quinta-feira, 29 de novembro de 2007

E o Alberto e o Albino também...

E O ALBERTO E O ALBINO TAMBÉM…


PALANQUE


- Narrador, podes convocar o Albino ?
- Ó pá, assim como entraste sem a necessidade do meu consentimento –o que de resto não fora a primeira vez-, também o Albino o poderá fazer. Olha, já que cá estás, convoca-o tu.
- Ok… Albino, tens um tempinho livre?
-… Olá Alberto! É pá, tenho. Precisas de alguma coisa.
- Sabes, Albino?, ontem fui para casa com a nossa conversa teimosamente nos ouvidos. É que, realmente, a ânsia de poder tolda as consciências… assim como o seu exercício as transmuta. Vai daí, lembrei-me de um poema que, à guisa de ornamento, inseri num trabalho que realizei no âmbito da Sociologia das Promessas… Eleitorais. Gostaria que ouvisses!
- Força; vamos a isso!
- Aqui vai:




PALANQUE


É o reino do verbo;
da verborreia;
do diferente que é igual.
O palanque aguça o nervo,
leva mesmo à apneia,
assombroso festival!


Galos por um poleiro,
o mais alto, que é melhor;
galinhas por um qualquer.
Que ter poleiro é porreiro
e não o tem só o sabedor,
que o fútil o pode ter!


Que há-de ser dos pintainhos?!:
viver rasteiros no chão?;
dizer sim, mas nunca não?...
Tenho para mim que não!
Usemos nosso bastão!,
calemos esses mesquinhos!




- É pá, Alberto, tá fixe, meu!
- Gostaste?, sinceramente?
- Gostei, pá. Está demais…
- És mesmo amigão, pá. Porque isto não passa de merda…
- Claro que sou teu amigo! E tu, tenho a certeza, também és meu. A propósito, gostaria de te pedir desculpa por, naquele dia do reencontro no Algarve, não te ter respondido logo. É que, pá, nós já não nos víamos há cerca de quatro meses… e, ao contrário do que o narrador fez parecer, nós na altura nem éramos amigos. Apenas tínhamos convivido por duas vezes, porque temos amigos comuns; éramos conhecidos. Ao princípio nem me lembrei do teu nome, só depois me veio à tola. Desculpa, tá? Ah, mas a propósito da poesia gostei mesmo.
- Fico contente. Muito, até. Já agora, não precisas de pedir desculpa pelo episódio do Algarve. Olha, vamos tomar um copo, pode ser?
- Claro que sim. Isso é que é falar… Convidamos o narrador?
- É melhor não. O gajo às vezes é um chato do caraças! Bem, ultimamente não tem sido. Ainda assim, hoje vamos só os dois.
- Como queiras…
… Aquilo é que aqueles dois me saíram cá uns…




Carlos Jesus Gil

1 comentário:

Tomas de alencar disse...

Eeheheh, esta tua capacidade,para aturar estes dois....