E O ALBERTO E O ALBINO TAMBÉM…
XII
MÉRITO E FAMA
- Hoje, estive vai-não-vai para abordar o caso Madoff. Porém, de tão vulgares já se terem tornado estes escândalos tão peculiares do capitalismo exacerbado que eiva de há muito – demasiado! - todo o mundo ocidental, optei por dissertar um pouco acerca do mérito e da fama.
- Narrador?
- Sim, quem me chama?
- Sou o Albino, pá.
- E então, o que pretendes?
- Tão só conviver um pouco contigo e com o Alberto!
- É lá! Chamaram-me?
- Não, Alberto. O Albino, interrompendo-me, devo frisar, apenas proferiu o teu nome. Nem ele te chamou, embora o desejasse, pois apetece-lhe conversar, nem eu te convoquei. Para ser sincero convosco, hoje não dá. Ide tomar um copo a qualquer lado, como, aliás, fizeram um dia destes sem me passar cartucho. Apetece-me discorrer um pouquinho sobre um tema assaz importante e, como tal, seria bom não ser interrompido. E depois, se quisermos ser sinceros, nos últimos dias este mundo não tem correspondido à sua genuína designação. De facto, temos vivido “ E o Narrador Também… “, e não o contrário, tal tem sido a intensidade e a densidade com que vocês o têm ocupado e o exíguo espaço que me têm deixado! Adeus rapazes!
- Pronto, tu é que mandas…
- Pois, ele é que manda... Vamo-nos daqui!
- Vá, não levem a mal! Ei, ei… Já vão chateados. Paciência, hoje não dá… Aquilo passa-lhes.
Bem, vamos lá então:
Não devemos confundir mérito com fama. Os media não promovem a famoso só quem tem mérito – entendamos mérito raro, porque quantos e quantos, sendo excelentes no que fazem, sabem que jamais lograrão alcançar a fama? O mérito raro sim, pois constitui-se, legitimamente, num bem raro susceptível de grande apreço, logo uma porta aberta para a glória, notoriedade… para a fama.
Ao usar glória e notoriedade à guisa de sinónimos de fama, estou a roçar o ridículo, pois a boa fama pode comummente ser lida como glória, notoriedade, porém, não esqueçamos, também existe quem seja famoso por vis e ignóbeis razões. A comunidade de que somos sócios, cultivando o imediatismo, suscitando e acicatando a necessidade de egos titânicos, entronizando os media, redunda no paradoxo: sujeitos banais aparecem, promovidos, a proferir trivialidades ou a exibir dotes perfeitamente vulgares… Sim, é efémera a exposição dos sujeitos, sabemo-lo, mas não a da banalidade.
O comezinho, enquanto simplicidade, tem lugar, não o rejeito, muito pelo contrário: alimenta saudavelmente o essencial lazer, quando este se deve traduzir num espairecer; as banalidades não, ganhemos mioleira!
Com frequência elevada a fama confere estatuto superior, robustece curricula, confere poder. Dá para entender, ou melhor, dá para aceitar?!
Fama e celebridade são coisas diferentes. Tenho para mim!
Carlos Jesus Gil
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
13 comentários:
E como era de esperar (pois faz parte do ser humano...) o narrador não deixou 'escapar' a oportunidade... e mandou o Alberto e o Albino tomar um copo 'só' os dois... como já o tinham feito anteriormente, sem 'consideração' pelo narrador...
Prefere o narrador ficar sozinho e reflectir sobre um tema importante... mérito/fama...
Na nossa sociedade sem dúvida que fama dá poder, estatuto... mas muitos destes 'ditos' famosos são famosos porquê? O que fizeram de útil para a sociedade? Qual o seu mérito?
Esta postagem fez-me lembrar uns programas de 'reality show' que por vezes aparecem nas 'nossas televisões' , em que, alguns que neles participam, se tornam tão importantes, que de um dia para o outro se vêem em tudo que é capa de revistas e jornais... é a tal fama efémera... pois tal como aparecem... assim desaparecem...
Porque para continuarem tinham que ter mérito...
Não sei, posso estar enganado, mas sinto ali uma tensão sexual entre o Albino e o narrador...
obrigado. vapassando la pff. :D
Também acho que fama e celebridade são coisas diferentes. Por exemplo o famoso Zezé Camarinha não é nenhuma celebridade. Os homens de mérito não precisam de evidenciar a sua fama.
Penso o mesmo que a aa e o Darwin. Excelente tema.
Os media têm culpa no cartório!
" Não devemos confundir mérito com fama". Pois é. Essa confusão existe.
E a análise social continua.
Oie lindo! Muito verdadeiro seu post!Nem sempre quem é célebre, tem fama e vice-versa.
Eu queria que o Natal voltasse a ter seu verdadeiro sentido, porque o apelo do comércio transformou-o, apenas, em troca de presentes e assim perpetua e acentua ainda mais a discriminação social, porque é um dia imensamente triste para crianças pobres, que não podem ter papai noel, nem uma ceia digna.
FELIZ NATAL e que o ANO NOVO seja de realizações, paz, saúde e amor!
Beijos
Boas festas com amor e paz.Abraço
Fizes-te bem em ter optado por este tema.
axo k este “criador de galinhas” já merecia ser literaria/ literal/ célebre há mto! :)
Hoje concordo com a dispensa dada aos Alberto e Albino.
O assunto é sério, não deve estar sujeito a constantes interrupções.
E a "discussão" não é nada pacífica porque, se há uns que têm fama e proveito, também há outros que têm fama, mas não proveito.
O que acontece a maior parte das vezes é que, quem luta pela fama, esquece que ela é efémera - só não é efémera para quem não luta por ela, mas a alcança por mérito próprio.
E daqui podemos intuir que: mérito e fama são coisas completamente distintas, e que quem tem um não tem forçosamente a outra, e vice versa.
E não vou dizer mais nada para não ofuscar o teu belíssimo texto :)
BeijOOOcas
Mariazita
Enviar um comentário