quarta-feira, 17 de outubro de 2012

UM DIA AINDA HÃO DE FICAR SEM CHOCOLATE


UM DIA AINDA HÃO DE FICAR SEM CHOCOLATE

E na improvisada sala de operações, eivada por uma sónica de choros, lamentos e simples suspiros:
- Temos muito sangue por aí, temos muito sangue por aí… por aqui…, o problema é que se encontra nos sítios errados. Consigam-me sangue, carago, arranjem-me sangue já!
Ordenava/implorava o indefectível ao juramento de Hipócrates. Mas não dava, não adiantava tentar sugá-lo do chão; também não havia tempo para recolha e análise de novas unidades. E nisto, o homem que negava desistências, frenético em contínuas diligências, formado de ciência e fé, navegante que jamais temerá ser engolido pelo mar, continua a clamar:
- Pessoal, não é fácil mas é possível… Tragam-me sangue, tragam-me sangue!
Era inelutável. Iam-se esvaindo uns - ainda que já em processo de intervenção -, deixados por operar outros, todos definhando até à última inalação. Crianças, bebés, adultos jovens ou não; eram homens, eram mulheres. “ De que vale a coroa, quando ela apenas serve de ornamento?!”, dizia, repetidamente, de si para si, o devotado médico.
Enquanto isto, a uns milhares de quilómetros, o neto do homem da assinatura desistia de tremenda birra a troco de uma barra de chocolate…
Os esquecidos que jaziam, drenando o seu precioso sangue no cobiçado chão daquele enclave do Norte; os números que moribundavam nas macas sob o olhar tropical húmido daquele verdadeiro missionário que suplicava por sangue, esses jamais tratariam/colheriam, tratariam/colheriam… o cacau que calava aquelas birras.

12 comentários:

Anónimo disse...

Penso que o governo só deixará de sugár-nos o sangue, quando já não for rentável. Suga-nos a última pinga, tal como qualquer mina ou poço de petróleo quando deixa de ser rentável a sua exploração.

JMC disse...

Sendo eu um apologista da austeridade que se traduz no equilíbrio das contas públicas e na boa gestão dos dinheiro dos contribuintes, custa-me ver aqui e noutros blogs defender a contração económica, fadiga fiscal, ausência de crédito e redução da despesa pública, que influencia negativamente a própria receita pública.
Na minha opinião, o Estado terá que cortar inevitavelmente 30 mil milhões de euros na despesa pública, Se não o fizer, adiar-se-á tudo até à última e caminharemos para o abismo assobiando para o lado, que é a apologia do “crescimento” que agora tantos defendem.
E isto não é uma questão de “querer” que as pessoas sofram ou que devam sacrificar-se por isto ou por aquilo. É simplesmente ajudá-las a tomar consciência de que se não se prepararem, ninguém fará o trabalho por elas.
O estilo de vida da cigarra está a chegar ao fim para aqueles e aquelas que usufruíram dele.
E as formigas que nunca deixaram de o ser, foram obrigadas a trabalhar cada vez mais e hoje em dia o seu esforço adicional, já não chega para sustentar a sociedade. São precisas mais formigas e menos cigarras.
Para finalizar gostaria de dizer ainda ao comentador “Observador”: - Se Passos Coelho mostra uma impreparação tremenda para o exercício do cargo de primeiro-ministro, António José Seguro mostra que é um líder da oposição fraco. Muito fraco. Sem qualquer habilidade, criatividade ou preparação técnica e política para esta responsabilidade.

Pensador disse...

Que me desculpe o autor do blog, mas vou ter de responder a este senhor.
Caro "Anónimo", eu sou livre de comentar ou opinar ao sabor do que me parece certo, justo, sensato, ou plausível, embora entenda que haja outras opiniões.
Fico indignado quando há muitas dezenas de milhar de experiências angustiantes, todas individuais, todas pessoais, todas dramáticas, de gente que se vê, subitamente, impossibilitada de cumprir os seus compromissos, de pagar as suas dívidas, de manter as suas casas, o seu quotidiano, de realizar as suas expectativas. Gente subitamente desesperada, que vê o seu mundo ruir, a sua vida encurralada num beco, sem luz de esperança. Os tais que viveram "acima das suas possibilidades", porque compraram casa ou, em muitos casos, foram iludidos pelo apelo ao consumo que todos, bancos, políticos e empresas de publicidade agressiva, promoveram e incentivaram durante tanto tempo.
Por isso, fiquei vacinado contra os discursos daqueles que falam de "contenção" e de "ajustamento", que hipocritamente complementam com referências às "dificuldades", aos "sacrifícios" ou aos "tempos difíceis" e que, finalmente, têm o descaramento de estar sempre a mencionar alegada "proteção aos mais desfavorecidos", sem imaginarem o que seja viver isso na pele. Porque se tivessem a mínima ideia do que é entregar ao banco uma casa que custou anos de trabalho ou viver com 100 € mensais depois de deduzidos os encargos e, pior, olhar para o horizonte com as mais negras expectativas, não profeririam uma palavra, por vergonha e por respeito a quem apenas resta a dignidade.
Para terminar, apoiei António Costa em Lisboa. Fui Guterrista, mas não tenho qualquer ligação ao PS e muito menos a Seguro. Aliás nos meus comentários, neste ou noutros blogs, nunca mencionei o seu nome, como poderá verificar.

Pensador disse...

Correção: "caro JMC"

oquemevierarealgana disse...

Caro JMC, aqui há liberdade de opinião! Coisa nada típica, um não apanágio da Direita. Continua a defender a mesma errónea receita, mais, a defender que foi o anterior governo o exclusivo responsável pelo
estado do Estado; esquece as atrocidades dos consulados de Cavaco, Durão e Santana? Reitero, continua a defender as mesmas medidas elevando-as, ainda, a uma potência superior?! Eh, caro senhor, pegue numa calculadora, vá ao Pordata e faça umas contas, Tá?
Fique bem!

J.M.C disse...

Caros Senhores,
É realmente de uma desonestidade intelectual ou mesmo de uma desmesurada falta de vergonha que se venha, aproveitando o descontentamento natural, atirar as culpas da actual situação do país para Vítor Gaspar, sem dizer uma palavra, para a face oculta, que no paraíso dourado, pago com fundos de proveniência mais que suspeita, observa sorrindo o estado em que deixou o país. Sem uma palavra para o pior ministro das finanças da UE, que de hesitação em hesitação, da bacorada dos 7% até ao anuncio intempestivo porque atrasado, do pedido de ajuda, levaram o país a ser classificado como lixo e ao pódio do clube da banca rota.

As contas estão feitas, infelizmente agora chegou o tempo de pagar aquilo que gastamos a mais. A economia é regida por quem a faz mover, resumindo de forma bastante sucinta. Se eu tenho dinheiro e empresto ao Pedro através de um contrato assinado e validado, obviamente tenho uma vantagem e tenho direito de exigir algumas coisas, nomeadamente, o cumprimento da obrigação que ele contraiu comigo. Acho que isto é lógico.

E temos de perceber o seguinte, eles não tem de compreender o nosso estilo de vida mais "gastador" por assim dizer. Trata-se muitas vezes de uma situação paralela ao desporto de equipa. O melhor jogador da equipa exige que os outros se empenhem tanto como ele.

Portugal, e principalmente os portugueses, têm de repensar o seu modo de vida. Agora não dá para comprar gadgets a toda a hora, não dá para comprar carro todos os anos, não dá para comprar casa do pé para a mão. Temos de nos habituar e adaptar, alterando os hábitos e trabalhando de forma mais eficaz.

povo disse...

E os casos Porto Calem ( os sobreiros), os submarinos, os ranques de guerra, a eleição de Passos no Partido, os dinheiros da formação para as empresas onde Passos foi gestor?

Táxi Pluvioso disse...

A transfusão será do povo... a luta continua. boa semana

indignado disse...

Os defensores destes incompetentes e teimosos neoliberais de mais um escândalo do ministro relvas. ´Para além do favorecimento nos fundos comunitários às empresas de Passos Coelho, agora foi escutado a combinar actos nada lícitos e que têm a ver com muito dinheiro. Uma vergonha! Rua com eles!

Pensador disse...

A União Europeia alerta que tanta austeridade pode agravar ainda mais o buraco das contas. A diretora do FMI, depois de reconhecer erros no impacto da austeridade, vem agora pedir aos governos europeus um travão à mesma. Sim, a diretora do FMI "pede" que se pare com isto. "Os responsáveis pela austeridade são governos, não os credores internacionais". Bonito. Em S. Bento, se existisse governo e um primeiro-ministro digno desse nome, o orçamento para 2013 era já, mas já, deitado para o lixo, e apanhava um avião para Bruxelas, para Tóquio ou para onde quer que a senhora andasse e não a largava enquanto não houvesse resposta concreta a uma renegociação e uma acção consequente das suas palavras.
Nada disto será feito. o nosso bravo lusito já pediu a baciazinha de água e acabou de esfregar as mãozinhas em detergente anti-sético, é melhor afundar Portugal na espiral recessiva, por orgulho, não dando o braço a torcer, nunca, e reconhecer que tudo falhou e que até os credores já o admitem, e por preconceito, admitindo que não andámos a "viver acima das nossas possibilidades" e que o estado social e o emprego são, afinal, mais que meras estatísticas.
Há coisas que as pessoas parecem não entender. Uma delas é que ninguém no governo quer saber se a austeridade incomoda, se faz cócegas à população ou se a esmaga com impostos. Vítor Gaspar está ali para aplicar uma receita que aprendeu nas universidades, e fá-lo-á enquanto estiver mandatado para isso. E para que não restem dúvidas de que isto não é a brincar, dá-se já uma margem jeitosa de uns milhares de milhões a mais, porque Portugal é um país muito sujeito a derrapagens.
Por amor de Deus, ainda hà gente a defender este cromo.

Anónimo disse...

Não era preciso a diretora do FMI vir dizer isso... está aos olhos de qualquer um. Mas estes palermas do Governo, são uns irresponsáveis, andam a brincar com a vida das pessoas.

Anónimo disse...

Cuidado com o neoliberalismo