Há cerca de
dois meses que eram amigos no Facebook. Não se conheciam, jamais se haviam
visto, ver-se-iam, vão ver que sim, mas jamais iriam conhecer-se. Viviam longe
um da outra, uma do outro. Esta coisa do longe
é bastante relativa, mas sim, viviam longe um do outro neste exíguo Portugal
peninsular, ainda assim tinham alguns amigos em comum. Talvez daí a amizade, no
fundo uma amizade por contágio.
Eh pá,
pessoal, o gajo não era mal-parecido, ela, hummmmm, um mimo, daquelas de capa
de revista, vá lá, das páginas centrais.
Afoito como
era - não sei se ainda o é, pois só imaginei o passado -, desde o terceiro dia
daquela maciça amizade que encetava, ele, o António, conversas brincalhonas com
a beldade, a Rita, Rita Maria, adianto mais um pouco na precisão. Ele com cara
de uns trinta e poucos, ela com aparência de não mais que vinte e cinco, por
aí. Bem, ao cabo de duas semanas já a desafiava para um desejado fim-de-semana
no Algarve. Ela, em jeito de brincadeira, dizia: “ vamos às caraíbas passar uma
semanita “. Ele: “ Ok, vamos marcar isso “. Embora ambos se dissessem numa
relação, tal não impedia estas conversas, aliás, não impediu, de todo, o desenvolvimento
da intensidade e da densidade da temática.
Então, era
tempo. Caraíbas, fora de causa!, Algarve também, agora Alentejo, o romanesco
Alentejo, é para já. Deliberaram. Até porque a moçoila era - talvez ainda seja,
como dei a entender não imaginei o futuro do passado – de Santiago do Cacém.
Ele, a confiar nas informações disponibilizadas, de Aveiro.
“ Ritinha “,
já a tratava assim, “ consegues alforria no próximo fim-de-semana, de sexta a
domingo?, “ Sim, em princípio sim. Amanhã confirmo-te, pode? “, “ OK “. Era
segunda-feira, terça à noite já havia resposta... positiva. Ele ia gastando as
mãos, de tanto as esfregar de contentamento. Não cabia em si. Na próxima
sexta-feira iria encontrar-se, pelas oito da noite, da tarde, que a primavera
já se impunha, e a hora de verão voltara, num simpático bar, por ela sugerido,
em Vila Nova de Santo André. No apelativo litoral alentejano. Uma vez lá,
marcariam hotel, ainda antes de faustoso e afrodisíaco jantar. Falavam mesmo
neste registo, com smiles à mistura, obviamente. Comida à maneira, melhor,
comidas, pois!, também das que se enquadram no quadro, passe o pleonasmo, que
essas são mesmo as do menu principal; praia; descanso... bem, descanso talvez
não, nem convém. Duas noites e três dias de paraíso, que os momentos que
antecedem estas coisas, logo após a alvorada, já contam. Ó se contam! Até o
trabalho não sabe a isso, durante a sexta programada. Duas noitadas e três dias
de paraíso.
Ora, à hora
marcada, mais coisa menos coisa, lá estava o António, depois de curta busca, no
bar combinado. Um barzinho bem simpático e, para espanto do aveirense, com
bastante movimento para hora ainda tão jovenzinha. Ok, era sexta-feira, mas às
oito horas?! Pelos vistos ali era assim.
Então, toca de pedir um copo, de o ir
bebericando à medida que ia metendo os óculos em tudo o que era canto, na
esperança de já lá se encontrar aquela doce e encantada cara conhecida... Mas
nada. Na mesa ao lado, não; nas mesas mais próximas, o mesmo; nas mais
afastadas, igual; ao balcão, de todo. Como se conheciam tão bem, nem combinaram
lugar no bar, esta geografia por si só bastaria, pois mal se olhassem...
Passa um
quarto de hora, meia hora já lá vai, uma, e já passa das nove, mas nada,
absolutamente nada. A distância percorrida implicava mais um sacrificiozinho,
esperaria pelo menos mais uma horita.
Às onze e
meia da noite, já o bar começava a ficar pelas costuras, decide dar meia volta,
não esperaria mais. Procurar a auto-estrada e rumar à Praça do Peixe, a capital
da noite em Aveiro, era agora o seu objectivo imediato, o hospital certo para a doença aguda que o atormentava. Tinha
olhado, por vezes aturadamente, para todas as mulheres presentes naquele bar,
para as que já lá não se encontravam, para as que iam entrando, mesmo para as
acompanhadas. Nada. E com aquele comportamento não tardaria estaria a levar no
pêlo, pela certa. Tinha sido ludibriado, gozado, literalmente gozado. Alguma
vez?! Uma beldade daquelas para os seus queixos, tá bem, tá!
Pouco mais
que vinte minutos depois da decisão tomada e levada a cabo pelo António, que
agora se sentia Tóino, uma senhora toda só numa mesa bem perto da sua, de olhos
que já não aguentavam mais, procede da mesma forma.
Ambos se encontravam inconsoláveis,
cada um se dirigiu à sua viatura, os bancos do lado, ambos vazios.
2 comentários:
E assim vai o amor nos dias de hoje!
Em algo parecido ao namoro por carta, quantas vezes escrita por outrém! Só que a resposta demorava quinze dias, quantas vezes prefurmada por uma pétala de rosa.
Nesse tempo o namoro era febril, acabando em duradouro casamento, quantas vezes ela deixava de amar por tantas nódoas negras corporais!
Gostei muito de ler Carlitos. Que bela pequena-metragem!
Um grande abraço
Álvaro José
Obrigado, grande Álvaro. Abraço.
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