de José. Afinal você não sabe só dizer mal!... Estava a brincar.
E pronto sr. real gana ! Aqui o temos a concordar inequívocamente com o salazarista-entupidor-de-bogues ! O sr. também tem saudades do outro tempo! E faz o sr. muito bem. Foram tempos difíceis, sem dúvida, de total falta de liberdade de expressão, de incomensuráveis atrasos no ensino,na saúde,etc. e tal, mas, como o sr. mesmo diz, foi « o tempo dos alicerces». Dos seus e dos meus. Eram bons tempos, apesar de tudo!
Agora é tb «o tempo dos alicerces» para outros, mas serão estes alicerces de agora tão profundos e seguros como os de então? A nossa geração repudiou
a falta de liberdades do passado e reinvindicou as do presente.
As futuras gerações não se ressentirão com os excessos que nos esquecemos de acautelar? Que reflexos no futuro?
Eu também tenho saudades, e vou terminar como começava o Dr, Vitorino Nemésio « Se bem me lembro...»
Errata : onde se lê « bogues» leia-se «blogues».Nervoso do computador...
m.g., bem apanhado! Confesso,foi genial!... Só há uma coisa, é que nada do que escrevo é autobiográfico. Mesmo que o pareça a quem me conhece. Não, eu imagino... e escrevo. Claro que vivi o jogo dos botões,sim, era fantástico. Mas o que escrevi nesse texto aplica-se a todas as gerações,com ou sem botões. Depois, bem, depois quando eu jogava aos botões não me passava pela cabeça o quem era Salazar - até porque o senhor já tinha falecido.
Sim, dou-lhe ainda razão noutra coisa: os alicerces agora em obra... não confio muito neles!
Afinal o m.g. tem razão, ainda nem tinha dado por ela. O evocar do passado campeia por todos os comentadores, mas eu é que sou acusado de salazarista.
verdadeiro, grande verdadeiro, tome atenção: deve ter-se em consideração a existência de linguagem alegórica quando se lê o verdadeiro post. O que respondi ao/à m.g. serve como resposta.
O João que tem cara de José ainda tem outra coisa. Tem razão. O sr. real gana leva jeito p'ra isto. Tá bonito mesmo, e eu gosto sempre de o ler quando lá passo. Saudade, ai, saudade...
m.g., obrigadão!
m.g., muito, muito obrigado!
Todos nos, de quando em quando regressamos ao passado...
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